
Partamos do princípio de que esse remédio já foi tentado e se mostrou ineficiente. O Exército, a Marinha e a Aeronáutica são corporações de combate. Elas vivem e treinam para a expectativa de um dia terem de enfrentar um inimigo externo. A defesa da paz interna depende das instituições civis - polícias municipal, estadual e Federal - ou militares auxiliares - Polícia Militar, Força Nacional de Segurança, etc. E se nós não conseguimos resultados hoje, isso decorre da total falência da autoridade no Brasil, que nasce nos vereadores de pequenas cidades até a presidência da República.
O combate às drogas só faria sentido de elas não atravessassem as fronteiras. É lá que se deve dar o real combate. Lutar contra o varejista favelado é pouco ou nada eficiente. E a pirotecnia de chamar organismos militares para enfrentarem o problema de improviso só joga para a galera. Isso num Brasil onde é fácil manipular a opinião pública. Sobretudo para tirar o foco dela dos nossos alvos.
Desde sempre o governo federal soube que não iria emplacar a reforma da Previdência contra os carteis e lobistas que dirigem o Estado brasileiro. O economista Mancur Olson, no livro "A lógica da ação coletiva" (Edusp, 2015) nos ensina: "Grupos menores derrotam com frequência grupos maiores, que deveriam prevalecer na democracia, porque os primeiros são organizados e ativos, e os segundos normalmente não são". Isso é a cara do Brasil.
Agora por exemplo, enquanto deslumbrados de direita aplaudem o "patriotismo" das Forças Armadas e os bobocas de esquerda se insurgem contra o "novo golpe" o governo se prepara para aumentar impostos, aprovar mudanças legais discutíveis e arrochar ainda mais os que vivem à custa do INSS. Claro, eles não são organizados e ativos, como diz Olson: "Como grupos pequenos com frequência se organizarão para agir em apoio a interesses comuns, e grupos grandes em geral não, o resultado da luta política entre vários grupos na sociedade não será simétrico". Como não é.
Só o povo brasileiro, em outubro, comparecendo às urnas para votar certo, pode dar um verdadeiro golpe de Estado no Brasil. E vai caber àqueles que podem formar opinião vender essa ideia. O País do corporativismo, dos lobistas sem limites pode nos levar a todos ao caos.