25 de dezembro de 2024

A hora é essa!


Arthur Lira, o todo poderosos presidente da Câmara dos Deputados queria dar aos seus cúmplices um Natal gordo esse ano: nada menos que R$ 4,2 bilhões de dinheiro público dos meus, dos seus, dos nossos impostos pagos com o suor do trabalho sem identificação de nome do destinador, sem que a gente soubesse também o do destinatário e nem a quem ou a que propósito se destinava a dinheirama. Mas a caneta do ministro Flávio Dino (foto), do Supremo Tribunal Federal acabou com a festa. Ao menos por enquanto...

A farra das emendas parlamentares, que já chegou a R$ 50 bilhões por ano e os políticos querem fazer com que cresça ainda mais porque para eles o céu é o limite, não tem comparação em país algum. Antes era um montante até razoável para atender aos currais eleitorais de suas excelências. Mas o ex-presidente Jair Bolsonaro, ao notar que poderia sofrer processo de impeachment durante seu desgoverno resolveu abrir as portas do cofre da Fazenda e entregar as chaves ao Legislativo. Era tudo o que se queria. De uma hora para a outra a farra da verba pública alcançou cifras inimagináveis e o dinheiro dos impostos deixou de ser administrado pelo Poder Executivo, como ocorre na maioria dos outros países. Virou festa em casa de prostituição!

Enquanto o atual presidente Lula, acuado por não ter nem sombra de maioria no Congresso tenta se esquivar de todas as chantagens possíveis e imagináveis, as exigências para liberação de emendas chegaram a um ponto absurdo. Até emenda PIX foi criada. Até dinheiro transportado em avião nós já temos. Até malas recheadas com milhões de reais são jogadas pela janela quando a Polícia chega. E não há mais pudor algum porque Arthur Lira e seus asseclas dizem para todo mundo ouvir que não vão abrir mão de seu "direito" de usar nossos recursos de impostos para roubos os mais variados. Para assaltar os cofres públicos.

O Governo Federal tem que reagir também, e agora. Só Flávio Dino e os meios de Comunicação tradicionais - afora os vendidos à extrema direita canalha - é muito pouco para enfrentar a sanha dos bandidos de mandato. Lula quer entrar para a história como o presidente que enfrentou essa quadrilha e ajudou Judiciário a vencer a guerra pela moralização da vida pública? Se sim essa hora chegou.  

19 de dezembro de 2024

O terminal lagunar


Se depender do presidente da Câmara, Arthur Lira (foto), e de deputados como ele, o sonho de um mandato como senador por Alagoas vai acontecer e para chegar a isso esse parlamentar faz e fará qualquer coisa. Apenas um exemplo de até onde pode chegar o chantagista sabotador que preside uma das casas mais importantes do Poder Legislativo brasileiro: consumiu R$ 960 mil para aprovar uma obra de "terminal lagunar" em Barra de São Miguel, cidade litorânea alagoana que é administrada pelo prefeito Benedito Lira, o Bill, seu próprio pai. Uma repórter foi até a cidade, pediu entrevista ao prefeito e perguntou a ele sobre a obra. "O que?", respondeu Benedito. Ele não sabia de nada parecido com isso por lá. Quando a repórter explicou que se tratava de um projeto do filho, e com dinheiro de emenda parlamentar, ouviu do entrevistado: "Deixa isso pra lá, minha filha!".

Esse político, Arthur Lira, está à frente de várias votações no Congresso. Passou pela Câmara, fica sujeito ao crivo dele, como acontece com a Lei de Diretrizes Orçamentárias e do ajuste fiscal que impõe limites de gastos ao governo. Lira sabe que desidratar essas leis toca diretamente na governabilidade e nas contas da União, mas faz isso. Incentiva a sabotagem e coloca o Governo Federal contra a parede por um único motivo importante: quer, custe o que custar, que as emendas parlamentares, hoje na casa dos R$ 50 bilhões, continuem a subir de forma desbragada e sem que haja fiscalização alguma por parte do contribuinte que, como eu, paga os impostos geradores de dinheiro do caixa do Governo.

