25 de fevereiro de 2023

Ninguém é inocente no palco da guerra.


Notem bem uma coisa: o que menos se fala na Europa e nos Estados Unidos - além, é claro, na Rússia - é na forma de se acabar com a guerra da Ucrânia. Como fazer a paz? O presidente ucraniano Volodimir Zelenski quer combate, obviamente ancorado no poder da OTAN e dos Estados Unidos. A esmagadora maioria dos que o apoiam também faz rufarem os tambores de guerra. E por quê? Simples, porque rios de dinheiro são gerados pela indústria bélica mundial e ela tem muito poder.

Com o fim da II Grande Guerra ficou claro que os aliados Estados Unidos e União Soviética eram só parceiros de ocasião e logo seriam inimigos ideológicos declarados. Foi o que aconteceu. Isso gerou a Guerra Fria - aquela que não dispara tiros senão esporádicos -, que só foi terminar em 26 de dezembro de 1991, com o fim da União Soviética. Ainda está para ser escrita a obra que vai explicar como a URSS se dissolveu num passe de mágica depois de ser um bloco aparentemente monolítico durante 73 anos. Mas essa não é a discussão de agora, dessa coluna.

A agressão da Rússia à Ucrânia foi uma estupidez e não pode ser explicada apenas e tão somente por "um ato ditatorial", como querem aqueles que gostam de simplismos idiotas. Na prática, com o 26 de dezembro de 1991 deixou de haver o motivo maior para a existência da OTAN, posto que a "cortina de ferro" estava cerrada. Mas não. Os princípios da globalização impunham aos Estados Unidos continuarem na aliança com a Europa, ampliarem essa rede de "solidariedade" e se aproximarem a cada dia mais das fronteiras com a Rússia. De alguma forma russos iriam reagir. Quando Vladimir Putin fez isso da maneira menos inteligente que poderia existir, sua ação bélica uniu os interesses econômicos mistos do conceito de economia globalizada com os da gigantesca indústria bélica mundial, sempre ávida por vender armas de todas as formas e para todos os clientes, não importam o regime e a ideologia. Eis a guerra como ela é!

Chocam a todos nós os dramas de crianças como as da foto acima? Aos senhores da guerra, não. Também pouco importam os inocentes jovens e velhos que estão morrendo, bem como a juventude fardada em campos de batalha que antes eram até de batatas. Cidades destruídas também podem ser reconstruídas, o que igualmente dá um bom dinheiro a setores da globalização. Tirando os pequeninos sem futuro, ninguém é inocente no conflito Rússia X Ucrânia. Sobretudo os que discursam nos mais diversos pódios falando de liberdade e autodeterminação dos povos.    

13 de fevereiro de 2023

Fake news é poder!


A cada dia que passa mais me convenço de que a regulamentação das redes sociais não é apenas necessária, mas urgente. Afinal de contas é nelas que se sustenta o poder dos homens representantes de grupos políticos de extrema direita que minam as democracias representativas usando principalmente mentiras plantadas e que nós convencionamos chamar de "fake news". No Brasil por exemplo, uma ala do Palácio do Planalto foi transformada em "sala do ódio", onde auxiliares do ex-presidente hoje homiziado nos Estados Unidos produziam carradas de informações falsas diariamente capitaneados pelo filho dele, Carlos. E essa atividade produziu danos imensos à democracia brasileira.

A cientista política norte-americana Barbara Walter estudou profundamente esse assunto no livro "Como as Guerras Civis Começam e Como Impedi-las", editada pela Zahar. E traçou um paralelo entre o que aconteceu nos Estados Unidos em 06 de janeiro de 2021 e em 08 de janeiro de 2023 no Brasil. Para ela, tanto Donald Trump quanto Bolsonaro usaram e ainda querem usar a receita de Viktor Orbán na Hungria para minar as democracias de seus países de dentro para fora com o desmonte das instituições civis garantidoras do Estado de Direito e, em último caso, terminar a obra com uma guerra civil. Esse modelo também é seguido nas Filipinas, na Índia, na Turquia e em Israel, para pararmos por aqui.

E qual é o argumento contra a regulamentação? Dizer que isso afronta os valores democráticos, sobretudo a liberdade de expressão. Balela. Todos os meios de comunicação têm regulamentação para mais ou para menos. Somente as redes sociais ainda não têm porque interessa a príncipes da área como Mark Zuckerberg manter inalterado o poder que as redes sociais possuem. E elas hoje são um poder absoluto, às vezes tão grande ou maior do que o poder de Estado, sobretudo para difundir inverdades e solapar as bases das democracias a partir do enfraquecimento de suas instituições.

Barbara Walter dá uma explicação excelente sobre facções ao dizer que "A faccionalização tem uma característica única: ela é racial, étnica ou religiosa". E como resultado disso sua disseminação e crescimento tornou possível o retorno do conceito da superioridade branca e do cristianismo evangélico como valores. Hoje nos Estados Unidos 80 por cento do Partido Republicano é assim. No Brasil há um projeto muito parecido com ele que se corporifica na ideia de "ministro terrivelmente evangélico" que Bolsonaro tentou implantar no STF e só não conseguiu porque perdeu as eleições.

Lembremo-nos de uma coisa: regulamentar as redes sociais não é atacar a liberdade de expressão, é defender a democracia. Há um grande movimento de extremismo de direita se formando em grande parte do mundo e que precisa ser combatido. Nos Estados Unidos e no Brasil fizemos bem o dever de casa, mas isso não basta. Ontem mesmo Bolsonaro disse nos EUA que a tarefa dele ainda não acabou e pretende voltar. Se abrirmos a guarda ele tentará fazer isso mesmo.    

