Não se iludam: Jair Bolsonaro só não patrocinou um golpe militar no Brasil porque isso foi impossível pelo menos por agora, pois ele não desistiu de seu projeto. É que uma parte maiúscula da sociedade brasileira hoje rejeita esse tipo de violência e, além do mais, as reações e repercussões internacionais são tremendamente contrárias. Somente por isso e também porque uma grande quantidade de oficiais das três armas teme um fracasso ou adotou o legalismo por conveniência ou convicção nós não vivemos para ver novamente tanques de guerra nas ruas. Sendo assim, até mesmo os maiores meios de Comunicação brasileiros são contra uma ruptura da democracia agora, embora tenham sido favoráveis em 1964 quando fizeram vista grossa para as prisões ilegais, as tortura e os assassinatos (ilustração).
Claro que houve algumas tímidas reações durante o período militar brasileiro. O jornal "O Estado de São Paulo" publicava poesias nos espaços em que deveria sair uma notícia cortada pela censura. "O Globo" defendia seus jornalistas como podia e o presidente do grupo, Roberto Marinho, jamais demitiu quem quer que seja porque era comunista. Conta-se que uma vez, ao receber de comandantes militares uma lista de profissionais esquerdistas de sua redação, teria dito: "O senhor, general, manda no seu quartel. Na minha redação mando eu". Ele nunca confirmou o fato, mas também jamais o negou. Além disso sempre houve jornalismo de resistência por aqui, quer seja no plano nacional quanto no regional. Com a legalização dos partidos de esquerda e o fim da ditadura eles deixaram de circular. Não eram mais necessários. E fazendo uma homenagem à verdade, aqui no Espírito Santo o jornal A Gazeta também nunca afastou quem quer que seja do trabalho jornalístico por posições ideológicas.
Mas não nos iludamos: da proclamação dá independência até hoje tivemos nove golpes de Estado ou tentativas deles no Brasil, todos patrocinados por nossas forças armadas. O que houve no dia 08 de janeiro fica de fora. Portanto, o golpismo é uma tradição do militarismo brasileiro desde que nos separamos de Portugal. E isso passa por uma herança histórica maldita, pois se entranhou no pensamento do militar brasileiro que as forças armadas são o poder moderador da República, o que daria a Exército, Marinha e Aeronáutica o direito de intervir na vida nacional sempre que estivéssemos diante de uma fase mais conturbada. E não foi por outro motivo que o presidente que fugiu do Brasil no dia 30 de dezembro passou quatro anos produzindo uma crise atrás da outra, sem sucesso.
Foi o nosso único caso de golpista fracassado de alto escalão.
2 comentários:
Sim! Tem razão!
Atual e cidadão que preza a liberdade!
Muito correta análise!
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