28 de novembro de 2024

O mercado e o Brasil


O mercado está fulo da vida com o governo federal. Ele, o governo, foi capaz - vejam só que desplante! - de não acatar as diretrizes dos donos da economia e que chegaram a público via comunicado do Banco Itaú para, dentre outras coisas, fazer cortes no orçamento sem tocar em saúde e educação, manter o salário mínimo umbilicalmente ligado à inflação, anunciar que quem ganha menos do que R$ 5 mil mensais não paga mais Imposto de Renda e, dentre outras coisas, cúmulo dos cúmulos, que lucros e dividendos vão ser tributados daqui para a frente. Mais: quem ganha muito - vê se pode uma coisa dessas! - vai pagar mais IR de 2026 em diante.

O mercado vai reagir! E como? Simples: conspirando, como sempre fez ao longo da história!

O mercado financeiro brasileiro, que prefiro chamar de "Quintada da Faria Lima" sempre pediu ao brasileiro para cortar na carne. Dos outros! De preferência dos mais pobres, já que eles estão acostumados e comer pouco, não ter assistência médica decente, viver sem aceso a educação de qualidade e, dentre muitas outras coisas mais, viver precariamente em favelas cercadas por falta de estrutura básica e em áreas povoadas por marginais.

Se os reajustes das aposentadorias e pensões não tiverem mais como parâmetro o salário mínimo, em muito pouco tempo os aposentados da base da pirâmide social estarão recebendo menos do que esse valor. E hoje essa miséria, mesmo com ganho real, já não permite sobrevivência decente. O que eles poderão fazer contra isso? Nada, já que aposentado nem greve decreta. Já do outro lado, no topo da pirâmide social onde estão os executivos do Banco Itaú e seus companheiros da Faria Lima, o que se pretende é que os milionários juros e subsídios continuem sendo pagos sem tributação alguma e que salários de primeiro mundo recolham o mínimo possível de IR. Claro, senão como manter aviões executivos caríssimos, iates de alcance intercontinental e mansões nababescas? Não vai dar.

Governo rebelde, esse. Merece sem alvo de conspiração! A imprensa representada pelos grandes meios de comunicação, Estado de S. Paulo à frente, já reagiu. Daqui para a frente o alvo será o governo, sem dó, sem piedade e sem trégua, com porradas de todos o tipos. Falhas vão ser encontradas até mesmo no café da manhã servido no Palácio da Alvorada. Num Brasil sem educação básica, fácil de ser influenciado e com tanto pobre de direita, em breve isso vai fazer efeito. Tem que fazer. Senão, em último caso, deve existir guardado na manda do terno de tropical inglês o projeto de dizer que Bolsonaro é inocente e quem tentou mesmo dar um golpe de Estado foi Lula. Vai ver, dá certo!     

26 de novembro de 2024

Nossa noite dos longos punhais

A noite das longas facas, ou então "Noite dos longos punhais" aconteceu de 30 de junho a 1° de julho de 1934, na Alemanha. Adolf  Hitler queria eliminar seus principais opositores, aqueles que deviam algo a ele ou então que não lhe prestavam apoio incondicional. Com execuções extrajudiciais matou a cúpula do "strasserismo", movimento ligado a Gregor Strasser e Ernst Röhm, inimigos de seus maiores admiradores e aliados. Assim acabou com a Sturmabteilug ou SA e fez com que as SS ou Schutzstaffel se tornassem o maior grupamento paramilitar da Alemanha Nazista comandado pelo próprio Hitler além de Hermann Göring, Heinrich Himmler e Reinhard Heydrich. Só nessa noite 85 pessoas foram mortas.

Notem em que o movimento "Punhal verde amarelo" se inspira, de onde ele vem e o que o motivou a nascer e se desenvolver nas Forças Armadas do Brasil que, miseravelmente para todos nós, têm uma longa tradição golpista externalizada com força logo após a queda do Império, no final do século XIX e depois "consolidada" ao longo da República. Sim, senhores, a queda do Império foi um golpe de Estado, talvez o único levado a cabo com total sucesso até hoje no Brasil. Os herdeiros do trono brasileiro sabem disso e por esse motivo ingressaram na política republicana atual apoiando o genocida inelegível Bolsonaro que poderia, quem sabe, dar-lhes um dia apoio ao projeto politicamente arcaico de tentar a volta da monarquia brasileira, ainda que só no papel e sem poder de fato.

