25 de maio de 2015

Novos tempos de apostasia

Em agosto de 1991 a União Soviética se desintegrava e um presidente "caçador de marajás" divertia Brasília com suas corridas matinais coreografadas com camisetas de encomenda. As ideologias de esquerda eram atacadas de forma virulenta e o filósofo Roland Corbisier escrevia no Jornal do Brasil um artigo intitulado "Tempo de Apostasia". Nele, usava a metáfora maravilhosamente bem construída de convidar a todos os que acreditavam nos ideais de esquerda para se amarrarem aos mastros de suas ideologia e, a exemplo de Ulysses, herói da Odisséia, de Homero, resistir aos cantos das sereias. Elas eram e são muitas.
Em 1991 como em 2015, vivemos tempos de apostasia. Na época, tentava-se desacreditar os princípios do socialismo com base na derrocada da União Soviética. Como se tudo o que havia sido pregado até então fosse balela e o capitalismo, este sim, a última palavra em justiça social.
Hoje nós vemos a derrocada dos governos do PT. Um partido político nascido no discurso das reformas e da ética vem sendo aos poucos devorado por seus próprios canibais. De escândalo em escândalo, de prisão em prisão, ele não apenas se desmantela, mas alimenta a fogueira daqueles que pretendem usar a ocasião para mais uma vez atacar os ideais de esquerda.
Como Ulysses, devemos nos amarrar aos mastros de nossas convicções e resistir aos cantos das sereias. Elas eram muitas em 1991, como são agora. Com o mesmo discurso travestido de oportunismos e usando o episódio da falência moral do governo brasileiro como bengala. Dizia Corbisier: "...certos de que, apesar de todas as crises pelas quais está passando o mundo (o pensamento) socialista, o capitalismo não é a última palavra da História".
Nos últimos 12 anos, não nos roubaram apenas bilhões de reais para alimentar corruptos e um esquema de compra do Poder Legislativo. Tiraram-nos o poder de sonhar, o direito de acreditar num Brasil plural e igual em oportunidades, pois a derrota dessa gente é hoje associada a uma nova derrocada da esquerda. Como se tivéssemos uma União Soviética dentro de nós.
Não é assim. A verdadeira esquerda é digna, é ética, tem compromisso com o futuro e com a Justiça Social, essa com iniciais maiúsculas. Esses que nos julgam representar não são e nunca foram a esquerda, embora alguns tenham sido presos políticos. São apenas homúnculos e nada mais.
O mastro do navio está aí mesmo. Vamos deixar o canto das sereias passar. Ainda há muito a escrever na História. E os autores das novas versões não vão ser os canalhas. Serão os dignos.
     

9 de maio de 2015

Mujica e a miséria moral do Brasil

"Neste mundo tive que lidar com muitas coisas imorais, chantagens [...] Essa era a única forma de governar o Brasil" - segundo O Globo, esse trecho consta do livro lançado recentemente por José Mujica, ex-presidente do Uruguai e que muitos contatos teve ao longo dos tempos com o também ex-presidente Lula, autor das declarações. Mujica é reconhecido como uma figura digna.
Poucas pessoas não sabem que o Poder Legislativo do Brasil é uma instituição à venda. Conseguir apoio para aprovação de projetos, para governar, é fácil: basta o Poder Executivo distribuir cargos à vontade entre os parlamentares municipais, estaduais e federais. Em troca disso tudo passa. Sem isso, nada. E os cargos geralmente são dados com "porteira fechada", ou seja, o nomeado tem o direito de, a seu único critério, nomear subordinados. A corrupção no Brasil, o grosso dela, vive aí.
Já disse uma vez e repito; ninguém pode ser obrigado a ceder a chantagens ou imoralidades. Ninguém de caráter. Um presidente da República tem à sua disposição cadeias nacionais de rádios e televisão para uso seu, de livre convocação. Pode convocar também entrevistas coletivas sempre que quiser. E denunciar, denunciar, denunciar, apresentar provas, mais provas, mais provas, até o País se levantar contra os imorais os chantageadores. Ir às ruas, avançar contra eles.
Tenho uma convicção íntima: essa prática nefasta, mãe de todas as aberrações políticas de nossa Pátria, só vai desaparecer no dia em que um Chefe de Estado tiver a coragem cívica de enfrentar a situação. Ainda que sofra ameaças, inclusive de impeachment. Sem comprovação de crime de responsabilidade, nenhuma votação de impedimento passa. A Justiça, acionada pela Advocacia Geral da União barraria tudo. Você pode dizer: mas o Brasil pararia com o enfrentamento Executivo X Legislativo. Sim, pararia. Mas por algum tempo, talvez pouco. E depois disso nasceria dessas cinzas infectas uma Pátria Amada, idolatrada, onde valeria a pena vivermos todos nós.
Alguém em sã consciência acha que o ex-presidente Lula lutaria contra as pressões do Legislativo? Claro que não. Ele cederia, como cedeu, dando dinheiro a todos os corruptos. Diz que é honesto, que jornalistas de Época e Veja, enfiados um dentro do outro não chegam a 10 por cento da honestidade dele, mas sabe que está sofismando. E esse hábito, nele, é patológico.
O escândalo da Petrobras é só um exemplo da miséria moral do Brasil. Seus efeitos são hoje de conhecimento mundial e contribuem para que nosso prestígio internacional tenha a estatura de um rodapé. Estamos no fim do poço, ou perto dele. E não há luz no fim do túnel.
Acredito que esse trecho do livro de Mujica reflita a verdade. O que o autor ouviu efetivamente em algum encontro de Estado. E creio que ele nos retrata em toda a nossa vergonha.     