7 de fevereiro de 2023

O Neto aplicado


Hoje é o dia de divulgação da ata do Copon que manteve a taxa de juros do Banco Central do Brasil em inacreditáveis 13,75 por cento ao ano. E a divulgação dessa ata terá a presença de Roberto Campos Neto, o presidente do BC e um seguidor incondicional do vovô Roberto Campos, o cuiabano que foi guru do pensamento econômico ultraconservador da época anterior e durante a ditadura militar brasileira, à qual serviu com dedicação. Quem não puxa os seus é monstro!

Ontem, quando o Copon se reuniu para traçar suas metas, recebi pelos Correios um impresso de um cartão de crédito que uso. Utiliza a cor vermelha...rsrsrs... Oferecia-me empréstimo de R$ 20 mil a juros camaradas, no ver dele. Calculei o pagamento em 48 vezes, como era ofertado e daria ao final R$ 50 mil. Duas vezes e meia o valor do empréstimo! No prazo menor de um ano as parcelas mensais não estariam ao alcance da maioria das pessoas que usam essa modalidade e, ao final de 12 meses a pessoa teria pago pouco mais de R$ 30 mil. 57 por cento de juros acumulados ao longo desse período.

Minha memória correu para a época da juventude. Morava atrás do Palácio Anchieta e um dia meu avô me deu uma certa quantia em dinheiro e me disse para procurar um certo fulano e acertar com ele a dívida contratada. Fui lá. O sujeito estava tomando cerveja em um bar que ficava na rua General Osório e no pé da Escadaria Doutor Carlos Messina. Falei do assunto e estendi o dinheiro a ele. Agradeceu, se levantou e guardou as notas ao lado do revólver cujo cabo aparecia por baixo da calça. Era um agiota.

Não sou economista, mas reservo-me e direito de questionar as muitas contestações que hoje são feitas ao atual presidente porque ele e sua equipe econômica acham escorchantes ou juros cobrados pelo banco que dita a referência do custo do dinheiro e impacta tudo o mais. Seus defensores julgam que esse é o remédio para o controle efetivo da inflação e eu, no alto dos meus muitos anos de jornalismo e de discussões sobre fatos econômicos me reservo o direito de achar que o remédio pode matar o paciente num Brasil destruído pelo extremismo de direita e que precisa crescer para atender aos pobres.

 Meu avô tomava dinheiro a agiotas na época em que empréstimo bancário era difícil e ele se recusava a dar a casa, seu único bem, como garantia de dívida. Hoje uma administradora de cartão de crédito cobra juros absurdos para emprestar a quem precisa. E por trás disso tudo está o Banco Central e sua política de combater a inflação arrochando o custo dos empréstimos que sufocam a economia. Mas essa é a receita de Roberto Campos Neto, que segue e cartilha do vovô e votou nas últimas eleições vestindo camisa verde amarela, uniforme do bolsonarismo, embora o correto fosse a neutralidade, ao menos em público.

3 de fevereiro de 2023

O samba do Brancaleone doido


Os últimos dias vividos pelo Brasil são mistura do "Samba do Crioulo Doido" com "O Incrível Exército de Brancaleone", de Vittorio Gassman  (vejam seu cartaz). A primeira, música que todos nós já ouvimos e cantamos, é um primor para explicar nosso país meio louco. A segunda é um filme maravilhoso que fala dos delírios malucos de quem quer o poder a qualquer preço em movimentos que sempre terminam mal. O filme foi lançado durante a ditadura militar e exibido sem censura porque os sensores tinham (como ainda têm...) QI de ameba. Tanto a música quanto o filme parecem inspirar o ex-presidente da República fugido nos Estados Unidos, o senador Marco do Val, o ex-deputado Daniel Silveira, o também senador Flávio Bolsonaro e mais a imensa trupe de pobres de espírito e bandidos que formam nossa extrema direita.

Estranho, mas o senador do Val, figura obscura e que desfila cheio de broches da Swat dos Estados Unidos imagina ter encontrado um meio de ser protagonista de alguma coisa. Deu entrevista a Veja (matéria escrita por um repórter que era seu assessor no Senado) denunciando um plano de golpe de Estado por parte do ex-presidente, depois disse que não é bem assim, depois mudou mais um pouco e agora, em entrevista à CNN Brasil falou que vai pedir o afastamento do ministro Alexandre de Moraes da relatoria do inquérito sobre os atos antidemocráticos e sobretudo o 08 de janeiro. Um plano tosco, denunciado pelo jornalista Otávio Guedes e chamado pelo ministro Moraes ironicamente de "genial".

Nossos doidos são mais perigosos do que os soldados e comandantes do "Brancaleone". O enredo deles bate de 10 a 0 na letra do "Samba do Crioulo Doido". E mostra como um presidente maluco pode gerar insanidade por todo o país. Tanto que em Brasília um extremista de direita fanático gritou a plenos pulmões um "morte ao Xandão" e em seguida se imolou ateando fogo ao corpo. Recentemente, num supermercado, ao ouvir um "feliz 2023", uma certa senhora enlouqueceu e começou a gritar que 2023 vai ser o fim do Brasil porque estamos sendo governados por ladrões. E atacou as forças mal armadas.

Somos, depois de quatro anos de governo genocida e focado em fake news propagadas pelas redes sociais, um país de gente mentalmente doente. Não todos, claro, nem muito menos a maioria. Mas essa minoria que vive num outro mundo é capaz de tanto mal que às vezes se volta contra seu próprio corpo. Ou então grita aos quatro ventos que os extraterrestres vão nos salvar um dia desses. Quando sem outro assunto, podem encontrar a calma rezando para pneus colocados em frente a quarteis.  

São alucinados sem causa e isso é muito perigoso. Mas alguma coisa me diz que dá e passa.