29 de dezembro de 2010

Mudar, só denunciando


A maioria dos cérebros pensantes do Brasil raciocina em direção ao fato de que nosso país tem reais possibilidades de fazer da segunda década do século XXI uma era de desenvolvimento e, também, de eliminação do enorme fosso que hoje separa ricos de pobres e serventuários públicos dos demais brasileiros, aqueles que fazem o caixa da Previdência.
O que, então, conspira contra nós? A própria estrutura de poder brasileira. Ela nasce num Executivo fisiologista e incapaz, passa por um Judiciário (esse da foto) corporativista e opaco e desagua num Legislativo pusilânime e corrupto. Num país onde todos os que comadam se fartam, faltam fatias de bolo para cerca de 60 por cento da população. Sim, porque há os que são ricos o suficiente para poderem olhar esse tipo de butim com a certeza de que já estão sendo servidos como convidados de honra da festa. E alguns não se incomodam.
A estrutura de poder brasileira foi moldada ao longo dos anos, a começar no Império, à custa de desinformação, ignorância. Uma imensa maioria de brasileiros foi mantida à margem do poder decisório, servindo como massa de manobra. São essas pessoas as que sustentam o status quo. E interessa aos governos, em todos os seus três níveis, que nada mude. Ou então que mude devagar, homeopaticamente, para a mudança ir sendo controlada, enquanto possível. Interessa que não haja ebulição social, que o descontentamento alimente turbas.
Não por outro motivo, temos uma das piores estruturas educacionais do mundo dentre os países avaliados. Não por outro motivo, mais de 1,3 milhão de paulistas achou oportuno eleger Tiririca para o Congresso Nacional. O candidato que pedia voto dizendo que "pior não fica".
O pior é que fica! Haja vista que ele fará companhia a José Sarney, Fernando Collor, Roberto Jeferson, Renan Calheiros e outros. Desculpem-me os da turma que foram omitidos.
Mas se queremos acreditar nas possibilidades de o Brasil crescer, diminuir suas diferenças e corrigir os centenários vícios de seus três poderes, teremos que fazer muito mais do que torcer pela senhora Dilma Roussef dar certo. Precisaremos, a exemplo de uma boa parte dos meios de Comunicação honestos do Brasil - e eles existem -, gritar todos os dias, a todas as horas e a plenos pulmões, que Brasil tem que mudar. E denunciar, um a um, todos os desmandos que ocorrerem. Por todos os meios, correndo os riscos necessários. Só assim vai dar certo.
Até lá, feliz ano novo. Tomara o possamos fazer assim.

28 de dezembro de 2010

Os que têm vergonha


As TVs mostraram ontem imagens que não se pretendia ver num final de ano e de governo: estudantes sendo espancados em Brasília pela Polícia Militar (foto) porque protestavam contra os aumentos que os três poderes se concederam sob o beneplácito do silêncio do Palácio do Planalto. E isso num dia em que o presidente que sai anunciava o aumento do salário mínimo: R$ 30,00.
No Brasil, os que apanham em praça pública são os que têm vergonha na cara!
Aqui no Espírito Santo, no mesmo dia em que os deputados se presenteavam com salários superiores a R$ 20 mil mensais, também era aprovado e encaminhado à aprovação do governador subsídios ou diferença do Judiciário e do MP que vão custar aos cofres públicos uma fortuna. Em dinheiro necessário a áreas vitais como saúde, educação, geração de postos de trabalho, segurança e infra-estrutura.
A classe política justifica seu reajuste auto-concedido como sendo o atendimento a uma velha reivindicação. Mas também é uma antiga reivindicação daqueles que estavam nas ruas sendo agredidos que os políticos sejam honestos. E eles não são. Que vivam, sobretudo publicamente, com vergonha na cara. E eles não vivem.
É reivindicação da população brasileira que a classe política a represente, e ela não esteve nunca tão distante disso. Está certo que ela é eleita e, portanto, exerce seus mandatos legalmente. Como vai acontecer agora com Tiririca. Mas é certo também que os poucos que apanharam em Brasília têm o sagrado direito de, numa democracia, tentar alertar aqueles milhões que votam sem compromisso com o passado, com o presente e com o futuro.
Diz-se, finalmente, que esses protestos irritaram Lula. O que sai, para dar lugar à que entra. Ora, Lula, aproveite o tempo disponível e vá plantar batatas. Agora você pode!

14 de dezembro de 2010

O Aero Escárnio


O presidente Lula considera uma "humilhação" que a presidente eleita Dilma Roussef viaje depois da posse no avião da Presidência da República, pois ele tem que fazer escalas em deslocamentos de longa distância. Trata-se de um Airbus A-319, versão executiva, com itens de segurança e que custou aos cofres públicos a bagatela de US$ 57 milhões.
Falando pouco, aproveitando-se do silêncio quase total, o presidente vai providenciar para sua sucessora o sucessor do Aero Lula. O Aero Dilma, caso o contrato venha mesmo a ser celebrado, custará nada menos que R$ 300 milhões. Um Airbus A-330 que, na versão de passageiros, pode levar mais de 200 pessoas distribuídas em três classes.
Poucos são os países do mundo que têm aviões para uso exclusivo de seus presidentes. O Brasil é um deles. E agora terá outro. O custo total da manutenção dessas aeronaves chegará a uma fortuna mensal. Ainda mais porque além dos dois Airbus o governo também comprou jatos Embraer 190 - para rotas mais curtas - e dispõe de aviões de pequeno porte da FAB, igualmente em versão executiva e também para atender a autoridades. Com ou sem escala.
Ou isso é um escárnio num país onde o salário mínimo mata de fome uma família de mais de quatro pessoas ou então estamos todos cegos. E devemos estar mesmo, porque a presidente eleita venceu as eleições com 12 milhões de votos de vantagem. E a classe política, que vai negar à imensa maioria dos brasileiros um mínimo de míseros R$ 600,00, aprovou para ela própria quase R$ 26 mil de salários, afora inúmeras vantagens, a partir de fevereiro de 2011.
O vereador eleito Tiririca, que chega ao Congresso Nacional ano que vem montado em 1,3 milhão de votos, conquistados em sua imensa maioria junto às camadas pobres da população, disse ao visitar Brasília que acha o aumento dos parlamentares "bacana, legal". E tem razão. Palhaço não é ele, não. Palhaços somos nós. Inclusive cerca de 1,3 milhão de eleitores de São Paulo.

