7 de novembro de 2018

Democracia, prensas e tratores

O presidente Michel Temer e o eleito Jair Bolsonaro ontem no Congresso
Os Estados Unidos estão renovando parte de seu Congresso e o Partido Republicano perde com isso a maioria da Câmara mas mantém e do Senado, onde a minoria fica com o Partido Democrata. Essas duas legendas comandam a política norte-americana há uma montanha de anos e são as referências para a esmagadora maioria da população do país. Há outros partidos lá concorrendo a todas as eleições, mas isso não tem a menor importância para efeito de ocupação de cargos.
A diferença entre os EUA e o Brasil é que aqui há uma babel política na qual legendas são o menos importante. Justamente por isso um dos filhos do presidente eleito Jair Bolsonaro disse que vai ser preciso "tratorar" a oposição ao seu papai e o futuro ministro da economia falou da necessidade de aprovação da reforma da Previdência com "prensa" no Congresso. Isso não é democrático. Ao contrário, demonstra  mais do que autoritarismo: mostra profunda ignorância.
Jair Bolsonaro imagina que pode tudo. Vai descobrir que não. Mas até isso acontecer conviverá com a realidade brasileira de que partidos não são muita coisa. Nós conhecemos o MDB, PT, PSDB, PSB, DEM, PP e alguns outros que surgiram recentemente. Há vários espalhados por nosso espectro político. Mas nenhum deles possui força efetiva duradoura. A tendência, inclusive, é de que muitos venham a definhar a morrer. Quem sabe até mesmo o do atual do presidente eleito caso ele fracasse. Afinal, trata-se de uma legenda de oportunismo, a oitava que Bolsonaro usa em sua carreira.
É que no Brasil existem bancadas, e elas são mais importantes do que as legendas. Há a Bancada da Bala, a Bancada Ruralista, a Bancada Evangélica, e vai por aí. Em todos os casos, os membros dessas correntes corporativas que passam na maioria das vezes ao largo dos reais interesses do País, se diluem entre os partidos menores, de aluguel. E podem usá-los à vontade, pois eles nada representam em termos de programa político, ideologia, ideais e princípios.
Por sinal, não há ideologia nos partidos brasileiros. Afora o PCdoB, condenado a morrer por ter representatividade diminuta, os demais mudam ao sabor dos ventos políticos que podem empurrá-los para diversas direções. Na maioria esmagadora das vezes eles não representam as necessidades do Brasil. São legendas politicamente falsas e seus interesses, claro, corporativos.
Por isso os discursos em pré-governo de extrema direita adota palavreados como "tratorar" e "prensa". Ninguém está lidando com princípios éticos, programas claros, ideologia, nada disso. Só interesses momentâneos, rasos, aproveitadores. E como tudo muda ao sabor do vento, pode mudar também sob pressão na cabeça dos futuros dirigentes federais.
Só que não, como se verá em breve.   
 

29 de outubro de 2018

Bolsa Demagogia

Todo ano, contanto haja eleição, os candidatos falam de uma anomalia brasileira que insiste em continuar a frequentar os noticiários e a povoar os cérebros (?) dos políticos brasileiros com o único propósito de conquistar votos: o Bolsa Família. E isso aconteceu novamente nessa campanha que elegeu Jair Bolsonaro presidente da República. Tanto ele quanto Fernando Haddad, seu opositor, não apenas falaram na manutenção do programa como prometeram aumento e 13º salário.
É um absurdo!
O número de paupérrimos no Brasil cresce na exata proporção do crescimento da irresponsabilidade política, da incompetência e da corrupção. E dessa forma sobe também o número de brasileiros que recebem esse auxílio, bem como o desembolso necessário a seu pagamento. E isso, com as outras promessas de campanha, está se tornando uma bola de neve. Há um Brasil que trabalha ou que trabalhou a vida toda até se aposentar sustentando um outro Brasil que não produz.
O Bolsa Família ou o que quer que o substitua um dia, deveria ser um rito de passagem. As pessoas que estão em estado de penúria receberiam esse auxílio do Estado enquanto esse mesmo Estado tentaria recolocá-las no mercado de trabalho ou as capacitaria para determinadas funções profissionais. Findo esse período e iniciadas ou reiniciadas as atividades produtivas, ele seria cancelado. Afinal, o que dignifica o homem é ser sustentado por seu labor.
Mas no Brasil, desde que o programa foi instituído demagogicamente, nada é exigido. Ao contrário, há um episódio inacreditável: no Nordeste, determinadas empresas necessitavam de costureiras para tocarem suas confecções. Via uma das entidades do sistema "S", foi criado um curso gratuito para a formação dessas profissionais. Mas tão logo as interessadas souberam que depois de concluírem o curso e conquistarem o emprego deixariam de receber a ajuda do Governo, todas desistiram. Desconheço o que foi feito para as empresas de confecções tocarem seu negócio.
Esse talvez seja o maior drama do Brasil de hoje. A malandragem apoiada pelo poder público já criou entre nós uma geração de parasitas que agora precisa ser sustentada com o dinheiro do contribuinte. Um dinheiro que deveria ter destinação muito mais nobre. Temos uma espécie de SUDENE da esmola institucional que se tornou câncer na nossa estrutura governativa. E serve para eleger e reeleger todos os que fazem da demagogia uma arma política de alto calibre.
Agora há um presidente eleito que prometeu aumento do Bolsa Família, bem como 13º salário. Vai chegar o dia em que um deles, para alcançar o Palácio do Planalto, prometerá a aposentadoria àqueles que não trabalham e, portanto, não vão voltar a trabalhar jamais.           

16 de outubro de 2018

E não há uma terceira via...

