8 de maio de 2024

O esperneio do Brasil doente


Em "A psicologia das massas e análise do eu" Freud disse que "a massa é extraordinariamente influenciável, o improvável não existe para ela". E mais adiante: "Os sentimentos da massa são sempre muito simples e muito exaltados. Ela não conhece dúvida nem incerteza. Vai prontamente a extremos; a suspeita exteriorizada se transforma de imediato em certeza indiscutível, um germe de antipatia se torna um ódio selvagem. Quem quiser influir, não necessita medir logicamente os argumentos; deve pintar com imagens fortes, exagerar e sempre repetir as mesmas falas". Isso foi escrito em 1921 e se aplica hoje ao Brasil, 103 anos depois...

Nós estamos vendo o que se passa no Rio Grande do Sul. A imagem acima é uma foto do saguão de embarques e desembarques do aeroporto internacional de Porto Alegre tomado pelas águas. Milhares de brasileiros, talvez mais de um milhão se movimentam para ajudar a população desse Estado. Forças Armadas e organismos militares auxiliares, além de civis unem-se ao esforço para salvar a região que, ao final do drama vivido poderá computar mais de duas centenas de mortos. O governo federal faz tudo o que pode para ajudar e nem é preciso gostar dele para dar-lhe o braço nesse esforço. É aquele velho lugar comum que não cabe como trocadilho: nessa inundação sem precedentes estamos todos no mesmo barco.

Mas todos, não. O Brasil doente não embarca na nau de salvamento lançada às águas das inundações. Ele continua a conspirar todos os dias e a todas as horas. Manda legisladores aos Estados Unidos para fazerem denúncias contra a "ditadura" instalada no País, como se ela existisse realmente e denunciada por seguidores de alguém que já se declarou apoiador de tortura e defensor do fechamento do Congresso Nacional e do Supremo Tribunal Federal. Alguém que adotou o lema do fascismo "Deus, pátria, família" e a ele acrescentou um "liberdade" de fake news.

Mas o esperneio do Brasil doente não vai progredir. Frei Beto disse recentemente no artigo "Políticas sociais mudam a cabeça do povo?" que  não. Não mudam e isso confirma o pensamento freudiano. Se fosse assim a União Soviética, percursora de tantos avanços sociais não teria desmoronado sem um único tiro depois de décadas, apesar de carregar sobre os ombros o estigma dos crimes do stalinismo. Depois de discorrer longamente sobre o tema o autor encerra com uma conclusão que também é a minha: só a educação faz uma nação sobreviver ao retorno do fascismo e de outros gêneros absolutistas.

Nos dias de hoje, além de a gente acreditar que os gaúchos vão sobreviver aos eventos trágicos e graves desses dias, ainda nos conforta constatar que o Brasil saudável é muito maior e tem muito mais força. O Brasil doente vai seguir perdendo, como sempre. E também temos uma crença adicional: é preciso eleger a educação como prioridade maior na reorganização do Estado. Ela é a salvação e por isso a extrema direita a odeia.    


2 comentários:

  1. Anônimo8:06 AM

    Você fala muito bem!
    Só a educação salvará o país do cais que está ameaçando nossas vidas. Só a educação faz um povo sobreviver. É bom constatar que o Brasil saudável existe é sobreviverá.

    ResponderExcluir
  2. Anônimo12:37 PM

    Escritos fundamentais de Freud à compreensão do humano em sua coletividade. No mais, embora seu ateísmo, Deus te leia!

    ResponderExcluir