
Uma faxina que estaria sendo feita a mando da Presidente da República já afastou mais de uma dezena de desonestos no Ministério dos Transportes e Dnit. Até um tal Juquinha, que comanda a construção das grandes ferrovias brasileiras, conseguiu enriquecer como em um passe de mágica passados poucos anos de "labuta" no serviço público. Assim como Palocci. E os escândalos de superfaturamentos e outros gêneros de gatunagem se sucedem. Parecem não perder o fôlego. E não ficam circunscritos aos Transportes, não. Germinam e crescem por todos os jardins da roubalheira municipal, estadual e federal.
Isso me lembra uma conversa recente. Um auxiliar de primeiro escalão, secretário do governo do Espírito Santo, pessoa digna com a qual me encontro às vezes para papos amigáveis, é reconhecido como um jurista competente. Certa feita, trocando ideias sobre o Poder Legislativo, ele me disse mais ou menos o seguinte: "Álvaro, o Legislativo tem que ser somente Federal. Os Estadual e Municipal não servem para absolutamente nada". Na hora fiquei pensativo. Agora sei que ele tem razão.
Os juquinhas, paloccis, pagots e outros da vida vão continuar existindo. Se forem duramente atacados, se tornarão escassos no Executivo, um poder necessário. O crime viceja onde compensa. Os juízes lalaus também não deixarão de existir. Mas se o Judiciário, outro poder vital, os tirar de circulação como está sendo feito, tenderão a se tornar raros. Mas e os deputados estaduais e vereadores corruptos, o que fazer com eles já que são muitos milhares se somados pelo País afora?
Um dia desses o Legislativo do Espírito Santo entrou em recesso (alguém notou?). Foi feito um levantamento das realizações do semestre. Além de incontáveis votos de pesar e de louvor e de leis idiotas - um deputado capixaba, esse federal, quer o Dia do Orgulho Heterossexual -, ficou registrado um grande feito: 511 nomeações.
Isso significa dizer que para aplacar um pouco a fome dos legisladores (sic!), e eles têm uma goela imensa, o Executivo capixaba precisou nomear mais de meio milhar de apaniguados. Isso sem contar funcionários de gabinete, nomeações cruzadas, luta por liberaçã

O Legislativo Federal tem Senado e Câmara. Milhares de servidores para atender a meio milhar de deputados e quase um a centena de senadores. Manter a máquina funcionando custa uma fortuna. Há apaniguados saindo pelo ladrão (sem sentido figurado). Ela, a máquina, tem mesmo é que legislar e isso com estrutura para assumir a responsabilidade de criar meios e modos de atender às necessidades regionais de leis dos estados e municípios. Os senhores senadores e deputados não têm escritórios e funcionários nos Estados? Não gastam dinheiro público com eles? Então que sirvam para isso em vez de servirem só para comer recursos dos impostos.
O servidor de primeiro escalão com quem converso sempre, tem razão. Está coberto dela. Imagine o leitor se todas as assembleias e câmaras deixassem de existir. Imaginem quanto de dinheiro iria sobrar para destinações nobres. Educação, Saúde, Segurança, Trabalho, etc. Quanta gente - os parlamentares - iria ter que arranjar emprego em vez de fazer leis idiotas e bajular o Executivo e o Judiciário. Quanto de roubo e extorsão seria economizado. E quanto de trabalho extra ganhariam os parlamentares de Brasília para justificar todos os seus privilégios. Os seus e os dos apadrinhados que hoje às vezes batem ponto e vão para casa.
Esse seria o Brasil ideal. Mas também é o Brasil utópico.