Peca quem pensa que o fenômeno do extremismo de direita do Brasil nasceu com o ex-presidente Jair Bolsonaro, um fascista saudoso da ditadura militar de 1964 e que viu a presidência cair em seu colo durante a campanha eleitoral de 2018 e depois do episódio da facada em Juiz de Fora. Não, não é assim. Esse comportamento de parcela expressiva da população brasileira remonta até mesmo ao início do período republicano e se fortaleceu imensamente durante os antecedentes diretos do último Golpe de Estado. O ovo da serpente vem sendo chocado há décadas e poucos se preocupam com ele.
Vi isso. Em São Paulo, principalmente, era imensa a legião de pessoas marcadamente da classe média que foram às ruas nas famosas "Marcha da Família do Deus pela Liberdade". A foto acima mostra como a coisa funcionava. Vi ao menos uma vizinha e uma sócia do clube que minha família frequentava na capital paulista envolvidas nos movimentos de 64. A sócia do Ipê, clube que existe até hoje, tentou levar minha mãe para as ruas. Ela agradeceu e disse não. Tinha filhos para cuidar e o mais velho era eu, ainda em vias de completar 14 anos. Mas cheguei a ver uma das faixas que desfilavam com essas pessoas.
Resumindo; o extremismo brasileiro e que muitos chamam de conservadorismo, é um fenômeno intimamente ligado à nossa classe média. Ela era a massa que desfilava nas marchas de 64, da mesma forma como acontece hoje. Esse segmento da população brasileira é tacanho e reacionário. A falta de cultura política de nossa população faz com que milhões de membros do extrato social médio seja facilmente controlável, sobretudo por medo que às vezes vira ódio. Há duas formas eficientes de se manobrar uma população: pelo amor ou pelo temor/aversão a alguma coisa. Hitler sabia disso e uniu alemães contra judeus. Aqui os brasileiros elegeram o comunismo como inimigo público número um.
O Estado e a igreja, principalmente, tornam a classe média massa de manobra. E arrastam com ela parte da classe pobre, marcadamente ignorante, formando o caldo de cultura de movimentos assim e com o patrocínio dos ricos, sempre unidos em torno da defesa de seus privilégios. O que nós vivemos durante os quatro anos do último governo federal e o que estamos vendo hoje são retratos dessa situação. Levar a classe média a entender que ela é usada como massa de manobra, e na maioria das vezes para defender interesses estranhos a ela é o caminho para começar a mudar esse panorama. Um caminho que já deveria estar sendo trilhado há muito tempo no Brasil.
4 comentários:
Perfeito!!! Ainda bem que venho de familia lúcida - que se recusa a patrocinar (de toda e qualquer forma) a essas demonstrações tacanhas de ignorância e atraso
Álvaro, tenho orgulho de ser seu amigo e colega de redação do jornal A Gazeta, desde a General Osório at
Ela (a classe média) é nojenta no Brasil.
O caminho para começar a mudar esse panorama de desinformação já deveria estar sendo trilhado há muito tempo no Brasil. O Estado e a igreja formam classe de manobra manipulando classe Mais sofrida e marginalizada é que levada a crer em milagres e pantomimas.
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