Se não houvesse tantas pessoas pretensamente sérias envolvidas na questão, seria possível imaginar que a discussão do reajuste da aposentadoria dos que ganham mais de um salário mínimo e recebem pelo INSS constitui um quadro de humor negro. A começar pela cobertura que dá ao assunto algumas empresas de Comunicação como a Globo, por exemplo.
Vamos explicar melhor: imagina-se para 2010 um quadro onde a aposentadoria máxima desse contingente de pessoas idosas será de pouco mais de R$ 3.400,00 reais mensais. E mesmo assim os reajustes dos que ganham salário mínimo continuará subindo mais a cada ano. Com o tempo, a tendência será de todos ganharem o mínimo. Matemática elementar, caro Watson!
Mas no Brasil que discute esse assunto, o teto do funcionalismo público ultrapassa R$ 24 mil reais hoje, sem reajuste de 2010. Um aposentado "comum" teria de trabalhar cerca de dez meses para receber tal vencimento. Esse é o teto do Judiciário - e lá muitos recebem mais do que esse valor - e do Legislativo - também lá muitos ultrapassam o teto. Há exceções no Executivo, mas neste caso outras vantagens substituem as desproporções existentes. Some-se a isso o fato de que as regras que determinam reajustes no INSS não são as que determinam as demais.
Conclusão: o Brasil tem aposentados e APOSENTADOS.
Quando se critica as possíveis novas regras de aposentadoria, todos criticam o aumento do "rombo" da Previdência. Sem considerar que muitos tributaristas são capazes de jurar que tal "rombo" é meramente contábil. É que parte considerável do dinheiro que seria destinado ao pagamento dos aposentados está sendo há anos desviado para outras finalidades.
Ora, bolas, se mudanças têm que ser feitas, precisam começar pela destinação total dos recursos da Previdência a ela, pela correção das distorções de cima para baixo e para a consideração de que aposentados, pessoas idosas, têm na maioria das vezes despesas superiores às jovens. Principalmente no item saúde, no que o Estado brasileiro não as atende.
Mas essa correção só pode ser feita se cumpridas normas legais. Ou seja: se forem determinadas pelos que ganham mais em favor dos que ganham menos. E um simples passar de olhos pela constituição do Estado brasileiro, em seus três Poderes, é suficiente para que nós todos possamos avaliar como é utópica essa possibilidade.
É uma insensibilidade não ver o problema assim. É um cinismo criticar os esforços das entidades de aposentados, sem considerar o rio de dinheiro que certas castas recebem. Sim, porque nós vivemos numa sociedade de castas. Formadas, regidas, mantidas e desavergonhadamente defendidas por aqueles que delas se beneficiam.
Inclusive por alguns encastelados em meios de Comunicação.
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