1 de dezembro de 2010

Tiririca, o nosso deputado


Está decidido: o juiz que julgou o processo de Tiririca, o deputado federal eleito mais votado do Brasil, chegou à conclusão de que ele pode assumir o mandato porque não é "analfabeto absoluto". Ou seja, somente sendo analfabeto absoluto o sujeito(a) não pode ser político no Brasil. Seja lá o que isso signifique.
Até hoje a gente conhecia o termo "analfabeto funcional", que se refere àquele cidadão(ã) incapaz de ler e interpretar o que está lendo. E as pessoas - pelo menos eu - imaginavam que abaixo disso só existisse o analfabeto. Mas estávamos errados, porque douta sentença nos adverte da existência de "analfabeto absoluto". Deve ser o mesmo que "morto definitivo", o cadáver que não corre mais o risco de se levantar do caixão e fazer todo mundo sair correndo. O "analfabeto absoluto" não é um caso de catalepsia da língua pátria. Esse não sabe mesmo e está acabado. Pelo menos até agora, está sentenciado.
E, convenhamos, não sendo "analfabeto absoluto", Tiririca pode ser empossado deputado. No que ele é pior do que os que se vendem? Nomeiam parentes e amigos para cargos públicos? Trocam empregos por votos? Cometem fraudes? Mentem de até o presidente Lula ficar com inveja? Roubam, falsificam, etc e tal?
Um "analfabeto não absoluto" pode, inclusive, entender facilmente, quando projetos de lei chegarem ao Congresso, que o funcionário público dos três Poderes é um ser superior e deve ganhar muito mais do que o cidadão comum, que trabalha na iniciativa privada e paga a Previdência de todos, embora recebendo um décimo - ou menos - do que ganham os seres superiores deste nosso Brasil.
Aliás ele, o nosso deputado, é talhado para isso!

24 de novembro de 2010

O "problema social"


Um homem literalmente enlouqueceu terça-feira, dia 23: ao ser assaltado por um flanelinha em Vila Velha, região metropolitana da Grande Vitória, sacou de uma arma e começou a atirar. Atingiu um veículos que acabava de estacionar e de onde haviam saído uma senhora e uma criança. Por sorte não matou ninguém. Nem o flanelinha, que fugiu de bicicleta.
O irado daquela manhã vai responder a processo. Mas pode se defender dizendo que a culpa não é somente sua, mas também das autoridades do Espírito Santo e de todo o restante do Brasil. Afinal, aqui pelo menos, os bandos de flanelinhas ocupam as áreas contíguas ao Palácio Anchieta, sede do Governo do Estado. Seguem em frente e loteiam as proximidades do Palácio da Justiça. E estão perto da Assembleia Legislativa, câmaras de vereadores, prefeituras e outros órgãos públicos. Em todos os casos, diante do beneplácito das autoridades.
Em todos os casos também, sob a demagógica argumentação de que esse é um problema social. Se é, o é somente em parte. Isso porque esconde sob seu, digamos, manto de flanela, um incontável número de criminosos. E eles circulam à solta pelas ruas, muitas vezes indicando carros a serem roubados, depenados, etc. E praticamente todos praticam ostensivamente um crime chamado extorsão. Chega a ser tristemente engraçado ouvir de um deles, como ouvi certa feita: "É isso aí, vou vigiar seu carro senão o vagabundo arranha. São cinco real!"
Se as polícias, unidas, um belo dia passassem um pente fino por nossas principais cidades, detendo para averiguações essas pessoas, tirariam das ruas uma infinidade de criminosos, alguns deles procurados há muito tempo. Os poucos que sobrassem, juntamente com todos os nossos políticos e outras autoridades, seriam os verdadeiros problemas sociais brasileiros.

19 de novembro de 2010

A direita do ódio


A extrema direita dos Estados Unidos está espumando de raiva. Um tribunal civil do país absolveu um preso por terrorismo de 284 das 285 acusações que lhe eram imputadas. Imputa-se no atacado. E nem o fato de ele poder ser condenado a 20 anos de prisão ou à prisão perpétua diminuiu a ira desses fundamentalistas do racismo disfarçado. Querem que todos os acusados de terrorismo permaneçam em Guantanamo, onde não precisam ser acusados formalmente de nada, não têm assistência jurídica e saem de lá quando as autoridades militares locais bem entenderem. Preferencialmente, nunca mais. Há muito espaço para covas rasas no lugar.
Lá também podem experimentar o afogamento simulado tão a gosto do ex-presidente George W. Bush. Arrancar confissões assim é rápido. Os policiais e militares brasileiros faziam isso com perfeição durante os 21 anos em que durou a ditadura militar. Muitos aprenderam "as técnicas" nos Estados Unidos. Os únicos inconvenientes eram que alguns, teimosamente, morriam antes de falar. Outros, de tanto suplício pediam para morrer ou confessavam o que não haviam feito. Diziam: "Quem matou Kennedy fui eu". "Quem ia invadir o Brasil à frente de um exército comunista durante o governo Goulart era eu. A sorte é que vocês derrubaram o homem e mataram todo mundo".
O Brasil de 1964/1985 não compreendia que as ditaduras só geram violência, raiva e ódio. A mesma receita que elas carregam. Os Estados Unidos da extrema direita também não entendem a mesma coisa. Então, quando acontece um 11 de setembro ou outro evento parecido alguns se perguntam: "Por que eles não gostam de nós?"
Os Estados Unidos sempre amaram a paz dos cemitérios. Sempre. E transmitiram esses princípios à extrema direita de Israel, que faz o mesmo com os palestinos. Eles, norte-americanos e israelenses de extrema direita, não são piores do que os maiores ditadores de esquerda que o mundo já viu. Como os líderes do Khmer Vermelho, por exemplo. Mas empatam.
E tentam mostrar ao mundo que Barak Obama é fraco porque quer fechar Guantanamo. Porque não quer que acusados sejam executados sem culpa formada. A democracia da direita americana é essa: aos amigos os favores da lei; aos inimigos os rigores da lei, como dizíamos por aqui.
E como matar é fácil, muitos preferem a receita dos americanos, essa mais acima à direita, por injeção letal. Higiênica! A outros tanto faz. No Irã que eles detestam, a forca tem a vantagem de poder levar três de vez, como na foto à esquerda. Embora arranque alguns pescoços vez ou outra, o que é muito inconveniente.

