17 de setembro de 2015

A Belíndia, a Brasildânia e os pobres

Em 1974 o economista Edmar Bacha criou o termo Belíndia para designar o Brasil. O país seria a mistura da rica Bélgica com a pobre Índia. Agora foi a vez do jornal britânico The Economist nos chamar de Brasildânia, a mistura de Brasília, a nossa Capital rica, com a Jordânia hoje em dificuldades e que representaria o restante do País. Nos dois casos uma ideia está implícita: temos dois países em um, sendo que o dos privilegiados não abre mão deles e ainda cobra do outro, o deserdado, o pagamento dos rombos que surgem sempre nas contas pública.
A crise atual, fruto sobretudo de irresponsabilidade administrativa e roubos, mostra mais uma vez a face cruel da Belíndia ou então da Brasildânia: serão os privilegiados, aqueles que determinam seus vencimentos e penduricalhos os que vão decidir de que forma o País de todos vai sair do buraco. E decidirão, como sempre ocorre, mandando a conta para a Índia ou para a Jordânia.
Quando foi criado o teto dos vencimentos do serviço público brasileiro, descobriu-se que no Judiciário e no Legislativo, principalmente, havia gente que recebia quatro, cinco vezes isso e que iria continuar a receber pois não abria mão. E mais: essa casta detinha, como detém ainda hoje, poder suficiente para tornar a lei do teto do servidor público uma letra morta.
Por isso, e por pouca coisa mais, será difícil sairmos da crise sem mais uma vez penalizar quem nada tem a ver com a conta a ser cobrada. Aliás, minto; tem sim. Porque uma das faces mais cruéis desses dois países em um é que a parte destituída de poder também é a mais ignorante, sem acesso às informações que poderiam ajudá-la a construir um novo Brasil. Graças a isso, bastam bolsas família, minhas casas minhas vidas e outros "programas" para comprar a preço de banana os votos dessa gente capaz de acreditar em promessas vãs e desonestas. Acreditar em contos do vigário.
Todos os dias a todas as horas e gente vê na televisão, ouve no jornal, curte na internet e lê nos jornais as declarações dos responsáveis pelas decisões dando pitacos na crise. Já se falou de reduzir ministérios, cargos comissionados e outras coisas mais. Mas ninguém disse ainda de maneira clara que o respeito ao teto do serviço público seria o passo ideal para que pudéssemos começar a construir um Brasil uno, somente nosso e capaz de proporcionar a todos justiça social.
Pois se formos capazes de construir esse País, ele não será mais vítima das quadrilhas que hoje habitam Brasildânia de Brasília. Haverá um ou outro roubo, claro, mas ele jamais será uma política de Estado. E nem uma presidente fora da realidade poderá chamar um processo constitucional de impeachment de golpe. Porque a atual sabe exatamente o que é um golpe. Mas quando se defende e defende seu mandato jamais assume que foi em seu governo e de seu antecessor que o Brasil sofreu o maior assalto de sua história para agora botar o prejuízo na conta dos pobres.    

