30 de janeiro de 2025

Quando os criminosos vão pagar?


Vira e volta a gente ouve na TV, lê nos jornais, na mídia eletrônica ou toma conhecimento por qualquer meio de Comunicação que a internet, as tais redes sociais aí incluídas, não é mais terra de ninguém. Hoje existem ou existiriam meios de investigações capazes de identificar qualquer pessoa ou grupo que usa essas chamadas redes de manhã, de tarde, de noite ou de madrugada com o intuito de construir mentiras que servirão para destruir. Um governo, por exemplo. O caso do PIX pode ser usado para explicar isso. E ele é só um. Então cabe a pergunta: por que os marginais brasileiros que usam meios eletrônicos com o intuito de cometer crimes ainda não estão pagando caro por eles?

Já vivi o bastante para ver muita coisa. Quase tudo. Mas a cada dia que passa me surpreendo mais. Consta que no caso do PIX as fake news construídas afundaram o governo federal e a figura do presidente da República. Em que tipo de sociedade nós iremos viver se esse tipo de prática for visto como normal, regular, ético? Fico arrepiado só em pensar no termo "ético" que usei. E algumas das figuras ligadas a isso são sobejamente conhecidas.

Um deputado federal de nome Nikolas Ferreira, que quer se governador de  Minas Gerais, foi identificado fazendo esse tipo de coisa mais de uma vez. E ele é só a ponta do iceberg. Muitos outros continuam a montar esquemas milionários com essa finalidade, e mesmo desde antes da eleição do ex-presidente que antecedeu o atual. Hoje mesmo o aumento dos combustíveis está sendo colocado na conta do governo federal, isso quando todas as pessoas informadas medianamente sabem que o reajuste veio pelo ICMS, um imposto estadual. Mas a maioria dos que poderiam esclarecer a questão silencia. Esse silêncio cúmplice é aliado deles.

O tal gabinete do ódio instaurado no governo passado não existe mais no mesmo endereço, mas funciona a pleno vapor. O ex-presidente disse que vai pedir ajuda ao seu "colega" dos Estados Unidos para vencer as próximas eleições. Durma-se com um barulho desses! E quanto mais se avolumam as provas de suas falcatruas e tentativas de golpe de Estado, mais ele se arvora em valente para dizer que disputará a próxima eleição e a vencerá. Afinal, o exemplo vem de cima. Nesse caso, quase literalmente porque surge na noite que se anuncia para os Estados Unidos.

Nosso país tem milhões de habitantes analfabetos funcionais, sobretudo e principalmente no campo político. E por isso os governos jamais se preocuparam em dar aos brasileiros os recursos de educação que eles precisariam para entender o mundo que os cerca e qual é a diferença entre o joio e o trigo. Também por causa dessa fraqueza milhões acharam oportuno que um general iletrado e pau mandado de um protótipo de ditador de aldeia ocupasse o Ministério da Educação impunemente por tanto tempo. E por todo esse conjunto da obra cabe muito bem a pergunta que abre e encerra esse artigo: quando os criminoso vão pagar?             

24 de janeiro de 2025

A força de "Ainda estou aqui"


"Ainda estou aqui" é um murro na boca do estômago da hipocrisia e da burrice de alguns. Então por que faz tanto sucesso a ponto de, depois de a brilhante Fernanda Torres ter ganho um Globo de Ouro por sua atuação no filme, a obra ainda concorrer a três Oscars da Academia de Cinema dos Estados Unidos, coisa que nunca antes havia acontecido? Eu me arriscaria a dizer que ele faz isso sobretudo e principalmente porque não é panfletário nem piegas. E era muito simples, fácil, percorrer esse caminho ao filmar a obra de Marcelo Rubens Paiva.

A foto que ilustra esse texto é minha. Eu a fiz ontem por volta das 20h30m, ao sair de uma sessão de "Conclave" numa das duas salas de projeção do Cine Jardins, cinema alternativo num shopping de Jardim da Penha, em Vitória. A bilheteria havia suspendido a venda de ingressos porque o público já lotava a sala número 1 para o filme seguinte. Esse cinema exibe mais de um título por sala e "Ainda estou aqui" chegou a ter três horários. Ontem, tinha a última exibição da noite e o público acorreu ao cinema. Aliás, isso acontece nas grandes salas também. Em todos os lugares.