Bolsonaro (E) ergue o braço de seu bizarro vice-presidente  
Até o momento as melhores análises das eleições brasileiras, sobretudo do que vamos enfrentar depois de 28 deste mês, estão vindo do exterior. Falando ou escrevendo da Europa e dos Estados Unidos, principalmente, analistas políticos demonstram grande preocupação para com a situação atual do Brasil. Isso corresponde com o que penso: nós temos diante de nós um abismo à esquerda e outro à direita. Escolher um dentre os dois é difícil, já que não há uma terceira via.
Haddad percorre ruas tentando se distanciar de Lula. Não dá
O jornalista português Francisco Assis, do jornal "Público", divulgou seu pensamento em artigo intitulado "Um canalha à porta do Planalto". Nesse texto ele diz sobre o candidato à direita: "Bolsonaro não é Hitler, não é Mussolini, não é sequer Franco. Em bom rigor, se quisermos ater-nos a um debate intelectual de natureza escolástica, ele não é bem a representação do  fascismo. Há nele, contudo, na dimensão medíocre que a sua pobre personalidade proporciona, tudo aquilo de que a tradição fascista historicamente se alimentou. O anti-iluminismo, a exaltação sumária da unicidade nacional, a apologia da violência, o culto irracional do chefe. Bolsonaro é pouco mais do que um analfabeto ideológico com todos os perigos que isso encerra. Ele e sua prole de jovens tontos significam hoje o maior perigo com que se depara o mundo ocidental." (o negrito é dele)
Não sei se eu chegaria a tanto. Nem se separaria a ambos dessa forma. Diz o jornalista português: "Haddad é um intelectual sofisticado, um democrata respeitador dos princípios fundamentais das sociedades abertas e pluralistas, um homem de reconhecida integridade cívica e moral." Talvez isso seja verdade e os inquéritos a que o candidato das esquerdas responde acabem não dando em nada por vazios que venham a ser declarados. Mas ainda assim ele é o candidato do PT e aí mora o perigo.
Francisco Assis escreve em seu artigo que o Partido de Haddad sempre respeitou os limites democráticos e governou constitucionalmente. Mas não havia outra alternativa (negrito meu). No entanto seu partido deixou atrás de si um rastro de roubos inimaginável na história política do Brasil. Fernando Collor de Melo e sua "Casa da Dinda" chegam a parecer escoteiros travessos diante do que eles fizeram. E não me parece possível julgar Haddad sem Lula e seus assessores mais diretos incluídos. Ele independente da gang.
É uma situação trágica. E que leva os dois extremos a não enxergarem os males que estão a seu lado, nem a possibilidade de que haja méritos do outro. Até mesmo pessoas cultas, de boa formação anterior a essas eleições perderam a capacidade de julgar de maneira isenta. Todos se focam no que lhes parece o certo e vão em frente. Até termos intelectualmente pobres como MITO são usados para classificar o candidato que grita "Caveira" ao encerrar um discurso no BOPE.
E não há uma terceira via...         

26 de setembro de 2018

"Medalha Brilhante Ustra"


Lembro-me do fato como se fosse hoje e posso dar o nome porque a matéria jornalística foi publicada. O fotógrafo Gildo Loyola Rodrigues, do jornal A Gazeta, estava sentado à minha frente na sala que eu ocupava no Edifício Master Tower, na Enseada do Suá. Queria dele um depoimento - foi dado - sobre as torturas que sofreu durante a ditadura militar. Gildo chorou enquanto falava que as dores imensas o fizeram passar uma longa temporada em tratamento psiquiátrico fechado.
É até irônica a motivação da prisão e das torturas: ele fazia parte de uma organização "subversiva" sem jamais ter atirado em ninguém. Morava numa pensão e na parede da entrada estava sempre o menu do dia. Por exemplo: "Arroz, feijão, bife, batata frita e salada". Um dia a polícia entrou e o prendeu. Cartaz do menu nas mãos, o musculoso policial do DOPS queria saber qual era a "senha". Gildo passou o diabo na Polícia e no Exército. Sobreviveu.
Então, quando vejo pessoas que prezo dando apoio à campanha do candidato Jair Bolsonaro - prefiro chamar de Bolsonazi -, fico me perguntando se a aversão aos desmandos do PT, realmente imensos, pode justificar uma opção que abraça torturadores do regime militar brasileiro, esse estuprador da democracia no Brasil. Não, não pode justificar.
Gildo, hoje aposentado, jamais votaria nesse elemento. Talvez também não no PT, acredito. E sei que ele sentiu aversão ao nosso momento político ao ouvir discurso de Bolsonazi na Câmara dos Deputados e no qual este fazia elogios ao torturador Carlos Alberto Brilhante Ustra, militar membro do CODI/DOI durante o regime militar. DOI quer dizer Departamento de Operações Internas e a sigla foi mantida para deixar claro que provocava dor demais.
Bolsonaro jamais deixou de dizer que admite tortura. Gosta disso. Seus filhos, farinha do mesmo saco, seguiram caminho idêntico. Agora mesmo uma revista de circulação nacional mostra um deles, de nome Carlos, publicando foto de simulação de tortura com saco plástico sobre a cabeça (imagem menor logo abaixo) e diferente dessa que é publicada maior, acima, e mostra o "pau-de-arara".
A tortura humilha muito mais o torturador que o torturado. E a violência dessa gente só se corporifica contra mulheres e homens indefesos. Homúnculos que são, não têm coragem de lutar mano a mano, em campo aberto, contra aqueles que consideram inferiores. Eu os enfrentaria. São covardes mesmo. Sugiro que o candidato atualmente liderando as pesquisas para a presidência da República proponha ao Congresso a criação da "Medalha Brilhante Ustra" para premiar todos os torturadores e seus apoiadores. Sugiro também que tal medalha tenha em sua face a imagem de um torturado sujo de sangue com saco plástico cobrindo a cabeça.
A homenagem cairia como uma luva.
Não sei se consegui explicar às pessoas que admiro porque jamais votarei no capitão candidato. E isso apesar de sentir grande aversão pelo PT e seus desmandos. 

