25 de setembro de 2007

Nova (péssima) História Crítica


Esse livro cuja capa está aí ao lado, Nova História Crítica, do historiador (sic!) Mário Schimidt, tem sofrido intenso torpedeamento nas últimas semanas. Sobretudo e principalmente porque, segundo praticamente todos os comentários, ele tem um "viés ideológico de esquerda". Há um erro crasso nessas considerações: quem critica uma obra, seja ela qual for, por seu viés político, utiliza para tanto um outro viés, este antagônico. Trata-se de um vício de origem que tira a credibilidade da crítica.

Certo seria dizer o óbvio: o livro do sr. Schimidt não deveria estar sendo utilizado nas salas de aulas, não porque é de esquerda, mas sim porque é bisonho. Contém erros de língua portuguesa, imprecisões histórias e comentários que chegam quase às raias do absurdo, além de outros desatinos mais. Trata-se de alguma coisa que jamais deveria cair nas mãos - e nos olhos - dos estudantes. Por sua baixa qualidade e não por seu "viés". Afinal, livros de história, todos eles, têm alguma dimensão ideológica.

O Brasil possui, tanto à direita quanto à esquerda de seu espectro intelectual, inúmeros pensadores capazes de produzir obras de qualidade. O MEC deveria tomar cuidado com o que envia aos nossos estudantes.

13 de setembro de 2007

A arma que serve para torturar


O taser (veja a imagem acima, do modelo a que me refiro e que é usado pela segurança do Senado) é uma arma considerada "não letal" e que imobiliza uma pessoa mediante grande choque elétrico. Mas mata, sim. E está sendo usada por membros do serviço de segurança do Parlamento Federal Brasileiro de forma perigosa e ilegal, como ficou claro no último dia 12 de setembro, quando o senador Renan Calheiros teve seu mandato salvo por seus pares. O dia do suicídio do Senado Federal.

Muitas pessoas já morreram por causa desse modelo do taser. Sobretudo gente de saúde frágil, portadores de problemas cardíacos, de marca-passo ou detidos que se encontravam ébrios, mas mesmo assim foram imobilizados com o uso do artefato. Comenta-se que o número de mortos pelo uso desse taser no mundo todo já ultrapasse as 300 pessoas. O representante do fabricante, inclusive, tem um site no Brasil. Recentemente, houve uma reação do Parlamento Francês à adoção do recurso. Leia esse texto relativo ao fato, parte da argumentação dos parlamentares:

Uma pistola de electrochoques paralisantes deixa menos vestígios do que um cassetete, provoca sofrimentos agudos e será susceptível de ser utilizado para intimidar, humilhar ou fazer falar suspeitos, detidos, prisioneiros ou simples cidadãos. Nestas condições, esta pistola parece uma arma de tortura no sentido da Convenção das Nações Unidas contra a tortura, de 1984. A França, tendo ratificado este instrumento em 1986, está na obrigação de prevenir todo acto de tortura que poderia ser cometido sobre o seu solo. Ao dotar forças policiais, em constante contacto com a população, de pistolas de electrochoques paralisantes, nossas autoridades tornam-se culpáveis de falta de vigilância e expõem a população francesa a sofrimentos extremos e injustificados.

É preciso refletir. O Senado da República não pode permitir que seus homens de segurança tenham consigo algo tão perigoso. Uma arma de tortura.

Quem sangra, afinal?


Quem sangra?

O presidente do Senado, Renan Calheiros, absolvido por seus pares depois de quase quatro meses de mais um escândalo de grandes proporções registrado em âmbito federal? O Senado, instituição perto de se tornar bicentenária e que deveria zelar pela ética político-partidária brasileira? O Governo Lula, sempre envolto nesses fatos escabrosos e cujo membro maior, o Presidente da República, insiste em dizer que nunca sabe de nada (alguém acredita nisso, em sã consciência)? Ou sangramos nós, o pobre povo brasileiro, que no dia 12 de setembro assistiu a mais um triste capítulo da decaída vida nacional?

De que valem os sucessos econômicos se o custo que pagamos é esse?

Até mesmo um taser, arma chamada "não letal" foi deixada cair ao chão por um segurança do Senado num entrevero com deputados federais. Essa arma "não letal" é de uso exclusivo de forças policiais e pode matar, sim, por exemplo, um portador de marca-passo cardíaco. Mas estava nas mãos de um segurança particular do Senado.

Todos nós sangramos, gente. Menos esse sorridente indivíduo aí de cima, na foto de Uéslei Marcelino/Folha Imagem, que se preparava para ir para casa comemorar a impunidade. A impunidade é a nossa mais bem cultivada marca nacional. Guardemos essa data: 12 de setembro de 2007. O dia em que o Senado cometeu suicídio.

4 de setembro de 2007

Prioridades de Estado


No Brasil todo, e não apenas no Espírito Santo, Saúde e Educação não são prioridades de Estado. Basta acompanhar a vida do país, os discursos dos que decidem, as ações governamentais e tem-se a exata noção disso. O que não é novidade alguma.

Foi por isso que a moça de 27 anos, Janaína Corona Guimarães, morreu em Vila Velha, na região da Grande Vitória, ao não ser atendida a tempo por unidades capixabas de saúde, no quinto mês de gravidez, neste último final de semana. Ela foi vítima de uma visão de ação governamental que, ao longo dos anos, no Brasil, vem priorizando inúmeras áreas como mais importantes que Saúde e Educação. Como consequência e segundo levantamento publicado no Espírito Santo, morreram sete pessoas em dois meses, vítimas todas elas de desencontros e carências da rede estadual de Saúde.

É por isso, e apenas por isso, que a gente precisa olhar para a face sofrida dessa mãe que aparece acima (imagem de Carlos Alberto da Silva, de A Gazeta), mostrando a foto da filha morta. Ela não consegue entender porque acontece isso num país tão rico e onde se paga tantos e tão injustos impostos.

Problema de cultura política, minha senhora. Somente isso. Meus pêsames, em meu nome e de mais uma infinidade de pessoas, tenho certeza.