23 de abril de 2015

O PT não é a esquerda!

Defendo, desde há muito tempo, que o PT não é a esquerda. Agora sei também que aquele mosaico de grupos e grupelhos surgido de movimentos sindicalistas operários já no ocaso do regime militar foi aos poucos se deteriorando e se tornando terreno fértil para todo  tipo de desvios. Formou-se aí o caldo de cultura que nos levou aos escândalos e, desde o mensalão, tiram o sono daqueles que nasceram para amar o Brasil acima de tudo e a crer nele além de todas as coisas.
O que falta ao PT é ética, nome dado ao ramo da filosofia dedicado aos assuntos morais. A palavra ética é derivada do grego e significa aquilo que pertence ao caráter. Não a tendo, pode o homem tudo. Não há mais freio para ele e qualquer ato, em qualquer direção, pode ser praticado. Sem limites, nem ao menos legais para andar, quaisquer fins justificam quaisquer meios.
Votei no PT em 2002 como milhões o fizeram. Via naquela opção, sobretudo porque dela faziam parte centenas ou milhares de brasileiros vítimas da ditadura militar, a forma mais acertada de construirmos um Brasil novo, com inclusão social e livre de corrupção institucional. E foram justamente as pessoas das quais mais esperava as primeiras a me enganarem. Perseguidos políticos como José Dirceu, José Genoíno e outros, prostituíram-se ao chegar ao poder. Não tinham, como seu partido não tem, um projeto de governo. Tinham um projeto de poder. E para mantê-lo valia qualquer coisa. O Foro de São Paulo nos conta essa história.
Os danos à Petrobras são apenas um detalhe. Ainda não foi aberta a caixa preta do BNDES. E só num País como o Brasil é possível existir uma instituição pública, um Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, onde o Estado comandado por um partido que se julga seu dono pode "emprestar" dinheiro público no exterior sem que o contribuinte tenha sequer o direito de tomar conhecimento desse fato. Mandaram meu dinheiro para fora e eu nem posso saber quanto nem para onde foi. Nem, também, quanto ficou por aqui, em contas bancárias diversas.
Até onde isso vai? A presidente não governa mais. Nas mãos do vice-presidente e do corpo de ministros que o comanda, o governo tenta de tudo para fazer passar no Congresso textos legais que vão aumentar ainda mais a fome dos brasileiros. Os 38 ministérios continuam comendo verbas públicas sem piedade. Cargos de segundo escalão são dados em troca de votos. A verba partidária foi aumentada em 300 por cento enquanto outras, como a da Educação, são ceifadas ao menos à metade em nossa "pátria educadora" de araque.
Só não dá vergonha ser brasileiro porque isso não é o Brasil.
   

13 de abril de 2015

Mestre e o preto safado

Faz tantos anos...
Na antiga TV Record, ícone do início da televisão no Brasil, um negro foi dar entrevista. Ao final dela, aceitou o convite de Hebe Camargo, titular do Programa Hebe Camargo, para cantar. Com um vozeirão de fazer inveja, cantou "Dora". Foi aplaudido de pé.
Tratava-se de Esmeraldo Tarquinio (foto acima), ex-favelado, ex-cantor de conjunto de beira de cais que se apresentava em prostíbulos - no caso, o cais do Porto de Santos  -, advogado do Sindicato dos Estivadores, membro do Partido Comunista Brasileiro e recém eleito prefeito de Santos pelo MDB.
Não chegou a tomar posse. Para a ditadura militar recém instalada, era demais. Além de "preto", como foi chamado, era comunista e se apresentava na zona para poder ter dinheiro e estudar Direito. Uma lei foi feita às pressas tornando vários municípios brasileiros região de segurança nacional "livre" de eleições diretas. Esmeraldo teve o mandato cassado. Foi preso. "Bem feito para aquele

preto safado", ouvi muitos dizerem, ainda criança., no clube onde meus pais eram sócios. Esmeraldo, cardiopata, não sobreviveu muito tempo depois disso. Logo estaria sepultado.
Em Vitória viveu Mestre Flores (foto abaixo). Pobre, sem estudo formal, foi  preso como membro do PCB. Nunca mais conseguiria encontrar emprego. Não era negro mas militava em partido político proscrito. Portanto, era um criminoso. Mas sabia tocar. Pegou seu cavaquinho e foi com o conjunto do qual fazia parte tocar em São Sebastião. Ou Carapeba, se preferirem. Ou nos puteiros, para ser mais claro. Afinal, precisava sustentar a família. O velho jornalista Chico Flores recorda-se disso, pois era filho dele. A última entrevista que deu na vida, Mestre Flores deu a mim. Na época, com seu Regional, tocava em praças, clubes ou no bar perto da casa onde morava, em Santa Lúcia. Morreu idoso. Mas até o final da vida guardava mágoa, muita tristeza, por tudo o que havia passado.
Esmeraldo e Flores são vítimas da ditadura militar que infelicitou o Brasil de 1964 a 1985. E vejam: eles não foram torturados e nem mortos nos porões do regime. Não tiveram a "honra" de conhecer o delegado Sérgio Fleury ou seus amigos. Apenas eram lixo para os donos do poder.
Eu pensava nos dois enquanto as emissoras de TV mostravam, ontem à noite e hoje pela manhã, as imagens de pessoas pedindo intervenção militar no Brasil, travestidas de democratas e infiltradas em um movimento que quer apenas um País digno, livre da corrupção crônica na qual vive.
Das duas, uma: ou essas pessoas não sabem o que estão fazendo, ou sabem muito bem. Muito mesmo...    
          