O público sai em silêncio do cinema. Muitos choram durante a exibição da "película", como se dizia antes. E o filme é delicado até onde foi possível fazer isso. Mostra que uma ditadura sanguinária destrói famílias e projetos de vida, como aconteceu com os Paiva e incontáveis outros brasileiros. Não são mostradas torturas físicas, sangue escorrendo, discursos de "Abaixo a ditadura" e outros clichês, embora isso estivesse à mesa. As imagens de Rubens Paiva morrendo depois de ter sido selvagemente torturado poderiam ter sido feitas, pois ele foi visto agonizando na cela da instalação militar onde foi supliciado, no Rio de Janeiro. Mas não. Todos, calados e chocados são levados a imaginar o que aconteceu. E é fácil!

O Brasil matou incontáveis de seus cidadãos com requintes de selvageria. Stuart Edgar Angel Jones, filho da estilista Zuzu Angel, foi morto sob torturas horríveis em instalação militar também do Rio. A mãe, que buscava respostas e denunciava o fato internacionalmente porque Stuart era filho de norte-americano, acabou morrendo num "acidente" de automóvel. Vladimir Herzog, o Vlado, jornalista de São Paulo, sofreu o mesmo destino que teria o operário Manoel Fiel Filho cerca de um ano depois e no mesmo lugar. São apenas esses poucos os exemplos que dou. 

"Autopsia do medo", livro de Percival de Sousa conta a história do delegado Sérgio Paranhos Fleury, torturador psicopata que um dia chegou à sua delegacia e encontrou seus ajudantes em pânico. Na busca por um "subversivo" eles se enganaram, prenderam um pobre bancário e o destruíram de pancadas antes de descobrirem o erro. "Onde está o sujeito?", perguntou Fleury. Os detetives indicaram a cela. O delegado foi até lá, matou o inocente com um tiro na cabeça e mandou jogarem o corpo dele no Rio Tietê com instruções para que os "subversivos" fossem acusados quando o corpo do pobre rapaz fosse encontrado. Eu me inspirei nesse livro e em outros para escrever meu romance "O faxineiro", ambientado na época da ditadura.

A grandiosidade de "Ainda estou aqui" reside no fato de ele não mostrar nada desse gênero de forma explícita ao contar a história do ex-deputado Rubens Paiva. Mas todos imaginam o que se passou com a família de Eunice Paiva, mulher forte e que levou adiante sua vida com cinco filhos, sem jamais chorar e se lamentar ao público. Viveu para que o único homem que gerou, Marcelo Rubens Paiva, pudesse se tornar escritor para denunciar esses tempos de noite fechada do Brasil.

O que mais impressiona é saber que milhares dos que vão aos cinemas ver o filme, sobretudo os jovens, sequer imaginam o que aconteceu no Brasil entre 1964 e 1985. É bom que saibam agora. Bom mesmo e sobretudo porque as hienas da extrema direita tentam voltar, como tentaram em 08 de janeiro de 2023. Fiquem atentos vocês que saem dos cinemas chorando ou calados, sem vontade de falar. O preço dessa nossa liberdade, a que temos desde 1985, é a eterna vigilância.                             

23 de janeiro de 2025

O genocídio palestino avança


Por que o genocídio palestino avança no Oriente Médio? 

Para a gente entender o principal motivo da matança desse povo - e só isso já valeria um livro - é preciso recuar um pouco no tempo até 1896 quando uma obra escrita por Theodor Herzl começou a falar sobre o direito de os judeus terem um Estado próprio para viverem com sua identidade. Esse local escolhido foi a Palestina, que tem ligação bíblica histórica com o judaísmo e já foi chamada de Judéia. Como chegamos até aqui, resta dizer que a diferença entre esse termo, o judaísmo, e um outro, o sionismo, é que o primeiro é religião e sionismo combina a fé, o pensamento religioso, com objetivos políticos. Ele nos remete a Herzl e ao direito judeu a seu Estado. O termo se refere ao Monte Sião. 

Ora, a região da Cisjordânia era e é ocupada desde tempos milenares pelos palestinos que também vivem nas regiões de entorno como, por exemplo, a Faixa de Gaza. Durante a primeira metade do século XX a ideia desse Estado foi abafada enquanto o nazismo, que precisa ter inimigos para sobreviver, tentava eliminar os judeus da face da terra. Matou cerca de seis milhões. mas não conseguiu seu intento de trucidar todo aquele  povo. Ele renasce hoje tendo como novos inimigos quem? Os palestinos, claro.

