A revista "Veja" dessa semana traz matéria de capa sobre a força do agronegócio brasileiro. Uma força que hoje se reflete no Congresso Nacional onde uma "bancada ruralista" impõe sua pauta com os mais diversos tipos de pressão. E é fácil fazer isso num país onde o partido político deixou de existir como instituição formada por pessoas unidas em torno de um projeto de poder ancorado em programas que invariavelmente são baseados em princípios ideológicos. Hoje os partidos brasileiros agridem até o princípio do estado laico com a formação de bloco religioso chamado de "bancada evangélica".
Nossas distorções políticas criaram um movimento boiardo moderno. Os maiores representantes do agro, sobretudo aqueles que se intitulam "ruralistas" querem impor suas pautas ao restante do país graças ao fato de que nos últimos tempos têm alavancado a economia, principalmente nas exportações. Os boiardos originais eram, no passado, membros da aristocracia russa e ocupavam posição de destaque só comparada à dos príncipes do império. Inicialmente tinham todos eles raízes no campo e se ocupavam também de alijar do poder decisório os mujiques, esses a imensa massa camponesa sem representatividade alguma. O poder boiardo ocupou regiões onde hoje ficam outros países do leste europeu e, no caso russo, eles só encontraram o ocaso ao final do século XIX, com revoltas contra sua dominação (ilustração) e, em 1917, na revolução soviética.
Que o agronegócio brasileiro é uma força econômica não há dúvida. Que essa força merece ser protegida para render mais divisas ao Brasil, também. Mas a riqueza que ele produz se destina primordialmente ao comércio internacional e nem sempre se corporifica pela geração de bens e serviços destinados aos brasileiros. Nessa área quem atua para matar a fome da população do país são o pequeno e médio produtores, muitos deles praticantes de agricultura familiar e que abastecem a nossa economia com o alimento de cada dia. Nas feiras livres a gente os encontra. Também nos supermercados que adquirem produtos nas "ceasas" espalhadas por todo o "nosso Brasil", como dizem outros.
Então, uma política equânime de apoio e amparo à produção agrícola só se justifica com critérios de Justiça se estiver também voltada aos pequenos e médios produtores rurais. Aos nossos milhares de mujiques e sem que os boiardos modernos sejam privilegiados em detrimento destes.
Muito bem . Parabéns pela abordagem.
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