30 de janeiro de 2014

Os flanelinhas, sempre eles...

Um flanelinha "ajuda" um carro a estacionar em Vitória. Custa R$ 15,00
Por omissão, demagogia, oportunismo, covardia ou mesmo por corrupção, mas nunca por desconhecimento dos fatos, os políticos brasileiros criam monstros. Até que eles se tornem tão grandes que combater o mal vira coisa que só pode ser feita com o uso de força repressiva. Isso se vê, por exemplo, no caso dos flanelinhas que assolam grande parte das cidades brasileiras, como praticamente toda a região metropolitana da Grande Vitória, no Espírito Santo.
O político toma café da manhã, almoça, lancha à tarde, janta e vai dormir pensando em votos. Se o ganho desses votos coincidir com atos que beneficiem o interesse público, ótimo. Se não coincidir, ótimo também e o interesse público que se dane. Que se lasque!
O gestor público brasileiro se acostumou com um sofisma cultivado como se fosse verdade de grande valor: o flanelinha é um problema social. Esse termo, problema social, foi popularizado já faz algumas décadas no palavrório do PT, pois lida diretamente com seu eleitorado. Mas hoje outros partidos também o usam porque, afinal de contas, todos são "progressistas".
Ontem, dia 29, um jornal de Vitória, A Gazeta, publicou matéria denunciando que bandos de flanelinhas lotearam regiões do Centro de Vitória e bairros nobres. Nessas regiões, estacionar no espaço público custa R$ 15,00. O motorista sabe o que acontece com seu carro se ele não pagar. Acrescente-se a isso o fato de que pode ser agredido fisicamente.
Faz alguns anos um vereador tentou aprovar uma lei considerando ilegal essa atividade mas o prefeito de então, do PT, a vetou. Na prática, é legal ser flanelinha, lotear as ruas, colocar cones para guardar lugar destinado a clientes constantes e extorquir o cidadão. Se alguém se sentir ameaçado ou coisa parecida, "basta" chamar a Polícia. Torcer para que ela venha, tome providências e depois nunca mais voltar àquele lugar pois vai haver retaliação. E a Polícia pode não estar por perto.
Agora, fale-se em colocar parquímetros em 2.999 vagas para o cidadão pagar para estacionar o carro. Em dinheiro, moedas ou com cartão pré-pago. Isso já foi feito no passado, quando a pessoa comprava uma cartela numa banca de jornais/revistas e a colocava dentro do carro, à vista. Custava R$ 2,00. Mas os flanelinhas ficavam nas proximidades das regiões de estacionamentos, eles próprios forneciam as cartelas a R$ 4,00 e depois as pegavam de volta para usar de novo. Não havia fiscalização, nada. Claro, o cidadão podia chamar a Polícia. Caso ela viesse, OK. Bastava nunca mais voltar lá. É que a Polícia poderia não estar por perto.
O flanelinha não é um problema social. É policial. Se um dia a Polícia de uma cidade como Vitória recolher todos esses "profissionais" e os levar para uma triagem a metade fica na delegacia mesmo e de lá vai para um presídio. São criminosos e traficantes de drogas. O que também é crime.
Porém, quando estão fora das prisões eles podem votar. E as eleições estão para chegar.      

24 de janeiro de 2014

Uma gente diferenciada...

Na escada rolante do shopping, a "gente diferenciada" faz o seu "rolezinho"
Peca, e peca por burrice, quem consegue ver algum tipo de tonalidade ideológica no movimento dos "rolezinhos" que assunta donos e comerciantes de shopping centers. Assim como pecava quem fazia o mesmo com os movimentos contra aumentos de passagens urbanas e que acabaram com pancadarias provocadas por bandos de encapuzados black blocs.
Essas pessoas já foram chamadas de fascistas, de comunistas, de tudo. Mas não têm nem comando nem orientação. Apenas nutrem uma vaga noção de que o Estado está falido e que se elas mesmas não fizerem nada, nadinha vai acontecer em favor delas. Estão certas, e isso no caso daqueles que vão às ruas reivindicar, fazer passeatas, desde que sem violência.
Os "rolezinhos" são diferentes. E o que marca essa diferença é a "solução" que o Governo ensaia encontrar: criar "áreas de lazer" nas periferias, onde essas pessoas possam se encontrar. Ou seja, o Estado sabe o que acontece: essa garotada, em sua maioria, é formada por excluídos e que, por falta de espaço, resolveram invadir templos cercados e erigidos para o consumo das classes alta e média e onde a presença deles não é considerada adequada. Muito pelo contrário.
Lembro-me como se fosse hoje de um movimento de moradores de áreas nobres de São Paulo contra a passagem do metrô por lá. Uma burguesinha entrevistada por certa emissora de televisão disse que não queria o metrô na região porque ele iria levar para a porta de sua casa "uma gente diferenciada". Esse termo, diferenciada, marca bem o que ela pensa. Eles não são iguais a nós; são diferentes. E como são diferentes, não possuem carros de luxo, mansões e filhos nos melhores colégios, não podem descer do metrô em qualquer lugar. Nem ir a shoppings.
Nós temos um país de guetos. E eles só fazem aumentar, mesmo em tempo de "Governo Popular", como os membros do PT gostam de chamar suas administrações. Ou como o ex-presidente Lula, hoje dono de uma fortuna cujo montante só que pode quantificar, classifica os "companheiros" operários. Aqueles que, como ele, nasceram na miséria. Mas continuam na merda, ao contrário dele.
Os "rolezinhos" vão acabar. Com guetos ou sem guetos de periferia. Afinal, não se trata de um movimento que se sustente por si só. Mas vão deixar sua marca. Mais uma delas: a separação de uma sociedade desigual, onde os bem aventurados não querem ver os alijados. Preferem não ver pois, como não vão fazer nada, assim sequer sentem o cheiro.    

