30 de abril de 2010

A paz das autoridades

Criminosos ligaram para o vice-presidente da República, José de Alencar, essa valorosa figura da foto, e simularam o sequestro de uma de suas (dele) filha. O vice chegou a pensar que quem gritava ao telefone era mesmo a filha. Ficou desesperado até constatar que tudo não passava de um golpe. Os vagabundos queriam tomar o dinheiro dele.
Caso o leitor queira, pode acessar, neste meu Blog, o artigo "Reféns do terror", postado em 29 de janeiro de 2009. Vai ver que passei por isso. Também de madrugada, também a mulher gritava ao telefone uma frase "pai, fui assaltada, pai". Eu fiquei desesperado porque, como somente notaria depois e como o vice-presidente só se apercebeu também quando as coisas se passaram, vozes aos gritos são todas quase iguais. E na nossa mente quem se esgoela é nossa filha mesmo. As coisas se processam assim.
No meu caso, a filha não chegou em casa porque estava em São Paulo e eu em Vitória, onde moro. Somente depois de desligar o telefone foi que olhei para o bina e vi que a ligação DDD 021 vinha do Rio de Janeiro e não de São Paulo, onde o DDD é 011. Mas as coincidências entre os dois casos vão terminar daqui a mais algumas linhas.
No meu caso e no do vice-presidente, a Polícia disse que essas ligações vêm sempre de presídios. São fascínoras, com cúmplices fora da cadeia, quem arquiteta isso. Tempo eles têm, de sobra. E o golpe rende dinheiro. E traumas para o resto das vidas das vítimas.
Acabaram-se as coincidências.
No caso do vice-presidente José de Alencar, 24 horas depois os criminosos estavam presos. No meu caso, ou são os mesmos ou eles estão soltos até agora. No meu caso, volto a dizer, ouvi da autoridade policial que não era possível fazer nada porque os telefonemas eram dados da cadeia.
Pombas, da cadeia onde estão os criminosos e a Polícia. E ela, no meu caso, volto a insistir, não podia fazer nada. Isso foi-me dito de maneira clara.
Tenho em meu Blog, além do artigo sobre o falso sequestro, outros com o tema dos telefonemas falsos que nos torturam. "Cuidado com telefonemas falsos" e "Vamos denunciar telefonemas falsos" nos remetem a esse tema. E há outros artigos. Quando isso vai parar? Sou capaz de arriscar: no dia em que não deixarem mais o vice-presidente dormir.
No Brasil as coisas só andam assim. Polícia rápida, eficiente e bandido na cadeia só quando a paz das autoridades é atingida. Até lá, é vida que segue!

16 de abril de 2010

Construções de si mesmos


O governo Lula elogia os Estados Unidos mas não o afaga. Age como a cobra, que morde e assopra. Cercado por antigos militantes de partidos clandestinos, o presidente apoia regimes como o de Cuba, Coréia do Norte, Irã, Venezuela, Bolívia e outros. Mas elogia o livre investimento, defende a economia de mercado e o capitalismo "não selvagem", seja lá isso o que for e o que o leitor puder entender.
Não se trata de um governo pragmático, como pode parecer à primeira vista. É um governo aproveitador mesmo. Inculto, arrogante e debochado. E, juro, não estou sendo preconceituoso.
Em época de eleições, o presidente não pode se afastar de seu sustentáculo gerencial. E por isso mantém apoio a regimes políticos considerados hoje como fora de moda. Mas também deve evitar ao máximo contrariar princípios e crenças da esmagadora maioria da classe média - as classes pobres não entendem nada disso - e, assim, deve louvar a cada momento a propriedade privada e o sagrado direito de ir a vir.
Seriam contradições de um governo sem carteira de identidade político-ideológica? Não, claro que não. Isso é a essência de presidente que se sustenta no PT, partido que não é partido, que aglutina todas as correntes existentes de (pseudo)esquerda e, desde 2003, renunciou à ética em nome da contituidade no poder. Se possível, em nome da perpetuação do poder.
O ministro Carlos Ayres Brito, ao multar o presidente, disse com sapiência e propriedade que os chefes de Executivos não são eleitos para fazer seus sucessores. Eles são eleitos para governar, para colocar em prática um projeto de governo. Essa é a essência da democracia representativa, que exige alternância de poder. De homens e de ideias.
Mas como explicar isso a Lula? Se falta ao atual governo sobretudo um norte definido e uma ética consagrada, tudo é possível. Dele espera-se qualquer coisa.
E, esperamos nós, quem sabe essa tal democracia representativa seja capaz de sobreviver a ele. E a outros que não governam para governar, mas sim para se perpetuar no poder, até mesmo se for necessário que isso se faça através de outros. De construções de si mesmos.
Em síntese, um governo pode ser o que quiser. De esquerda, de centro ou de direita. Contanto tenha estofo para tanto e apoio popular para se sustentar onde está. O que ele não pode ser é aético e de vocação continuísta. E disso estamos cheios.

7 de abril de 2010

Os pais (e mães) das tragédias

Há algumas décadas, quando o Aeroclube do Espírito Santo foi construído em Barra do Jucu, Vila Velha, não havia nada em seu entorno, ao lado direito no sentido de Guarapari da Rodovia do Sol. Nos anos que se seguiram, incentivadas por políticos inescrupulosos, milhares de pessoas ocuparam uma região ao sul, onde hoje se situa um bairro miserável denominado Grande Terra Vermelha. Lá convivem, na miséria, quase absoluta ou não, os diversos tipos de marginalidade. Inclusive, é claro, o tráfico de drogas.
Assim como lá, as ocupações irregulares de terras públicas foram incentivadas, na Grande Vitória, a região metropolitana do Espírito Santo, várias ocupações irregulares em áreas de risco, sobretudo nas encostas de morros. E é nesses lugares que ocorrem as tragédias, sobretudo quando chuvas fora do normal atingem os grandes centros urbanos.
Foi isso o que aconteceu nesse início de abril de 2010 no Rio de Janeiro. A quase totalidade dos muitos mortos pelas tempestades foram vítimas de desmoronamentos de encostas. Eram miseráveis que lá, como aqui, construíram suas habitações em laterais de morros, incentivadas pela omissão ou pela corrupção de políticos inescrupulosos. Um crime que se origina em todos os níveis: vem desde a presidência da República até o poder público municipal.
É certo que chuvas torrenciais, o poder de escoamento de água das cidades não suporta. Não há galeria pluvial que aguente. É correto também afirmar que a falta de educação cívica do brasileiro - e aqui nesse ponto todos são igualmente culpados, desde o mais pobre ao mais rico - colabora com isso. Mas é inegável e irrefutável dizer que a classe política é o pai e a mãe dessas mazelas capazes de se repetirem sempre.
Enquanto o exercício do poder político, em todas as suas esferas, for entendido e exercido apenas como um meio de manutenção desse mesmo poder, custo o que custar, doa a quem doer, renuncie-se ao que for necessário renunciar, as consequências doerão mais nas vidas dos miseráveis. E os políticos, por conta da desinformação, da boa fé e ignorância da esmagadora maioria da população, sobreviverão graças a atos e acordos espúrios.
É sempre assim: sobrevive o mais forte. Ainda que não tenha ética, nem vergonha na cara.