28 de janeiro de 2009

"Solução final"

O tema dos trotes de marginais é sério. Mas ontem contaram-me um fato hilário sobre o tema. É real, aconteceu no Espírito Santo e o nome da pessoa envolvida não será fornecido por razões mais do que óbvias, até porque eu estou romanceando um pouco. Ela é mulher, solteira, sem filhos, advogada com família morando em Vitória, mas residindo e trabalhando numa das mais importantes cidades do interior do Estado.
Uma bela noite ela está em casa e o telefone toca. Do outro lado da linha vem a voz ameaçadora:
- Seguinte: sua filha está com nóis. E vamos matá ela!
Imediatamente, ela finge desespero:
- Não faça isso, por favor. O que eu tenho que fazer. Quero minha filha de volta!
Para o marginal é sopa no mel.
- Anote aí: pegue o dinheiro no caixa e depois saia de casa para depositar. Vá até a rua tal, vire à direita...
- Devagar, não estou entendendo...
- Vou falar de novo. Faça o que eu mando. Vá por alí, pegue a rua tal, passe pela praça logo adiante...
- Não estou entendendo nada, moço. Por favor, fala de novo que estou muito nervosa...
- Olha, dona, presta atenção. - o sujeito já está nervoso - Saia de casa, pegue o dinheiro, vá pela rua tal, contorne a praça fulano, pegue a avenida sicrano...
- Ai, não sei ir...
- Moça, não torra a paciência. É na rua fulano, depois na avenida sicrano, em seguida na praça beltrano. Entendeu, porra?
- Olha, moço, está dando muito trabalho. Pode matar!
E desligou o telefone.

27 de janeiro de 2009

Talefonema falso e falso sequestro

- Esse telefonema do falso sequestro de sua filha pode ter relação com os outros telefonemas que você recebia!
O policial disse isso com convicção. E o fato a que ele se referia surgiu há cerca de três meses e foi relatado por mim a ele. O meu celular tocou e ficou mudou ao ser atendido. Olhei no bina e lá estava um número do Ceará. De telefone convencional. Não há ninguém lá para ligar para mim. Além do mais, quem ligaria do Ceará para um celular de Vitória sem falar. Ligações interurbanas em horário comercial custam caro.
As ligações prosseguiram. Muitas vezes por dia. Conhecedor dos números - passaram a ser dois - não atendi mais. Elas cessaram. Mas achei estranho, relatei o caso à Vivo, que é muito esperta, por e-mail, pedindo para saber que telefonemas eram esses. Veio a resposta:
"Em atenção a sua solicitação, informamos que a Vivo somente fornece as informações consideradas sigilosas (rastreamento de celular, origem das chamadas entre outros) mediante autorização judicial." E seguiam-se outras considerações, encerradas com o conselho para que eu registrasse um boletim de ocorrência, o popular BO, numa delegacia de polícia ou no Ministério Público.
Como não havia continuação das ligações, desisti. Mas elas voltaram. E para meu telefone particular, de casa. Como eles sabem esses endereços? Aos mesmos dois números do Ceará foram acrescentados um de São Paulo e vários do Espírito Santo.
Esses últimos continham uma curiosidade: eram sequenciais. Resolvi ligar para eles e ouvi, em todos os casos, a mesma gravação: "Chamada gratuita: este número está temporariamente programado para não receber chamadas".
Resolvi fazer um teste, já que se tratava de números sequenciais, e liguei para os logo acima e os logo abaixo. Deu a mesma coisa. Todos, rigorosamente todos, não recebem chamadas. Mas enchem o saco do cidadão ligando para a casa dele, para o celular dele, sem que o filho da mãe que liga diga nada.
Liguei para os números do Ceará: estão eternamente ocupados. Então, como encontram tempo para torrar a paciência? O de São Paulo é diferente: manda mensagem em inglês. Chique, não?
Creio que estou diante de uma constatação. No seu comunicado para mim a Vivo diz: "Ligações recebidas somente entrarão nos relatórios caso tenham sido realizadas a cobrar." Ora, acho que o pessoal das ligações sabe disso. Nunca liga a cobrar!
Mas, depois da ligação comunicando o falso sequestro, o policial que me recebeu na DPJ de Vitória acha que esses fatos têm relação um com o outro. Só que ele não pode fazer o BO pois não tem uma pessoa a que citar. Um endereço para constar. Um fato delituoso para ser determinado com autor. Falso sequestro é crime, certo. Mas quem o cometeu?
Você quer conhecer os números para fazer um teste ou se precaver contra eles? Então lá vão: os dois do Ceará (085) são 3216-0510, 3216.0512 (passado por Leandro, leitor do blog) e 3216-0222. O de São Paulo (011) é 3201-4500. Os do Espírito Santo, que não recebem ligação (027), são 3301-1571, 3301-1572, 3301-1573, 3301-1574 e 3301-1575. Mas você também pode ligar para os de baixo (1570 e inferiores) e os de cima (1576 e superiores). Dá no mesmo. E surgiram mais três: 9900-5742, 9979-6837 e 9147-9674, todos com DDD 021. Estão aterrorizando a vida de várias pessoas.
O número inicial, que aterrorizou a mim, minha mulher e uma das minhas filhas com a simulação de um sequestro para tentativa de extorsão era também do Rio de Janeiro (021): 9249-3178. Segundo a Polícia, com toda a certeza telefone usado de dentro de cadeia ou penitenciária.
Quando Alexander Graham Bell inventou o telefone, não poderia imaginar que no segundo país do mundo onde seria adotado, o Brasil, um dia ele se tornaria inimigo potencial do cidadão. E que as leis em vigor nesse país seriam as aliadas dos marginais.
Segundo uma leitora, grande parte dos telefones acima listados podem ser encontrados pelo site "achecerto", bastando digitar no Google. Ele indica os telefones como sendo de uma empresa situada na Rua 7 de Abril, 230, 10º andar, conjunto 101, no Centro de São Paulo. Olho vivo nesse pessoal, vale a pena!
Atenção: no texto "Cuidado com telefonemas falsos!", o leitor terá uma lista mais completa dos telefones suspeitos. Vou aos poucos identificando mais alguns.