Por isso o nazismo inicialmente ressurgiu camuflado como caldo de cultura necessário ao surgimento do Estado de Israel em 1947 sob as bençãos da ONU. Vai daí, as correntes mais radicais do judaísmo, agora travestidas de sionismo, decidiram que a faixa de terra entregue a eles para construir seu país não representava a totalidade da Grande Israel, segundo seu pensamento, bíblica, mas só uma parte desta. Então, para essa corrente que se pretende majoritária, era necessário conquistar o resto à força. E a extrema direita judaica aprendeu como fazer isso com...os nazistas!

Não é simples?

Israel só tem força para massacrar a Palestina porque com conta o apoio incondicional dos Estados Unidos onde os judeus dominam grande parte da economia e detêm enorme influência sobre as decisões de Estado. Desde sempre foi assim! Nos quatro anos de Joe Biden, um belicista declarado, armamentos norte-americano foram entregues em escala global a Israel. Agora, sob Donald Trump, que tem em sua embaixadora nas Nações Unidas, Elise Stefanik, uma defensora do direito que Deus teria dado aos judeus sobre a Palestina, vai ser ainda pior. Por isso o cessar fogo em Gaza foi seguido pela invasão da Cisjordânia através de Jenin (foto). É toda aquela região que eles pretendem anexar ilegalmente, passando por cima do direito internacional com aviões, tanques e demais armamentos norte-americanos. Como sempre fizeram ao longo dos anos. 

Caso não haja uma reação internacional forte a Palestina vai desaparecer e os palestinos serão totalmente eliminados em um genocídio maior que o nazifascista. Os judeus extremistas de direita, que aprenderam isso com o nazismo, vão evitar os erros de Adolf Hitler. São ótimos alunos!       

21 de janeiro de 2025

Anauê para o bem dos EUA


A saudação nazista do bilionário Elon Musk na solenidade da posse de Donald Trump na presidência dos Estados Unidos chocou (veja foto). Ninguém tinha dúvidas sobre suas crenças políticas e as de seu chefe, um supremacista branco claramente declarado, mas não se esperava que Musk fosse capaz de, diante de câmeras de TV de todo o mundo, trazer ao vídeo um gesto que revive Adolf Hitler em seus momentos de vitória. Ele o fez! E depois disso sumiu sem se explicar aos milhões de telespectadores do evento.

Lembrou, por curto minuto, a existência do Partido Integralista que no Brasil representava o nazismo com todos os seus trejeitos e uma saudação tipicamente tupiniquim: "Anauê para o bem do Brasil". Esse termo, anauê, tem origem indígena e, para Luís da Câmara Cascudo, foi descoberto entre os índios nhambiquaras no Mato Grosso com o significado de "unido aos outros iguais". Os integralistas, chamados à época de galinhas verdes, copiavam muita coisa dos novos nazistas, saudosos dos tempos de Hitler e Mussolini.         

A posse de Trump teve alguns momentos ainda igualmente constrangedores como, por exemplo, quando ele declarou que vai mudar o nome do Golfo do México para Golfo da América provocando risos da ex-vice-presidente Hilary Clinton. Ou que vai tomar o Canal do Panamá, hoje sob controle do governo local através de acordo entre este país e os Estados Unidos. O novo xerife não tocou na questão da Groenlândia, mas deixou a descoberto um segredo de polichinelo: o cessar fogo na Faixa de Gaza pode ser apenas forma de ganhar tempo. Para novo presidente dos EUA, o sucesso do término da guerra pode ainda estar muito longe

Não existe nazista pacifista. Isso e bobagem. Ele irá aos poucos retomando seu discurso de ódio, porque disso entende. Será simples encontrar motivos, falsos ou não, para retomar o belicismo que marca as verdadeiras intenções do neonazismo latente em seus discursos vazios de bons propósitos. Donald Trump mente de maneira compulsiva porque o que sua ideologia sabe fazer já foi feito no dia da posse: desconstruir o governo anterior. Ou ao menos tentar. A receita é idêntica à usada por Jair Bolsonaro aqui no Brasil: criou uma narrativa mentirosa de ter recebido convite para a posse do presidente norte-americano no Capitólio, mas como não havia nada disso, Michele Bolsonaro e mais 21 patetas ficaram ao relento, num frio polar, barrados na festa e no baile que se seguiu.