11 de abril de 2015

O BNDES vem aí

A manchete de hoje de O Globo diz: "Lava-Jato chega à Caixa e ao Ministério da Saúde". Se Neguinho da Beija Flor fosse chamado para falar, diria: "O BNDES vem aí, gente!"
Hoje pela manhã eu conversava com um amigo com amplo conhecimento no Poder Judiciário. E ele me dizia que o juiz Sérgio Moro não atua sozinho. Há uma equipe auxiliando-o em seu trabalho, e isso com dois objetivos: para conhecerem o maior número possível de fatos e jamais errarem, o que significa estudar todas as vertentes das tortuosas leis brasileiras antes de tomar decisões cruciais. E, como acredito eu e ele também, a atuação do juiz é não isenta de risco. Tanto que muitos não aceitariam esse trabalho, até pelo stress emocional que ele carrega.
O atual momento brasileiro mostra que a vida do País está mudando. O deputado que um dia, sentado à mesa da direção da Câmara, ergueu o punho direito imitando José Dirceu e outros e afrontando a presença ao seu lado do então Ministro do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa, hoje habita todas as páginas de jornais e imagens de televisão, preso pela Polícia Federal em Curitiba.
Democracia não se faz com falta de respeito. Da mesma forma como um membro do Poder Judiciário não pode jamais afrontar representantes dos demais Poderes, um Ministro do STF jamais deveria ser desacatado em pleno plenário da Câmara dos Deputados. Nem se o autor do desacato, da afronta, fosse um parlamentar honesto, o que definitivamente não é o caso.
Aliás, o Legislativo deve muitas explicações à Nação. Sobretudo e principalmente seus membros que assinaram o pedido de abertura da CPI do BNDES para retirar a assinatura depois. O Governo não diz que é honesto? Não diz que nada tem a esconder? Então por que empresta meu dinheiro em negócios suspeitos e secretos? Como, em tempo de paz, um banco de desenvolvimento, que lida com dinheiro público, pode conceder empréstimos secretos? E, pior do que tudo, ao que tudo indica a ditaduras sanguinárias africanas que atentam contra os direitos humanos. O objetivo principal do BNDES é atender aos interesses nacionais e suprir as necessidades do Brasil.
Quando nosso banco foge a essas diretrizes, torna-se suspeito. E suspeito de fazer parte das coisas que levaram o ex-deputado André Vargas, o citado mais acima, à cadeia. Roubar dinheiro público, sobretudo exercendo cargo público, é crime sem perdão. Quando cometido por um governo de um partido político que pregava a honestidade e a ética, pior ainda.
Estamos tratando da coisa pública como se privada fosse. Tanto no sentido do privado, coisa das pessoas, quanto no sentido de vaso sanitário. Só por isso o Brasil merecia ter outros juízes como Moro, ou outras equipes jurídicas combatendo o crime, como essa.      

1 de abril de 2015

Nunca antes na história desse País

O garçon do restaurante onde eu como de vez em quando, um self-service, sentou-se para conversar. A mãe dele, que mora na periferia da cidade da Serra, região da Grande Vitória, parou a obra que faziam na casa. O dinheiro não dá mais. Agora, fica tudo no tijolo. Quando for possível, continua.
Esse mesmo rapaz tem amigos vizinhos em situação parecida. Um está desempregado, pois trabalhava numa padaria que reduziu o número de funcionários. Outro está trocando o aluguel da casinha onde morava pelo de uma bem menor. Coisa de 30 metros quadrados.
Há também, citado por ele, o caso do que está roubando. Até agora deu a "sorte" de não ser preso. E a menina amiga de infância que "se perdeu" com o namorado, anda cobrando R$ 30,00 por programa. Não dá para fazer por menos. Todos rigorosamente, diminuíram à metade a quantidade e qualidade de coisas que botam nos carrinhos de compras. Os que têm emprego com carteira assinada esperam trêmulos pelo final do mês para terem a certeza de que a demissão não vem. Já os outros, desempregados faz bons meses, mendigam emprego. Salário mínimo basta.
- Sabe aquela velha que todo dia está pedindo esmola na frente da agência do Banestes? Ela mora por lá. Não consegue sobreviver com Bolsa Família, pois há mais bocas famintas em casa - diz ele.
O que o leitor acha que há em comum entre essas pessoas? Vou dizer: elas votaram em Dilma Rousseff. Acreditaram piamente nas promessas de campanha da candidata dos pobres, da chefe do governo "de esquerda". Da sucessora de Lula o ex-operário aposentado por ter perdido um dedo e que se elegeu presidente prometendo fazer do Brasil outro país. Fez. Aqui, hoje, um grande número de pessoas são presas todos os dias por roubo. O total talvez nunca possa ser calculado.
Nunca antes na história desse País houve algo parecido.
Mas, aconteça o que acontecer, os grandes ladrões um dia vão sair da cadeia para viver muito melhor do que o garçon que usou meu tempo até ser chamado por outro freguês. Foi cumprir sua faina diária. Como o restaurante é só de almoço, ele deve agora estar no ônibus indo para casa e contando o dinheiro das passagens de todos os dias. Tem um irmão altista que não é aposentado.
Ele é um dos milhões de brasileiros vítimas do maior crime de estelionato político de nossa história. Mas Dilma Rousseff reagiu: o novo chefe da Comunicação Social da "Pátria Educadora" tem quase R$ 190 milhões para propaganda oficial a ser distribuída pela maior quantidade possível de nossas empresas de Comunicação. É ela diz que a liberdade de imprensa é um de seus lemas. Você crê?
O moço que está indo para casa, não. E eu também não acredito que essa dinheirama compre muitos silêncios. Mas certamente vai comprar alguns. Isso sempre acontece.