Dentro de menos de dois anos estaremos comemorando o bicentenário da Independência do Brasil. E será a hora de darmos aos brasileiros, além de desfiles militares, tiros de canhão, discursos vazios de sentido, falsas demonstrações de patriotismo e cargos comissionados bem remunerados aos bajuladores, coisas muito mais palpáveis. Caras! Sobretudo daquelas que nos remetem ao passado, como o livro "A expedição de Pedro Álvares Cabral - e o descobrimento do Brasil".
Explico melhor: em 1919 (alguns dizem que em princípios de 1920) o governo brasileiro incluiu nos festejos do centenário da independência um livro que seria - como efetivamente foi - encomendado ao político, historiador, e escritor português Jaime Zuzarte Cortesão (1884/1960. Contaria a história da viagem de Cabral aos brasileiros, pois pouco de real se conhecia então. Ou se sabia errado. Cortesão mergulhou na tarefa, pesquisou até onde foi possível e escreveu um livro riquíssimo.
Essa obra da Livrarias Aillaud E Bertrand (Paris-Lisboa) foi impressa nas oficinas gráficas da Biblioteca Nacional e distribuída em 1922. Com 330 páginas, logo se esgotou aqui e em Portugal. O autor começa dizendo que "Em boa verdade, não nos pertence a iniciativa dêste livro. Convidados a colaborar na História da Colonisação do Brazil, a obra monumental, com que a Colônia portuguesa em terras brasileiras celebra o Centenário da Independência da nação irmã, e tendo-nos cabido, dentro do seu lago plano, o relato da expedição de Pedro Álvares Cabral..." e seguiu adiante para dizer que, ao final e ao cabo a tarefa esgotou proporções que excediam o âmbito marcado.
Pesquisa de fôlego. Contém até um "Exame das fontes e primeiros textos sôbre a expedição". Não se esgota como uma simples narrativa e nem contém apenas a carta de Pero Vaz de Caminha ao rei Dom Manoel, como é comum por aqui. Resgata vários documentos. Contém ilustrações belíssimas. Enfim, tem peso como documento histórico.
Mas o livro se esgotou. E ao menos no Brasil não teve o tratamento e a perenidade que deveria ter. Foi relegado a um plano inferior, sua edição sumiu das livrarias e hoje quase poucos sabem dele. Mas existe. Comigo guardo, em perfeito estado e com sobrecapa dura, um dos raros exemplares existentes no meu país. Ele deveria ser reeditado. Merece ser reeditado. Tem que ser reeditado porque há tempo para isso, os brasileiros precisam ter esse trabalho e ele nos pode ser entregue antes de 7 de setembro de 2022, inclusive acrescido de novas pesquisas.
Sim, existe o risco de a Secretaria da Cultural federal não achar que isso tenha a menor importância. A gente sabe quem é o secretário... E que seu chefe presidente deverá se perguntar o que ele estaria a fazer em um lançamento de livro, sobretudo em biblioteca, livraria ou editora, esse ambiente de contestadores e terroristas comunistas sanguinários. Mas mesmo assim vale a pena alguém levar essa sugestão a ele.
Não foi possível? Mal menor. Há no Brasil empresas e instituições que podem se ocupar disso com o maior compromisso e prazer. Como a Academia Brasileira de Letras (ABL), o Instituto Histórico e Geográfico do Brasil (IHGB) e muitas outras. Será preciso tentar. Em nome de nossa história, é oportuno fazer isso. Ou então, 50 anos depois, vamos nos condenar a ver uma nova edição atualizada daquele sesquicentenário de pobre recordação.
Quem toca o projeto? Mão à obra, ainda que a gente corra o risco de continuar a ver mais livros raros sendo jogados ao lixo ou queimados como volta a acontecer hoje no horizonte do Brasil.
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