30 de novembro de 2015

O japonês bonzinho no Samba do Crioulo Doido

A muita gente o fato passou desapercebido: no mesmo tenebroso dia 25 de novembro de 2015 em que Delcídio do Amaral, senador do PT e líder do Governo no Senado foi preso pela manhã em Brasília, o empresário Sérgio Gomes da Silva, conhecido como Sombra, foi condenado a 15 anos de prisão em São Paulo. Ele é um dos acusados de participar de um esquema de cobrança de propinas durante a gestão do prefeito de Santo André, Celso Daniel, também do PT. O prefeito iria denunciar o esquema e foi assassinado em 2002. Sombra pode estar por detrás desse crime.
13 anos separam os dois fatos. Mas talvez eles sejam muito parecidos em essência. Celso Daniel foi calado numa época em que ainda era possível fazer isso sem deixar rastros conclusivos. Tanto que Sérgio Gomes da Silva ainda pode recorrer. Delcídio pretendia calar Nestor Cerveró, delator na Operação Lava Jato, para que seu envolvimento em esquema de corrupção na Petrobras não fosse revelado na delação premiada. E isso envolvia um plano mirabolante de fuga que somente poderia ter nascido da cabeça de um celerado ou então de Fernandinho Beira Mar.
E no meio de tudo isso, como o Brasil é o país do Samba do Crioulo Doido, surge a figura do japonês bonzinho. Uma figura menor, claro. Simplesmente, ao que parece, um agente da Polícia Federal que no passado, em 2003, chegou a ser preso sob acusação de contrabando para ser solto e reincorporado à instituição depois, pode ser uma das pessoas que vazam informações sobre ações policiais e judiciais. Newton Hidenori Ishii (na montagem fotográfica), o tal agente, não vazaria dados para a imprensa, como ocorre geralmente. Faz isso para os acusados e seus advogados. Ou seja, para facilitar a vida dos que estão presos. E permitir a elaboração de novos planos de criminosos.
Vejamos, portanto, onde estamos: em 2002, antes da posse de Lula como Presidente da República, um prefeito do PT foi morto. Ia denunciar esquemas de corrupção. Em 2015, um senador da República, em pleno exercício do mandato, foi preso por determinação do Supremo Tribunal Federal por estar entabulando o projeto de fuga de um preso e, em gravações, tentando envolver o próprio STF nessas tratativas. Ele queria impedir que as denúncias atuais de esquemas de corrupção o envolvessem e a um banqueiro. Nunca antes na história desse país isso havia acontecido.
Vejam como as coisas se encaixam. Como o encaixe é perfeito. Como o simples relato dos fatos, acrescentado à história dos 12 anos e tanto do PT no poder, mostra um projeto de manutenção desse poder que passa por cima de tudo. Passar por cima da Constituição, então, é um mero detalhe de pequena importância para eles. Afinal, nos últimos 12 anos a Constituição foi vilipendiada. O japonês bonzinho, se tem vínculo com o caso recente, é apenas uma peça menor do tabuleiro de xadrez desse Samba do Crioulo Doido que, ao contrário da música famosa, nos destrói a todos. E ao nosso País.
Mas há como deter esse monstro de tantas cabeças. E a hora é essa.