Nesses casos de corrupção confessada e generalizada haverá centenas de outros terminais lagunares espalhados pelo Brasil afora, e em tal quantidade que não será montada investigação suficiente para identificar a todos. Agora mesmo Lira dissolveu as comissões que eram encarregadas de identificar os autores das emendas que seriam liberadas pelo Governo. Enviou tudo ao Supremo Tribunal Federal sem que as exigências constitucionais fossem mais uma vez respeitadas e cumpridas. Isso é um escárnio, ainda mais porque o Congresso dobra a aposta a cada dia para curvar não apenas o Executivo, mas também o Judiciário. Sem que os autores das emendas, sobretudo as chamadas PIX sejam identificadas, não é possível frear a corrupção contida nesse artifício parlamentar.

Os sabotadores do Brasil, os chantagistas do Legislativo, perderam totalmente o pudor, a vergonha. O tal Nikolas Ferreira, deputado federal por Minas Gerais, projeto pronto e acabado de fascista quase mirim, declarou em alto e bom som no Congresso que para ele tanto faz o dólar subir porque sua intenção e da turma que o cerca é ver a moeda norte-americana a R$ 7,00. Dane-se para ele e os demais se os pobres vão sofrer com isso, se uma crise econômica pode se instalar no país. Tirar o PT do poder é o mais importante de tudo. Por esse motivo nunca tive a menor dúvida de que proteger o Brasil não passa pela cabeça da maioria dos parlamentares do Congresso atual, o pior, o mais medíocre e o mais perverso que já foi eleito no Brasil. Pior: ele se elegeu na calda de cometa de um ódio desmedido dos reacionários contra o que chamam de "esquerda" e sem se importarem, esse eleitores, em aquilatar quem estavam elegendo como seus representantes.   

É hora de o Supremo dizer "NÃO" a tudo isso, sobretudo ao que é inconstitucional. Ao enfrentamento. E dar um freio de arrumação definitivo nas manobras daqueles que usam mandatos eletivos para ficar acima das leis. Há lugar na Papuda para todos!                 

17 de dezembro de 2024

Faltou ética à Rede Globo


Trabalhei em imprensa diária durante três décadas e no jornal que mais vendia no Estado. Tinha uma norma de comportamento: jamais invadia pauta especial de concorrente se tomasse conhecimento dela antecipadamente e nunca, em situação alguma, censurava trechos de entrevistas que obtinha com fontes minhas ou de repórteres a mim subordinados, sobretudo quando as falas eram exclusivas. Uma vez um entrevistado, em plena ditadura militar, chamou de "moleque de recados" um dirigente esportivo também deputado estadual da ARENA. Publiquei. No dia seguinte seu Eugênio Queiroz, diretor Presidente da Rede Gazeta me interpelou: "Seu Álvaro, ele é nosso deputado! Moleque de recados?". Respondi: "Perdão, seu Eugênio, mas o entrevistado confiou em mim e eu não podia cortar uma declaração sua que não continha palavrões. Respondo na empresa ou fora dela por essa matéria". Ele sorriu, bateu no meu ombro e encerrou o assunto.

Há um compromisso ético entre fonte e jornalista quando de entrevistas, sobretudo se eu consigo de alguém importante uma fala exclusiva. E foi isso o que a excelente repórter Sônia Bridi conseguiu com o presidente Lula após a alta deste (foto). A Rede Globo colocou um "caco" na matéria editada para defender a Lava Jato e lembrar processo judicial respondido por Lula e simplesmente retirou do ar o trecho da declaração deste na qual defendia a isenção de pagamento de imposto de renda para quem ganha até R$ 5 mil mensais, bem como criticava os chamados super salários. É uma conduta eticamente imperdoável. Se acontecesse comigo eu nunca mais daria entrevista a esse meio de Comunicação.

E essa não é a primeira vez que tal acontece. Numa das campanhas presidenciais passadas, num debate de Lula com Fernando Collor, a Globo editou os piores momentos do petista e os melhores do outro para passar no Jornal Nacional. Um escândalo e houve explicações posteriores! É possível que o alagoano vencesse a eleição mesmo com uma edição correta do material, mas o meio de Comunicação não tem o direito de agir dessa forma, escolhendo lado em edição de material jornalístico. Outra vez a maior rede nacional de jornal, rádio, TV e internet do Brasil escorrega na casca de banana. Não deve ter sido sem querer...