Há uma esperança: o legislativo dos Estados Unidos, embora com maioria republicana, tem uma diferença pequena para os democratas e alguns dos deputados e senadores não parecem dispostos a entrar em aventuras rocambolescas. Nos seus maiores delírios, ao que parece Trump será contido, mas não resta duvida de que poderá provocar danos como à COP-30. O Brasil tem que lutar por ela com unhas e dentes. Nos tempos atuais, defender uma política de investimento total em combustíveis fósseis é marcar data para a missa de sétimo dia da humanidade.    

16 de janeiro de 2025

Crime e castigo


É preciso que todos os criminosos criadores de fake news divulgadas com o intuito de destruir, sobretudo e principalmente um governo legalmente eleito e seja ele qual for, paguem por isso nas esferas civil e criminal. Ultimamente isso tem sido feito com uso indiscriminado das chamadas redes sociais que, a partir sobretudo de multimilionários dos EUA e ligados à extrema direita política, divulgam fatos não verdadeiros e discursos de ódio com a multiplicação em milhões de acessos nos países onde há interesse na divulgação de mentiras políticas. O Brasil vem sendo alvo constante desse movimento, como no caso dos pagamentos via PIX.

Oposição é a relação entre ideias contrárias. Na política esse conceito está relacionado ao bem público, à vida comum, regras legais e normas gerais de conduta num determinado espaço onde atos e decisões afetarão todas as questões de interesse público. Trocando em miúdos, a política foi criada para regular os conflitos sociais e, portanto, deve ser exercida com responsabilidade e foco no interesse público que ela teoricamente representa. É isso o que está sendo feito no Brasil de hoje? Evidentemente, não.

Se pegarmos somente o exemplo dos pagamentos via PIX que foram alvo de imensa campanha destrutiva feita a ponto de o governo cancelar o aumento da fiscalização da receita sobre essa forma de pagamento, vamos ver que a mentira e o ataque gratuitos foram a tônica da campanha. E o cancelamento da medida governamental favorece apenas e tão somente os sonegados de impostos, mas nunca os demais. Não haveria cobrança de tributos embutida na medida. Em síntese, no afã de enfraquecer o governo, a oposição de extrema direita causou e causa danos ao País.

Nesses últimos dias pontificaram - se posso usar esse temos! - nesse terreno figuras como o senador Flávio Bolsonaro e o deputado federal Nikolas Ferreira. São a fina flor do negacionismo político, do gangsterismo de terno e gravata e do projeto de atingir o governo ao qual se opõem da forma como for possível. De maneira vil. E o interesse público? Tal coisa não importa ou existe para eles. Seguidores incondicionais do ex-presidente Jair Bolsonaro que é pai de um deles, fazem do uso da mentira seu método de "trabalho". A mesma receita do presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, para quem nosso ex-presidente já endereçou um solene "y love you" num encontro entre ambos nos EUA.

Os criminosos devem ser processados na forma da lei. Têm direito a ampla defesa, sim, e nesse caso para explicarem porque conspiram e continuam a sonhar com, dentre outros crimes, a promoção de golpes de Estado. São pessoas perversas, desqualificadas. Citei apenas dois nomes, mas eles são muitos. Os canalhas da extrema direita estão hoje distribuídos pelos mais diversos setores da sociedade, sobretudo porque muitos se escondem no anonimato usando para tal as mesmas redes sociais onde cometem crimes.

Fiódor Dostoiévski escreveu o livro "Crime e Castigo", onde narra a história de Raskólnikov, jovem estudante que, pobre e desesperado com sua situação, perambula por São Petersburgo onde comete um crime porque, crê, homens como César ou Napoleão também o fizeram sem pagar por isso e foram até absolvidos pela História. Como Trump acredita que sempre acontecerá com ele. Não pode ser assim. Todos somos súditos das leis, como dizem os juristas. Nossos criminosos digitais precisam pagar pelos atos que cometem diariamente.                               

15 de janeiro de 2025

O fanfarrão e a China


Foi no início dos anos 1990 que a Rede Gazeta resolveu fazer uma atualização de seus editores, sobretudo os do jornal. A empresa contratada, a mineira Fundação Dom Cabral, levou todos os jornalistas para um hotel de Nova Almeida onde se hospedaram e houve uma rodada de palestras num final de semana inteiro. Os assuntos eram variados, mas um dos orientadores havia retornado da China e vaticinou: "Esse país ainda vai revolucionar o mundo todo no campo econômico. Não adianta mais os Estados Unidos se precaverem".