10 de janeiro de 2014

O Brasil inacreditável

Roseana Sarney, que hoje está sendo xingada de todos os nomes pelo Brasil que pensa, é um exemplo pronto e acabado da velha política brasileira. Essa política que sobrevive, herdada por ela do pai, José de Ribamar Sarney e sustentada pelo Brasil que não pensa.
Roseana olha para a frente com cara de quem não entende o "outro" mundo
Para ela não existe problema algum em encomendar lagosta, caviar, camarão rosa, file mignon e outros manjares mais para abastecer o Palácio dos Leões e a vivenda de descanso da família enquanto um massacre acontece na maior penitenciária de seu Estado, o Maranhão. Não há problema algum se a conta da comilança é maior do que a verba destinada aos presídios maranhenses e ao esforço para fazer com que eles sejam mais humanos. O mundo de Roseana é um. O da realidade do Maranhão, outro. Por isso ela disse candidamente que o problema da criminalidade de seu Estado acontece porque ele está enriquecendo. Não importa se enriquece poucos. O mundo de Roseana não é o mundo real e, no mundo dela, preso tem mesmo é que morrer na cadeia.
Um filmete que corre na internet mostra um dono de seita evangélica nordestina preso por ter engravidado uma menina de 14 e outra de 15 anos, ambas frequentadoras de seus cultos juntamente com os responsáveis. Na delegacia ele, o "pastor", disse que não é o pai das crianças. Elas foram geradas por ordem divina e são filhas do Espírito Santo. O pai de uma das meninas, ancorado pela filha que também crê nisso, assegura que é verdade: ele será o "sócio" do Espírito Santo.
É esse o Brasil que elege Roseana. Que mantém a velha política brasileira no poder num sistema de troca-troca onde o Executivo e o Legislativo se "ajudam" mutuamente para que seus líderes renovem mandatos até a hora da morte à custa do dinheiro e da ignorância de parte da população. É por isso que ministérios, secretarias e outros cargos são objeto de barganha. Esse sistema promíscuo mantém a velha política. Peca quem imagina que a República Velha está morta e sepultada. Alguns de seus fantasmas sobrevivem aqui e ali e se alimentam do Brasil sem informação, do Brasil refém do Bolsa Família, do Brasil que Roseana Sarney não conhece e nem quer conhecer.
Luís XVI e Maria Antonieta também não conheciam a realidade da França do final do Século XVIII. No caso deles, conhecer foi mais traumático. No Brasil de hoje, com um sistema educacional falido e um SUS que ajuda a morrer, o sistema de promiscuidade geral se sustenta graças às carências do País e não ao seu progresso. Afinal, praticamente todos os miseráveis deserdados pelo Estado acreditam que isso acontece por vontade divina. E vontade divina não se contesta.
Então um homem do sertão nordestino vai esperar que a filha dê à luz um filho ou filha do Espírito Santo e Roseana Sarney continuará na Ilha da Fantasia, vendo o BBB 14, comendo lagosta e petiscos de caviar. É o mundo deles. Dos extremos desse Brasil inacreditável.  