15 de setembro de 2018

A nossa herança maldita

Bolsonaro deputado, qual um inconsequente, brinca de dar tidos nos outros. Mesmo levando uma facada continua o mesmo
"Eu vou votar nele. Ele é tosco, é grosseiro, não tem conteúdo, está longe de ser o candidato ideal, o democrata, mas é a única chance que nós temos de tirar os "comunistas" do poder".
Esse pensamento, um pouco diferente nesse ou naquele enfoque, é o que mais ouço quando pergunto às pessoas que conheço sobre o motivo que as leva a escolher o capitão da reserva do Exército Jair Bolsonaro como sua opção de voto para a presidência da República do Brasil. A grande maioria sabe que a aventura pode terminar mal. Mas tirar os "comunistas" do caminho é prioridade.
De onde vem isso? Simples: vem desde o início de 2003, quando Lula passou a exercer seu  primeiro mandato de presidente da República. Depois veio o segundo, depois veio Dilma Rousseff, depois chegou o impeachment da "ilibada" e, no rabo de cometa disso tudo, a maior coleção de escândalos ligados a dinheiro público da história doas Brasil. A nossa herança maldita.
Não foi só o PT quem roubou. Mas ele estava no poder e tudo - ou quase tudo - foi debitado na conta dele. Estavam nas falcatruas o PSDB, o PMDB (ou MDB agora), o PP, o PR, o PTB, enfim, uma grande quantidade de partidos políticos adesistas, sempre ocupando lugares, exigindo cargos e ministérios para apoiar o governo. Quaisquer governos, contanto haja butim.
Lembro-me da época da ditadura militar. Meu partido político de então, o PCB, sabiamente não aderiu à luta armada. Guerreávamos os ditadores solapando o regime de exceção. Todos encastelados no velho MDB, lutador de primeira hora contra o estupro da democracia brasileira, lá estavam os militantes do velho Partidão enfrentando o desmonte do Estado brasileiro. Isso em uma época em que não se podia sequer sonhar em denunciar a corrupção dos chefes militares. E ela existia em larga escalada, atingindo grande parte da estrutura de poder montada.
Quando veio a anistia - forma encontrada pelo Brasil para deixar os militares impunes - vi a chegada dos exilados políticos. E quando eles tomaram força, uniram-se ao Partido dos Trabalhadores, associaram-se a Lula e começaram a disputar a presidência da República, eu estava ao lado deles. Afinal, eram os idealistas retornando. Ledo engano. Logo os honestos saíram e os traidores da pátria e dos ideais que sempre carregamos conosco passaram a assaltar o Estado.
Nunca se roubou tanto, nunca se cometeu tanta desfaçatez. E a fama de ladrões colou como cola instantânea em todos os que estavam no poder. Por consequência e graças à ignorância política do brasileiro, em todos os que eram ou são de esquerda. O nome "comunista" passou a identificar aqueles que não representam o extremismo de direita, perigoso e corporificado por Bolsonaro.
E agora, José?
As eleições estão chegando. Candidatos que não representam as extremidades do espectro político atual parecem sem forças. Mesmo ferido a faca, o "Bolsonazi" que adora se mostrar como se estivesse atirando de revólver ou fuzil mantém a dianteira nas pesquisas. E Fernando Haddad, o poste de um Lula preso aos poucos sobe nas pesquisas graças ao prestígio que o chefe ainda detém. Como consequência de nossa ignorância política, é possível que ambos cheguem ao segundo turno da disputa presidencial nas eleições marcadas para o mês que vem.
Eis o grama maior do Brasil: se isso se corporificar, para onde quer que se olhar haverá um abismo à frente, um buraco a cair. Não ouso arriscar as consequências.           

4 de setembro de 2018

Museus não dão votos. Esse é o Brasil.

É tão grande a perda com o incêndio do Museu Nacional que ela não pode ser mensurada. O impacto da destruição daquele acervo de 20 milhões de itens chocou tão profundamente as pessoas que muitas até agora estão em estado de choque. O fato ocorrido domingo repercutiu no mundo todo. O pasmo é total. Até o presidente de Portugal, constrangido, falou sobre o assunto. Afinal, muito do que havia lá tem origem nos cuidados culturais que Dom João VI sempre demonstrou.
Agora notem: o Ministério da Cultura passou todos os anos que viveu desde a sua criação patrocinando shows de artistas famosos. Muito do nosso dinheiro foi gasto com espetáculos de grupos internacionais. Durante os governos Lula e Dilma o BNDES patrocinou uma verdadeira orgia de gastos de recursos públicos destinando-os a obras realizadas em países estrangeiros e cujo retorno nunca se dará. Foi tudo entregue a fundo perdido por razões demagógicas aos amigos e aos "pobres". A cultura do Brasil, que é expressa em museus, universidades e outros, jamais foi levada em consideração.
Político adora shows em palanques, sobretudo em épocas de campanha eleitoral. Isso dá voto. E na maioria esmagadora das vezes os preços são superfaturados para que uma parte deles entre no bolso do promotor do evento. Sempre foi assim. Só esse ano, com a nova legislação, a prática está sendo mais ou menos contida.
Que autoridades da República foram até agora à Quinta da Boa Vista, no Rio de Janeiro, para ver o resultado da tragédia anunciada? Ao que parece só o presidente do IPHAM. Nenhum ministro, nenhum deputado federal, nenhum senador, nenhuma outra autoridade de relevância (será que ainda existe isso no Brasil?) esteve presente ao triste espetáculo da morte anunciada do nosso maior patrimônio cultural. Minto; ao que parece o prefeito do Rio, um "bispo" passou lá para dizer que essas coisas acontecem. Uma riqueza com mais de 200 anos de idade se perdeu sem que os responsáveis pelos destinos do Brasil saíssem de suas tocas mal cheirosas.
Aliás, na festa dos 200 anos do Museu Nacional, não havia lá autoridades de primeiro escalão da República. O presidente Temer, como sempre, estava ocupado com a política rasteira, desonesta, que marca seu governo. Estava lutando para sobreviver. Museu? Isso para ele não importa.
Somos órfãos no nosso País do qual ninguém cuida. As preocupações daqueles que dirigem o Estado passam longe do patrimônio cultural de valor inestimável que nós deixamos ser destruído todos os dias, todas as horas, diante de nossos olhos perplexos. Diante de nossa impassividade.
O Museu Nacional foi consumido pelo fogo porque museus não dão votos. E esse é o Brasil.     