Faz quase 45 anos e nunca me esqueci daquele vaticínio.

Ontem foi anunciado que os chineses tiveram um superávit comercial de 990 bilhões de dólares nos últimos 12 meses. Não foi faturamento, foi uma diferença a favor da entrada de capitais como nunca antes aconteceu no mundo. Hoje a China comanda os negócios no planeta, e negócios sempre foram a razão da existência dos Estados Unidos. Os asiáticos formam muito mais engenheiros e cientistas de diversas áreas que os norte-americanos. Sua indústria de ponta fabrica de tudo e vende em  massa até para os Estados Unidos. De carros a chips e pequenas coisas. As forças armadas chinesas crescem a olhos vistos e o país da Ásia não se envolve em guerras enquanto o "xerife do mundo" gasta trilhões nelas. Eis a grande diferença entre os dois!

Segunda-feira um presidente fanfarrão eleito pelos norte-americanos se sentará na Casa Branca. Ele ameaça alterar tarifas de importação de todo mundo. Quer o Canal do Panamá, a Groenlândia e o Canadá, este como um novo estado dos EUA. Ao menos isso é o que diz. Tudo jogo de cena. "Mise en scene", como falariam os franceses. O que tira o sono dele é a República Popular da China e eu presidente Xi Jinping. Trump o conhece, sabe que não tem como derrotá-lo, sempre se mostrou desconfortável quando o encontrou (veja na foto) e vai jogar o jogo de sempre, sem sucesso: tensionar e mentir o tempo todo. Essa receita da extrema direita é usada lá como aqui. Não tem diferença. É a arma da falta de argumentos.

Vamos aguardar  chegada de Trump ao poder junto com sua "entourage" de reacionários dos mais diversos tipos, alguns dos quais já estão sendo sabatinados pelo Congresso republicano dos EUA. Muitos por aqui sentem medo do fanfarrão e sua trupe. Bobagem. No médio prazo ele tende a fazer muito mais mal do que bem à economia do seu país. Sou capaz de apostar.

Aguardemos!                  

10 de janeiro de 2025

Pepe Mujica, o gigante!


José Alberto Mujica Cordano, o homem que todos chamam de Pepe (foto), anunciou em entrevista que está morrendo. Pediu a todos permissão para ir em paz no sítio onde mora junto a seus pertences amontoados numa casa velha, o Fusca à porta e uma pequena horta da qual cuida com esmero. O gigante uruguaio, dono de um patrimônio moral de valor inestimável, está em vias de deixar a vida depois de saber que não há mais tratamento para o câncer que o devora por dentro, em metástases. Irá embora dentro de muito pouco tempo.

Esse velhinho de ar doce e frágil é um ex-guerrilheiro Tupamaro e foi preso por uma das ditaduras de extrema direita que governaram o Uruguai. Ficou 15 anos na cadeia e, em alguns momentos, dentro de um buraco. Saiu dele e da prisão para se tornar presidente do Uruguai de 2010 a 2015 e senador de 2015 a 2018. Nascido em Paso de La Arena, em Montevidéu, chegou ao Movimento de Libertação Nacional, ou Tupamaro, grupo marxista-leninista de guerrilha urbana, com o intuito de combater o fascismo em seu país. Pagou caro por essa opção - como no caso brasileiro, errada -, da mesma forma como aconteceu com Dilma Roussef, a quem sucedeu no Mercosul. Também já foi deputado, Ministro da Pesca um monte de coisas. Mas sobretudo vai deixar a vida e entrar para a história como um homem de honra.

Mujica não usou a política para enriquecer. Usou-a para construir e fortalecer a democracia no Uruguai. Depois de deixar o poder, jamais interferiu na vida pública de seu país. No seu estertor, usou o prestigio pessoal para ajudar a eleger o atual presidente, a quem jamais procurou depois disso. Em hipótese alguma para pedir favores ou cargos. Vai morrer pobre, mas cercado pela admiração de milhões. Será enterrado de mãos limpas, como poucos.

