Conta-se que pela década de 1960, época da ditadura militar, um comandante da PM pediu ao governador Christiano Dias Lopes Filho para voltar ao Rio de Janeiro pois sua família não havia se adaptado bem ao Espírito Santo. Foi exonerado a pedido. Aqui é preciso explicar alguns pontos: naquela época eram os comandos regionais do Exército que nomeavam os comandantes das polícias militares. Eram todos coronéis daquela Arma. E essas nomeações não passavam pelos governadores.
Não estou conjeturando ou coisa parecida. Em conversa informal, depois de entrevista para o livro biográfico do professor Paulo Pimenta, o ex-governador Christiano Dias Lopes Filho confirmou-me isso. Foi a última entrevista que deu antes de morrer. E aparentava ótima saúde.
Os jornais foram noticiar o fato. Como os demais, O Diário era feito a linotipo. As letras eram composta a chumbo quente, linha após linha, e agrupadas formando as páginas que, então, terminavam gerando chapas de impressão. Deu para entender? Deve ter dado. Tinha-se que tomar cuidado, ao pegar linha após linha, com aquele chumbo quente, para nenhuma letra cair e deixar palavra incompleta. Não se sabe como isso aconteceu numa manchete de "oito colunas", mas o texto "Comandante da PM é exonerado a Pedido", de O Diário, depois de perder o primeiro "d" de "pedido", foi publicado no dia seguinte em letras garrafais: "Comandante da PM é exonerado a peido". A correria foi grande. O furibundo coronel do Exército queria "enquadrar" o responsável. Afinal, tratava-se de um militar fiel seguidor de um regime que prendia ilegalmente, torturava e matava cidadãos que discordavam do regime. Tem cabimento ser tratado assim? Não tem!
Um vice-diretor de presídio atual foi transferido depois de exigir que o preso da Justiça Delúbio Soares cortasse sua barba. Ele teria de ficar igual aos demais detentos, embora sendo "diferente". Os diretores do sistema prisional de Brasília se apressaram em dizer que o vice-diretor não foi retaliado coisa nenhuma. Sua transferência se deu "a pedido" para ganhar mais. Notem bem: a transferência se deu "a pedido", por vontade do transferido. Não se tratou de uma transferência "a peido".
Na penitenciária da Papuda, em Brasília, políticos, autoridades estaduais e federais, dirigentes do PT e outros transitam livremente, violando os direitos dos demais presos. Delúbio, por exemplo, instituiu a feijoada dos sábados na ala onde vive como "vítima do sistema". Proclama inocência da mesma forma que José Dirceu, visto aqui na foto, "revoltado" por ter que conviver com presos comuns. Já houve ordens judiciais para que os privilégios deixassem de existir. Ordens desconsideradas. Visitantes ilustres entram de branco, a cor da roupa dos detentos, ou então com coletes da Polícia Civil. Afinal, vamos repetir são altas autoridades da República. Julgam-se - e devem estar - acima da Justiça, das sentenças - mesmo transitadas em julgado. São os reis da vaquinha!
Já vivemos a época da ditadura, quando oficiais de fino trato prendiam os que hoje representam nossos poderes, acusando-os de subversão. Como muitos dos ex-presos atuais ingressaram na política para corromper e serem corrompidos, não podem voltar a ser presos como antes. Agora, o são, pois as sentenças transitaram em julgado. Mas tornaram-se presos de fino trato.
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