9 de novembro de 2010

Uma sugestão para as aposentadorias


Uma das questões mais discutidas hoje em dia no Brasil - e em grande parte do mundo - é a das aposentadorias. No caso brasileiro, sobretudo os meios de Comunicação de alcance nacional falam que os aposentados vão quebrar a Previdência. Em síntese, o pensamento geral diz que em breve a arrecadação será tão inferior ao desembolso que não haverá como fechar as contas.
Isso, em síntese. Porque ao mesmo tempo em que ataca as aposentadorias do setor privado, os críticos se abstêm de falar com mais ênfase sobre o abismo que separa estas das aposentadorias do serviço público, aqui entendidos Executivo, Legislativo e Judiciário, onde uma pessoa pode chegar a ganhar mais de R$ 50 mil mensais, o que agride - impunemente - o teto constitucional.
Nesse ponto, cabe uma explicação. Nós ouvimos diariamente pelas rádios, vemos nas TVs e lemos nos jornais notícias sobre o crescimento do deficit da Previdência. Advogados especialistas da área dizem que esses deficits são meramente contábeis. Ou seja, nas contas de quem efetivamente sustenta o sistema previdenciário por décadas são debitados custos de quem não trabalha ou não trabalhou. E é essa a prática geradora da diferença entre o que entra e sai.
Vou à minha sugestão: nós temos um índice de expectativa de vida, revisto periodicamente. Ele mede a que idade o brasileiro está chegando. Os mais aquinhoados vivem mais do que os miseráveis, claro, mas a média retrata mais ou menos como a vida se dá no Brasil em termos de anos. E o justo, o ideal, seria fazermos com que a aposentadoria jamais ultrapassasse 80 por cento da média de idade do brasileiro. Explicando: se essa média é de 75 anos, a aposentadoria deveria acontecer aos 60 anos. Tanto para homens quanto para mulheres. Sem que as últimas parem antes deles, pois elas vivem até mais.
Mas como fazer isso? Como efetuar essa atualização, sendo que o índice varia e uma aposentadoria ocorre pelo menos 30 anos depois do início da contribuição. Esse é o exercício de inteligência que deve ser feito. E também precisa valer somente para quem está entrando agora no mercado de trabalho e não para os que já labutam com as regras atuais. O correto seria o cálculo de índice ser feito a cada cinco anos e a oscilação da idade de aposentadoria ser informada ao final de cada período quinquenal. Os trabalhadores já estariam sob a regra e acompanhariam a variação do índice como a referência para sua idade de parar de trabalhar. Sem sobressaltos ou dramas maiores porque as oscilações nunca serão bruscas demais. E mais: todos os trabalhadores, fossem do setor público, fossem do setor privado teriam de seguir a mesma regra, com o mesmo tempo mínimo de contribuição, a mesma idade para parar e o mesmo teto. Ou seja; todos com os mesmos meios de enfrentar o final da vida e seus acrescimos de despesas - médicas, por exemplo - com a mesma dignidade.
Isso acabaria com agressões aos direitos adquiridos. Eu, por exemplo, por um largo período da vida contribui sobre 20 mínimos como empregado do setor privado, pois esse era o teto para as aposentadorias. De repente, não mais que de repente, esse teto caiu para 10 mínimos. Todos os meus direitos cessaram. Foram subtraídos. Furtados. Negados. Minha aposentadoria acabou calculada para baixo, os anos de contribuição a mais jamais foram considerados para um cálculo parcial e o dinheiro pago a mais, nunca vi de volta. Tivesse isso acontecido com os vencimentos do setor público e o mundo desabaria. O senhor presidente diria que a decisão era cretina e o Executivo a iria contestar. O Judiciário, que ela não prosperaria por ser inconstitucional. E o Legislativo, por fim, quando houvesse quorum, derrotaria a votação no Congresso.
Mas eles são eles. E, no Brasil, a esmagadora maioria ainda espera bovinamente por mudanças que tornem o poder de todos e não de castas. Que o façam deixar de ser espúrio. Ao menos por enquanto.

5 de novembro de 2010

O cadáver insepulto


Não foi preciso muito tempo, como era previsto. Para falar a verdade, não foi preciso quase nada: nem bem a ex-ministra Dilma Rousseff se elegeu e a CPMF, um cadáver insepulto do governo Lula, começou a tomar forma novamente. E, como não poderia deixar de ser, convenientemente por mãos de terceiros, no caso os novos governadores eleitos pelo PSB.
O imposto, que agora corre o risco de se chamar CSS - o que, no fundo, dá no mesmo - é a solução encontrada para os males da saúde pública brasileira. No país onde grande parte dos cidadãos tem que pagar planos de saúde para não morrer em filas do SUS, agora eles vão acrescentar a esse custo o desconto nos cheques. Claro, porque a solução seria diminuir o Custo Brasil. A mastodôntica conta a pagar pelo empreguismo e pelo clientelismo. Mas como fazer isso se a 'companheirada' cresce mais a cada dia? Hoje, aos antigos aliados somam-se os novos, parceiros da eleição de Dilma. E para cada um deles e seus apaniguados há de haver um cargo público. Todos têm vocação para cargo comissionado!
A presidente (ela prefere presidenta) eleita, que discursou chorando e prometendo ética, vai iniciar o mandato colocando em prática a vingança de seu criador: Lula, que jamais se conformou com a extinção do imposto do cheque, agora quer vê-lo ressuscitado pelas mãos de sua criatura. E, convenientemente, por ações de terceiros para preservá-la antes da posse.
Com tudo isso, há a hipótese de o novo governo ser empossado já em meio a grande crise. O orçamento da saúde cresce a cada ano - de modo que o problema não é falta de dinheiro - mas a qualidade dos serviços, não. Ressuscitar a CPMF significará enfrentar a parcela da população brasileira que dá estabilidade ou desestabiliza governos. Na hora da eleição, todos temos o mesmo tamanho pois o voto vale um. Passadas as eleições, não. Depois das urnas fechadas, há cidadãos que geram crise e os que não têm influência alguma. E isso não está sendo visto.
Uma coisa é certa: haverá muita luta política e nas ruas, ainda que o governo detenha a maioria num Congresso que se curva aos demais poderes. O Custo Brasil, este só vai cair no dia em que os brasileiros chegarem à conclusão de que o Estado, em qualquer lugar do mundo, existe para servir o cidadão e não para se servir dele com metáforas e sofismas. Em termos mais simples, mentiras sofisticadas.
E você que votou na Dilma, está começando a ficar satisfeito?