Pepe teria muito a ensinar aos políticos brasileiros, mas não vai se ocupar disso. Seu anúncio de morte próxima aos 89 anos foi feito sobretudo para os compatriotas uruguaios. Ao Brasil veio algumas vezes, na última para prestigiar o presidente Lula. Este, teria muito a aprender com ele, mas imagino que não o fará. Certamente chorará no velório caso possa ir, e serão lágrimas verdadeiras. O melhor, esse exemplo de vida, será sepultado com Pepe. Monumento à ética pessoal e política, à honra, à dedicação total e incondicional ao interesse público, ele viveu pelo Uruguai, sempre lutando, de início com armas nas mãos como no episódio da Tomada de Pando, em outubro de 1969, e depois na política que usou largamente e jamais em benefício próprio. O Uruguai, país minúsculo, em breve sepultará um gigante! Caso raro!          

7 de janeiro de 2025

ANISTIA, NÃO!

Depois do 08 de janeiro de 2023 os milhares de golpistas brasileiros que tentaram destruir a nossa democracia começaram uma campanha pela anistia daqueles que acamparam diante de quarteis e também seus mentores, sobretudo e principalmente para que o "grande líder" Jair Bolsonaro não pudesse ser alcançado pelas leis em vigor no Brasil. Então hoje, no dia em que se completam dois anos daqueles atos da Praça dos Três Poderes, em Brasília, é preciso dizer porque isso jamais deverá ser feito, em nome de nossa dignidade e da honra desse País tão vilipendiado ao longo dos tempos.

Quando terminou a Segunda Guerra Mundial e foram descobertos os crimes do nazismo uma ampla campanha mundial pregou o não esquecimento do que havia se passado para que tal jamais se repetisse. Israel, país então recém criado tomou para si o mote da campanha, reduziu-a a uma denúncia apenas e tão somente focada no extermínio judeu e fez dela uma imagem de seu país. Acontece que não era assim, porque os nazistas mataram indiscriminadamente todos aqueles que considerava inferiores, o que atingiu até mesmo adversários políticos deficientes, negros, etnias minoritárias e outros como palestinos, comunistas ou não.

Mas Israel continuou a ter essa bandeira até que sua extrema direita chegou ao poder e começou a fazer com as populações palestinas o mesmo que o nazifascismo havia feito de 1939 a 1945. Hoje, apesar da intensa campanha internacional que nasce nos Estados Unidos, sustentáculo do sionismo internacional, não é mais possível esconder o fato de que o Estado Judeu usa os mesmos argumentos requentados da Alemanha Nazista em busca de seu "espaço vital" e da eliminação palestina tida como grupo etnicamente inferior. Tal mestre, tal aluno! Bom aluno, por sinal...

Os ideólogos do 08 de janeiro de 2023 têm muita inspiração tirada do nazifascismo, inclusive do sionismo nazista israelense no poder hoje, quando Israel se tornou estado terrorista travestido de defensor ferrenho de sua soberania. Usa uma capa machada de sangue e que não consegue esconder o fato de que as tropas sionistas combatem não em seu território constituído pela ONU em 1948, mas sim em terras estrangeiras invadidas à força - como sempre com apoio norte-americano - aos povos nacionais que circundam as terras dadas legalmente a eles. As chamadas "Forças de Auto Defesa de Israel" são na verdade uma união de três armas agressoras mantida pelos interesses internacionais dos Estados Unidos.

Hoje, no dia em que são completados dois anos da tentativa do golpe brasileiro, o trumpismo a ser empossado dia 20 em Washington ameaça anexar o Canadá, mudar o nome do Golfo o México para Golfo da América, tomar o Canal do Panamá (pode ser que se queira mudar o nome para Canal Trump, quem sabe...), invadir a Groenlândia e não se imagina mais o quê. Depois de Elon Musk colocar o X, ex-Twiter, à disposição do futuro presidente norte-americano, ontem foi o dia de Mark Zuckerberg dizer que a Meta, controladora do Facebook e Instagran, principalmente e sua empresa não mais fará checagem de fake news, mas sim deixará isso à cargo das "comunidades". Não são sandices, mas sim insanidades que vão ser mesmo tentadas de curto a médio prazo.

O que se vislumbra também  nisso tudo é um foco nos sistemas judiciários dos países que combatem essa espécie de "absolutismo" das redes sociais chamados até mesmo de secretos sem o serem. Zuckerberg atacou a Europa e, na América Latina, mesmo sem citar nome, o Supremo Tribunal Federal (STF) do Brasil, que hoje julga uma regulamentação das redes sociais. Nosso Tribunal seria um inimigo declarado dos movimentos extremistas de direita, neofascistas e de projetos autocratas como o de Donald Trump.         