Muita gente chama de demagógica a promessa de Lula, outros aplaudem e isso é questão de ponto de vista. Também há setores críticos da taxação dos super ricos e estes realmente pagam muito pouco ou quase nada de impostos no Brasil, pois são protegidos por esquemas que envolvem apoio incondicional de setores do Legislativo em uma legislação feita sob encomenda para beneficiá-los. Isso é fato! O mínimo que se pode esperar do jornalismo é que se comporte com isenção e dignidade na produção de material jornalístico. E é bom fazer dessa forma porque depois de um dia de muita luta, de edições de todo tipo de noticiário, a gente chega em casa, vai para debaixo do chuveiro e sai de lá limpo.      

14 de dezembro de 2024

Não alimentem as hienas!


Era 1986 e o Brasil, encerrada no ano anterior a ditadura militar que infelicitou o país durante 21 anos, reatava relações diplomáticas com Cuba, rompidas desde 1964. O presidente Fidel Castro nomeou para o cargo de embaixador em Brasília seu melhor diplomata da época, Isidoro Octavia Marmierca Peoli, que havia sido ministro das relações exteriores cubano. Explicou a ele que a situação no país sul-americano era muito instável, pediu que o nomeado tivesse todo tato do mundo, se abstivesse de declarações públicas e completou: "Comporte-se como uma freira!".

Hoje, passados 38 anos desses fatos, as hienas que Castro temia continuam a postos. Conspiram, planejam golpes de Estado como em 08 de janeiro de 2023 e agora mesmo, nesse final de ano, votam e aprovam no Congresso Nacional leis absurdas, caóticas. Hoje pela manhã o general Braga Neto foi preso. Muito bom! Mas isso não quer dizer muita coisa porque a extrema direita canalha vai continuar conspirando. É tudo o que fazem porque é tudo o que sabem fazer. Para eles essa é uma questão de sobrevivência. E enquanto isso acontece, o que ocorre com o PT, partido do presidente da República? Alimenta a hienas!

Só nos últimos tempos o partido do presidente fez uma festa e tanto! Cinco ministros de Lula colocaram suas mulheres nos tribunas de contas estaduais - cabides de emprego vitalício para todo tipo de picareta do Brasil - com salários gordos: Rui Costa (Casa Civil), Renan Filho (Transportes), Waldez Góes (Integração Nacional), Wellington Dias (Desenvolvimento Social) e Camilo Santana (Educação). São quase R$ 40 mil que entram nos cofres das famílias todos os meses! E não é apenas isso: em várias outras sinecuras os petistas aparecem com destaque, inclusive em algumas ligadas ao Poder Legislativo. Assim fica fácil os extremistas conspirarem!

Não se pode pedir ao PT, sigla incapaz de fazer autocrítica, que determine a seus membros para agirem como freiras porque seria até mesmo risível. Mas ao menos um mínimo de pundonor - palavra que mamãe adorava! - deve existir. Se é intenção das forças democráticas brasileiras lutarem contra a volta das viúvas da ditadura militar que ainda esperneiam iradas, tem que haver muito cuidado com o exemplo. Da mesma forma que é preciso fazem Gleisi Hoffmann entender que o tipo de socialismo defendido por ela está sepultado nos restos do muro de Berlim. Ainda dá para comprar um pedaço!

Há um país por defender. Eu mesmo convivo dia e noite com hienas disfarçadas no ambiente cultural que frequento e tento ao menos evitar o cheiro ruim exalado por elas. Mas se nós, autores da democracia atual do Brasil, não formos o exemplo para sua manutenção e consolidação, podemos abrir caminho a um retrocesso. Repito: os saudosos da ditadura ainda sonham com sua volta e acampar novamente nas cercanias de quarteis elas aceitam de bom grado. Para eles democracia como a brasileira, é apenas um empecilho aos seus planos e que pode ser eliminado. Afinal, eliminar é com eles mesmo!         


11 de dezembro de 2024

A nova ordem trumpista


Afora o fato de que o mercado brasileiro, esse que manobra o comportamento da economia de acordo com suas vontades e interesses nem sempre confessos faz o possível para sabotar o governo Federal, em um ponto o atual quadro de instabilidade econômica brasileiro tem um fator externo bastante forte: a expectativa geral pela posse, em janeiro próximo, do novo presidente dos Estados Unidos, o extremista de direita Donald Trump. Uma parcela considerável do nervosismo da economia internacional está repousada justamente no fato de não saberem as pessoas até que ponto irá o novo mandatário na concretização de seus arroubos de valentia contra tudo e contra todos.