3 de novembro de 2010

Sakineh e a manipulação da informação jornalística


A pena de morte não soluciona os problemas da criminalidade em lugar algum. Não fosse assim e nos Estados Unidos, que mais executam, e na China, ilustre segunda colocada, não haveria criminoso algum. Todos já teriam sido mortos. E os demais candidatos ao crime sentiriam tanto medo a ponto de concluir que delinquir é perigoso demais. Ao menos em seus países. Por isso, em poucos lugares ainda se mata legalmente hoje em dia.
Mas a pena de morte infelizmente existe. Em alguns casos ela é exercida contra os considerados criminosos comuns. Em outros, contra inimigos políticos. Por último, por motivos religiosos ou de castas. E esse é o caso da iraniana Sakineh Ashtiani (na foto abaixo, à direita), acusada de adultério contra um marido já morto e de ter, juntamente com outras pessoas, tramado o assassinado deste. O caso Ashtiani vem chamando a atenção em todo o mundo e principalmente por dois fatores: a brutalidade insana com que as mulheres são executadas nos estados islâmicos e o fato de ela viver num país governado por um líder de opiniões e ações desconexas e execradas internacionalmente. No Dia de Finados, o Jornal Nacional deu a notícia relativa à mulher como sendo ela uma condenada à morte "pelo regime de Mahamoud Ahmadinejad", numa alusão direta ao presidente iraniano. Como se a decisão pela condenação dependesse somente dele suas opiniões anti-semitas e não de toda uma cúpula teocrática que governa aquele país já faz muito tempo, sob tensão e pressão de grande parte das comunidades externas. Sobretudo dos Estados Unidos, o que acirra, e muito, os ânimos.
No último mês de setembro, Teresa Lewis, uma norte-americana de 41 anos (foto acima, à esquerda), foi executada nos Estados Unidos com uma injeção letal no estado da Virginia. Ela havia sido acusada de matar o marido e um enteado. Seu QI, segundo constatado, era 72, limite da deficiência mental. Os advogados que a defenderam disseram, e provaram, que ela era débil. Uma doente mental, sem noção exata do que fazia. Mas isso não sensibilizou a Suprema Corte. Nem o governador do estado onde ela estava presa. Os jornalistas que viram a execução testemunharam depois que Teresa parecia assustada e desorientada. O Jornal Nacional nada falou sobre o caso. Os outros telejornais nacionais também não. E ninguém, mas ninguém mesmo, disse ou escreveu que ela havia sido morta "pelo regime de Barak Obama".
É óbvio que na nossa prática de noticiar fatos há uma grande carga de rejeição política e de manipulação de fatos em nome de crenças pessoais, corporativas ou interesses econômicos. Temos uma visão ocidental e anticomunista de mundo e separamos, dessa forma, amigos e inimigos. Isso ocorre também nos EUA e em grande parte dos países europeus. Falamos de iguais e desiguais. Certos e errados. Culpados e inocentes. Os assuntos são direcionados para que a opinião pública ame ou odeie de acordo com a ideologia ou valores defendidos pelas grandes empresas de Comunicação. E o conceito de "liberdade de imprensa" é parte integrante da prática da manipulação dos fatos. O que se pretende é poder noticiar o que interessa, da forma como interessa, ainda que omitindo informações e dados. E marginalizando o "outro lado".
E não é essa a liberdade com que se sonha. Pelo menos, não é essa a liberdade de noticiar pela qual lutamos muitos de nós por 21 anos, de 1964 a 1985, enquanto os grandes veículos de Comunicação do País ou se calavam ou apoiavam claramente a ditadura militar.
Um Estado que, em nome do conceito de "controle social" da informação, deseja garrotear o livre fluxo de notícias, age deliberadamente contra o interesse público. E grandes corporações de Comunicação que usam a informação para divulgar ou omitir fatos, manipulando-os quando necessário e para atender a interesses individuais ou de grupos, agem da mesma forma.
Isso acontece hoje no Brasil e em outros lugares. Como todos os dias falamos do sagrado direito de informar - e informação é poder -, não seria demais lembrar que ele, esse direito, pressupõe uma responsabilidade muito grande. Primeiro, de levar ao público a informação limpa de tendências, fisiologismos, ideologias ou manipulações econômicas. Por fim, de lembrar que o outro lado tem esse mesmo direito de se expressar. Principalmente porque pensa diferente.

1 de novembro de 2010

A interrogação


Não se discute a vontade das urnas. No dia em que Dilma Rousseff foi eleita presidente do Brasil, eram incontáveis os veículos que trafegavam com adesivos seus. Ao contrário do que se julgava em primeira impressão, não foram somente os pobres que escolheram a "criação" do presidente Lula para votar. Uma enorme parcela da classe média também ajudou em sua eleição.
O Brasil, em verdade, elegeu a escolhida de Lula e não a Dilma. A eleita do presidente que, para tornar sua preferida conhecida nacionalmente, agrediu a ética, atropelou as leis, desconheceu a Constituição e navegou nas águas da falta de compostura como nunca antes houve na história deste País, saiu do pleito coroada. Se a coroa é de louros ou de espinhos, veremos. Mas a eleição não teve incidentes maiores, foi honesta e o mandato pertence à eleita. Temos, portanto, diante de nós não apenas a continuação de Lula, a primeira mulher Presidente da República, mas também a maior interrogação de nossa República. Afinal, ela jamais havia sido eleita para cargo algum.
Dilma será um boneco-de-ventríloquo?
O passe-livre (já que o Presidente adora citar futebol) para outros mensalões?
A ampliação da partidarização e instrumentalização do Estado?
O crescimento desordenado do déficit público?
A continuação do enriquecimento dos parentes e amigos dos detentores do poder?
A sequencia do uso do hábito da mentira para conquistar apoios?
Ou uma surpresa agradável que todos os brasileiros merecem vivenciar?
A resposta depende dela. Em seu discurso da vitória, prometeu ética, honestidade e outras coisas mais, como a defesa do Estado Laico com liberdade religiosa e a enorme tarefa de eliminar a miséria do Brasil e ampliar o SUS. Vai precisar de todas as forças para chegar a isso, se é essa mesmo sua vontade. No país que vai governar, os miseráveis existem em número muito maior do que mostram os dados oficiais. E a falta de perspectivas, de futuro, de horizonte, geram a maior parte da violência a que os brasileiros assistem todos os dias.
Dilma prometeu, por último, ser fiel ao presidente que a entronizou e elegeu. E disse mais: "Vou bater à porta do presidente Lula sempre que for preciso."
Essa é a única preocupação que ela não necessita ter, apesar de o presidente se dizer em fim de carreira. Sem cerimônia alguma, como é sua marca, ele é quem vai bater à porta dela todos os dias, de 1º de janeiro em diante.

27 de outubro de 2010

"Manifesto em defesa da democracia"


Há poucos dias, em 22 de setembro, um grupo de notáveis, daqueles homens que costumam honrar os países onde vivem, divulgou o "Manifesto em defesa da democracia". Assinado por pessoas como Hélio Bicudo, Dom Paulo Evaristo Arns, Ferreira Gullar, Miguel Reali Jr., José Carlos Dias, Henry Sobel e outros. Eles alertavam para o risco que corremos de aviltar a democracia representativa, substituindo-a por uma espécie de ditadura sindical onde os poderes da República seriam sufocados pelo Executivo.
Hélio Bicudo, jurista reconhecido internacionalmente e um dos fundadores do PT, gravou um pronunciamento no qual alerta para esse risco. Para o descaso com que são tratadas as instituições brasileiras e a falta de compostura do Presidente atual no momento em que se escolhe seu sucessor e ele usa a máquina do Estado em favor de um candidato, contra outro. Quando quer sufocar o Poder Legislativo. Quando lamenta ter que acatar ordens judiciais. Quando não respeita as leis em vigor em seu país.
Sabiamente, Hélio Bicudo destacou, logo de início: "Em uma democracia nenhum dos poderes é soberano. Soberana é a Constituição." Claro, é ela que dá corpo e alma ao Estado Democrático. Ela se corporifica pelo respeito que enseja e corporifica, em consequência, o respeito às instituições por ela representadas. Todos crescemos com isso!
Durante 21 anos, de 1964 a 1985, um grande número de brasileiros lutou contra um regime político autoritário, assassino e que estuprou a Constituição. A luta, desenvolvida por pessoas dos mais diversos credos políticos, tinha por objetivo devolver aos brasileiros um país que não fosse capaz de calar à força seus cidadãos. Isso uniu a todos naquela época! Gente que ia da direita à esquerda do espectro político nacional, sem distinção de renda, credo, cor, nada.
O que estamos vendo hoje no Brasil é a criação lenta mas gradual de um arremedo de democracia; um estado autoritário de organização sindical, pretensamente voltado para os pobres, mas que enriquece apenas seus parentes e apaniguados. Realiza esse "projeto" faz quase oito anos, desavergonhadamente. É preciso acordar para isso. É preciso notar que os escândalos não são meros acontecimentos imprevistos, mas uma prática de governo. É necessário ver para onde vamos. E não estamos indo para onde queremos.

