19 de maio de 2024

Essa gente nojenta


A fina flor do excremento político mundial está reunido agora em Madrid num movimento que visa interferir nas eleições para o Parlamento Europeu que serão realizadas em junho e visando a vitória da extrema direita. Querem que ela possa aumentar seu poder de interferência nos parlamentos das nações do grupo, e o ruim é que isso pode vir a ser conseguido em pelo menos sete dos 27 membros da UE. Mas ainda é tempo para os partidos democráticos reagirem e tentarem impedir esse crescimento do nazifascismo não apenas em solo europeu, mas também nas outras regiões do mundo como, por exemplo, na América do Sul.    

Hoje na capital da Espanha já estão intervindo na reunião que eles chamam "dos patriotas" pessoas como o espanhol Santiago Abascal, que é líder do VOX, partido de extrema direita responsável pela convocação da quadrilha toda; o português André Ventura, do Chega e que estava falando faz poucos minutos pelo horário de Brasília; a francesa Marine Le Pen, do União Nacional; o ex-primeiro ministro da Polônia, Mateuwsz Morawiecki, do Lei e Justiça (PiS); e ainda vai haver intervenções por vídeo conferência dos primeiros ministros da Itália, Giórgia Meloni (Irmãos de Itália) e da Hungria Viktor Orbán (Fidesz). Também figuras obscuras da política, como um foragido brasileiro, vão estar presentes ao encontro.

O que essa gente quer? Eles são todos filiados ao mesmo grupo no Parlamento Europeu e se dividem entre o ERC (Vox, Irmãos da Itália, PiS e, talvez depois das eleições, Fidesz) e o Identidade e Democracia (ID), reunindo Chega e União Nacional. A fina flor do novo nazifascismo! E qual é a plataforma dessa gente? Combater o globalismo como eles o compreendem, a nossa luta contra a destruição do clima no mundo e as bases constitucionais dos países que eles pretendem dominar através da luta contra o "comunismo", compreendida essa classificação como sendo aqueles que os combatem social e politicamente. O resto vocês todos já conhecem porque Adolf Hitler e Benito Mussolini, o criador do "Deus, Pátria, Família" abriram um caminho que os países aliados tiveram que destruir ao custo de 40 milhões de vidas.

Agora, por exemplo, a extrema direita brasileira quer impedir via Congresso que o governo federal importe um milhão de toneladas de arroz para manter o preço baixo. Lembro que durante o governo do genocida inelegível o Brasil importou arroz da Tailândia porque o "agro" exportou toda a produção em busca de melhores preços, deixando o mercado interno desabastecido. Agora esse mesmo "agro" predador tenta impedir a importação de arroz para manter os preços altos e longe da capacidade de compra da parcela mais podre da população brasileira, depois de ter tentado esconder a safra de arroz já colhida e para forçar aumentos.

Esse "agro" vive às custas do contribuinte. Somos nós que sustentamos essa imensa associação às vezes criminosa de latifundiários responsáveis pela destruição das matas nativas brasileiras e pelo incremento do uso indiscriminado de venenos nas lavouras, o que é - está cientificamente provado - um dos fatores determinantes das mudanças climáticas brasileiras que geram, dentre outras coisas, o drama atual dos gaúchos com a destruição de parte do seu Estado. Costumo chamar a extrema direita do Brasil de "essa gente nojenta". Muitos não gostam da classificação, mas eles são isso mesmo. E têm milhões de seguidores, o que é pior para o futuro de nosso país.

Lutemos contra a extrema direita. Contra essa gente nojenta!

15 de maio de 2024

Eduardo e o ato falho


O governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, equilibrava-se entre a necessidade que tinha de conseguir ajuda para a tragédia de seu Estado junto ao presidente Lula e a obrigação de permanecer colado à base eleitoral bolsonarista - que é forte no Sul do Brasil - pelo menos até o final desses tempos de altos e baixos. Estava conseguindo, inclusive sem citar muito "o agro", como gosta e é visto nessa imagem do jornal Correio do Povo, de Porto Alegre. Mas ontem escorregou e disse que o excesso de ajuda aos gaúchos vai acabar prejudicando o comércio. Eduardo vai ter que encontrar um meio de chorar o leite derramado fora de hora junto aos mais inteligentes dos seus conterrâneos.