É um movimento de covardes esse tal "Punhal verde amarelo". Prostitui as cores da bandeira brasileira, hoje tomadas pela extrema direita política que o genocida inelegível representa e ainda tenta fazer renascer com mais força do que antes, do que no Estado Novo e na Ditadura Militar de 1° de abril de 1964, o golpismo brasileiro. Sem a menor cerimônia esses canalhas hoje ocupando vários espaços na sociedade brasileira, sobretudo em instituições civis dos mais diversos matizes, principalmente as de caráter intelectual, buscam sabotar o Estado Democrático e de Direito através de golpe de Estado clássico travestido de adereços legais, ou então corroendo-o de dentro para fora.

Ao que parece nossa sociedade conservadora e em alguns casos reacionária está aos poucos acordando de seu longo sono em berço esplêndido. As mais recentes pesquisas de opinião pública mostram que o movimento que tentou impedir a posse de um presidente constitucionalmente eleito por meio de violência perde apoio popular. E também que o inelegível genocida Bolsonaro está se exaurindo como força política de extrema direita. Mas isso só não basta. Ainda resta caçar os milhares de filhotes bastardos que ele pariu e hoje andam pelo Brasil tentando retirar do túmulo político onde se encontra esse cadáver de projeto de ditador de aldeia. E essa tarefa será cumprida, mesmo que demore.

Ainda estamos aqui!                              

21 de novembro de 2024

"Qual é a senha?"


A memória do velho meu amigo não permite mais que ele se recorde ao menos do ano em que isso aconteceu. Ela foi muito atingida por torturas. Mas foi no início dos anos 1970, com toda a certeza. A lembrança só é suficiente para trazer-lhe à mente a imagem do dia em que foi preso por agentes da ditadura militar em Vitória, quando chegava à pensão onde então morava. Imediatamente depois disso foi levado a uma delegacia e ficou diante do quadro da entrada do lugar onde estava afixada todos os dias a relação do que havia para o almoço: um quadro negro com, escritos, nomes de alimentos como arroz, feijão, salada, bife, macarrão e outros. Isso variava a cada dia, da mesma forma que em todos os lugares.

- Qual é a senha? - ouviu enquanto era agredido. Tentou explicar que  não se tratava de senha alguma, mas de um cardápio como qualquer outro. De nada adiantou. Espancado, torturado por policiais, foi parar em uma instalação militar da Grande Vitória. Chegou lá com um dos dedos da mão muito machucado pelas torturas e espancamentos. O militar da recepção a ele viu aquilo. "Está machucado?" - perguntou antes de continuar - "Mas vai melhorar!". Ato contínuo imobilizou a mão do rapaz ajudado por outro e, com o cabo do fuzil longo, praticamente esmagou seu dedo contra uma espécie de mesa colocada na sala ou saleta reservada para as torturas dos presos políticos.

Isso foi só o começo. Nos dias que se seguiram esse rapaz, o então jovem repórter fotográfico Gildo Loyola Rodrigues (na foto acima) foi espancado com tanta violência que, ao término de seu suplício, precisou ser internado em uma clínica para tratar a saúde. Viveu para se recuperar e trabalhar por décadas no jornal A Gazeta, de onde só saiu aposentado. Hoje mora perto de Jardim América, em Cariacica, e cuida da mulher, recebe a filha e é paparicado por quatro fieis cachorros que não entendem da política dos seres humanos.

E por que isso tudo? Porque à época em que os fatos se deram Gildo militava em organização política de esquerda. Como todas essas células ditas comunistas eram ilegais ele, que não usava armas nem pregava lutar armada, acabou identificado e preso, sendo supliciado em seguida. Teve a sorte de sair vivo das torturas e de recuperar a saúde em seguida. O mesmo não aconteceu com milhares de brasileiros vitimados pela ditadura, como foi o caso do deputado e engenheiro Rubens Paiva, retratado no filme "Ainda estou aqui" através da obra do filho Marcelo Rubens Paiva, excelente escritor nos dias de hoje.

Eunice e Rubens Paiva com pombos brancos  

Por sinal, segundo estudos sérios as forças armadas brasileiras talvez sejam as únicas do mundo que nos conflitos havidos ao longo da história mataram mais nacionais de seu país do que estrangeiros. Uma tragédia que marca esse Brasil tão possível de chegar ao sucesso, mas ao mesmo tempo marcado por traumas que nascem e se reproduzem justamente nos organismos militares criados para nos proteger de agressões externas. O período vivido entre 1964 e 1985 foram os mais cruéis nesse caso. E, pior, ainda há por aqui legiões de indivíduos que acreditam no fascismo e no nazismo como sendo a solução de problemas. Tanto que até hoje acreditam num sociopata quase expulso do Exército antes de conseguir chegar a presidência da República graças a uma democracia representativa que tenta seguidamente destruir.         