14 de outubro de 2010

As eleições do aborto e da irresponsabilidade


Existem momentos nas campanhas políticas nos quais elas deixam definitivamente o terreno do sério, da discussão de programas, princípios e metas, e invade a região da falta de decência. A reta final da campanha presidencial de 2010 chegou a esse ponto no momento em que líderes de diversas facções religiosas transformaram palanques em púlpitos para discutir o aborto com os dois candidatos que decidem o segundo turno em 31 de outubro.
Um assunto dessa magnitude jamais poderia ter sido colocado à frente das discussões de campanha. E principalmente com interesses religiosos à frente, num estado laico. O aborto no Brasil é algo tão grave, tão pungente e de saúde pública, que tende a ser tão ou mais urgente que o combate ao crack. As demagogias baratas e promessas de campanha, ainda mais as que contrariam declarações públicas dadas anteriormente, não resolvem. Agridem o assunto.
O Brasil prevê a interrupção da gravidez em três casos: gestação decorrente de estupro, que comprovadamente pode levar a gestante à morte e de feto anencéfalo. Neste último caso com autorização judicial. E muitos magistrados colocam suas crenças, seus dogmas, à frente das decisões sem considerar que as grávidas são outras pessoas. Os danos mentais serão delas.
Simplesmente descriminalizar o aborto, todas as demais formas de interrupção irresponsável da gravidez, ainda mais em instalações do Sistema Único de Saúde, constitui insensatez. Crime.
Mas discutir esse problema - que envolve a morte de milhares de mulheres todos os anos em clínicas clandestinas num Brasil onde o nível de informação das camadas mais subalternas da sociedade é mínimo e a saúde pública, um caos - numa véspera de eleição em palanques improvisados e diante de atores fora do contexto é tão grave, tão hediondo e desonesto quanto as fotos de fetos mutilados que pastores pouco sérios carregam nas pastas e notebooks para impressionar seus "rebanhos" de incautos.
Ao mesmo tempo, não é possível deixar de dizer que as diversas correntes religiosas têm que encontrar uma saída para a imensa contradição contra a qual seus discursos esbarram: ao mesmo tempo em que levam a discussão sobre o aborto aos extremos, demonizam as soluções de contracepção. Já ouvi de lideres religiosos que usar caminha é pecado e não evita a AIDS. Outros estendem essa proibição a todos os métodos anticoncepcionais. E sabemos todos nós que eles devem ser usados, sim, sobretudo e principalmente por casais monogâmicos que não desejam mais filhos por não ter meios de criá-los com dignidade.
Fazer isso é melhor do que trazer ao mundo mais miseráveis. Ou então buscar a morte nas "fábricas de anjinhos" que ocupam quase todas as periferias brasileiras. Demagogias de época de eleição, documentos-compromisso assinados em troca de votos, promessas feitas na esperança de conquistar o poder para pagar depois com cargos, nada disso resolve problemas graves. Muito pior: sequer consegue escondê-los. Só a miséria somada à ignorância das populações podem fazer com que essas aberrações continuem existindo.

6 de outubro de 2010

De Cacareco a Tiririca



Dos 130 milhões de eleitores brasileiros, 54% são analfabetos, analfabetos funcionais ou não terminaram o ensino fundamental. E a esmagadora maioria deles ama Lula e acha Tiririca o máximo. Daí porque este último obteve 1,3 milhão de votos na eleição de domingo como deputado federal pelo Estado de São Paulo.
Fosse o Judiciário brasileiro mais ágil, mais vigilante e sequer o registro da candidatura do palhaço seria aceita. Afinal, um membro do Poder Legislativo tem que saber ler, escrever e ter conhecimentos que permitam a ele exercer minimamente suas funções. Mas o palhaço está eleito e agora um processo de cassação de seu registro será algo constrangedor para ele que não escolheu sua falta de cultura formal. Só escolheu - ou escolheram por ele - usar um discurso errado, de deboche, para captar votos numa campanha política onde nada mais tinha a dizer.
Temos, portanto, qualquer coisa em torno de 71,5 milhões de eleitores situados entre aqueles que, como Tiririca, também não sabem o que faz um deputado federal. Ou um vereador. Ou um deputado estadual. Ou um senador. Ou um prefeito, um governador ou o presidente que eles idolatram. Aliás, no caso deste, sabem que conta piadas sobre futebol e paga Bolsa Família.
Por todos esses motivos, surpreendeu aos jornalistas do The Guardian, da Inglaterra, a eleição de nosso palhaço gaiato foi classificada por eles como deprimente ou coisa parecida. Mas não surpreendeu a nós, brasileiros. Lembro-me de que quando era criança e morava em São Paulo, os eleitores daquele Estado elegeram Cacareco vereador. Mas ele não tomou posse talvez principalmente por excesso de peso, como se pode ver pela foto ao lado.
É que Cacareco era um rinoceronte do Jardim Zoológico de São Paulo e recebeu imensa votação - naquela época escrita sobre cédulas de papel - como protesto contra a falta de seriedade política existente no Brasil. Estávamos na década de 1960. De lá para cá pouca coisa mudou no que tange a isso. O rinoceronte já morreu faz muitos anos e Tiririca hoje é o retrato não de um Brasil que protesta, mas do outro que não entende para que servem os parlamentares.
Um Brasil que se vê em Tiririca. Que se identifica com ele. E que cultua o seu presidente Lula até mesmo em altares nordestinos em frente aos quais o povo reza todos os dias, nas salas de casa, como se fosse ele um novo Padrinho Cícero Romão Batista versão século XXI. E isso pode ser visto em matérias jornalísticas sérias e focadas nas eleições de domingo, dia 03 de outubro de 2010. Cerca de 50 anos depois de Cacareco.
Isso o The Guardian não sabe ainda.