Um estudo publicado recentemente pela Fundação Friedrich Ebert aqui no Brasil e com os nomes dos pesquisadores Marco Antonio Mitidiero Junior e Yamila Goldfarb mostra que, como disse a revista Fórum, no artigo "Mudança Climática, energia e meio ambiente", "o agro não é tech, o agro não é pop e muito menos tudo". Ao contrário, o agro sangra o país para enriquecer desmedidamente uma casta de multimilionários rurais que vivem à custa de dinheiro público para tocar negócios privados sem um mínimo de risco. Num Estado capitalista, ele quer abocanhar até mesmo terras devolutas, como faz em São Paulo.

Mais do que isso: esse ramo de nossa economia interfere na política de gestão ambiental brasileira de acordo com seus princípios de "Estado mínimo" e com isso agride o meio ambiente de todas as formas, sobretudo destruindo solos, rios e florestas num modelo de exploração do campo que concentra a propriedade rural apenas tão somente em imensos latifúndios. Tem uma enorme bancada chamada "ruralista" regiamente paga para defender seus interesses no Congresso e investe muito em propaganda junto aos meios de Comunicação como forma da dar um "cala a boca" na opinião pública. Ultimamente conseguiu  até mesmo ampliar de forma desmedida a área que pode ser desmatada em nossas florestas, a quantidade de veneno usado nas lavouras e a agressão aos direitos dos povos naturais que morriam de fome à época de seu ex-presidente genocida.    

Quem está defendendo o Rio Grande do Sul e minorando o sofrimento dos gaúchos hoje é o governo federal e o maravilhoso povo brasileiro que, excetuada a extrema direita, dá a mão ao próximo sempre que ele precisa, sem objetivar nada em troca. Não é Eduardo Leite, esse frajola amigo dos representantes do agro que se omite nas horas de aperto do povo e não comparece para ajudar, ao contrário do que faz a cozinha do MST e não o seu agro. Agora ele está preocupado, coitadinho, com o comércio que pode ser afetado pelas doações. Claro que sim, pois é o pobre quem vai ser penalizado pela falta de doações se elas escassearem.

O brasileiro comum é quem salva o Brasil.


12 de maio de 2024

Eles renovam. A esquerda, não!


Os jornais que circulam hoje em Portugal, sobretudo "Público" (foto da capa) trazem longas reportagens que falam sobre o crescimento da extrema direita no País. E o fenômeno deles não é diferente do nosso, embora em terras lusitanas já haja um partido político descaradamente nazifascista, o Chega, enquanto aqui no Brasil ainda exista um resquício de pudor impedindo que o Partido Integralista ou alguma coisa parecida com ele emerja das cinzas fecais onde se encontra. E por que isso acontece? Ocorre porque lá na Europa os extremistas de direita estão cooptando a juventude, renovando seus quadros enquanto a nossa esquerda - e talvez a deles também - discursa com os cabelos brancos de seus quadros há muito envelhecidos.

A reportagem de "Público" fala da infiltração fascista na agenda anti-imigração - inclusive com agressões físicas a imigrantes -, do apoio aos outros países onde a extrema direita pontifica como é o caso da Hungria, e mostra que lá, dentre outras coisas, "influencers" atraem universitários ou mesmo adolescentes por intermédio de propagadores do ódio mascarados de jornalistas. Tudo isso vai aos poucos alimentando o Chega e outros grupamentos do nazifascismo da carne nova tão necessária a seu crescimento, à sua disseminação. Foi assim na Alemanha hitlerista.

O jornal "Diário de Notícias", que nasceu na Cidade do Porto, fala da ligação entre o Chega e o governo de Benjamin Netanyahu por intermédio de um "assessor" do presidente da legenda, André Ventura e de nome Tânger Corrêa. Esse indivíduo, dentre outras, acredita que os judeus que trabalhavam nas Torres Gêmeas em 11 de setembro de 2001 tenham sido avisados para não irem a seus escritórios no dia do ataque terrorista. Isso é a Teoria da Conspiração levada às últimas consequências...

No caderno "P2" de "Público", que circula aos domingos, uma longa entrevista com o filósofo norte-americano Lee McIntyre, investigador no Centro da Ciência na Universidade de Boston e autor, dentre outros, do livro "Como falar com um negacionista", mostra o entrevistado advertindo: "Na era da pós-verdade a desinformação serve para destruir o conceito de verdade. Os que não votam, não veem notícias e  não acreditam em  nada são um perigo." Também o semanário "Domingo" publica uma reportagem de capa sob o título "O arquiteto demolidor". É biografia de Benjamin Netanyahu, formado em arquitetura no prestigiado MIT e hoje especialista em arquitetar a destruição palestina.

