"Se o presidente da OAB quiser saber como é que o pai dele desapareceu no período militar, eu conto pra ele".A declaração acima parece ter sido dada por um desqualificado qualquer, desafeto do atual presidente da OAB, Felipe Santa Cruz (na foto, à direita, abraçado ao ex-presidente Cláudio Lamachia). Mas não; foi dada pelo desqualificado que hoje ocupa a presidência da República, Jair Messias Bolsonaro, inconformado que está porque a OAB, cumprindo normais constitucionais, impediu que a Polícia Federal quebrasse o sigilo telefônico de um dos advogados do réu Adélio Bispo, autor do atentado a faca contra ele.
Parece piada de mau gosto. Hoje mesmo, depois de vomitar palavras mais uma vez em entrevista e tentando atingir Santa Cruz, o presidente ainda referiu-se com desprezo contra os índios que, no ver dele, preferem ficar em seus zoológicos a se inserir na "civilização".
Jair Bolsonaro, o presidente autor do ataque, não respeita nada nem ninguém. O pai do presidente da OAB, Fernando Santa Cruz, desapareceu e foi assassinado aos 26 anos de idade pelo aparelho repressivo da ditadura militar brasileira. Até hoje não se sabe o destino do corpo, jamais devolvido aos familiares depois do suplício pelo qual passou. Ele fazia parte de um grupo político clandestino e que lutava contra os ditadores de plantão. Foi preso e assassinado no Rio de Janeiro.
O presidente diz conhecer o destino do morto por "vivência". Deve ser verdade. Um dos ídolos dele, Carlos Alberto Brilhante Ustra, já morto, foi oficial do Exército brasileiro e identificado como assassino e torturador já há muitos anos. Como ele, diversos outros terminaram desmascarados depois do final da ditadura. Bolsonaro os considera a todos como seus ídolos. Ele preserva essas tristes memórias que impedem que centenas de famílias tenham paz. Para ele a tortura e o assassinato de adversários e inimigos políticos deveriam ser instituições nacionais intocáveis.
O exercício de um cargo como a Presidência da República exige de seu ocupante ao menos compostura. Se possível, pudor. Nada disso o indivíduo eleito para ocupar o Palácio do Planalto em fins do ano passado tem. Nem tenta ter. Em diversas ocasiões era visível o desconforto de seu entorno nos momentos em que ele dava entrevistas desrespeitosas, agressivas, incapazes de honrar a posição ocupada. Ou então falando besteiras e dando risadas que chegam a parecer latidos de hienas.
O presidente do Brasil é uma tragédia. Pior de tudo é percebermos que os filhos, vozes atuantes quase todos os dias, talvez sejam ainda piores do que ele. Estamos no mato sem cachorro.
Nenhum comentário:
Postar um comentário