21 de junho de 2018

Pastores do crime e do dinheiro

George e Juliana. Um Estado omisso permitiu que eles matassem seus filhos 
Faz poucos dias, a imprensa de Vitória noticiou que na Rodovia Serafim Derenzi, em Vitória, uma região carente, cerca de 50 templos religiosos estão em construção ou já foram construídos. Em apenas uma avenida. E por quê? Porque é lá naquele recanto pobre da cidade que mora a clientela das seitas
chamadas de neo pentecostais: gente humilde, inculta, com pouca ou nenhuma esperança no futuro e que ou ingressa no crime ou se torna alvo fácil para desonestos que se dizem pastores.
Ontem, Juliana, a mulher do "pastor" George, foi presa em Minas Gerais. Ela é acusada de ter facilitado um crime hediondo: seu marido violentou sexualmente, matou e queimou num incêndio forjado um filho e um enteado. Até pouco tempo atrás acreditava-se que Juliana nada tinha a ver com o caso. Afinal, ela estava viajando com o filho menor.
O culpado por isso é o poder público. Hoje o Poder Legislativo, em todas as suas esferas, está invadido por representantes das mais diversas denominações pseudo-religiosas. São políticos de partidos, mas isso não importa. Sua função no Congresso é a de representar essas pseudo igrejas e seus interesses. Na maioria dos casos, interesses inconfessáveis.
Um deles é bastante conhecido: o dinheiro. É imensa a quantidade de pessoas que descobriram em denominações religiosas uma verdadeira mina de ouro. Um filão. Há donos de "igrejas" que possuem imóveis de extremo luxo, aviões executivos, fazendas e outros bens. Em diversas oportunidades, malas de dinheiro proveniente dos dízimos recolhidos já foram vistas sendo embarcadas em helicópteros, sabe-se lá para onde.
São imensas as facilidades para se abrir uma igreja. E facilidades vantajosas, já que, sendo denominações religiosas, elas estão isentas de praticamente todos os impostos.
Podem também ser donas de cadeias de televisão ou as alugar para disseminar suas pregações. E todo mundo vai para o céu, contanto pague o preço da passagem. Eu mesmo já vi "pastor" entregando carnês aos fieis para que eles pagassem os dízimos "com mais facilidade".
E por que o poder público permite isso? Simples: porque essa legião de pastores possui milhões de votos. Eles praticamente intimam os membros das congregações a votarem em seus indicados. Por isso até mesmo presidente da República presta vassalagem a eles. Recentemente, quando uma denominação daqui do Estado completou 50 anos, até o governador do Estado foi a Brasília para participar das solenidades de comemoração. E olhem que os dirigentes da seita já sofreram acusações graves de utilização desonesta de dinheiro dos fieis.
Nenhum chefe de Executivo tenta coibir isso. Todos preferem fazer vistas grossas, olhando para o potencial de votos de cada dono de "igreja". Mas são, sim, coniventes com o crime.Eles geraram George e Juliana, os psicopatas que mataram se aproveitando da ignorância alheia e da omissão do Estado. Quantos outros como eles estão escondidos em seus púlpitos?   

20 de junho de 2018

As pitonisas da Rússia

Um jornal da Alemanha fez uma charge sobre o intervalo de jogo da Seleção Brasileira na Copa do Mundo da Rússia: aparecem vários jogadores em frente ao espelho, cada um cuidando do cabelo a seu modo. Não há técnico, orientação, nada. Somente preocupações para com a aparência.
Um dia o jogador de futebol brasileiro ainda vai entender que o melhor de sua aparência em copas do mundo, em competições mundiais, é o futebol jogado. Eles poderiam começar esse exercício de conhecimento conversando com Cristiano Ronaldo, o jogador português considerado o melhor do mundo e que não usa penteados estapafúrdios - embora alise o cabelo o tempo todo -, tatuagens pelo corpo e outras modas que são do gosto dos jogadores do Brasil.
Em princípio, ninguém tem nada a ver com o cabelo tipo calopsita tresloucada que o Neymar usou no empate entre Brasil e Suíça na estreia da Copa do Mundo. A menos que suas constantes idas ao cabeleireiro interfiram em seu futebol. Pelo jeito, interferem. Como interferiram também na forma de jogar de alguns dos demais jogadores. No conjunto da obra, isso contribuiu para o fato de o Brasil ter jogado muito mal naquele empate por 1 a 1 de domingo último.
Damos muito valor ao marketing às avessas. Treinadores e restante dos membros da Comissão Técnica acham não ter o direito de interferir na vida privada dos jogadores. Têm. Numa concentração de Copa do Mundo na qual até o ingresso de parentes é severamente vigiada, por onde entram os cabeleireiros, já que os profissionais não saem? Ou será que todos eles fizeram curso da especialidade? Pouco provável porque os "penteados modernos" usam toda a roda da cabeça.
Naquele 1 a 1 da Suíça houve gol irregular validado em favor dos suíços e todo mundo reclamou. Neymar também caiu no gramado uma série grande de vezes e nem mesmo o desconforto no tornozelo direito pode justificar o cai-cai. Afinal de contas, desde o início do futebol atacante apanha de zagueiro. O segredo dos grandes jogadores é saber se defender. Se proteger.
O Brasil já perdeu várias copas do mundo. Algumas delas injustamente e isso é parte do futebol. Na última, em 2014, fomos derrotados pela incompetência de um técnico arrogante, que impôs jogadores contestados e escalou um time que nunca havia jogado junto, numa partida de semifinal.
E agora? Vamos correr o risco de voltar derrotados de novo, desta vez pela vaidade de nossas pitonisas gregas modernas? Tite, um treinador equilibrado e competente, vai permanecer calado, vendo os penteados se alternarem a cada jogo que tivermos pela frente?
Não, nem sempre perder é coisa do futebol.