25 de novembro de 2015

Os dois oceanos de lama

Vi o senador Delcídio do Amaral há menos de um ano aguardando embarque no Aeroporto de Brasília. Sentado a uma poltrona ao lado da ponte de embarque que usaria, estava sorridente. Parava de ler o jornal que tinha em mãos para sorrir, sempre que alguém passava por ele. Quando uma senhora o cumprimentou, levantou-se e, cerimoniosamente, beijou-a nas mãos. Um gentleman! Mas, da mesma forma que grande parte de seus iguais, tem pés de barro. Ou lama, se preferirem.
Não sei hoje qual mar de lama faz mais mal ao Brasil. Se o que nasce em Mariana e corre até o mar de Regência, destruindo tudo o que lhe passa pela frente, ou se o de Brasília, formado por pessoas que se tratam por "excelência", inclusive quando um vai xingar a mãe do outro, e roubam dinheiro público com uma desfaçatez que torna difícil à gente acreditar. Sabemos hoje que esses dois mares formam um oceano de sujeira em nosso País. E somos vítimas de ambos. Quase todos nós.
Dos três poderes da República, o que desempenha melhor seu papel nos dias atuais é o Judiciário. Não estou dizendo que seja perfeito, que não tenha em seu meio pessoas capazes de nos envergonhar. Longe disso. Mas tem se portado com dignidade cívica em muitas de suas ações que têm por objetivo livrar o Brasil desse cancro mole chamado corrupção. Ela é endêmica entre nós.
O Executivo e o Legislativo são cúmplices na criação e na formatação do oceano de lama que nos cerca. Um depende do outro, não para construir um Brasil digno de nosso orgulho, mas para esconder sujeira e se proteger mutuamente de cassações de mandatos, impeachments e outras coisas mais. Fazem isso abertamente. Descaradamente. Canalhamente. O PT sabe que não deve tentar cassar Eduardo Cunha, que é corrupto. Senão ele coloca em votação o impeachment de Dilma Rousseff, que cometeu crimes pelo menos de "pedaladas" fiscais - e isso é o mínimo -. Se ela cair, cai juntamente com ela todo o restante do esquema que nos assalta desde 2003.
Que triste é o Brasil de hoje!
Vemos lama avançando sobre o mar a partir de Regência, paraíso morto de surf no litoral do Espírito Santo, por irresponsabilidade empresarial e omissão governamental, ao mesmo tempo em que a cada dia e episódios lamentáveis, mais casos de corrupção são expostos em Brasília. Nunca antes na história desse País tivemos tantos motivos para sentir vergonha de ser brasileiros!
Foi o Ministro Gilmar Mendes que, repito, melhor exemplificou o Brasil de hoje: "Ele foi tomado por ladrões de sindicato que o transformaram em um sindicato de ladrões".
Mas nem tudo está perdido. Temos que acreditar que vai ser possível salvar grande parte dos danos causados pela Samarco/Vale. E, principalmente, que teremos forças para varrer de Brasília a lama que a torna espúria aos olhos - e bolsos - de todos nós.
E a hora é essa!

12 de novembro de 2015

Somos o cocô do cavalo do bandido!

Bombeiro acaricia o cavalo na tentativa de que ele não morra no mar de lama
Nós não somos nada no universo das preocupações de empresas de grande porte como a Samarco. Seríamos, em última análise, o cocô do cavalo do bandido, como se dizia antigamente. E não o esterco desse pobre cavalo de tração da foto e que o bombeiro tenta salvar acariciando-o em meio à lama que a empresa provocou, enquanto não surge um meio de tirá-lo de onde está.
A Samarco pertence à Vale e a outra empresa multinacional. E a Vale nos inunda a todos diariamente com um pó preto insuportável. Ele suja nossas casas, nossas roupas de cama, nossas plantas, utensílios. Pior do que isso, a gente respira esse "rejeito", nome que eles usam. O que a longo prazo isso nos vai trazer de prejuízos para o organismo? O que vai fazer a nossos pulmões?
Quando um fato dessa natureza ocorre - o caso da lama da Samarco - as autoridades correm a fazer discursos elétricos exigindo isso, ameaçando aquilo. Mas depois a poeira baixa. Ou então a lama seca e vira uma espécie de concreto imundo. E, como se sabe, que no Brasil sobram recursos jurídicos a serem usados. Samarco, Vale e todas as demais empresas de grande porte contratam ótimos advogados para poder continuar a fazer o que bem entendem. Sem medo de nada ou quase nada.
Um amigo tem uma fazenda perto de Linhares. No caminho para lá passamos por uma grande extensão de área pertencente à Fímbria. São quilômetros e mais quilômetros de eucaliptos. Eles destroem o lençol freático, mas isso não tem a menor importância para a empresa. Além do mais, para obter essa grande extensão de terra, os empresários foram adquirindo sítios de pequenos proprietários. Gente de cultura de subsistência. Acenavam com dinheiro à vista e as pessoas vendiam. Ao final, as restantes negociavam só para não ficarem sozinhas no mundão de eucaliptos. Notei que não havia uma única casa mais por lá. A explicação foi curta, lógica e cruel: "Compravam a terra e botavam logo casas, cochos e tudo o mais abaixo. Assim o MST não invade".
Esse é o Brasil. Ninguém lá em Brasília está preocupado conosco. Com o drama das famílias que tiveram os bens destruídos pelo mar de lama da Samarco. E por que estariam se vivem também eles em outro mar de lama, só que esse não é pegajoso e ainda dá muito dinheiro vivo? Vão fazer discursos, "protestar" e depois aceitar, como sempre fizeram, convites das grandes empresas. Elas têm dinheiro e é o dinheiro que move os interesses do mundo. Do Brasil, então, nem se diga.
A Vale, por sinal, deve estar comemorando: o pó preto não dá essa mídia toda. Não faz reboliço. Então que ele continue sendo lançado ao ar, nas nossas casas, móveis, utensílios e pulmões. E daí? Somos apenas, como já disse, o cocô do cavalo do bandido. Mas não o deste pobre coitado da foto.          