26 de janeiro de 2009

Reféns do Terror

2h35m da manhã de domingo para segunda-feira, 26 de janeiro de 2009 . O telefone toca e nos acorda. Vou viver um drama que milhares de brasileiros já viveram ou vão viver. Do outro lado da linha, a voz de mulher com timbre jovem se esgoela:
- Fui assaltada, pai! É (e diz o nome da minha filha, que está viajando), pai!
- O que houve com você, filha?
A essa altura todo mundo acordou em casa. Há terror no rosto da mãe e a irmã está sentada na cama, pernas cruzadas, imóvel, como quem reza.
- Fui assaltada!, repete. E vem ao telefone a voz de um homem: "É o pai da (e diz o nome de novo)? Sua filha está comigo. Agora ouve: nós mata ela se você...
Desligo o telefone. Chamo minha filha pelo celular mas ele está fora de área. O terror aumenta. Quem sabe no telefone da casa da minha sobrinha, onde ela está? Com o medo estampado no rosto, a mãe não consegue encontrar na agenda. Não se lembra. Descontrolado, xingo todo mundo bem alto. Minha filha pega o celular da mãe, encontra o telefone da prima e liga para lá. Pergunta se é a minha sobrinha. Não é. Então, quem é? Era minha filha mesmo, a irmã dela, que acabava de acordar com o barulho do telefone. Todo mundo desaba de alívio. Corro ao banheiro para urinar.
Como esses canalhas conseguiram meu nome? Meu telefone? O nome da minha filha mais nova? E como sabiam que ela estava viajando?
Só depois de voltar, atento para um detalhe: no bina do telefone convencional onde atendi a ligação dos criminosos está o número 9249-3178. Mas ele é do Rio de Janero (021) e não da cidade onde minha filha se encontra. Como atentar para esse "detalhe" na hora do desespero?
Pela manhã, na Polícia, o policial anota o número. Vai passar para os policiais do Rio de Janeiro. O celular será bloqueado (presumo...) mas, em menos de 24 horas, os criminosos encontrarão mais cinco, dez, vinte - quantos forem necessários - celulares roubados. Esse também é roubado. E não há nada, absolutamente nada que se possa fazer para proteger a mim, cidadão, ou a qualquer outra pessoa nesse Brasil onde pagamos impostos injustos, tentando sobreviver à sanha do Estado perdulário, composto por demagogos e corruptos, afora algumas exceções.
Bagda é aqui.
E somos reféns do Terror.

