23 de abril de 2014

Ela não encontrou o remédio...

Eram cerca de 08h30m e acompanhei minha mãe à Igreja de Santa Rita de Cássia, na Praia do Canto, Essa da foto. Na parte de trás do prédio funciona um setor de entrega gratuita de remédios mantido por voluntárias ligadas à igreja. São amostras grátis "raptadas" de médicos e entregues mediante apresentação de receita. Uma pessoa não encontrou o remédio de que necessitava. Ficou triste e outra disse: "Vota em Lula de Novo..." Eram, em sua maioria, pessoas humildes com receituários do SUS. Não tinham como pagar por sua saúde.

Soa miseravelmente cruel escrever isso: o brasileiro não pode pagar por sua saúde e a culpa não é só de Lula. É de uma enorme gama de pessoas, na maioria políticos, que vivem de favores públicos, enriquecem à custa do Estado, distribuem dinheiro também a seus apaniguados e mantêm uma estrutura corporativa que torna os direitos constitucionais dos cidadãos meras miragens no deserto.

Quantos milhões de cargos comissionados existem no Brasil? Quantos milhões de apaniguados inflaram a estrutura pública brasileira nos últimos anos? Quantos bilhões de reais são drenados a cada ano para o ralo da roubalheira nas obras públicas capitaneadas por quadrilhas de grandes empresas que superfaturam obras, dividem licitações entre si e pagam comissões a corruptos para manter seus feudos empresariais.

A Rodosol é só um exemplo. Mas ela existe porque o contrato que a mantém foi feito a caráter para permitir o assalto aos cofres públicos, e a exploração de um serviço mantido por décadas a tarifas irreais e assaltando o bolso do cidadão. Praticamente a totalidade dos contratos públicos de obras ou gestão são feitos para beneficiar empreiteiros e permitir ações judiciais capazes de eternizar lucros, gerar riquezas imorais e assaltar o dinheiro dos impostos que deveria ser usado, dentre outras coisas, para que a senhora citada por mim pudesse encontrar o remédio de que precisa. Se ela morrer por falta dele, nada vai acontecer à Rodosol, à Petrobrás ou a qualquer consócio de empresas que vivem à custa do dinheiro público. Do meu, do seu, do nosso dinheiro.

Amanhã o serviço de entrega de remédios da Igreja Santa Rita de Cássia vai abrir de novo às 08 horas. Uns levarão o que precisam, outros não. E eles não terão, coitados, a capacidade de entender porque isso acontece. Não entenderão que Lula é só uma engrenagem do sistema.

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18 de abril de 2014

"Unidade" e "governabilidade"

Nada, mas nada mesmo oxigena mais a democracia do que o confronto de ideias. Dois ou mais candidatos a um cargo público expondo seus projetos, ideológicos ou não, seus planos de ação e, com isso, buscando obter os votos dos eleitores. Sinto asco quando leio, vejo ou ouço essas conversas de "unidade" cercando candidaturas políticas como ocorre hoje quando se projeta a disputa para o Palácio Anchieta.
Essa "unidade" quer dizer acordos, muitos dos quais escusos, conchavos de bastidores, a maioria deles envolvendo divisão de cargos. É o mesmo que o discurso da "governabilidade". O Legislativo a troca por nomeações de apaniguados, grande parte cabos eleitorais ou caciques políticos de primeiro, segundo e terceiro escalões.
Eis a raiz de grande parte da corrupção politica no Brasil. Enquanto não fizermos do confronto de ideias a essência de nosso debate eleitoral, estaremos sujeitos à promiscuidade de todas as eleições, sejam elas municipais, estaduais ou federais.