5 de novembro de 2015

Eles não vão vencer.


Toda censura não apenas é burra como esconde atrás de si ao menos falhas imperdoáveis. Ela não convive com nenhum dos princípios que sustentam as sociedades de Direito e tem base na corrupção. Em seus mais diversos aspectos. A censura se manifesta por coação, por ameças, por intimidação, pela prostituição de princípios legais, pela manipulação de fatos, por corporativismo e por mais uma série de outros vícios. Não tem ideologia. Tanto vive nos sombrios limites da direita quanto da esquerda política. Ou então não tem noção do que seja nada disso.
Em minhas mãos a edição 908 de Época, revista que assino. Trás publicidade do Itau, Natura, Porto Seguro, Mido, Pagseguro, Bioritmo, Emirates, EDC Brasil, CAT, Vivo, Projeta Brasil, Petronas, Closet, Canal Brasil, Porcão, Tele Cine, Kiss, Celina, Ampara Animal, Parmetal e Azul. Não há publicidade de órgãos governamentais embora todos eles tenham verbas destinadas à sua divulgação ou de suas ações. Isso acontece com Veja, IstoÉ, etc. Pura e simplesmente essas verbas são destinadas às empresas que aceitam parceria do Estado divulgando propagandas e omitindo fatos de interesse público, inclusive aqueles sustentados por provas de cometimento de crimes. Em síntese, os poderes Executivo e Legislativo usam o meu, o seu, o nosso dinheiro para pressionar pelo silêncio criminoso.
Paralelamente a isso, o Senado da República aprovou uma lei que vai agora à sanção presidencial - e a gente sabe por que princípios o Estado baliza seus critérios de "sim" ou "não" - prevendo um tal "direito de resposta" que nada mais é do que o amordaçamento do exercício da denúncia. Fernandinho Beira Mar poderá exigir esse direito. Eduardo Cunha também. Todos os presos da Operação Lava Jato, idem. E mais aqueles que estão sob investigação. Dentre eles os poderosos cujos passos mal dados foram rastreados pelo COAF. Que diferença há entre eles? Apenas uns já estão condenados, outros aguardam sentenças e outros temem pelo dia em que a Polícia Federal chegará a seus domicílios com ordens de prisão. Será necessário questionar essa excrecência junto ao STF.
Sou jornalista profissional. Num passado recente lutei como era possível para que a profissão de jornalista continuasse a ser regulamentada. Nada conseguimos nesse caso. Agora as grandes empresas de Comunicação que patrocinaram a desregulamentação do exercício profissional de minha nobre função social estão sendo atingidas. Não teria sido melhor lutarmos juntos por dignidade?
Fui durante décadas militante do Partido Comunista Brasileiro, o PCB. O Partidão. E até ele deixar de existir. Tenho nojo de roubos e de ladrões. Em 2002 votei em Lula e apoiei aquele novo governo até me convencer de que havia sido vítima do maior estelionato eleitoral da história desse País, juntamente com outros milhões de brasileiros céticos. Nosso "crime" foi crer.
Já disse, sustento e repito: o atual (des)governo não é de esquerda. Como disse o Ministro do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes, trata-se de um convescote de ladrões de sindicato que se transformou num sindicato de ladrões. Lamento muito que gente culta, de cabeça formada, ainda consiga hoje defender esse governo ou por miopia ou por não aceitar perder privilégios. Misturam-se à corrupção como se fosse possível condenar o Legislativo absolvendo o Executivo ou o inverso.
Mas o Brasil que preza a dignidade precisa lutar. Essa gente jamais vencerá.