29 de agosto de 2018

Os inquisidores

Entrevista é, em síntese, uma ação na qual um entrevistador faz perguntas ao entrevistado com o objetivo de obter informações de relevância. Em princípio, cabe ao entrevistado o protagonismo, na medida em que ele tem o maior tempo para poder responder apresentando os fatos e explicando-os. Nos manuais da TV Globo esse tipo de explicação não deve ter lugar.
Jair Bolsonaro irrita Renata dizendo que ela ganha menos.
Ontem, na entrevista do candidato Jair Bolsonaro, no Jornal Nacional, William Bonner e Renata Vasconcelos, os entrevistadores, passaram quase a metade dos 29 minutos somados do tempo de TV falando, tentando dar explicações ou simplesmente interrompendo o entrevistado. Questionando-o, até mesmo em sua sinceridade. Mas sem apresentar fatos com substância. Isso já havia acontecido na segunda-feira, quando o candidato Ciro Gomes foi igualmente sabatinado no programa.
Entrevista não é inquisição!
Se uma emissora de TV, uma rádio, um jornal, revista, site de internet ou coisa que o valha, programa uma série de entrevistas a candidatos à presidência da República, notadamente numa época difícil como a nossa hoje, o que interessa realmente são os planos desses candidatos. O que eles pretendem fazer, caso eleitos, nos campos da economia, saúde, educação, segurança, geração de empregos, política externa, etc. Tudo isso é o que interessa ao cidadão. O Bolsa Família vai ser mantido? Como está ou modificado? O Prouni sofrerá cortes ou acréscimo de verbas? De que forma será feito um esforço para gerar empregos? E o déficit público vai ser contido de que maneira? Com o ataque aos privilégios inaceitáveis do serviço público? Quem ouviu as duas entrevistas - e ainda haverá mais duas, hoje e amanhã - não sabe de absolutamente nada disso.
Na entrevista de Ciro Gomes o foco foi Carlos Luppi, um político cheio de problemas. E Kátia Abreu, uma senadora "dilmete". Ontem, com Bolsonaro, focalizou-se o fato de ele teoricamente achar mulher um ser inferior, não gostar de gays, estar dando importância excessiva ao futuro Ministro da Fazenda, Paulo Guedes, adorar armas de fogo, etc e tal. Nada foi perguntado sobre o que interessa.
Ao contrário, o telespectador ficou sabendo que Renata Vasconcelos ganha menos que William Bonner, que o dinheiro público sustenta a Rede Globo, que supostamente Bonner foi traído, que a cartilha do governo pode ser mostrada em escolas mas não na TV, etc. Nada de interesse público.
Quem ganhou o "debate", já que entrevista não houve? Ganhou Ciro Gomes? Ganhou Jair Bolsonaro? Ganhará Geraldo Alckmin? Ou Marina Silva?
Não, meus amigos. Perdeu o jornalismo sério, aquele que é feito com o objetivo de obter informações e não o de desconstruir o entrevistado. Perdeu a ética jornalística. Perderam os inquisidores travestidos de entrevistadores do Jornal Nacional.
É uma lástima!     

30 de julho de 2018

O deserto vive nos extremos

A vida me ensinou que é imenso o espaço entre os extremos de qualquer coisa. No caso político, muito grande também a terra fértil para o plantio de ideias. E é sobretudo disso que o Brasil precisa nos dias de hoje, quase às vésperas de uma eleição vital para todos nós.
Ao centro do espectro político temos um presidente da República sem poder algum, desmoralizado e refém de um Congresso Nacional formado basicamente por mercadores de dinheiro público. Ao seu lado esquerdo, bem na extremidade, há um ex-presidente preso por corrupção lutando para poder ser novamente candidato ao Palácio do Planalto. Do outro lado, também na extremidade, mas à direita, u, oficial da reserva que sonha em levar seus delírios para o mesmo endereço.
Qual é o caminho? Ele existe e está distante dos dois extremos.
Lula grita a plenos pulmões que é inocente e grita a não existência de provas contra ele embora elas abundem. Ele tenta nos fazer crer que a figura do "laranja" só existe para identificar os outros ladrões de dinheiro público. No seu (dele) caso, jamais. Bolsonaro, um radical sem limites, oficial da reserva do Exército, quer instituir por aqui um Brasil de ódios e onde terão lugar apenas os que pensam como ele. Mais ou menos parecido com o caso Lula, só que do outro lado.
Nosso caminho passa ao largo desses dois candidatos e da subserviência auto protetora de Michel Temer. Há muita coisa ruim nos demais candidatos. Como no caso do "coronel" nordestino Ciro Gomes e de Marina Silva, a que ressuscita de quatro em quatro anos, saída do túmulo de sua falta de ideias e de programas. Candidato ideal ainda não existe. Ele pode aparecer, claro. Mas se não surgir, o menos mal será votar em alguém capaz de governar com um mínimo de independência e honradez. Não vou sugerir nomes. Você tem seu livre arbítrio.
Precisamos ter em mente que o momento é grave e precisará de medidas corajosas para que a economia se recupere. E isso vai passar obrigatoriamente pelo combate à corrupção e privilégios. Nesse caso, será preciso enfrentar o poder e os lobbies encastelados nos três poderes dessa República. Poderes que não conseguem se ver além das lentes de seus olhos míopes.
Nem Lula e sua quadrilha nem Bolsonaro e seus delírios salvarão o Brasil. Ao contrário, aprofundarão o poço de misérias em que nos encontramos. Vamos escolher outro caminho. Sobretudo um que ataque nossos problemas estruturais e compreenda que investir pesado em Educação institui o progresso como meta de vida e elimina a necessidade de mais presídios.       

