21 de março de 2023

Vai passar...


TRÊS HOMENS: Minha família é composta de três membros. Um demente, um gênio e eu, que sou militar./Todos nós, não sei se vocês sabem, temos um costume: o de à meia noite sair e dar três voltas em torno de nossa casa./Meu parente que é louco dá as três voltas procurando sua estrela de cinco pontas./Meu parente que é gênio levanta-se à meia noite noite e dá três voltas em torno da casa procurando uma verdade./E eu, que sou militar, dou as três voltas procurando o meu deus vermelho. (Oswaldo França Júnior in "As laranjas iguais").

Faz três dias e eu estava numa cafeteria tomando um expresso. Certa mulher de verde e amarelo foi vista por outra sentada na mesa ao lado da minha, que a chamou para conversar. A "patriota" não se conteve: "Passei por um sujeito com camisa do PT e quase vomitei. Tive vontade de esganar. Não suporto essa gente". Quase espumava e passei a acompanhar o monólogo quando ela olhou para mim e perguntou o que era, se eu não estava gostando. Disse apenas: "Não a conheço, não sei quem é e não quero que a senhora se dirija a mim". Ela foi embora vociferando...

Depois da derrota do ex-presidente hoje nos Estados Unidos seus seguidores, e vez de acatarem o resultado, acabaram mais fanatizados, mais violentos. Não pedem apenas intervenção militar, como antes. Na impossibilidade de cercarem quarteis, agora abordam a todos nas ruas, agressivos, arrogantes. E não são apenas os homens. As mulheres acabam tão ou mais amalucadas que eles. Dão voltas em torno de casas, de grupos, pessoas, de estabelecimentos comerciais, sempre à procura de um confronto. Ou de uma estrela de cinco pontas. Ou de uma verdade. Ou de seu deus vermelho.

Estão também no Congresso Nacional. Ou com perucas loiras, ou com discursos inflamados e desconexos ou então tentado emplacar leis inconstitucionais que pretendem cercear a tudo e a todos, mesmo agredindo a Constituição. Um deles se apresenta como "príncipe". Vários outros com patentes militares, títulos policiais, nomes iniciados por "doutor" e vai por aí.

Creio que isso é coisa que dá e passa, como tudo na vida, inclusive ela própria. Mas enquanto não acontece essa turba inferniza a vida dos outros. Oswaldo França Júnior, escritor há anos falecido, era militar, não aceitou ver as forças armadas nas mãos de golpistas e passou o diabo por causa disso. Mas sobrevivemos todos nós até que um genocida e sociopata tirou esse passado de seu sepulcro e fez os brasileiros se lembrarem do que existe de pior neles, como a gente vê na foto que ilustra o texto.

Não tem problema, vai passar...            

2 comentários:

Anônimo disse...

Muito decepcionante este estado de coisas. Alguns “patriotas” pecam por pregar inverdades, desmerecem cidadanias e desrespeitam nossa bandeira porque seguem um louco que nos fez regredi no tempo.

Anônimo disse...

É isso mesmo, Álvaro.
Além da polarização política, as pessoas estão bem mais intolerantes hoje em dia. Nunca se viu tanto radicalismo:
é isso "ou" aquilo.
O ideal Seria:
Isso "e" aquilo.
Não é verdade?