8 de setembro de 2015

Antes que surjam outros Aylans

Imagens mudam o mundo; sempre mudaram. A foto de uma garotinha vietnamita sendo queimada por bomba de napalm em 1972 forçou o fim da Guerra do Vietnam. Os cadáveres de palestinos massacrados nos campos de refugiados de Sabra e Chatila em 1982 sepultaram a fama imerecida de humanistas dos israelenses (ver artigo anterior a este). Agora, Aylan Kurdi, um menininho de três anos que apareceu morto em uma praia da Turquia pode fazer com que os governantes e até mesmo a ONU se voltem para o drama dos refugiados da Síria e de outros países em conflito ou miseráveis daquelas regiões. Do norte da África ao Oriente Médio, Balcãs e regiões mediterrâneas, além de orientais.
Todos parecem que se movimentam enquanto artistas pintam a tragédia de Aylan de todas as formas. Tentam mostrar respeito pela criança e, ao mesmo tempo, incitar aqueles que decidem a intervir no maior êxodo humano de depois da II Guera Mundial. Mas de modo responsável.
É preciso fazer isso.
Melhor seria se o esforço fosse dispendido sob orientação ou coordenação da ONU, de modo a que os países capazes de colaborar e dispostos a fazer isso tivessem sua responsabilidade medida pela capacidade de ajudar. Sim, todos devem ajudar menos Israel, quer quer ver os Aylans do mundo dividido no fundo do Mar Mediterrâneo. Mas devemos ajudar dentro de nossas possibilidades. Portugal, por exemplo, não tem a capacidade de absorver os mesmos esforços que a Alemanha e a Grã-Bretanha.
As imagens de Aylan morto despertaram nas pessoas o sentimento de que o drama daquela gente é um drama da raça humana. Deve ser compartilhada por todos aqueles que fazem parte dessa raça.
E uma coordenação responsável é necessária porque nessas horas surgem aqueles que desejam minorar o sofrimento alheio, da mesma forma que os demais, minoria creio, mas dispostos a tirar proveito da situação de forma pessoal ou corporativa.
O Brasil está recebendo refugiados sobretudo da Síria e isso é necessário. Necessário também se torna medirmos nossa capacidade de ajudar: num momento de crise como o que vivemos, quantas pessoas podemos receber sem agravar ainda mais a crítica situação econômica interna? Precisamos medir isso antes que algum irresponsável proponha a criação do projeto Meu Refugiado Minha Vida para tirar proveito da desgraça alheia em benefício próprio.
Por último, essas medidas são urgentes. Outros Aylan vão dar à praia em breve.




7 de setembro de 2015

Sabra e Shatila explicam Benjamin Nethanyahu

Ariel Sharon era o Première. Benjamin Nethanyahu, um de seus discípulos que cresciam na hierarquia de Israel. Entre 16 e 18 de setembro de 1982 a milícia libanesa maronita liderada por um certo Elie Hobeika invadiu os campos de refugiados palestinos de Sabra e Shatila, situados na periferia sul de Beirute. Eles queriam se vingar da morte de seu líder, Bachhir Gemayel. A região era então ocupada por forças israelenses e os invasores pediram a Israel que cercasse os campos. Todas as saídas foram bloqueadas e os palestinos não tinham armas. Durante quase 48 horas deu-se o massacre de cerca de 3 mil pessoas (foto) enquanto os militares judeus apenas olhavam, sem intervir. À noite, como era mais difícil encontrar e matar, o Exército de Israel ainda forneceu e disparou milhares de foguetes de iluminação para ajudar na carnificina. Ao que parece, depois foram dormir em paz!
Os milicianos eram cerca de 150 homens e, dentre os mortos, centenas eram crianças. Outras centenas, idosos. Desde aqueles dias tive uma convicção íntima: o que separou e ainda separa os ultra-direitistas judeus dos nazistas é apenas uma questão de oportunidade. Os nazistas quase puderam dizimar todos os seus inimigos porque a guerra os escondia. Os israelenses, não de pronto, mas fazem isso com mais vagar, por força das circunstâncias da atual política internacional.
A direita, sempre forte, dirige Israel hoje. Há oposição a ela, sim, há uma esquerda organizada naquele país, mas sem força suficiente para intervir. E como essa política de Terrorismo de Estado - sim, Israel pratica Terrorismo de Estado - prevê a expulsão total e o extermínio dos palestinos da região que, para eles é deles por vontade divina, Nethanyahu não aceitará nunca refugiados sírios ou norte-africanos de outras regiões em seu país. Notem o que ele quer dizer quando se refere aos restantes refugiados da África que não deseja nem aceita: são os negros. Essa cerca que o Primeiro Ministro pretende construir é como um bloqueio de campo de concentração ou de extermínio. Igual, sem tirar nem por. E os princípios que norteiam sua construção, os mesmos que moveram a máquina de guerra nazista na II Guera Mundial. Israel é movido por ódio racial. A raça judaica é superior!
Aquele país tem mais de uma centena de ogivas nucleares, em grande parte fornecidas pelos Estados Unidos. Jamais foi investigado pelos organismos de controle de armamentos da ONU. Ao mesmo tempo, essa mesma ONU, sob pressão dos Estados Unidos, força os demais países da região a assinarem acordos de não proliferação de armamento atômico, Cercam, blindam o entorno para que Israel tenha condições de prosseguir em sua política genocida sem interferências.
E com o "direito de se defender".
São esses os fatos que explicam a reação de Nethanyahu aos pedidos de abertura de fronteiras para receber refugiados sírios e de outras regiões. Ele mente quando diz que seu país não vai se afogar por causa daquela gente desesperada. Na verdade, o que Israel quer é que eles, os outros, se afoguem. E os judeus, no passado, já foram salvos pelas mesmas "raças" que hoje querem dizimar.      