4 de janeiro de 2014

O caldo de cultura

Bombeamento em Guaranhuns. Situação de emergência mesmo com um projeto pronto há dez anos
Os jornais que circulam hoje (04/01) em Vitória trazem uma notícia que tem referência direta com os danos provocados no Estado pelas chuvas de final de ano: a Prefeitura de Vila Velha, teoricamente o município mais atingido por seu porte e população, está fazendo uma superestação de bombeamento de água para acabar com os alagamentos no Bairro Guaranhuns. Beneficiará outros pontos de alagamento sério como Jockey, Portal das Garças e outros vizinhos.
Vamos aos fatos: o projeto de construção de três estações de bombeamento de água em Vila Velha, que impediriam esses tormentos, foi concluído em 2004. Tem dez anos. Repito: DEZ ANOS. De lá para cá foi construído apenas o canal de Guaranhuns, que não serve para nada sem a estação de bombeamento, que funcionaria automaticamente jogando água para o mar via o Rio Jucu sempre que uma grande chuva atingisse a região. Das outras duas nem se ouviu falar até hoje.
Por que não há esse tipo de alagamento em Vitória? Porque aqui existem três estações de bombeamento que funcionam sempre que uma grande chuva nos atinge. A cidade alaga, sim, pois sistema algum suporta dilúvios. Mas em 12 horas as ruas e avenidas estão com a água escoada. Vila Velha necessita de equipamentos idênticos, sobretudo nas regiões mais atingidas. Esses bairros são muito baixos e alguns de seus setores situam-se abaixo da linha da preamar. Por isso não há escoamento por gravidade. Ocorre o contrário, também por efeito da gravidade.
Todos os engenheiros que trabalham direta ou indiretamente para a PMVV há anos sabem disso. Eu sei porque eles me contaram. E os prefeitos que passaram por lá sabem também. Cada sistema desses custa, completo, cerca de R$ 80 milhões. Muito dinheiro, não é? Mas está barato perto dos danos constantes às áreas públicas causados pelas enchentes e, sobretudo, às milhares de pessoas que residem na região, a imensa maioria delas pobres. Carentes de quase tudo.
Da mesma forma o Espírito Santo não conviveria com tragédias se fossem impedidas ocupações de encostas. Isso ocorre no Estado quase todo por omissão do poder público. Para ganhar eleições, governantes fazem que não estão vendo a ocupação dos morros - terras públicas - em regiões às vezes com inclinação excessiva, a destruição da cobertura vegetal e a exposição das terras nuas. Basta uma chuva forte, demorada e o solo encharca. Em seguida ele cede ao peso acima, desliza morro abaixo, destrói residências e mata as pessoas. Também por efeito da gravidade.
Eis o caldo de cultura das tragédias.       

1 de janeiro de 2014

O valão sem bombeamento

Vamos iniciar o ano de 2014 com uma informação que assusta: tenho um amigo engenheiro e que trabalha fiscalizando obras a cargo da Prefeitura de Vila Velha. Ele acompanhou toda a construção de um valão (ou canal de escoamento de água, como preferirem) com dois quilômetros de comprimento e R$ 10 milhões de custo total e que teria a finalidade de impedir os constantes alagamentos das regiões baixas do município.

Bairro alagado de Vila Velha. O valão não tinha estação de bombeamento
A empresa pela qual esse engenheiro fiscaliza era responsável pelo acompanhamento da obra civil. Terminada ela, caberia à PMVV comprar as bombas e demais equipamentos para que o escoamento das águas da chuva efetivamente ocorresse pois na estação de bombeamento pois, caso contrário, em dias e horários de chuvas fortes combinadas por preamar, Guaranhus, Gaivotas, Pontal das Garças, Jockey clube e outras regiões seriam alagadas como sempre ocorre.
A prefeitura não comprou os equipamentos.
Há naqueles locais um grande valão de concreto armado coberto pela água, chamado de Canal Guaranhus, e que começará a se deteriorar se não for terminado. Somente com os equipamentos de sucção será possível a ele retirar as águas das chuvas daquelas regiões, lançando-as no mar. Meu amigo que contou a história e é uma pessoa séria chama a isso de "descaso com o dinheiro público".
Seria apenas descaso ou mais alguma coisa? Afinal, se há bombas funcionando hoje, elas só foram instaladas depois das inundações e da tragédia completa.
Nós sabemos que o brasileiro precisa ser educado politicamente. Desde a  mais tenra idade, aprender que quando destrói um bem público, está destruindo o que é seu e meu. Desde a mais tenra idade, deve aprender que ao jogar lixo nos rios e riachos, nos valões e das bocas-de-lobo, estará contribuindo para alagamentos. Da mesma forma, quando constrói em encostas muito inclinadas, sobretudo se essas encostas tiverem a cobertura vegetal retirada, estará criando o caldo de cultura para tragédias futuras.
Mas como é possível conscientizar a população que convive com exemplos como esse? Como educar o cidadão se ele desde criança aprende como usar a "Lei de Gerson"? Se o meu amigo está certo, grande parte do que ainda ocorre em Vila Velha em termos de alagamento teria sido evitado se a obra pública tivesse sido realizada do princípio ao fim, com a compra e instalação dos equipamentos de bombeamento de água. Mas não aconteceu isso. Ou por descaso ou porque o prefeito estava curtindo Nova Iorque com a família enquanto o dilúvio caia. Afinal, ninguém é de ferro...