5 de maio de 2015

Acabou o dinheiro? Os ratos comeram?

O governo federal não vai cumprir a ordem judicial que determina a não interrupção do prazo de novas inscrições de estudantes no FIES, o programa de inclusão de candidatos a curso superior na rede privada de ensino mediante empréstimo a ser quitado algum tempo após a formatura. O ministro, da Pasta da Educação veio a público dizer que não há mais dinheiro. Acabou tudo, tudinho. E, como terminou, dane-se a ordem judicial. Não será cumprida. E como fica agora esse hiato legal?
Acabou o dinheiro? Os ratos comeram? Não sobrou mais nada depois dos vários butins que atingiram órgãos públicos depois do Mensalão, do Petrolão, após os diversos assaltos aos cofres públicos via BNDES - onde o destino do dinheiro da gente é secreto - dos setores elétrico, de transportes e onde mais foi possível roubar de 2003, 2004 para cá?
No País dos inexplicáveis 38 ministérios que servem sobretudo e principalmente à compra de apoio político via nomeações para primeiro, segundo e terceiro escalões, falta dinheiro para a Educação, Saúde, Infra estrutura, Transportes, Geração de Emprego e Renda, Previdência Social, Segurança, etc, etc. Mas sobre para mordomias as mais variadas, também sobretudo e principalmente para as regalias de todos os três Poderes e suas ilhas da fantasia com sede em Brasília.
Os quase 40 ministérios do Brasil custam aos cofres públicos mais de R$ 400 bilhões anuais. O "custo Brasil" é o maior responsável pelo caixa negativo do País, isso depois da roubalheira que está sendo aos poucos desvendada. A verba dos partidos políticos foi triplicada pela presidente que não manda pois ela e seu ministro da Fazenda precisam fazer passar pelo Congresso as leis que penalizam os brasileiros, que nos condenam a pagar as contas da incompetência, da incúria e das mentiras praticadas há mais de sete, oito anos para que o PT atingisse a meta de se perpetuar no poder não importando quais meios fossem usados. Inclusive quebrar o País.
Panelaços que fizeram com que a presidente que não manda deixasse de fazer uso de cadeia nacional de rádio e TV no dia 1º de maio não vai resolver. O povo tem que voltar às ruas com exigências específicas. Precisa mostrar aos governantes dos três Poderes o que nos agride. Pela redução do custo Brasil (com o corte à metade do número de ministérios), pelo combate às mordomias, pelo repensar das medidas que atingem a população, pelo cancelamento dos reajustes seguidos do custo da energia elétrica, pela manutenção das leis trabalhistas até a total recuperação do País. Finalmente, pela abertura da Caixa Preta do BNDES e pelo fortalecimento de todas as investigações do roubo de dinheiro público institucionalizado.
Nós precisamos dessa agenda. Ou ela ou valerá a pena roubar.