21 de junho de 2018

Pastores do crime e do dinheiro

George e Juliana. Um Estado omisso permitiu que eles matassem seus filhos 
Faz poucos dias, a imprensa de Vitória noticiou que na Rodovia Serafim Derenzi, em Vitória, uma região carente, cerca de 50 templos religiosos estão em construção ou já foram construídos. Em apenas uma avenida. E por quê? Porque é lá naquele recanto pobre da cidade que mora a clientela das seitas
chamadas de neo pentecostais: gente humilde, inculta, com pouca ou nenhuma esperança no futuro e que ou ingressa no crime ou se torna alvo fácil para desonestos que se dizem pastores.
Ontem, Juliana, a mulher do "pastor" George, foi presa em Minas Gerais. Ela é acusada de ter facilitado um crime hediondo: seu marido violentou sexualmente, matou e queimou num incêndio forjado um filho e um enteado. Até pouco tempo atrás acreditava-se que Juliana nada tinha a ver com o caso. Afinal, ela estava viajando com o filho menor.
O culpado por isso é o poder público. Hoje o Poder Legislativo, em todas as suas esferas, está invadido por representantes das mais diversas denominações pseudo-religiosas. São políticos de partidos, mas isso não importa. Sua função no Congresso é a de representar essas pseudo igrejas e seus interesses. Na maioria dos casos, interesses inconfessáveis.
Um deles é bastante conhecido: o dinheiro. É imensa a quantidade de pessoas que descobriram em denominações religiosas uma verdadeira mina de ouro. Um filão. Há donos de "igrejas" que possuem imóveis de extremo luxo, aviões executivos, fazendas e outros bens. Em diversas oportunidades, malas de dinheiro proveniente dos dízimos recolhidos já foram vistas sendo embarcadas em helicópteros, sabe-se lá para onde.
São imensas as facilidades para se abrir uma igreja. E facilidades vantajosas, já que, sendo denominações religiosas, elas estão isentas de praticamente todos os impostos.
Podem também ser donas de cadeias de televisão ou as alugar para disseminar suas pregações. E todo mundo vai para o céu, contanto pague o preço da passagem. Eu mesmo já vi "pastor" entregando carnês aos fieis para que eles pagassem os dízimos "com mais facilidade".
E por que o poder público permite isso? Simples: porque essa legião de pastores possui milhões de votos. Eles praticamente intimam os membros das congregações a votarem em seus indicados. Por isso até mesmo presidente da República presta vassalagem a eles. Recentemente, quando uma denominação daqui do Estado completou 50 anos, até o governador do Estado foi a Brasília para participar das solenidades de comemoração. E olhem que os dirigentes da seita já sofreram acusações graves de utilização desonesta de dinheiro dos fieis.
Nenhum chefe de Executivo tenta coibir isso. Todos preferem fazer vistas grossas, olhando para o potencial de votos de cada dono de "igreja". Mas são, sim, coniventes com o crime.Eles geraram George e Juliana, os psicopatas que mataram se aproveitando da ignorância alheia e da omissão do Estado. Quantos outros como eles estão escondidos em seus púlpitos?   

20 de junho de 2018

As pitonisas da Rússia

Um jornal da Alemanha fez uma charge sobre o intervalo de jogo da Seleção Brasileira na Copa do Mundo da Rússia: aparecem vários jogadores em frente ao espelho, cada um cuidando do cabelo a seu modo. Não há técnico, orientação, nada. Somente preocupações para com a aparência.
Um dia o jogador de futebol brasileiro ainda vai entender que o melhor de sua aparência em copas do mundo, em competições mundiais, é o futebol jogado. Eles poderiam começar esse exercício de conhecimento conversando com Cristiano Ronaldo, o jogador português considerado o melhor do mundo e que não usa penteados estapafúrdios - embora alise o cabelo o tempo todo -, tatuagens pelo corpo e outras modas que são do gosto dos jogadores do Brasil.
Em princípio, ninguém tem nada a ver com o cabelo tipo calopsita tresloucada que o Neymar usou no empate entre Brasil e Suíça na estreia da Copa do Mundo. A menos que suas constantes idas ao cabeleireiro interfiram em seu futebol. Pelo jeito, interferem. Como interferiram também na forma de jogar de alguns dos demais jogadores. No conjunto da obra, isso contribuiu para o fato de o Brasil ter jogado muito mal naquele empate por 1 a 1 de domingo último.
Damos muito valor ao marketing às avessas. Treinadores e restante dos membros da Comissão Técnica acham não ter o direito de interferir na vida privada dos jogadores. Têm. Numa concentração de Copa do Mundo na qual até o ingresso de parentes é severamente vigiada, por onde entram os cabeleireiros, já que os profissionais não saem? Ou será que todos eles fizeram curso da especialidade? Pouco provável porque os "penteados modernos" usam toda a roda da cabeça.
Naquele 1 a 1 da Suíça houve gol irregular validado em favor dos suíços e todo mundo reclamou. Neymar também caiu no gramado uma série grande de vezes e nem mesmo o desconforto no tornozelo direito pode justificar o cai-cai. Afinal de contas, desde o início do futebol atacante apanha de zagueiro. O segredo dos grandes jogadores é saber se defender. Se proteger.
O Brasil já perdeu várias copas do mundo. Algumas delas injustamente e isso é parte do futebol. Na última, em 2014, fomos derrotados pela incompetência de um técnico arrogante, que impôs jogadores contestados e escalou um time que nunca havia jogado junto, numa partida de semifinal.
E agora? Vamos correr o risco de voltar derrotados de novo, desta vez pela vaidade de nossas pitonisas gregas modernas? Tite, um treinador equilibrado e competente, vai permanecer calado, vendo os penteados se alternarem a cada jogo que tivermos pela frente?
Não, nem sempre perder é coisa do futebol.
         

