24 de abril de 2013

Igual a todos os outros

Roberto Freire, em pé ao centro, saúda a criação do partido igual aos outros
Da eleição do deputado Marcos Feliciano para presidir a Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados, passando pelos mais variados escândalos políticos recentes, dos quais o Mensalão é o maior e terminando no absurdo de o Brasil ter 39 ministérios, tudo nasce e desemboca no mesmo lugar: nosso problema, e que já vem de muito tempo, reside nos partidos políticos.
Na maioria dos lugares do mundo os partidos existem para dar sustentação ou se opor ao Executivo. No caso dos membros participantes do Legislativo, eles têm o dever constitucional de legislar e de fiscalizar o Executivo para que as ações deste representem, sempre na medida do possível, os anseios da maioria da população. Mas para agir assim os partidos políticos devem ter projetos, uma linha de atuação pautada pelo resultado de diálogo interno e, se possível, uma ideologia clara, seja ela qual for.
No Brasil, o PCB (e depois sua dissidência, PCdoB) cumpria essa tarefa com alguma competência. Mas um belo dia um congresso decidiu por mudar o nome da sigla, abandonando a que representava o antigo Partidão e adotando o PPS de Partido Popular Socialista. Seria um nome, digamos, mais palatável que o anterior, pois eliminava o termo "Comunista" que assusta mais do que José Sarney, Renan Calheiros, o próprio Feliciano, Fernando Collor de Melo e os demais. Et caterva!
No mais, a quase totalidade dos partidos infelicitava e infelicita o País. Na ausência total de projetos e programas, posto que muitos têm donos em cada Estado, eles passaram cada dia vendendo mais caro seus apoios. São cargos o que se pleiteia. De primeiro, segundo e terceiro escalão. Preferencialmente com "porteira fechada". Ou então que seja mais "barato", digamos, mas importante. Como "aquela diretoria que cava poço" pretendida por Severino Cavalcanti, de saudosa memória, para um apaniguado que teria o direito de ocupar diretoria da Petrobrás. Afinal, era o preço cobrado por ele e seus amiguinhos de legenda para apoiar o Governo Federal. Incondicionalmente.
Essa é a raiz de todos os nossos problemas. Os atos de corrupção, a incompetência no gerenciamento de empresas públicas de importância, os super-faturamentos, o dinheiro jogado fora de todas as formas, tudo isso decorre desses vícios de origem que ninguém combate, ninguém denuncia com vigor, para acabar com eles.
E eis que o PPS resolveu aderir aos outros. De repente, não mais que de repente! Juntou-se ao PMN (na foto, um momento "solene" desse ato), passou a reunir em suas hostes todo o tipo de gente e agora já almeja prefeituras, deputados, senadores e a Presidência da República da mesma forma que os demais. O preço agora é baixo. Mas se e quando ele crescer, será o mesmo cobrado hoje por PT, PSDB, PSB, PDT, siglas satélites e o campeão, PMDB. Muitos cargos para muitos apaniguados é o que querem.
Seria possível dizer que, no tocante a termos partidos políticos que sejam realmente siglas partidárias com ideologia, projetos, programas e códigos de ética, não há mais luz no fim do túnel? Sim, seria. E aposto: um dia ainda veremos alguém do Mobilização (ou Manipulação?) Democrática, quem sabe até o presidente nacional Roberto Freire, comendo feijoada com Paulo Maluf na casa deste.
Para ganhar vale tudo...          

14 de abril de 2013

O lobista maior

Em todos os países dignos de respeito, é normal (ou norma) que governantes, após encerrados seus mandatos ou ciclos políticos, se recolham à vida privada. Voltam a exercer as atividades de antes dos principais mandatos ou simplesmente se tornam espectadores do mundo. Da vida. Assim acontece, por exemplo, nos Estados Unidos. O ex-presidente George W. Bush, após tomar o helicóptero nos jardins da Casa Branca, distanciou-se do poder de seu País. Nem ao menos aceitou participar de solenidades oficiais envolvendo o 11 de setembro. Nem sequer participou da última campanha presidencial. Ao menos de forma ativa, ostensiva.
Por isso tudo, incomoda àqueles que pedem aos ex-governantes que tenham no mínimo compostura, o comportamento do ex-presidente Lula. Já fez mais de 30 viagens internacionais depois de deixar a presidência, faz cerca de dois anos, e grande parte desses deslocamentos foram custeados por empresas privadas. Grandes empresas. Ele agiu e age no exterior como lobista, usando o prestígio adquirido nos oito anos de Palácio do Planalto para tentar contratos vultosos para seus representados. São amplamente conhecidas, por exemplo, as relações entre ele e o bilionário Eike Batista que, nos últimos tempos, tem sido mostrado muito mais como um empresário próximo da bancarrota do que de algum olimpo.
Pior de tudo: quando esses fatos passaram a ser divulgados pelos meios de comunicação, o ex-presidente os confirmou como se fizesse algo perfeitamente normal. Chegou a dizer que quem quiser divulgar o Brasil ou o que aqui é produzido, basta recorrer a ele. Só não falou de cifras, de participação nos lucros. Mas seguramente elas existem. É tristemente conhecido em nosso País o hábito da "comissão". O que sempre gera superfaturamento de obras, essa uma outra praga nacional.
Mas de que estamos reclamando? Lula, mesmo depois de tanto tempo fora do poder, parece ter intocado seu prestígio junto a grande parcela de nossa população. Conseguiu fazer sua sucessora e interfere nas eleições, sempre elegendo seus preferidos, seus postes, como foi o caso recente da Prefeitura de São Paulo.
Esse Dom Quixote de Terceiro Mundo com lema de "combate às elites" é hoje um homem rico. De seu Instituto Lula, em São Paulo, comanda um império que pode ser representado por prestígio político. E como não conhece limites, esse um "dom" reconhecido por assessores e ex-assessores, faz o que bem entende. Como, por exemplo, aparecer em uma propaganda de televisão pedindo votos para Nicolás Maduro nas eleições da Venezuela, cinicamente se intrometendo em questões internas de outro País, coisa que nenhum governante antes dele teve a coragem ou o desplante de fazer. Nem durante a ditadura militar.