Em todos os países dignos de respeito, é normal (ou norma) que governantes, após encerrados seus mandatos ou ciclos políticos, se recolham à vida privada. Voltam a exercer as atividades de antes dos principais mandatos ou simplesmente se tornam espectadores do mundo. Da vida. Assim acontece, por exemplo, nos Estados Unidos. O ex-presidente George W. Bush, após tomar o helicóptero nos jardins da Casa Branca, distanciou-se do poder de seu País. Nem ao menos aceitou participar de solenidades oficiais envolvendo o 11 de setembro. Nem sequer participou da última campanha presidencial. Ao menos de forma ativa, ostensiva.
Por isso tudo, incomoda àqueles que pedem aos ex-governantes que tenham no mínimo compostura, o comportamento do ex-presidente Lula. Já fez mais de 30 viagens internacionais depois de deixar a presidência, faz cerca de dois anos, e grande parte desses deslocamentos foram custeados por empresas privadas. Grandes empresas. Ele agiu e age no exterior como lobista, usando o prestígio adquirido nos oito anos de Palácio do Planalto para tentar contratos vultosos para seus representados. São amplamente conhecidas, por exemplo, as relações entre ele e o bilionário Eike Batista que, nos últimos tempos, tem sido mostrado muito mais como um empresário próximo da bancarrota do que de algum olimpo.
Pior de tudo: quando esses fatos passaram a ser divulgados pelos meios de comunicação, o ex-presidente os confirmou como se fizesse algo perfeitamente normal. Chegou a dizer que quem quiser divulgar o Brasil ou o que aqui é produzido, basta recorrer a ele. Só não falou de cifras, de participação nos lucros. Mas seguramente elas existem. É tristemente conhecido em nosso País o hábito da "comissão". O que sempre gera superfaturamento de obras, essa uma outra praga nacional.
Mas de que estamos reclamando? Lula, mesmo depois de tanto tempo fora do poder, parece ter intocado seu prestígio junto a grande parcela de nossa população. Conseguiu fazer sua sucessora e interfere nas eleições, sempre elegendo seus preferidos, seus postes, como foi o caso recente da Prefeitura de São Paulo.
Esse Dom Quixote de Terceiro Mundo com lema de "combate às elites" é hoje um homem rico. De seu Instituto Lula, em São Paulo, comanda um império que pode ser representado por prestígio político. E como não conhece limites, esse um "dom" reconhecido por assessores e ex-assessores, faz o que bem entende. Como, por exemplo, aparecer em uma propaganda de televisão pedindo votos para Nicolás Maduro nas eleições da Venezuela, cinicamente se intrometendo em questões internas de outro País, coisa que nenhum governante antes dele teve a coragem ou o desplante de fazer. Nem durante a ditadura militar.
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