Vejam na foto ao lado o olhar perdido da menina palestina numa Gaza arrasada por bombardeios. Talvez ela nem tenha a exata noção de sua tragédia pessoal e coletiva. Ao contrário das crianças israelenses, que vivem numa sociedade capaz de fornecer aos cidadãos tudo o que eles necessitam, essa garotinha que mora (?) no imenso gueto chamado Faixa de Gaza não tinha quase nada mesmo antes de começarem os bombardeios de Israel contra seu miserável pedaço de terra.
Ela não sabe o que quer dizer Hammas. Ela não entende porque homens e mulheres armados até os dentes vão ou não tomar conta do que restar de sua cidade ao final do projeto determinado pelo primeiro ministro de Israel, Benjamin Netanyahu. Talvez nem sequer esteja viva hoje, porque essa foto é do final da semana passada. Durante a I Guerra Mundial, entre 1914 e 1918, a perspectiva de vida de um piloto de caça era de oito dias. Passou-se mais de um século desse tempo e hoje no amontoado de tijolos onde ficava a casa da garota essa expectativa é provavelmente menor. Que tragédia!
Um dia desses escrevi que o Gueto de Gaza poderia ser comparado ao Gueto de Varsóvia, esse durante a II Guerra Mundial. Alguns sionistas se insurgiram e classificaram a comparação de inadmissível. Não é! Durante o conflito mundial de 1939/1945 a então invencível máquina de guerra da Alemanha nazista massacrou milhões de judeus que não tinham como reagir. Agora - ironia do destino! - a poderosa máquina de guerra israelense subjuga e trucida palestinos que não têm como reagir.
Na ONU, pessoas que nunca foram à guerra discutem o futuro palestino numa situação em que o Estado de Israel é incapaz de reconhecer aquela etnia como um povo digno de possuir seu país, e sequer chegam a um acordo em torno de colocarem no papel que o cessar fogo é imperioso. Os senhores da guerra estão insatisfeitos. Eles ainda podem garantir muitos lucros à sua indústria bélica até as agressões chegarem ao fim e também têm um campo vasto para testar armas novas e capazes de matar a cada dia mais gente que não pode se defender delas. O céu é o limite na luta pelo massacre do futuro!
Bastava que a decisão da ONU de dois povos e dois estados para aquela região palestina tivesse sido comprida em 1948 e nada disso estaria acontecendo. Provavelmente judeus e palestinos viveriam em paz dentro das suas fronteiras e sem querer tomar terra alheia com o uso de força militar. Na foto da menininha que ilustra esse texto ela tem alguma coisa em uma das mãos. Um doce? Um brinquedinho? O que seria?
Mas que futuro ela tem? Muito menor do que o objeto na sua mão esquerda.