
Não gosto de dizer esse tipo de coisa, mas Bolsonaro é uma figura patética. Os presidentes da época da ditadura que ele venera tanto, ao menos tinham compostura. Comportavam-se obedecendo rigorosamente ao protocolo. Claro que, à noite, junto a seus capangas fardados ou não, davam ordens de execução de inimigos e compunham os atos institucionais feitos na medida para aos poucos castrarem os direitos da população. Mas isso à noite. Durante o dia chegavam até a sorrir.
Ernesto Geisel, que ao final do mandato ordenou que a cúpula do PCB fosse quase toda ela executada para não sobrar intacta às vésperas da redemocratização que viria com o "prendo e arrebento" de João Figueiredo - aquele que preferia cavalo a gente -, uma vez foi à Inglaterra. Sentindo-se desconfortável em uma vestimenta de rigor antes de se encontrar com a Rainha Elizabeth, disse que estava no "society". E completou respondendo a uma pergunta sobre um assunto caro: "o Brasil é uma democracia em sua relatividade". Estava criado o conceito de relatividade democrática.
Jair Bolsonaro, embora não possa mandar matar à noite - teoricamente falando -, quer desprezar até mesmo a democracia relativa do Brasil. Depois de chegar a receitar remédio contra o coronavírus, esse aí acima, está disposto até a provocar um morticínio no País, cedendo a pressões das diversas classes produtivas para acabar com a política de isolamento das pessoas em época de pandemia. Dane-se; se ele e os seus forem poupados, que os demais cidadãos brasileiros pobres morram como moscas.
Embora não seja inovador nessa área ele, governa unicamente para empresários. E só pensa neles. O restante da população é, para seu governo e entorno, um detalhe espinhoso, desconfortável e que seria retirado do caminho se isso fosse possível. De preferência à noite.
Suas medidas provisórias, decretos e outros são feitas na surdina e com a participação de poucos dos bajuladores incondicionais, dentre os quais estão os ministros Paulo Guedes, Sérgio Moro e outros escalados para ocasiões específicas. Quando as coisas não dão certo e a reação popular surge, ele reforça o chiqueirinho da saída do Palácio da Alvorada, para onde já chegou a levar um palhaço coadjuvante. Se nem isso for possível, escala Abraham Weintraub para dar entrevista...
A bolha se reduz a cada dia que passa. Não importa. Assessorado por um grupo tão pequeno e desesperadamente apegado ao poder, crê na virada da mesa com a mesma convicção com que acredita que ainda teria 57 milhões de votos numa eleição que fosse realizada hoje. E daí? Para quem vive distante da realidade factual, junto a um chiqueiro humano e a um "colegiado" que frequenta ilegalmente o Palácio do Planalto sem ter função pública no local, tudo é possível.
De Preferência à noite...