Toda essa pauta comum e que não pode ter sido combinada por meios de comunicação tão diversos e distantes até ideologicamente mostra que há uma preocupação grande em Portugal com o que nos deveria preocupar também. Mas as correntes brasileiras de esquerda, além de duelarem diariamente por questões menores, nada ou quase nada investem na renovação de seus quadros. Onde está, por exemplo, o PT Jovem? A garotada que poderia ocupar espaços generosos nas reuniões dos partidos políticos fica em casa lendo o Tio Patinhas enquanto os herdeiros de Adolf Hitler e Benito Mussolini vão aos poucos mostrando as garras que podem nos levar ao caos.

Assim a democracia vai perder...        

8 de maio de 2024

O esperneio do Brasil doente


Em "A psicologia das massas e análise do eu" Freud disse que "a massa é extraordinariamente influenciável, o improvável não existe para ela". E mais adiante: "Os sentimentos da massa são sempre muito simples e muito exaltados. Ela não conhece dúvida nem incerteza. Vai prontamente a extremos; a suspeita exteriorizada se transforma de imediato em certeza indiscutível, um germe de antipatia se torna um ódio selvagem. Quem quiser influir, não necessita medir logicamente os argumentos; deve pintar com imagens fortes, exagerar e sempre repetir as mesmas falas". Isso foi escrito em 1921 e se aplica hoje ao Brasil, 103 anos depois...

Nós estamos vendo o que se passa no Rio Grande do Sul. A imagem acima é uma foto do saguão de embarques e desembarques do aeroporto internacional de Porto Alegre tomado pelas águas. Milhares de brasileiros, talvez mais de um milhão se movimentam para ajudar a população desse Estado. Forças Armadas e organismos militares auxiliares, além de civis unem-se ao esforço para salvar a região que, ao final do drama vivido poderá computar mais de duas centenas de mortos. O governo federal faz tudo o que pode para ajudar e nem é preciso gostar dele para dar-lhe o braço nesse esforço. É aquele velho lugar comum que não cabe como trocadilho: nessa inundação sem precedentes estamos todos no mesmo barco.

Mas todos, não. O Brasil doente não embarca na nau de salvamento lançada às águas das inundações. Ele continua a conspirar todos os dias e a todas as horas. Manda legisladores aos Estados Unidos para fazerem denúncias contra a "ditadura" instalada no País, como se ela existisse realmente e denunciada por seguidores de alguém que já se declarou apoiador de tortura e defensor do fechamento do Congresso Nacional e do Supremo Tribunal Federal. Alguém que adotou o lema do fascismo "Deus, pátria, família" e a ele acrescentou um "liberdade" de fake news.

Mas o esperneio do Brasil doente não vai progredir. Frei Beto disse recentemente no artigo "Políticas sociais mudam a cabeça do povo?" que  não. Não mudam e isso confirma o pensamento freudiano. Se fosse assim a União Soviética, percursora de tantos avanços sociais não teria desmoronado sem um único tiro depois de décadas, apesar de carregar sobre os ombros o estigma dos crimes do stalinismo. Depois de discorrer longamente sobre o tema o autor encerra com uma conclusão que também é a minha: só a educação faz uma nação sobreviver ao retorno do fascismo e de outros gêneros absolutistas.

Nos dias de hoje, além de a gente acreditar que os gaúchos vão sobreviver aos eventos trágicos e graves desses dias, ainda nos conforta constatar que o Brasil saudável é muito maior e tem muito mais força. O Brasil doente vai seguir perdendo, como sempre. E também temos uma crença adicional: é preciso eleger a educação como prioridade maior na reorganização do Estado. Ela é a salvação e por isso a extrema direita a odeia.    


1 de maio de 2024

O neonazismo está aí!


Enquanto o Congresso Nacional engaveta o projeto de lei que pretende impor normas de comportamento às chamadas redes sociais, as agressões que elas geram todos os dias só fazem crescer. Mais do que isso, não são baseadas em fatos reais, mas sim criam uma realidade paralela para gerar tumulto e mais animosidades num país extremamente polarizado desde logo em seguida às eleições de 2018. Hoje a falta de moderação de conteúdo dessas redes, sobretudo a "X", antigo Twitter, faz surgirem grupos de extrema direita em atuação no Brasil, segundo foi mapeado pelo Global Project Against Hate and Extremist  (GPAHE), o Projeto Global Contra o Ódio e o Extremismo.