1 de outubro de 2010

Meu Congresso pocotó (4)


A última das constatações relativas ao que o brasileiro pensa das funções legislativas levantadas por uma pesquisa Época/Ibope é talvez tão grave quanto as demais: parte substancial da população imagina ser função do Poder Legislativo e de seus membros conseguir empregos para os eleitores e promover ações de lazer, além de eventos sociais, para os cidadãos.
No Espírito Santo, o Poder Legislativo estadual foi mais longe: desde o início da legislatura que se encerra agora, em 2010, ficou decidido pelos parlamentares que quem trabalha em campanha política, o cidadão conhecido como "cabo eleitoral" tem emprego garantido na Assembleia Legislativa em cargos comissionados (CC) se o candidato dele for eleito. E os cabos eleitorais lutam muito por isso... Para não serem todos contratados pelos gabinetes dos deputados que ajudaram, há nomeações cruzadas e também outras para os diversos setores do Legislativo onde podem ser nomeados os CCs. E esses cargos são muitos! Inúmeros! Quase incontáveis! Há uma quantidade enorme deles prevista no organograma da instituição.
Isso é feito em outros lugares. Político promove festa, quadrilha (no bom sentido) junina, aniversários, casamentos, deslocamentos (inclusive para votar) e mais uma infinidade de coisas, sem economizar. Da mesma forma como se dá com a prática da Assembleia do Espírito Santo, tudo é pago com dinheiro público. Os impostos do capixaba sustentam os cabos eleitorais.
Portanto, quando o cidadão comum responde a uma pesquisa afirmando o que foi afirmado, ele imagina ser correto o que vê todos os dias. O que é prática comum, embora ilegal, aética e imoral. Mas, na visão do político, tem alguns "méritos": ele não precisa lutar tanto para conseguir verba de campanha já que é você, leitor, quem vai pagar a conta e, além disso, sobra dinheiro ao final da peleja. E com esse dinheiro pode-se construir fantásticas Casas da Dinda!
Em público, a maioria dos parlamentares diz combater tais situações e querer diminuir o inacreditável número de CCs no Legislativo. Mas em público. Depois, quando estão trancados nos gabinetes eles simplesmente nomeiam. E muito. Todos os dias!

29 de setembro de 2010

Meu Congresso pocotó (3)


Relembrando a pesquisa Época/Ibope, uma das tristes convicções do brasileiro é a de que seria uma função e/ou obrigação parlamentar "ajudar os aliados de campanha em negócios com o Governo". Não sei o que me deu na cabeça, mas ilustro esse texto com uma foto da ex-ministra Dilma Roussef candidamente de braço dado com seu cria e sucessora Erenice Guerra, em cerimônia oficial.
Ajudar os aliados de campanha, no Brasil, significa dar a eles contratos vultosos com os governos municipal, estadual ou federal. Fazer com que vençam licitações fraudadas. Permitir que cumpram atividades públicas em contratações de emergências. Distribuir cargos comissionados entre seus parentes e amigos. Ministérios só a eles mesmos, porque merecem! E outras coisas mais. Erenice Guerra, a cria/sucessora de Dilma Roussef, aprendeu toda essa lição. Mãe e esposa extremada, brindou os filhos e o marido com os mais descarados atos de tráfico de influência de que se tem notícia no passado mais recente do Brasil.
Mas bem recente mesmo, porque se a gente for recuar no tempo vai dar de cara com o Mensalão. E aí não há comparativo que resista!
Ajudar aliados de campanha é prática que só pode ser combatida com leis duras, com julgamentos inflexíveis por parte do Judiciário e financiamento público de campanha. Caso contrário, os vícios vão continuar. E as grandes empresas encarregadas de obras públicas gigantescas continuarão sendo sempre as mesmas. Os preços por elas cobrados jamais terão como parâmetro os preços de mercado, praticados junto à iniciativa privada.
Da mesma forma, sempre que certos presidentes da República prometerem que vão acabar com a miséria, podem acreditar nele, leitores. Depois de quatro anos vocês não vão encontrar um único parente de primeiro grau deles precisando trabalhar para viver. Porque, convenhamos, fazer isso no Brasil todo, acabar com a miséria geral, fica meio difícil.
Desculpem-me, mas parece que fui irônico. Ou então cínico. Dá no mesmo nesse caso.

28 de setembro de 2010

Meu Congresso pocotó (2)


No texto que coloquei no ar ontem, ficou para ser esmiuçada uma das constatações da pesquisa Época/Ibope, na qual ela revela o que alguns brasileiros já sabiam: parte de nós julga ser atribuição parlamentar realizar obras - seja lá o que isso signifique -em municípios, estados ou União.
Uma das muletas onde esse conceito se sustenta é uma das excrescências do sistema político brasileiro: as verbas para emendas individuais. Os vereadores, deputados (estaduais ou federais), bem como senadores, podem usar parte do dinheiro arrecadado pelo Estado para utilizar como bem entenderem. Podem fazer obras de utilidade pública, sim. E alguns o fazem. Mas também podem calçar a rua onde moram, alargar a estrada que leva à fazenda daquele que sustenta suas campanhas, construir uma quadra de bocha na região onde mora e, além de mais uma infinidade de coisas absurdas, dar dinheiro para a congregação religiosa onde construiu seu curral eleitoral.
Esse ponto eu destaco, por ser uma das maiores aberrações de nosso sistema político. O Brasil é Estado laico. Isso significa dizer que dá liberdade religiosa a todos mas não reconhece religião alguma como sua. Como oficial. Mas temos "bancada evangélica" em praticamente todos os níveis. Desde os municípios, passando pelos estados e pela União. Essas bancadas se unem, sustentam igrejas ou seitas, são sustentadas por elas e têm até mesmo programa político de conquista do poder de Estado.
Todos os anos os parlamentares que representam essas congregações religiosas e têm lá seus currais eleitorais, pegam substancial parcela da verba parlamentar de emendas individuais e mandam para elas. Quando não mandam tudo. Geralmente para ONG's de fachada que representam as congregações (igrejas ou seitas) sob algum tipo de falso manto assistencial.
Essa prática mantém o curral eleitoral, sustenta-o e eterniza a renovação dos mandatos. Em grande parte dos casos, os parlamentares dessas bancadas penetram mais fundo na estrutura de poder, corrompendo-se a corrompendo os gestores públicos. O escândalo do Mensalão, para citarmos um só exemplo, tinha um forte componente de participação desse tipo de político.
Repito: o Estado é laico. Dinheiro público foi feito para ser usado pelo Poder Executivo para suprir as necessidades da população nas mais diversas áreas e não para saciar a fome de votos de falsos profetas de algumas seitas religiosas. Meu dinheiro de imposto, por exemplo, ganho com muito suor, não poderia servir a essa causa malandra e injusta.
Se é intenção do Poder Judiciário, pois a campanha nacional do TSE assim o prega, combater a compra de votos, então atenção para as bancadas evangélicas. Elas compram votos e renovam mandatos dessa forma. E isso não é reza, não. É crime mesmo!