Por todo esse conjunto de fatos nutro ódio e nojo pela ditadura militar brasileira, pela extrema direita canalha que tenta invadir todos os espaços públicos e privados do País como instituições culturais e o fato de seus filhotes bastardos até hoje, passados 60 anos, ainda buscarem emergir dos esgotos fétidos da história para assombrar as pessoas que lutam por um Brasil melhor, livre dos estigmas e traumas do passado. Até promover golpes para tentar assassinar o presidente da República, o vice e um dos ministros do Supremo Tribunal Federal eles imaginam ser possível. Não é, e vão perder novamente. A democracia que temos é obra nossa e não deles.

Rubens Paiva, presente! Gildo Loyola, testemunha! 

19 de novembro de 2024

Kids pretos saudosos


As prisões feitas hoje pela Polícia Federal contra membros do grupamento do Exército conhecido como "Kids Pretos" (foto) é mais um desdobramento das investigações que visam identificar pessoas e instituições que tentaram golpe de Estado em fins de 2022, depois da proclamação do resultado da eleição presidencial. Hoje são apenas cinco os detidos, mas milhares deles devem estar direta ou indiretamente envolvidos. Não foi só uma tentativa, mas várias. A última, a invasão dos prédios dos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário em janeiro no ano passado em Brasília, depois de milhares de pessoas acamparem diante de quartéis militares tentando derrubar um governo constitucionalmente eleito.

Tudo leva a essa gente. O presidente que antecedeu o atual, Jair Bolsonaro, deu diversas demonstrações de sua vocação de ditador. Fez discurso na Câmara dos Deputados tecendo loas a um torturador conhecido, Brilhante Ustra, falou diversas vezes em matar adversários, fez "arminha" o tempo todo, em todos os lugares, modificou a legislação de controle de armas para permitir que seus apoiadores montassem arsenais em casa, buscou cooptar organizações policiais, chegou aos comandos militares com seu discurso de golpe de estado, fez reunião com comandantes pedindo apoio a golpe, tinha fixação em estado de sítio e outras situações extremas como GLO, não respeitava rigorosamente ninguém que não pensasse exatamente como ele, etc. Era e é um pulha da pior espécime.

O projeto dos "Kids Pretos" envolvia o sequestro e assassinato do presidente eleito, Lula, do vice-presidente Alkmin e até mesmo do ministro do Supremo Tribunal de Federal, Alexandre de Moraes, esse uma espécie de fixação de toda a canalhada da extrema direita atuante no Brasil de hoje. Mais: eles procuravam e procuram ocupar todos os espaços possíveis na sociedade com um projeto que envolve até entidades culturais. O que querem é controlar tudo para impor normas depois, estabelecendo censura e fazendo seus projetos de atuação que envolvem todos os segmentos da sociedade civil. Não está dando certo para eles, mas continuam em atividade, insistindo e solapando as instituições que conseguem atingir.

O que está havendo com o Brasil? Ainda tenho comigo meu primeiro título de eleitor, de 1968 em São Paulo. Naquela época votávamos apenas naqueles cargos permitidos pela ditadura militar, e com opções de Arena e MDB. Os únicos partidos legais. Mas mesmo então o que acontecia nas eleições era respeitado. A ditadura esperneou o mais que pode até cair podre em 1985. Vieram então tempos de bonança e parecia que nossa democracia não seria mais atingida por sonhos delirantes de golpistas saudosos dos tempos da ditadura e que não aceitam viver num país onde deve haver respeito pelos resultados das eleições. Querem o golpe, a violência, o assassinato. Que então apodreçam na cadeia.      

14 de novembro de 2024

Anistia, nunca!


Um número grande de pessoas já se reúne para classificar o atentado de ontem à noite na Praça dos Três Poderes, em Brasília (foto acima), como tendo sido apenas iniciativa de um louco que tentava obter 15 minutos de fama. Não foi! Esse Francisco Wanderley Luiz, ou "Tiü França" como era conhecido , é outro fruto do extremismo de direita que emergiu dos esgotos brasileiros a partir do momento em que Jair Bolsonaro venceu a eleição para a presidência da República em 2018, erguido a esse patamar pelo atentado sofrido em Juiz de Fora.

O tal "Tiü França" não era mais doido do que quem ficou meses acampado diante de quarteis militares depois de proclamado o resultado da eleição de 2022, do que quem rezou para pneus no meio da rua, do que quem pediu a ajuda de extraterrestres nos mesmos lugares, do que quem "marchava" em ritmo militar ao som de hinos, etc. Não! Definitivamente, não. Eles são o resultado de um movimento mundial que cresce com as mentiras nas redes sociais e tenta reviver com a extrema direita no poder os anos da primeira metade do século XX, os mais cruéis da nossa história.