O filósofo, escritor e ativista italiano Franco Berardi publicou no último dia 08 um artigo intitulado "A desintegração do mundo ocidental" e  no qual ele diz, dentre outras coisas que "somente avaliando o abismo do inconsciente americano podemos decifrar as raízes da ferocidade social que agora está em plena manifestação". Sim, e isso nos atinge em cheio e a todas as democracias ocidentais, sobretudo as que estão hoje sendo arrastadas ao extremismo de direita graças à ascensão ao poder de gente que reza na cartilha do futuro presidente norte-americano. Procurem ver e vocês terão um quadro claro do que pode vir por aí: esses extremistas têm uma única preocupação: a de destruir o que foi construído até hoje para erguer em lugar das democracias atuais e da pretensa democracia dos EUA uma estrutura de poder reacionária, totalitária, próxima de que foi o poder nazista em passado recente.

Fazer isso nos Estados Unidos não é difícil. Dos primeiros presidentes daquele país, sete eram senhores de escravos. Outros que não o foram podem ser considerados como supremacistas brancos. Trump é um deles. Só não abraça descaradamente a Ku Kus Klan (foto) porque isso hoje é ilegal em seu país. Mas acredita nos princípios que essa gente espalha. Seus mentores diretos, Steve Bannon e Elon Musk desejam o fim da sociedade tal qual ela é atualmente, e para tanto o futuro presidente está se cercando de gentalha da pior espécie, a maioria formada por criminosos. Jair Bolsonaro, nosso modelo brasileiro os copia em tudo, mas sem a força que eles têm lá em seu país, onde querem libertar os espíritos animais da sociedade americana.

Os Estados Unidos nasceram de genocídio, deportações e escravatura. Seu processo de enriquecimento está fundamentado dessa forma e por isso Musk tem a pretensão de formar um sistema escravagista de alta tecnologia. Pouco antes de morrer, Paul Auster escreveu no livro "Bloodbath Nation" que o racismo está no cerne do inconsciente americano e por isso Trump é a alma dos Estados Unidos. Vejam como as coisas se fecham! Então o futuro presidente dos EUA é a "erupção psicótica do inconsciente branco".

Os norte-americanos não querem deixar de viver em um império. Mais do que isso, querem esse império controlando e dominando todo o mundo. Por isso é hoje angustiante vermos aos poucos um sintoma de derrocada na União Europeia que deverá ser atacada de todas as formas de fevereiro próximo em diante. Nenhum dos estrategistas atuais norte-americanos que conseguiram incorporar a alma sequestrada de seu país sequer tenta disfarçar. Bannon esteve palestrando recentemente na Universidade de Nova Iorque e disse: "Sou leninista". Quando alguém o questionou sobre o sentido de suas palavras ele completou: "Lenin queria destruir o Estado e esse também é meu objetivo".  Mas Lenin queria destruir o Estado de então em nome de uma justiça futura que jamais foi concebida na prática.

Há como conter esse movimento. Houve no passado, existem meios agora e haverá no futuro. Basta estar alerta. No Brasil a sabotagem do governo Lula em vez de ajudar esse presidente a vencer fragilidades pode abrir a porta para a volta do reacionarismo ao poder, ainda mais agora, com a hospitalização dele. Não é isso que a maioria dos brasileiros quer, tenho certeza. E nos Estados Unidos Trump saberá cavar sua própria sepultura política ou pessoal. Isso já aconteceu com outros no passado. 

4 de dezembro de 2024

No começo, o Rio Guandu


Quem pensa que o episódio flagrado de um PM lançando um homem em um rio ou vala - como nas imagens acima - é coisa recente está enganado. Quando Carlos Lacerda, o "Abutre", era governador do Rio de Janeiro ele foi acusado de mandar que seus policiais jogassem corpos de moradores de rua e ladrões de então no Rio Guandu, há mais de 60 anos. Negou, mas muitos corpos nunca foram encontrados. Outros acabaram localizados no Guandu, sem identificação. Ontem, como hoje, o desprezo pela vida humana sempre foi a tônica do comportamento de governantes de extrema direita do Brasil, tanto em São Paulo quanto no Rio de Janeiro e em outros estados da Federação. Basta pesquisar um pouco e os exemplos saltam aos olhos. Uma tragédia que só atinge pobres e negros.