3 de setembro de 2015

O velório do Brasil

A figura de Dilma Rousseff se tornou coisa caricata (como essa cara da foto). A gente pensava, antes da primeira e da segunda posse dela, que só o ex-presidente Lula era capaz de falar besteiras a não poder mais e a se comportar como o protocolo condena. Mas não. Dilma conseguiu ultrapassar seu criador. E, pior de tudo, ao contrário dele, ela é uma economista e já exerceu cargos de comando econômico. Nada disso a impede de ser a pior chefe de Estado da história do Brasil. Um feito e tanto!
Nós estamos assistindo hoje ao velório do Brasil. Infelizmente.
Vamos aos fatos: primeiro o governo anuncia a CPMF. Como o mundo desaba nas cabeças de todos os idiotas do Planalto, Dilma "volta" atrás. Mas o rombo existe - lembrem-se todos de que o dinheiro foi roubado por eles - e ela tem que dizer o inevitável: não gosta da CPMF mas se for preciso, vai encaminhar o projeto da recriação, seja lá com o nome que for, ao Congresso.
Para que essas idas e vindas? Simples: primeiro, ela não quer reduzir o tamanho paquidérmico do Estado porque seus 39 ministérios existem para negócios nem sempre lícitos. Segundo, também não quer demitir parte dos 25 mil cargos comissionados de Brasília porque eles são ocupados por "companheiros" pagos com o nosso dinheiro. E Lula não aceita isso. Por último, ela quer sustentar esses seus últimos bastiões por necessidade. Vai daí precisa de tempo para, nesse período, conseguir o apoio de parte do Congresso para a aprovação da CPMF e outros aumentos de impostos mais. E como ela fará isso? Usando seus 39 ministérios, o apoio  dos apaniguados de Brasília e as miseráveis verbas parlamentares, para comprar apoio. Simples assim; nem precisa explicar muito.
Agora pela manhã a TV noticia que os deputados e senadores mais moralistas querem proibir mini saia no Congresso. Os mesmos parlamentares que se horrorizam com pernas bonitas de fora são aqueles que guardam dinheiro nas cuecas. E trocam votos por favores como, por exemplo, cargos de livre nomeação em primeiro, segundo e terceiro escalão.
Quem habita Brasília sabe que no Congresso circulam diariamente inúmeras moças que prestam favores, digamos, mais reservados. E elas têm crachás, obviamente com nomenclatura diferente da função que exercem. Não guardam o dinheiro de seus favores nas calcinhas para não sujar o instrumento de trabalho . Colocam no banco mesmo, depois de receber..
Elas são o toque final de tinta no quadro do Brasil e da Brasília de hoje. Não é difícil entender nada disso. Difícil é engolir. E engolir enquanto todos assistimos ao velório do Brasil.