Eles, os extremistas, estão em todos os lugares. Hoje mesmo, na Academia Espírito-santense de Letras (AEL) sou obrigado a conviver com essa gente. Um grupelho sem brilho, sem conhecimento intelectual, sem capacidade literária e colocada lá pelo extremismo de direita para que este ganhe maioria nas instituições culturais. E para quê? Vou repetir tantas vezes quantas forem necessárias: para depois disso formarem diretorias e torpedearem a cultura brasileira regional, censurando nossas diversas formas de manifestação intelectual. Então, para depois moldarem todo o conteúdo nacional como tentou Bolsonaro, será só um passo.

A manifestação do Supremo Tribunal Federal (STF) hoje foi exemplar: mostrou que as instituições não vão se render no Brasil em hipótese alguma. Vão continuar a lutar, a permitir que possamos crescer como nação e como povo. Porque povo significa somente pessoas que compartilham cultura ou etnia, enquanto nação é esse mesmo grupamento de indivíduos com identidade comum, senso de pertencimento coletivo. Os que pretendem destruir o Brasil por não concordarem com os outros não são meu povo nem minha nação.

Definitivamente, não pode haver anistia. Todo criminoso que tenta destruir  nosso país precisa apodrecer na prisão. Traidor da Constituição é traidor da pátria, como disse Ulisses Guimarães na promulgação da Carta de 1988!             

13 de novembro de 2024

Ainda estamos aqui!


Na foto que ilustra o texto os atores Selton Mello e Fernanda Torres estão à esquerda e os personagens reais, Rubens e Eunice Paiva à direita

Talvez "Ainda estou aqui", filme maravilhoso de Walter Salles e que conta a história do assassinato do ex-deputado Rubens Paiva leve poucos prêmios internacionais nos tempos de extremismo de direita de hoje. Mas é maravilhoso e capaz de fazer o telespectador ficar em silêncio durante todo o tempo de exibição, além de sair da sala de projeção da mesma forma. Ouvi uma senhora falar com o homem ao lado - possivelmente o marido - um "não acredito que isso aconteceu". Mas aconteceu, senhora. E em milhares de casos.

Rubens foi assassinado de forma cruel, brutal até, muito pouco tempo depois de ter sido preso sem acusação formal, coisa alguma. Acabou seus dias num dos centros de tortura mantidos pela ditadura militar que tomou o poder no Brasil em 1º de abril de 1964. Não foi em 31 de março, certo? Da mesma forma que ele, inúmeros outros morreram ou foram perseguidos ao longo dos 21 anos que durou a noite sem estrelas da ditadura brasileira.

O bom de esse filme estar sendo exibido agora é que sua apresentação coincide com tempos em que uma nova horda de extremistas de direita tenta se erguer no Brasil e no restante do mundo. Temos um Donald Trump nos Estados Unidos e um Javier Milei na Argentina, para ficarmos apenas em dois casos. Mas a tragédia pode aumentar, e muito. Portugal que o diga. Eles entram sorrateiramente país adentro, para tomar corações e mentes desprevenidas. Já se diz que isso é coisa passageira, que logo tomaremos noção do risco que corremos, mas o perigo deve ser bem maior do que pressentimos nós, os mais crédulos.

Eles hoje, os extremistas de direita. tentam tomar praticamente todos os espaços. Não poupam nem academias de letras, onde ingressam pelo medo ou omissão de seus membros. Sorriem, fazem festa, bajulam, mas o objetivo claro é o de tomar as instituições tão logo seus ocupantes estejam em menor número. Um projeto maquiavelicamente simples, de ocupar esses espaços para aprisionar, acorrentar a cultura em seguida.

Temos que estar atentos. Em "Ainda estou aqui" Fernanda Montenegro tem uma apresentação maravilhosa e de poucos minutos, sem pronunciar uma só palavra. Seu silêncio diz tudo. A mim, por exemplo, disse também que essa raça de canalhas derrotada no passado pode ser vencida novamente agora, da mesma forma, por convencimento, depois de seus inocentes uteis irem aos poucos descobrindo uma coisa muito simples:

- Nós ainda estamos aqui!  