28 de maio de 2018

Abaixo a Belíndia

Um belo dia, comentando a distância que existe no Brasil entre o país que ganha bem e o que ganha mal o economista Edmar Bacha criou o termo Belíndia. Temos aqui uma pequena parcela que vive na Bélgica e uma outra, imensa, habitando a Índia. A nossa Índia talvez seja pior do que a real.
No caso da Justiça, tenho os números mais recentes do Supremo Tribunal Federal (STF). Em 2016 a corte recebeu R$ 544.750.410,00, abaixo do pedido originalmente. Da fortuna, R$ 206.311.277,11 gostou-se em pagamentos dos ativos. R$ 131.300.522,83 aos aposentados. No total, são 1.216 servidores, o que dá a média de 222 por ministro (se todos forem trabalhar ao mesmo tempo não cabe e o prédio pode desmoronar). Ainda há estagiários (306) e terceirizados (959). O incrível é que 19 dos servidores são jornalistas (?????). Tem mais: 29 deles são encadernadores, 116 trabalham  na limpeza, oito são especialistas em saúde bucal. Há 12 auxiliares em desenvolvimento infantil, 58 motoristas. E vai por aí. A relação completa envergonha qualquer um.
O Poder Legislativo é um caso à parte. O custo anual com todos os parlamentares do Brasil é de R$ 11.021.236.800,00. Sim, estamos falando de bilhões. Já se forem  somadas verbas de gabinete, indenizatórias e outros benefícios, os números chegam a R$ 145.000.000.000,00. E eles ainda nos roubam e invadem cargos públicos. As verbas atuais dos ministérios da Saúde e da Educação, somadas, não alcançam esse patamar.
Quem pode fazer críticas éticas e morais aos caminhoneiros? Quem pode tentar apedrejar em praça pública quem não ganha para pagar suas despesas? Certamente não o governo zumbi de Michel Lulia, que conspirou para ganhar o poder mas ao menos o tirou da dupla Lula/Dilma. O pior é que ele está tão atolado na lama da Lava Jato quando seus antecessores.
O Brasil só terá saída no dia em que os privilégios forem eliminados. É certo que alguns cargos são mais importantes do que outros, mas nada justifica o que a gente vê. E mudar isso, eliminar a Belíndia em vive em cada um de nós terá de passar pelo Legislativo, sob pressão do Executivo e do Judiciário. Só mesmo com uma crise de grandes proporções e a vontade expressa de toda a sociedade os brasileiros alcançarão essa vitória. Mas lutar por ela vale a pena.
O que conspira contra nós são os compromissos corporativos ou impossíveis de serem explicados e que ocupam as agendas de nossas classes dirigentes, sobretudo e inclusive as grandes corporações de Comunicação. Enquanto elas não encamparem esses ideais e continuarem a chamar quem discorda de seus pensamentos de populistas ou demagogos vai ser ainda mais difícil chegar lá.
Mas o Brasil há de alcançar esse patamar e os meios de Comunicação virão a reboque da vontade popular. Como aconteceu durante os protestos contra a já moribunda ditadura, quando a maior de todas as corporações jornalísticas do nosso País acabou tendo que cobrir os comícios das "Diretas Já" depois de desconhecer os primeiros deles. Era cobrir ou ser engolfada pela maré montante.     
 

14 de abril de 2018

Lutemos pelo Parque Zé da Bola

Um novo absurdo deve ser perpetrado contra a memória capixaba: uma área de lazer que está sendo construída pela Vale ao final da praia de Camburi (foto), onde era inicialmente o Parque Zé da Bola, vai receber um nome pomposo nome em lugar do anterior, que homenageava um grande atleta do capixaba passado. E isso em área pública, durante a gestão do prefeito Luciano Rezende, ex-atleta de remo.
Zezinho, aqui chamado Zé da Bola, foi um grande jogador de futebol. Começou no Rio Branco mas logo foi embora para o Rio de Janeiro, São Paulo, Buenos Aires e Seleção Brasileira, craque que era. Foi campeão da Copa Roca pela Seleção. E no Rio e em São Paulo era considerado virtuose, um centro-avante implacável, marcador de gols e ídolo de seus torcedores. Isso enquanto durou a carreira. Era pai do jornalista Ferreira Neto e de Índio, ex-técnico da Seleção Brasileira de Futebol de Areia que aqui por provincianismo cultural a gente chama de "beach soccer'.
Eu o conheci já veterano. Depois, ex-jogador. Morreu em Vitória vitimado por hábitos de vida que a abreviaram. Mas sempre foi reverenciado. Dar seu nome à área ao final de Camburi, quando o primeiro Parque Zé da Bola foi feito, e era homenagem pequena, foi o mínimo que se fez para preservar a memória dele. Um parque que, com o passar dos anos, foi sendo abandonado e se deteriorou ao final da praia, quase chegando à área da Vale.
Não importa aqui saber que tipo de acordo a Prefeitura de Vitória fez com a empresa produtora de pó preto. Mas, inicialmente, foi distribuída uma imagem na qual era pedido que as pessoas dessem sugestões sobre o nome da estrutura a ser construída no local. Postei e pedi que cada um enviasse sua Identificação preferida. Eu iria enviar a do Zé.
E muitos fizeram brincadeiras ligadas ao pó preto. Sim, porque hoje a ex-Companhia Vale do Rio Doce é conhecida por sua imensa capacidade de poluir o meio ambiente de Vitória sob o beneplácito dos poderes municipal e estadual. Mas tinha eu a esperança de emplacar o antigo nome. Até que de repente o jornal A Tribuna noticiou que a área de lazer já estava com denominação escolhida. E pela empresa que a está construindo.
É é um absurdo. Não acredito que o prefeito de Vitória vá permitir isso sem dar uma explicação pública sobre o assunto. Afinal, o prefeito deve ser o mesmo Luciano Rezende que ia à redação de A Gazeta dar entrevista sobre remo quando era campeão sul-americano de "dois sem" juntamente com seu irmão, Lúcio, e eu editor de esportes daquele jornal.
Recuso-me a acreditar!               