O estudo deste instituto localiza a maioria desses grupos nos estados de Santa Catarina, Paraná, Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro, mas não apenas neles. Já foram mapeadas mais de 20 organizações ativas, muitas delas em redes como Facebook, You Tube, Telegran e, como disse antes, "X", além de outros menos usados. Hoje a população LGBTQIA+ é o alvo principal, mas não o único. O Instituto Conservador Liberal, do deputado Eduardo Bolsonaro, pontifica na produção de tudo o que pode ser raivoso, sobretudo em combate ao que para ele é politicamente de esquerda. 

Ao mesmo tempo em que a Câmara dos Deputados diminui o ritmo de apreciação do Projeto de Lei 2.630/2020 com a criação de um grupo de trabalho que tem como objetivo principal paralisar o assunto, vão surgindo frentes de combate à democracia no Brasil como é o caso da FNB, Força Nacionalista, que chama mulheres que não combatem o aborto de "defensoras do diabo". O Falanges de Aço defende a separação do Sul do restante do Brasil (foto) e o Resistência Sulista envereda pelo mesmo caminho. São separatistas, o que é crime. Já temos por aqui até mesmo a Força Nova, versão tupiniquim do neofascismo italiano da Forza Nouva, e até mesmo uma Frente Integralista Brasileira que dispensa apresentações foi recriada recentemente em substituição à de Plínio Salgado.

E enquanto a gente brinca dizendo que isso não passa de modismo, basta recuar um pouco no tempo e vamos ver como o governo que antecedeu a esse acreditava no nazifascismo. Os nazistas alemães bebiam leite publicamente porque na visão deles essa era uma bebida branca, de purificação da raça. Eles passaram, mas o exemplo ficou. Durante o governo passado, um trio de bandidos formado por Bolsonaro e dois ministros foi fotografado ao menos uma vez bebendo leite enquanto o bandido chefe comandava uma live. Tudo isso sob o lema de "Deus, Pátria, Família", criado por Benito Mussolini na Itália.

Nada disso tem graça. O Brasil precisa pressionar o congresso pela aprovação do Projeto de Lei 2.630/2020. E rápido.               

25 de abril de 2024

Sejam heróis vocês!

"uns dizem a sua "história"
outros fazem história
e hão-de viver no exemplo e na memória"

O texto que abre esse artigo é do poeta português José Magro (José Alves Tavares Magro). Esse escritor revolucionário português também vai encerrar meu texto. Trata-se do homem que lutou a vida toda contra o salazarismo, contra a ditadura de seu país, passou 21 anos na prisão - na maioria do tempo em Peniche, para onde a PIDE de Salazar mandava os presos políticos - e só viveu por apenas quase seis anos depois do 15 de abril de 1974, data que hoje completa 50 anos. Morreu pouco antes de completar 60 anos de idade, debilitado que estava por inúmeras torturas e privações. É de gente como José Magro que é construído o futuro do gênero humano. Por essa gente vale a pena viver e lutar!
E foi uma senhora portuguesa, Celeste Caeiro, dona de casa e na época com 40 anos, quem deu nome ao movimento civil e militar que tirou do poder o salazarismo. Ela voltava para casa e viu aquele movimento todo, blindados nas ruas, parou e ficou olhando. Um soldado de entre os amotinados chegou a ela e pediu-lhe um cigarro. Celeste não tinha, não fumava nem nunca fumou. Tirou um dos cravos vermelhos do maço que havia comprado no mercado para enfeitar sua casa e o entregou ao soldado que colocou a flor em seu uniforme. Em pouco tempo outros amotinados encontravam mais cravos, muitos foram colocados até nos canos das armas e as flores acabaram dando home ao movimento que encerrou em Portugal seus tempos mais tristes. A imagem que ilustra esse texto recria o momento em que Celeste entra para a história. Hoje aos 90 anos, debilitada pela idade ela foi instruída pelos médicos a não se emocionar. Como, doutores?
A Revolução dos Cravos é um exemplo. Foi a mais longa ditadura europeia, mais longeva que a de Francisco Franco. E nos 50 anos que se seguiram a ela Portugal deixou de ser um país inexpressivo para se tornar modelo na Europa. Nem mesmo os riscos dos tempos atuais, quando uma extrema direita criminosa tenta dominar o mundo, surge como divisor de águas naquela terrinha de meu avô materno. Como eu gostaria de estar lá hoje! Que pena não estou e só posso ver tudo isso via satélite!
O texto abaixo chama-se "Sê herói, José". Eu digo a todos: sejam heróis vocês. Todos nós. É nessas horas decisivas que o homem se impõe ou tem que viver se escondendo e camuflando suas condições subterrâneas que às vezes afloram em posts de internet enviados para lugares errados e por engano dos diversos milhares de membros dos gados fascistas modernos daqui e de muitos outros países. Aqui, por exemplo, chegamos ao cúmulo de ver durante meses sociopatas acampados em frente a unidades militares pedindo golpe de Estado, rezando para pneus e extra terrestres. Nenhum povo foi mais bizarro que o nosso. 
A mulher de José Magro chamava-se Aída, viveu 102 anos e durante esse tempo todo dignificou o nome de seu companheiro de vida e de Partido Comunista de Portugal. Ela colecionou as poesias do marido que depois seriam publicadas em dois livros. São uma história de vida, de lutas e de ideais que sobrevivem aos homens, como aconteceu na Revolução dos Cravos. Eis o poema feito na prisão de Peniche:

SÊ HERÓI, JOSÉ

tarde de domingo
no largo da vila
toca um realejo que se ouve daqui
no pátio interior prossegue o recreio
e ouço o sussurro da voz dos amigos
não sinto mais nada
o mundo é a cela
veleiro sem vento num mar de vazio

a vida é tão curta e a tarde tão longa!
como hei-de passá-la se só tenho um livro
que li e reli e já nada sugere?!...
deitar-me não quero que logo não durmo
cantar não me deixam falar é de doido
passear os três metros pior que funâmbulo?!...

José que fazer se sei que não gostas
Da introspecção seguro que estás
Que a chave do mundo não cabe no umbigo
E temes ser santo que os santos não têm
O travo salgado do gosto da vida
E os traços de classe que a luta te dá

Que coisas heroicas José que farias
lá fora esta tarde
aqui por teu mal
o grande heroísmo é não fazer nada
Pois é:
- sê herói, José, e sorri…

“TORRE CINZENTA - Poemas da Prisão”
José Magro. C
oleção “Resistência” editora AVANTE!)  

23 de abril de 2024

A política que eles fazem


Alguns se assustam com o fato de o atual governo estar perdendo prestígio junto à população brasileira de modo geral. Não é para assustar. Esse é o resultado da política que eles fazem em confronto com o que se tenta fazer hoje na luta pela reconstrução do Brasil vilipendiado durante quatro anos pelo movimento de extrema direita intitulado "bolsonarismo", e que se instalou no país na calda de cometa do episódio pouco explicado da tentativa morte do então candidato a presidente durante a campanha política.

O ex-presidente não conseguiu se reeleger, mas deixou a reação plantada em solo muito fértil. Legou a seus seguidores um Congresso que é em parte sua cara e defensor incondicional de seus projetos, uma classe média ainda mais reacionária e de garras afiadas, um setor chamado evangélico com pretensões de poder, uma base policial e militar capaz de conspirar a céu aberto e seguidores hoje colocados à frente do poder estadual de algumas das unidades mais importantes do Brasil. Não seria preciso mais do que isso...

Mas a essa reação instalada se soma a inegável capacidade que a reação tem de controlar as chamadas redes sociais e fazer com que elas divulguem todos os dias um número incontável de mensagens mentirosas, torpes, capazes de construir falsas realidades, destruir as que temos e monitorar sem parar um só segundo o rebanho de gado que distribui esse projeto de poder via narrativas de laboratório. De vez em quando um dos milhares de membros do gado reacionário da extrema direita se equivoca e envia os posts muares para endereços errados. Erros às vezes hilários, às vezes lamentáveis...

O que fazer contra isso? Não entrar no jogo, não descer ao nível deles e entender que agem explorando a ignorância popular - vejam os novos evangélicos! - e incitando o ódio instalado em parcelas pouco instruídas da população brasileira, sobretudo na classe média que sonha escalar a montanha da riqueza com a ajuda de um messias qualquer que seja capaz de alimentar esse delírio muito parecido com o que mostram os pastores das "confissões" cheias de vontade de abarrotar seus cofres de dinheiro dos dízimos.

Saber também que isso tudo vai passar. Basta àqueles que combatem o reacionarismo entenderem que combatem o bom combate. Mas que nessa luta não se pode errar muito, nem ao menos falando o que não se deve em hora errada. Acertem na mosca! E nos vermes!