Só a título de esclarecimento, eis as diversas definições de laico segundo o dicionário Houaiss: "que ou aquele que não pertence ao clero ou a uma ordem religiosa; leigo - que ou aquele que é hostil à influência, ao controle da Igreja e do clero sobre a vida intelectual e moral, sobre as instituições e os serviços públicos (grifo meu) - que é independente em face do clero e da Igreja, e, em setindo mais amplo, de toda confissão religiosa - relativo ao mundo profano ou à vida civil".

27 de setembro de 2010

Meu Congresso pocotó (1)


Várias reportagens têm sido escritas sobre as eleições brasileiras de domingo, 03 de outubro, e muitas delas dizem respeito às figuras bizarras que concorrem e devem ser eleitas, inclusive com farta votação. É o caso, por exemplo, do palhaço Tiririca, que deve alcançar qualquer coisa próxima de 1 milhão de votos para deputado federal em São Paulo. Isso quando há indícios fortes de que ele é analfabeto, o que a lei proíbe a quem deseja concorrer a cargo eletivo.
Tiririca tem dois bordões: no primeiro ele pede para votarem nele porque pior não fica. No segundo, afirma não saber o que faz um deputado federal, mas promete contar quando chegar a Brasília. Seu filho Éverson repete um bordão que tem muito de verdade: "Vote no deputado vestido de palhaço, muito melhor do que esses palhaços vestidos de deputado".
Tiririca é como a música Eguinha Pocotó: um produto gaiato feito para o Brasil gaiato, para se aproveitar da desinformação e eleger deputado à custa não do voto de protesto, mas da identificação com o eleitor de baixa ou nenhuma escolaridade com alguém que é a imagem dele e de sua falta de valores. Como é o caso de Tiririca.
A revista Época número 645 foi às bancas com o resultado de uma elucidativa pesquisa do Ibope:
1º - grande parcela da população brasileira acha que é dever do parlamentar realizar obras para a população;
2º - também seria seu dever ajudar os aliados de campanha em negócios com o Governo;
3º - e, finalmente, auxiliar seus eleitores a conseguir empregos e promover eventos sociais e de lazer para a população.
É dessa desinformação que nascem não apenas os Tiririca da vida, mas cresce também de forma desenfreada a corrupção no Brasil. Nas crenças dos eleitores estão contidos os principais vícios da política brasileira, que vão desde a danosa prática das emendas individuais, passando pelo tráfico de influência que favorece apaniguados, indo até o empreguismo que usa dinheiro público para favorecer aliados ou cabos eleitorais e até o uso de verba pública até para pagamento de festas juninas etc. Isso sem falar de outros, ainda mais graves.
A pesquisa Época/Ibope mostra nosso Brasil Triririca. Nosso congresso Pocotó, - vejam que simpática a imagem dele acima - saído da música brega criada para repetir quase sem parar o refrão mais pobre que existe. Mas que faz sucesso. Explicavelmente.

24 de setembro de 2010

A foto verdadeira


Não dá para saber se o cartaz ao lado é verídico ou se alguém usou algum truque para colocá-los nas mãos dessas pessoas que desfilam pelas ruas de Nova Iorque. Mas uma coisa ele é: verdadeiro. É a cara do Brasil de hoje. Pronta e acabada!
O filme "Lula, o filho do Brasil" quer nos representar no Oscar. O público era contra, pesquisas foram feitas nesse sentido, mas instituições que vivem às custas das generosas tetas brasileiras o escolheram à revelia de tudo. Não vi esse filme ainda. Não vou ver. Em todos os comentários honestos sobre ele dizem os analistas que ele é ruim. Pior do que isso, trata-se de obra de ficção. Ficção só vejo se for boa. Faça o mesmo, leitor.
As eleições brasileira são a comprovação de que o Brasil que se limpa com jornal vence as disputas das urnas. E não é de hoje. Esse mesmo Brasil lotou as salas de cinemas para ver a ficção que tenta disputar o Oscar de filme estrangeiro. E vence as eleições com a ajuda daqueles que se locupletam com dinheiro público. Inclusive para fazer filmes medíocres.
Não tenho nem nunca tive preconceito contra pobres. Nas minhas convicções, eles nem deveriam existir porque o mundo gera riquezas suficientes para impedir a existência de miséria em todos os lugares. Mas ela existe porque os países são geridos demagógica e desonestamente. Inclusive e principalmente o Brasil, apesar dos desmentidos oficiais.
Por isso pouco importa se a foto que ilustra esse texto é ou não uma montagem. Ela reflete o que somos e o que acontece nas eleições gerais. Inclusive a que destina alguém ao mais alto cargo executivo do País. Lamentável e desgraçadamente!

14 de setembro de 2010

Na sala contígua


Ironicamente, coube a uma ex-ministra do governo Lula, Marina Silva, dizer a plenos pulmões, depois do estouro da crise envolvendo a ministra da Casa Civil, Erenice Guerra, que o escândalo está muito próximo ao presidente. Mais propriamente na sala contígua.
Aliás, como sempre esteve. E isso desde a época em que o ex-guerrilheiro José Dirceu trocou sua biografia de guerreiro pela de...vejamos...lobista. Não é isso o que ele diz ser? E desde que outros escândalos surgissem, como o do Mensalão, o mais tristemente célebre da relação completa. E em rigorosamente todas as ocasiões a informação dada pelo governo foi a mesma: Lula não sabia de nada. Desconhecia o que se passava na sala ao lado. Parede com parede.
Hoje, a retórica do presidente é a de ataque às legendas políticas que fazem oposição a ele. De uma deles desejou a extinção pura e simples. O que era bem mais fácil de ser conseguido durante a ditadura militar que ele disse combater e graças à qual ganhou dinheiro de indenização.
As crises SEMPRE estiveram perigosamente próximas ao presidente. Tão próximas e tão frequentes são que a gente às vezes se pergunta se é crível que ele não saiba de nada e seja surpreendido sempre. E que acredite em suas explicações, todas elas colocando a culpa nos políticos que se opõem a seu partido e forma de governar.
Diz-se nos meios políticos, e já faz muito tempo, que o presidente tem teflon, que nada cola nele. Talvez seja por isso que Marina Silva, sua ex-ministra, tenha sido a primeira a, publicamente, dizer o que todos sabemos: da sala contígua a gente conhece tudo o que se passa. Ouve as conversas, vê o movimento, nota olhares, sinais, visitas não programadas, saídas inesperadas e até mesmo odores. A corrupção às vezes tem cheiro. E ele não é nada bom!
E o presidente não tem porque ostentar o sorriso que sempre ostentou. Quem sabe, cinicamente. Com certeza, crendo no "efeito teflon". Essa mesma crença que o leva a atropelar as leis, a agir como se fosse dono do mundo e a falar pelos cotovelos, agredindo o bom senso e a língua de sua pátria, para depois pedir comedimento aos outros.
Aliás, e mesmo correndo o risco de ser chamado de preconceituoso - o que não sou - vou recordar aqui algo dito por um amigo certa feita. Ele estava zangado com determinado comportamento impróprio de certa pessoa, comportamento totalmente destoante do comum, do chamado normal, e sua avó disse: "A ignorância é atrevida, meu neto."