12 de abril de 2018

Em que Instância?

No Brasil, o que se discute hoje é se um réu deve ser preso após condenação em Segunda Instância, como foi definido pelo STF; ou se apenas depois de o processo ter transitado em julgado, como parece prever a Constituição, mas dando margem a dúvidas. E toda a vez que esse tema vem à tona, surge com ele a figura do ex-presidente Lula.
O que deve prevalecer?
Não tenho ideia de quanto está custando a defesa do ex-presidente. E nem de quem está pagando a conta, se bem tenho a impressão de que, de 2003 para cá e ao longo de todos esses anos, os cofres foram abastecidos com numerário suficiente para defender dez presidentes. E parte desse dinheiro foi retirado do nosso bolso. Do bolso do contribuinte brasileiro.
Mas antes que essa pergunta seja respondida e novamente remetida a Lula, cabe um outo questionamento: se um pobre diabo roubar uma galinha para comer e for preso, terá de responder a processo. Que meios terá ele de levar sua questão à última Instancia do Judiciário brasileiro, se seus recursos (?????) só o remetem à Defensoria Pública?
Essa é a questão, senhores!
Nós não podemos discutir e deliberar um assunto como esse pensando em Lula et caterva. Os grandes escritórios de advocacia criminal enchem as burras de dinheiro, sobretudo em tempos como os atuais, e jamais vi defensor de poderoso algum preocupado com a origem do dinheiro que está pagando seus gordos honorários. E nem a douta Justiça se preocupar com isso.
É justo que nosso ladrão de galinhas tenha de encerrar sua luta judicial após a primeira condenação por furto ou roubo - nem sei se ele encontraria amparo para um recurso - enquanto o topo da pirâmide brasileira pode ir às ultimas Instâncias e ter acesso a todos os recursos possíveis e imagináveis para não sofrer condenação? Para ver seu processo, até mesmo por homicídio, prescrever?
Dane-se Lula. Danem-se os demais. Não é com eles que devemos nos preocupar. Se o Estado Brasileiro não pode garantir a todos os seus cidadãos meios iguais de acesso total à Justiça, pobres e ricos em condições de igualdade, a Segunda Instância deve ser o limiar entre liberdade e prisão.
Isso vai ao menos reduzir um pouco o abismo de injustiças que molda a sociedade brasileira.

5 de abril de 2018

Pobre Brasil!

Desde as 14 horas de agora ontem, ouvindo a sessão do Supremo Tribunal Federal, que decidia se Lula poderia ou não obter habeas corpus depois de sua condenação em segunda instância, deparei-me com um fato que chega a ser risível. Como pode um ministro consubstanciar suas convicções para votar assim ou assado? Muito simples.
Todos aqueles senhores e senhoras possuem longa lista de auxiliares, todos juristas muito competentes. Basta dizer: sou a favor do habeas corpus, portanto busquem subsídios para meu voto. Inclusive com pensamentos de juristas os mais famosos possíveis, de preferência estrangeiros. Ou então: sou contrário ao habeas corpus,  portanto busquem subsídios para meu voto. Inclusive com pensamentos de juristas os mais famosos possíveis, de preferência estrangeiros. Resolvido o problema. E é exatamente assim que se faz.
Aliás, é assim que sempre se fez. E a opinião pública passa ao largo das preocupações daqueles senhores. Na última sessão antes dos feriados religiosos a reunião foi encerrada porque uma das excelências precisava viajar para o Rio de Janeiro, onde seria homenageado. Ontem, outro pediu para furar a fila dos argumentos pois tinha viagem marcada para Lisboa onde continuaria participando de um congresso jurídico. Tudo é mais importante do que o interesse público. Temo que um dia, durante um dos julgamentos, o cachorrinho de estimação de alguém tenha uma diarreia séria. O ministro vai sair correndo do plenário e nem precisará trazer atestado médico veterinário na sessão seguinte.
É quase tudo teatro. Talvez alguns dos ministros votem com suas convicções. Mas eles hoje estão mais focados em se exibir para as TVs que cobrem suas reuniões o tempo todo do que com qualquer outra coisa, o que inclui a opinião do cidadão comum.
Um Supremo Tribunal Federal deveria ser formado pelos maiores dentre os juristas existentes no Brasil, sobretudo os pós-doutorados em Direito Constitucional. Mas se admitirmos que nossa corte é formada até mesmo por quem não  conseguiu passar em concurso de Juiz realizado em duas ocasiões, podemos chegar à conclusão de que o País vai mal em todos os setores. Sem exceção alguma.
Felizmente ao menos hoje o habeas corpus que era julgado foi negado, o outro cassado e Lula pode ser preso tão logo se esgotem seus últimos recursos em Porto Alegre. Está fraca, quase apagada, mas ainda há um pingo de luz no fim do túnel.

