Um dia desses, antes de um compromisso literário, resolvi rever uma amiga em passagem rápida. Conversamos e à saída ela perguntou: "Vai votar na Dilma?". Eu disse que não, que votaria em Aécio. Ouvi dela: "Ótimo, a esquerda vai ganhar da direita!". E estufou o peito. Vou responder em carta:
"Minha querida amiga E.Z.
Esse direitista aqui militou no Partido Comunista Brasileiro, o Partidão, desde que se entendeu como gente até que sua sigla mudou de nome. Panfletei, discursei, fugi da Polícia, gritei slogans, corri perigo. Tudo por um único motivo do qual me orgulho até hoje: idealismo. Amiga; por idealismo a gente nasce, a gente cresce, a gente luta, a gente corre riscos e a gente morre.
Quando passou a ditadura militar, em 2002, imaginei que Lula, pelas pessoas que o cercavam, representaria não o ingresso do Brasil no Comunismo de Estado - jamais imaginamos isso ou sonhamos com isso -, mas numa democracia representativa que combateria a corrupção, as desigualdades sociais, as carências sobretudo nas áreas de educação, saúde e infraestrutura. Por que não? Afinal de contas, naquela "frente" estavam brasileiros que, como eu, haviam enfrentado a ditadura. Muitos foram presos, torturados. Muitos terminaram exilados.
O que houve com aquela gente, amiga? De repente, não mais que de repente, todos se prostituíram. E digo TODOS mesmo. De Lula pouco esperei. Afinal, esperar o que de um indivíduo que nunca leu um livro? Mas dos outros eu esperava muito. Mas eles roubaram, permitiram que se roubasse, enriqueceram ilicitamente, deram empregos públicos a milhares de pessoas, dilapidaram empresas caras a nós como a Petrobras, formaram quadrilha, compraram todos os corruptos do Congresso. E vai por aí. é possível que tenham cometido outros crimes. Quem matou Marcos Daniel?
O que dizem em suas defesas? Que o mensalão não existiu jamais, em tempo algum. Que nós somos loucos em pensar que eles não são grandes patriotas. E todos, sem exceção alguma, nada sabem, nada viram, nada ouviram. São como aqueles bonecos dos três macacos: um com as mãos nos ouvidos, o outro com elas na boca, o terceiro com as mesmas mãos nos olhos.
Minha cara amiga, esse velho militante comunista vai votar em Aécio. Se ele não passar ao segundo turno, em Marina Silva. Vou tentar tirar do poder essa gente que me envergonha, que envergonha a todos os que lutaram por idealismo. Sinto asco dessa gentalha. Asco e nojo.
Eles não representam a mim e aos outros que lutaram por idealismo. Eles não nos representam."
Um comentário:
A amiga respondeu ao post. Sua resposta vai aqui, por respeito a ela:
Álvaro, independentemente de quem for eleito, vou continuar ralando por um bom tempo. Não ganhei nenhuma herança e nunca roubei um tostão sequer. Sempre vivi do meu trabalho. Também sou generosa (ou trouxa, como alguns preferem considerar) e procuro dividir um pouco do que ganho (com minha família, meus amigos, colegas de trabalho e até com desconhecidos). Já passei fome e sofri com o massacre que o meu País viveu durante os 502 anos de governos elitistas, que promoveram a concentração de renda e a desigualdade social. Desde 2002, quando começou o governo de esquerda que defendo – ao contrário da velha mídia, que faz questão de destruí-lo, com a ajuda de burgueses que sabem o que fazem e de muitos outros não burgueses que prefiro não classificar –, o Brasil começou a aplacar a fome de seus miseráveis. Esta semana, inclusive, relatório da FAO – agência das Organizações das Nações Unidas (ONU) para Alimentação e Agricultura –, excluiu o Brasil do mapa da fome e da miséria no mundo que tanto me envergonhava. Sinceramente, o que mais quero nesta vida é que continue havendo distribuição de renda, redução do analfabetismo e da mortalidade infantil, aumento da qualidade e da expectativa de vida, respeito aos considerados “diferentes” (LGBTs, idosos, poetas loucos, pessoas com deficiência, alcoólatras e outros drogados, analfabetos de livros e da vida, etc), melhorias nos índices da educação e da saúde, diminuição das pessoas sem teto, etc etc. Muitas coisas erradas acontecem em um governo de esquerda (e muito pior no de direita) por um fato muito simples: ele é feito por seres humanos. Sim, nós, sempre incompletos, insatisfeitos, egoístas, rancorosos, egoístas, corruptos etc etc. Mas estas coisas erradas não se comparam em nada ao que ocorreu no passado (e que, com a ajuda da velha mídia) e que sempre ficou debaixo do tapete. Hoje, com a internet e o despertar do cidadão como cidadão (nós somos responsáveis pelos governantes que elegemos e também por cobrar deles um bom trabalho e também por fiscalizá-los, além, claro, de sermos responsáveis inclusive pelo lixo – em todos os sentidos - que produzimos), o rumo da nossa história começou a mudar mais rapidamente. E, para terminar, cada um tem o direito de pensar o que quiser e de votar em quem quiser também. Por isto, voto consciente porque sei o Brasil que quero para mim e para tod@s @s brasileir@s. Grande abraço, fique em paz e até a próxima!
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