
Era um excelente piloto. Formado em uma das primeiras turmas do Aero Clube do Espírito Santo, em 1943, participou do esforço de guerra brasileiro na II Guerra Mundial, mesmo sem sair daqui, como membro da Patrulha da Madrugada, um grupo de aviadores que voavam todos os dias, dentre outras coisas patrulhando as costas capixabas para vigiar os portos de uma possível incursão de algum submarino alemão. Por sorte não avistou nenhum e a guerra terminou logo, porque os aviões da patrulha não tinham armamento algum.
Trabalhou com construção civil. Construindo pontes e outras iniciativas no Espírito Santo e Minas Gerais. A primeira estação de tratamento de água de Cachoeiro de Itapemirim, comandou as obras de construção do Cais do Avião, em Santo Antônio, e mais uma série de outras atividades afins e correlatas. E também importantes.
Foi gerente, no Espírito Santo, de uma das primeiras empresas regulares de aviação, a Aerovias Brasil. Na época, com o amigo Djalma Cabral, fundou a Vitur, primeira agência de turismo receptivo do Estado. Trouxe para o Brasil, da Espanha, juntamente com um sócio e amigo, Flávio Torres Ribeiro de Castro, um revolucionário – à época – método de beneficiamento de ferro a frio, fundando, junto com esse sócio, a empresa Armaduras Helitraço, em São Paulo. Fabricou por aqui os primeiros karts e organizou a primeira corrida regular no velódromo do Ibirapuera.
Foi fabricante de peças de alumínio para motores de automóveis Simca quando a esmagadora maioria dos equipamentos do gênero eram feitos em aço. Trabalhou com queimadores industriais, com vendas diversas, com ultraleves e outras atividades mais, sempre ligadas a metais ou aviação. Conhecia tanto do que fazia que, não raro, as pessoas perguntavam a ele em que universidade havia se formado em engenharia. E ele tinha apenas o 2º grau técnico. Ria disso, gostosamente. Afinal, discutia engenharia com engenheiros...
Nos últimos anos, foi um espectador da vida. Espectador crítico e jamais renunciando aos seus princípios, alguns deles hoje relevados. Casou-se e amou a mesma mulher por 64 anos, oito meses e sete dias. Também isso é hoje considerado "ultrapassado".
No dia de seu sepultamento, depois de morrer com complicações várias provocadas por uma queda doméstica aos 88 anos de idade, estavam no velório e no sepultamento menos de cinco dezenas de amigos. Não houve tempo de avisar a todos. As homenagens foram daqueles que realmente o amaram e de algum diletos amigos destes.
Faço aqui o registro da morte de Nelson Calado. Também conhecido como Nelson de Albuquerque Silva, fluminense de Campos dos Goitacazes, brasileiro que viveu intensamente e amou a terra pela qual chegou a patrulhar parte da costa capixaba durante uma guerra sem nunca ter recebido um único “muito obrigado” oficial. Faço isso eu: muito obrigado, meu pai. Você deixa vários exemplos. Que possam ser seguidos.
Legenda: na foto, Nelson Calado está em pé à direita, ao lado da mulher. Sentado, seu cunhado Waldyr. É a última foto do velho Nelson.