Tarcísio de Freitas, o governador de São Paulo "importado" do Rio de Janeiro é fiel admirador do ex-presidente Bolsonaro. Diz dever tudo a ele e deve ser verdade. Quando empossado, nomeou para a secretaria de Segurança Pública um ex-PM da ROTA (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar) conhecido por sua truculência e letalidade. O tal Derrite. Foi afastado de lá por isso, mas com Tarcísio se tornou chefe de todos os policiais estaduais. O que se poderia esperar de sua atuação? E foi para favorecer esse tipo de comportamento beirando a insanidade que o governador faz o que pode e não pode para tirar as câmeras corporais dos PMs. Elas flagram crimes e combinações de versão. 

A ordem é matar!

Quando se mata um criminoso isso já constitui crime que o policial jamais deveria cometer. Ele é agente do cumprimento das leis e não julgador e executor num país que não tem pena de morte. Mas age assim por ser incentivado a tal por quem o comanda. Quando depois o governador e o secretário dizem estar tomando providências enérgicas, não passam de cínicos, fazem discurso falso. Tanto esse tipo de comportamento pode ser comprovado que a forma como as polícias abordam pessoas nos bairros pobres é uma e nos ricos, outra. Nos últimos o policial ainda chama o abordado de vossa excelência. E se ele estiver usando droga, vai ser admoestado por estar fazendo "coisa feia". Já o pobre é espancado.

A história de nossos criminosos mais conhecidos é cheia de relatos de pessoas comuns marginalizadas e que foram levadas ao crime por violência policial. Ou então aprenderam a matar e cometer outros delitos sérios depois de irem parar no sistema prisional detidos por alguma coisa pequena. Uma banalidade. Alguém aqui conhece rico enviado à prisão por não portar documentos? Certamente, não. Mas história de pobres nessa situação existem aos montes. Esse é o Brasil! E bem provavelmente jogar miserável em um rio deve ter começado antes mesmo do Abutre. O Brasil é desigualmente criminoso!                    

3 de dezembro de 2024

O sequestro do dinheiro público


O ministro Flávio Dino, do STF, determinou que o dinheiro sequestrado a todos os brasileiros e usado por parlamentares como emendas - montante hoje chegando aos R$ 50 bilhões no nível federal - tem que ter seus "padrinhos" identificados para poder ser usado em obras diversas, favores pessoais, corrupções as mais variadas, enfim, toda a sorte de destino a ser dado indiscriminadamente a ele por pessoas eleitas por nós para nos representarem e que tomam o mandato parlamentar como profissão a ser renovada a cada mandato para a formação de um patrimônio ao qual o brasileiro comum não tem acesso.

Nós vivemos no país do escárnio consagrado! Em nenhum outro lugar do mundo - repito: nenhum - o Poder Legislativo pode usar dinheiro do contribuinte dessa forma, passando por cima dos demais poderes constituídos e, ainda mais, se dando o direito de usar essa verba bilionária sem que o pagador de impostos possa saber sequer para onde vai sua "contribuição" que, em muitas vezes, ele nem vê porque é descontada no contracheque.

Pior: até ontem o Parlamento brasileiro recusava-se a trabalhar, a votar tetos legais necessários ao funcionamento da máquina pública brasileira antes de ter valores desbloqueados pelo Judiciário. A pressão chegou a tal ponto que o presidente da República, minoritário no Congresso, promulgou sem vetos o texto legal que liberava as emendas, mesmo sem ele atender à obrigação de os deputados e senadores identificarem-se como quem envia o meu, o seu, o nosso dinheiro para o lugar tal para a finalidade tal. Ainda que para roubo, obras desnecessárias e engordar eleitorados seus e de outros atores.

Mas eles são eleitos por nós, não são? Então temos uma enorme parcela de responsabilidade por essa anomalia. Ainda mais porque assistimos, impávidos colossos que somos, até mesmo ao desfilar de mentiras e deboches feitos por essa gente que pode falar o que lhes der na cabeça quando no plenário do Congresso, já que sua imunidade serve tanto para proteger o mandato quanto para perpetuar a canalhice generalizada que toma parte do Brasil de hoje em todos os setores. O sequestro do dinheiro público é patrocinado por nós.