8 de setembro de 2010

O país dos feriadões


O governo capixaba relutou mas, finalmente, decretou ponto facultativo na segunda-feira dia 06 de setembro. No Brasil as pessoas vibram com os feriados que ocorrem nas terças ou quintas-feiras. É que sempre foi muito fácil não trabalhar com o dinheiro dos outros.
Por que os feriadões são decretados? Porque o dinheiro público não é um bem pessoal dos governantes. Não sai diretamente do bolso deles. Não é contabilizado por seus empregados e a arrecadação não depende das portas abertas de suas empresas. O dinheiro é do contribuinte. De quem paga impostos. Inclusive eles!
Na economia brasileira, onde cerca de 50 milhões de pessoas vivem na informalidade e o Estado é um gastador compulsivo e irresponsável, ninguém se detém um segundo sequer para avaliar como os feriadões são ruins para todos nós. Inclusive para o funcionalismo público.
No Brasil dá status de segurança ser servidor público. Porque o servidor tem estabilidade e não há o perigo de que se cobre dele ao menos meritocracia. Eficiência, responsabilidade, progresso profissional. Vai daí, os concursos público levam às milhares de empresas públicas brasileiras, Executivo, Legislativo e Judiciário, nossos jovens mais bem formados. Mais talentosos. Mais inteligentes. E que em breve estarão trabalhando apenas a partir das 09 horas, lutando por feriadões, buscando aumentar suas vantagens pessoais e diminuindo a produtividade bem como abandonando a atualização dos conhecimentos profissionais. Isso é um crime contra eles mesmos, mas nem sequer eles o enxergam. Brasileiro quer levar vantagem, como se diz.
Infelizmente o pior não é constatar um fato dessa natureza. O problema maior é não ver a luz no fim do túnel e não encontrar quem lute para acabar com práticas abusivas que lesam a todos, indistintamente, como uma praga endêmica de lavoura.
O pior é notar, e com indisfarçável mal estar, que até mesmo governadores e outros membros do Poder Executivo, às vezes filhos de empresários da iniciativa privada se esquecem de que seus pais, quando atuavam, não decretavam, feriadões. O dinheiro era deles!

27 de agosto de 2010

O gato e quem comeu o rato


Sigilos bancários, sobretudo de pessoas ligadas ao PSDB, adversário histórico do governo Lula, foram violados com o uso da senha de uma servidora da Receita Federal. E o governo tomou uma providência "enérgica": mandou essa mesma Receita Federal investigar o fato.
Mandaram o gato descobrir quem comeu o rato!
Ou nós somos uma democracia no pleno uso desse conceito, ou teremos de admitir que corremos o risco de nos tornarmos uma república sindicalista onde as leis, ou seja, o Estado de Direito, é um mero assessório para ser usado nos momentos em que interessar aos donos do poder. Nos demais, que seja colocado de lado em favor de interesse corporativos.
Todos sabemos que o governo Lula jamais teve um projeto de governo. Teve, tem e terá um projeto de poder. Assim se explica a candidatura Dilma Roussef. Mas o grosso da população não sabe disso. Não tem conhecimento desse fato. E isso sobretudo e principalmente porque milhões temem o prestígio pessoal de Lula. E aí se incluem os meios de Comunicação. Eles têm conhecimento de todos os desmandos, de todos os movimentos de bastidores, da maioria das ilegalidades cometidas nos últimos anos no âmbito do Governo Federal e isso poderia ser explicado didaticamente a todos. Mas eles preferem o silêncio ou a denúncia tênue, esporádica e medrosa do que se passa no Brasil de hoje. Todos os dias a todas as horas.
Dessa forma, uma imensa parcela da população, ignorante e desinformada, continuará sem saber o que se passa em seu país. Nesse Brasil de cerca de 20 milhões de analfabetos e mais cerca de 30 milhões de analfabetos funcionais. Estou falando de qualquer coisa em torno dos 50 milhões de pessoas às quais interessa ao Estado brasileiro que continuem assim. Bem como aos que vivem do Bolsa Família e de benesses diretas e indiretas do poder. Pelo menos até depois das eleições, sejam elas de primeiro, segundo turno ou prorrogação, se for criada.
E até lá o gato vai continuar investigando quem comeu o rato.

25 de agosto de 2010

A comida farta e o "santo sovaco"


Falta pouco - ainda bem - para as eleições. E falta pouco para que os brasileiros escolham quem vai passar os próximos quatro anos como hóspede do Palácio do Planalto. Isso num país onde o povo vota de acordo com o estômago e seguindo imagens de TV que mostram falsos messias induzindo a população a colocar seus representantes no Congresso Nacional.
Às vezes fico pasmo: todo dia na TV um cidadão aparece para dizer a milhões de pessoas que seu suor é milagroso. E milhões de pessoas acreditam nos poderes celestiais daquele "santo sovaco". Pior do que isso: milhares sobem ao palco para prestar depoimentos. Dizer que CC cura até câncer.
E não é tudo. O presidente da República está promulgando um Decreto Lei que, segundo ele, vai permitir a todos os brasileiros comerem com dignidade. Aqui neste país onde vivem 37 milhões de pessoas que vez ou outra dormem na rua, 5,8 milhões de famílias que não possuem lares, 13 milhões de brasileiros que não conhecem banheiros, 30 por cento da população constituída por analfabetos funcionais e a maioria dos jovens com formação média que não encontra trabalho.
Quem é o maior artista de todos: o cidadão do "sovaco mágico" ou o presidente da República?
Um Decreto Lei não vai fazer com que todos tenham alimentação digna. Mas retirar todos os impostos de sobre os itens da cesta básica ajudaria, e muito. Agora, convenhamos, isso é difícil de fazer porque o custo Brasil sobe todos os dias, todas as horas, e sabemos os motivos. A figura que ilustra esse texto, mais acima, mostra bem o tamanho da goela que ele tem.
Que pena, meus amigos. Quem define eleição no nosso Brasil ainda é aquele cidadão que entra na fila do Bolsa Família imaginando-o dádiva divina em vez de demagogia barata. Sem saber que se esse tal "programa de transfertência de renda" tivesse mesmo o intuito de (tentar) acabar com a miséria, seria uma ponte entre o desemprego e a falta de um ofício e o aprendizado desse ofício para o encontro do trabalho desejado. E não um meio de vida por esmola.