Sempre me incomodou, e muito, a forma como nós tratamos a questão do terrorismo no nosso País. Aliás, como essa questão é vista do modo Ocidental. E, da forma como nós a vemos, sempre considerei que, para os meios de Comunicação do Brasil e de outros países mais ou menos com visão parecida desse fenômeno, terrorista é um termo que a gente usa para identificar o inimigo. Somente ele.
Leandro Carvalho, um doutor em história, tem uma definição de "Terrorismo de Estado" que tomo emprestada: "É praticado
pelos Estados nacionais e seus atos integram duas ações. A primeira seria o
terrorismo praticado contra a sua própria população. Foram exemplos dessa forma
de terrorismo: os Estados totalitários Fascistas e Nazistas, a ditadura militar
brasileira e a ditadura de Pinochet no Chile. A segunda forma se constituiu
como a luta contra a população estrangeira (xenofobismo)."
Se nós pararmos para pensar de modo a ver a questão sem envolvimento com esse ou aquele lado, vamos ter que concluir que, nos últimos tempos, Israel praticou Terrorismo de Estado em diversas ocasiões contra populações palestinas. Mas se um israelense ou militar de Israel matar civis da população inimiga, ele será identificado no máximo como "radical". E já vi isso várias vezes. Já se uma bomba caseira for atirada da Faixa de Gaza em direção a território israelense, inclusive os tomados à força aos palestinos ao longo das diversas guerras havidas, o ato será de terrorismo. Mesmo se ninguém morrer.
O ataque às Torres Gêmeas foi terrorismo. O massacre no Charlie Hebdo, idem. E nem importa considerar aqui as razões alegadas para que os atos fossem praticados. Nos dois casos e em inúmeros outros, são ações injustificáveis sob o ponto de vista da lógica, do humanismo. Mas o "nosso lado" faz igual ou pior. Muita gente vê, mas faz que não. Israel mesmo permitiu criminosamente o massacre de Sabra e Chatila, um episódio passado dantesco de sua história. Jamais foi taxado de Estado Terrorista.
Esse é um dos motivos pelos quais não há respeito entre o Ocidente, como cultura, e as demais regiões culturalmente diferentes. Elas não são opostas, mas acabam tratadas como tal. E suas populações sabem como são vistas por nós. Vem daí a revolta que às vezes se materializa em atos sangrentos. Como disse um líder muçulmano entrevistado, Maomé pode perdoar o Charlie Hebdo. As pessoas, às vezes não.
Não tenho dúvida: nós, os ocidentais, contribuímos para a manutenção do clima de guerra não declarada com as demais culturas, sobretudo islâmicas. Ou a visão dominante muda ou ainda vai morrer muita gente nessa trilha de sangue que a cada dia se aprofunda mais e mais.
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