21 de fevereiro de 2018

Ação coletiva e militares nas ruas

Falar contra ou a favor do pedido de ajuda às Forças Armadas para auxiliar no combate ao crime no Rio de Janeiro peca quando os argumentos se encaminham para o plano ideológico. Enquanto os "próceres" direitistas de hoje clamam pelo Exército policiando as favelas - por que não Copacabana e o Leblon também? -, alguns esquerdistas como Gleicy Hofmann dizem que vai haver sangue nas ruas se Lula for preso. Deve ser algum tipo de problema menstrual...
Partamos do princípio de que esse remédio já foi tentado e se mostrou ineficiente. O Exército, a Marinha e a Aeronáutica são corporações de combate. Elas vivem e treinam para a expectativa de um dia terem de enfrentar um inimigo externo. A defesa da paz interna depende das instituições civis - polícias municipal, estadual e Federal - ou militares auxiliares - Polícia Militar, Força Nacional de Segurança, etc. E se nós não conseguimos resultados hoje, isso decorre da total falência da autoridade no Brasil, que nasce nos vereadores de pequenas cidades até a presidência da República.
O combate às drogas só faria sentido de elas não atravessassem as fronteiras. É lá que se deve dar o real combate. Lutar contra o varejista favelado é pouco ou nada eficiente. E a pirotecnia de chamar organismos militares para enfrentarem o problema de improviso só joga para a galera. Isso num Brasil onde é fácil manipular a opinião pública. Sobretudo para tirar o foco dela dos nossos alvos.
Desde sempre o governo federal soube que não iria emplacar a reforma da Previdência contra os carteis e lobistas que dirigem o Estado brasileiro. O economista Mancur Olson, no livro "A lógica da ação coletiva" (Edusp, 2015) nos ensina: "Grupos menores derrotam com  frequência grupos maiores, que deveriam prevalecer na democracia, porque os primeiros são organizados e ativos, e os segundos normalmente não são". Isso é a cara do Brasil.
Agora por exemplo, enquanto deslumbrados de direita aplaudem o "patriotismo" das Forças Armadas e os bobocas de esquerda se insurgem contra o "novo golpe" o governo se prepara para aumentar impostos, aprovar mudanças legais discutíveis e arrochar ainda mais os que vivem à custa do INSS. Claro, eles não são organizados e ativos, como diz Olson: "Como grupos pequenos com frequência se organizarão para agir em apoio a interesses comuns, e grupos grandes em geral não, o resultado da luta política entre vários grupos na sociedade não será simétrico". Como não é.
Só o povo brasileiro, em outubro, comparecendo às urnas para votar certo, pode dar um verdadeiro golpe de Estado no Brasil. E vai caber àqueles que podem formar opinião vender essa ideia. O País do corporativismo, dos lobistas sem limites pode nos levar a todos ao caos.   

5 de fevereiro de 2018

A Ilha da Fantasia de Atibaia

Ainda tranquilo, Lula curte a vida no sítio de Atibaia 

Quando surgiu o escândalo do mensalão, o então presidente Lula parecia navegar por sobre o mau tempo sem ser tocado pelos ventos. Ou pelas marolas. Ouvi em mais de uma oportunidade, de mais de uma pessoa, algumas delas veteranas em política que nada "colava" no poderoso chefão. Acredito tanto em que Lula confiava cegamente nisso que ele não aceitou deixar a Ilha da Fantasia de Brasília trocando-a por um simples novo endereço em São Bernardo do Campo. Era preciso providenciar outra ilha para ser seu pouso durante a velhice. E ele optou por Atibaia.
É uma região linda, por sinal. Eu a conheço embora tenha ido lá uma única vez já faz muito tempo e para não retornar.Mas me ficou a lembrança de um lugar fantástico, refúgio de ricaços, de gente ávida por tranquilidade e por outros que precisavam lavar dinheiro. Como Lula.
Se o indivíduo rouba a vida toda, sobretudo dinheiro público, um dia o rabo fica de fora. Quando, ao final do segundo mandato Lula deixou Brasília seguido por 11 ou 12 caminhões de mudança carregados com sabe-se lá que coisas, tantas eram as "tralhas", que disse comigo mesmo: "ele está viajando com as provas do crime". Hoje muitas milhares delas estão em Atibaia e já foram catalogadas na perícia feita lá pela Polícia Federal. O processo envolvendo o sítio vai ser muito mais pesado que o do triplex, pois o conjunto de provas é fantasticamente maior.
Uma adega monumental agora lhe será tomada pela Justiça
Estranho esse Luís Inácio Lula da Silva. Fenômeno em comunicação de massas, poderia ter entrado para a história como o mais respeitado presidente do Brasil em todos os tempos. Arrogante, prepotente, desonesto, será lembrado como uma imensa mentira, daquelas que são contadas tantas vezes a ponto de o autor acabar acreditando nelas. Vai terminar na prisão por corrupção, desvio de dinheiro público e outras mazelas mais, em vez de aproveitar a aposentadoria tendo à sua porta filas e mais filas de gente que o iria procurar em busca de conselhos ou de apoios. Ou de ambos.
Nunca antes na história desse País um presidente conseguiu arrecadar tanto capital político vindo da base da pirâmide social, retirante nordestino que é. E nunca antes na história desse País um presidente conseguiu atirar sua reputação no balde de lixo com tamanha desfaçatez. Ele conseguiu enganar tanto em sua trajetória que até meu voto levou quando foi eleito para o primeiro mandato de Presidente da República.
Mas só aquele.