23 de janeiro de 2009

"Cumprindo ordens"

Agora que o presidente Barack Obama assinou uma determinação legal proibindo torturas nas instalações militares dos Estados Unidos e marcando o fechamento da prisão de Guantánamo para dentro de no máximo um ano ou qualquer coisa além disso, podem escrever que as torturas vão parar. Afinal, os torturadores estavam até agora apenas "cumprindo ordens superiores".

Um psicólogo norte-americano, Jerry Burger (primeira foto acima) escreveu um que praticamente é a confirmação de outro, de Stanley Milgram (foto do meio) e no qual ambos dizendo que a obediência cega a ordens é uma realidade hoje como foi ontem. Principalmente a obediência a ordens superiores.
Burger fez um experimento com alunos seus. Com um ator em uma sala e uma espécie de máquina de choques que na verdade não funcionava, pediu a alunos seus para darem choques de intensidade progressiva no cobaia. Raros se negaram. E os choques começavam nos 15 e terminavam apenas nos 450 volts. O psicólogo procurou traços nas pessoas que davam os choques para tentar descobrir um padrão ou gestos de compaixão. Não os descobriu. Os estudantes apenas demonstravam estar fazendo o que era correto para os estudos. Esse material todo está no livro Personality (Personalidade, 2008).

Os soldados norte-americanos do Afeganistão, Iraque e da base de Guantánamo, onde funciona a prisão de segurança máxima Camp D acreditavam estar fazendo a coisa certa ao torturar porque isso lhes havia sido dito por seus superiores. E os "inimigos" eram pessoas más.

Da mesma forma, em 1961, quando os juízes que julgavam o carrasco nazista Afolf Eichmann (última foto abaixo) em Israel perguntaram a ele porque havia mandado milhares de judeus para morrerem nos campos de concentração, ele respondeu apenas: "Cumpri ordens".

A obediência cega ainda precisa ser mais pesquisada, estudada. Aqui no Brasil, entre 1964 e 1985, época em que durou o regime militar (que eu, prosaicamente, chamo de Ditadura Sanguinária), milhares de pessoas foram torturadas nos porões do Estado. Centenas morreram. Afinal, eram subversivas e queriam o fim do Brasil (sic!).

Os prisioneiros de Guantánamo, os que ainda estão no Iraque e no Afeganistão, não mais serão torturados. Daqui para a frente,os militares continuarão a cumprir ordens vindas de cima, cegamente. Só que as ordens agora são ao contrário.

8 de janeiro de 2009

A Terceira Ponte


O episódio que vive o Espírito Santo hoje, com uma quebra de braço entre o Governo do Estado e a Rodosol, concessionária da exploração da Terceira Ponte (foto) e Rodovia do Sol, mostra os cuidados que devem nortear os contratos de concessão de serviços públicos. Hoje, a população da Grande Vitória é pessimamente servida pela concessionária da ponte e rodovia, e o Governo terá de recorrer à força para melhorar os serviços, além de ter de arcar, ele, com o custo de obras capazes de desafogar o trânsito na Região Metropolitana.


Atualmente o Brasil vive uma fase de concessões de serviços públicos. Em grande parte dos casos, para exploração de rodovias federais. Além dos pedágios que a população terá de pagar - o que significa bitributação, posto que já existem impostos para essa finalidade -, será necessário ter muito cuidado para com o interesse público. Os exemplos mostram que, no Brasil, diversas empreiteiras e concessionária vivem do dinheiro dos impostos do cidadão, sem nenhuma preocupação para com a qualidade dos serviços prestados.


O Governo do Espírito Santo tem não apenas o direito, mas o dever, ético e moral, de forçar a Rodosol a pensar no cidadão. E todos, municípios, estados e Federação, devem agir de modo a preservar o interesse coletivo acima dos interesses de grupos ou empresas.