10 de agosto de 2017

A festa da pelegada

O Brasil tem hoje cerca de 15 mil sindicatos e ainda cria mais ou menos 250 por ano. Todo ano. Justamente por isso, para as centrais sindicais é preciso criar uma contribuição obrigatória que substitua o imposto sindical a ser extinto com a reforma trabalhista. Senão, como manter a festa da pelegada que vive nababescamente à custa dessas entidades?
Os sindicatos são estruturas necessárias nas relações de trabalho. Sobretudo os dos trabalhadores, que os defendem contra a força maior do patronato. Ao longo das décadas e nos mais diversos países, foram as estruturas sindicais as responsáveis pela imensa maioria das conquistas trabalhistas, fossem elas alcançadas por negociação ou por greves e outros instrumentos de pressão.
Isso se deu no Brasil, mesmo durante a vigência da ditadura militar que durou de 1964 a 1985. E depois dela também. Nas diversas categorias profissionais, com os mais variados matizes inclusive ideológicos, os sindicatos representaram ideais, projetos e necessidades.
Mas por aqui as coisas degringolaram. O imposto sindical começou muito cedo a ser usado como meio de vida por uma grande quantidade de dirigentes sindicais, na maioria dos casos pelegos que passaram a viver à custa das entidades. E como ter sindicato era um ótimo negócio que só perdia em "rentabilidade" para as igrejas neo-pentecostais e para a atividade política corrupta, o número de siglas foi crescendo assustadoramente. Junto com elas, as "necessidades" do dinheiro do imposto sindical. Vieram as centrais, elas invadiram os partidos - sobretudo o PT - e, por meio deles, também os sindicatos. Muitos passaram a ser sucursais da agremiação política. Até hoje dizer que um sindicato é "filiado à CUT" significa o mesmo que afirmar ser ele ligado ao PT.
Muitos dos dirigentes, sobretudo nacionais, enriqueceram. Ficaram famosos. Investiram em carreiras políticas vitoriosas. Ganharam musculatura de poder e, graças a isso, agora podem pressionar Miguel Temer, um presidente sem autoridade, a substituir o imposto sindical por um arremedo dele mesmo.
O sindicalizado é quem tem de sustentar o sindicato. Com sua mensalidade, com sua contribuição espontânea, com sua luta visando a alcançar ideais profissionais. Não é isso o que acontece.
No Brasil, os sindicalizados ligados à CUT e às demais centrais vão invadir as assembleias gerais tão logo a nova lei seja sancionada e impor à maioria que se omite um encargo financeiro ainda maior do que o imposto sindical. O governo sabe disso, as centrais sabem, até os inocentes uteis conhecem a regra do jogo sindical no Brasil.
Mas ele vai continuar sendo jogado.      

8 de agosto de 2017

As quadrilhas políticas

 A vida política brasileira é um jogo de cartas marcadas onde os jogadores, eleitos pela população, agem em benefício próprio ou de corporações. O episódio do projeto do REFIZ e que hoje é assunto no Congresso mostra isso de maneira clara.
O governo federal tem bilhões de dólares a receber de empresas que não pagaram impostos. O REFIZ serve justamente como um instrumento negociador de dívidas e que visa fazer com que esses devedores parcelem e quitem seus débitos. O projeto foi mandado ao Congresso e quem surgiu para ser o relator da matéria? Um dono de empresa devedor de impostos e que, juntamente com outros na mesma situação, descaracterizou totalmente o projeto para que, ao final, quem não pagou impostos fique praticamente responsável somente pelo principal da dívida, sem pagar nem os juros e nem as correções monetárias que o cidadão comum é obrigado a quitar junto ao fisco quando falha com suas obrigações fiscais.
Não existe na nossa legislação texto algum que impeça interessados de lidar com assuntos legislativos nos quais eles são parte e, claro, vão legislar em causa própria e de seus parceiros. Isso não acontece somente no REFIZ, mas em quase tudo o que bate no Congresso Nacional para virar lei que pretensamente protegeria a população.
Assim, a bancada ruralista quer perdão de dívidas e empréstimos a juros de papai para mamãe. A bancada evangélica quer impedir o progresso da ciência e, ao mesmo tempo, continuar arrecadando dinheiro de seus fieis para enriquecer cada vez mais.
Aliás, nesse caso, o principal projeto evangélico é o de poder. Eles querem esse poder para impor sua maneira de pensar ao restante do País, obter mais vantagens ainda e acabar com os princípios que regem o Estado Laico. E são esses princípios, de absoluta liberdade religiosa, que garantiram e garantem ao Brasil a condição de Estado sem problemas de conflitos nessa área. Aqui as pessoas são livre para exercer suas crenças ou crença nenhuma, sem que por isso possam ser perseguidas.
Portanto, não são apenas as propinas e demais formas de roubos de dinheiro público as nossas principais chagas políticas. Também sofremos com as quadrilhas corporativas e que usam a atividade legislativa em benefício de seus grupos de interesse.