6 de novembro de 2024

Guerra sem xeque-mate


No jogo de xadrez o xeque-mate é a rendição do rei. Ele não tem mais como se defender no tabuleiro e o jogador cercado derruba a pedra que o representa. Na vida real essa rendição, sobretudo quando se fala em super potências, é cada vez mais improvável. Uma guerra nuclear não teria vencedor, de modo que faltaria a mão para derrubar o monarca. Então a ninguém mentalmente são interessa esse xeque-mate. 

Digo isso porque a eleição de Donald Trump nos Estados Unidos em muitos provoca calafrios ligados à guerra nuclear. Bobagem. O presidente eleito é um fanfarrão, mas mesmo assim menos belicoso que Joe Biden. Ele conhece o terreno minado onde pisa e estará cercado por gente capaz de dar conselhos. Além do mais as forças armadas dos Estados Unidos dificilmente seguirão um residente maluco em direção ao abismo.

Trump é negacionista e isolacionista. Mas aqui no Brasil tivemos na chefia de governo até pouco menos de dois anos passados um outro que era filhote dele. Disse até um "y love you" para seu ídolo em encontro pessoal. Declaração de amor respondida com o protocolar "nice tho meet you too". Trump o vê como fã, nada mais. E a América do Sul nunca foi prioridade para a política externa dos EUA. Isso não vai mudar agora.

Trump pode, sim, taxar importações, mas para negociar depois. Isso causa prejuízos e inflação, mas para eles também. Vai continuar a levantar o muro na fronteira mexicana e a chamar os imigrantes de criminosos. Afinal, todo extremista de direita precisa de inimigos. Vive disso, seu pensamento se baseia nisso e o prejuízo para os mexicanos acabará maior do que para os outros. No horizonte próximo continuará a tratar a China como inimiga porque vê nela - e acertadamente - o país que suplantará o seu em breve no campo econômico. Os chineses gastam muito menos dinheiro que os norte-americanos em orçamento militar. Talvez Benjamin Netanyahu não tenha tanto a comemorar. Nem o inelegível por aqui. Mas isso precisamos ver depois. Barbas de molho devem colocar Irã e Ucrânia.

Há uma hipótese pouco avaliada hoje: a de que os remédios do presidente eleito prejudiquem a saúde de quem pretende beneficiar nessa "era de ouro" anunciada para seu povo. Se isso acontecer ele não deverá mesmo ter outro mandato, como anunciou. 

  

5 de novembro de 2024

Podres Poderes 2

Em meados da década de 1980 a revista Placar, da Editora Abril, foi a campo para denunciar o que se convencionou chamar de "A máfia da Loteria", um esquema corrupto de manipulação dos resultados de jogos da Loteria Esportiva para fraudar resultados e enriquecer ladrões. Muita gente ganhou dinheiro com isso, num esquema que construía "zebras" em resultados de jogos de favoritos contra times de menor porte. O jornalista Marcelo Rezende ficou meses levantando dados inclusive em Vitória onde dois goleiros, um do Rio de Branco e outro da Desportiva foram comprados. Seus clubes perderam jogos graças a falhas propositais desses dois sujeitos. Eu, que era correspondente de Placar acompanhei o trabalho no Estado. 

Marcelo veio a Vitória para levantar dados. Ouviu até o presidente da Federação de Futebol do Espírito Santo, FES, na época um picareta. Placar publicou várias vezes as denúncias com um título interno de "Podres Poderes". Ao final o esquema foi desmontado pelo menos em parte. O ruim é que a Loteria Esportiva, muito ferida com o fato, jamais voltou a ser o que era. Marcelo, que tinha planos de prosseguir em seu trabalho, morreu de câncer. E como a revista perdeu parte de sua importância do passado, também não precisava de correspondente em Vitória...

Agora aparentemente tudo está voltando. O esquema das  BETs substitui a corrupção antiga com a vantagem de não precisar mais da Loteria Esportiva. A mão de obra continua disponível agora na figura de jogadores famosos como é o caso de Bruno Henrique, do Flamengo, e outros. São pessoas que não têm uma formação moral sólida e acabam sendo alvos naturais para espertalhões. Aceitam ganhar dinheiro fácil não se apercebendo de que estão sendo desonestos. Ou então fazendo isso com plena consciência do que ocorre.

Essa onda das BETs ainda vai provocar muitos danos ao Brasil, sobretudo porque jornalistas conhecidos e ex-jogadores de futebol feitos comentaristas as divulgam. Muita ilegalidade já foi desmascarada e outras o serão em breve. Pior: milhares de pessoas estão se endividando, caindo no buraco das dívidas de jogos de azar de onde é muito difícil sair. Mais uma vez nosso pais cava um buraco para ele mesmo.

Esporte depende de credibilidade. Se perder isso estará mortalmente ferido.