Então, estamos diante de dias incertos e perigos certos em diversos setores. Talvez o presidente dos EUA esteja pisando em terreno pantanoso para ver até onde poderá ir. Ele e seu país não vão lutar contra o mundo todo, mas é preciso que o Brasil dos verdadeiros brasileiros esteja unido em torno de nossos ideais maiores para enfrentar quaisquer ameaças que venham a se corporificar no terreno da sabotagem à democracia. Fazer diferente é abrir terreno fértil ao revisionismo, ao golpismo, ao oportunismo político e à corrupção que agora ganham terreno no Congresso Nacional na calda de cometa das emendas parlamentares e outras aberrações permitidas sobretudo por Bolsonaro.

Hoje, na passagem desses dois anos da tentativa de golpe militar - jamais confundir isso com uma comemoração -, várias manifestações ocorrerão em Brasília durante o dia. Lá em em inúmeras outras cidades brasileiras, como a minha Vitória. Até mesmo o relógio do século XVII vandalizado pelos marginais do 08 de janeiro voltará ao Palácio do Planalto juntamente com mais peças - onde deveria ter permanecido intocado -, isso depois de um restauro que demorou 24 meses.  Se conseguirmos fazer com que a nossa democracia atravesse as novas tormentas também sem o risco de surpresas como essa, estaremos diante de uma oportunidade de ouro para fortalecer de uma vez por todas as instituições civis e militares brasileiras em torno da Constituição da República nesse abraço simbólico da Praça dos Três Poderes!

É preciso que não nos esqueçamos do preço pago por todos na conta dos 21 anos de ditadura militar brasileira. "Ainda estou aqui", filme reverenciado por milhões e premiado com o Globo de Ouro para Fernanda Torres mostra isso de maneira enfática. Os cartórios do País estão tendo que retificar inúmeras certidões de óbito de pessoas assassinadas pelo regime militar ao longo dos 21 anos de obscurantismo político vivido por nós. Eu mesmo conheci homens e mulheres que foram supliciados e mortos na ditadura. Também outros que sofreram, mas conseguiram sobreviver. Todos esses últimos carregam consigo um peso imenso em traumas que jamais puderam e poderão ser apagados. É tempo de isso ficar para trás, mas de forma alguma no esquecimento porque uma decisão como essa seria o supremo desrespeito para com esses brasileiros. Esses, sim, são nossos patriotas.             

Anistia, não!                                      

6 de janeiro de 2025

Porque ainda estamos aqui

As Fernandas no momento da vitória maior da filha 

A vitória de Fernanda Torres no Globo de Ouro anunciado ontem nos Estados Unidos possui um significado simbólico muito grande e ela tem a exata noção disso. Significa que o Brasil que preza sua Constituição, que sobrevive a tentativas de golpe de Estado e luta pela manutenção do sistema político baseado no Estado Democrático e de Direito vai vencer os vermes golpistas que emergem dos esgotos da história onde vivem para, de tempos em tempos, buscar reviver seus pesadelos de violência, de negacionismo e de obscurantismo.

Significa explicar porque ainda hoje estamos aqui e vamos continuar estando.

A extrema direita golpista é diferente da direita politica. Essa última representa uma visão  de mundo antissocialista e que luta por alguns dos ideais caros ao capitalismo, mas dentro da regra do jogo e respeitando quem pensa diferente. Conheço muita gente assim. A extrema golpista vive nas sombras porque não pode emergir dos esgotos impunemente. Faz como fez uma acadêmica da Academia Espírito-santense de Letras (AEL) que postou imagem mostrando duas figuras religiosas ligadas à mãe de Jesus à esquerda e ao centro da "arte" com, à direita, uma da bandeira do Brasil, nosso maior símbolo pátrio, representando o extremismo que aqui ainda sobrevive respirando por aparelhos ligado a Bolsonaro. Retirou do ar, pediu desculpas e disse ter se enganado de grupo. Engano grande, disse eu...

Fernanda sabe, assim como eu e muitos outros, que Rubens Paiva é agora somente um símbolo. Da mesma forma que ele, muitos outros brasileiros foram presos ilegalmente, torturados e assassinados nos porões do regime que ocupou o Brasil entre 1964 e 1985. Teve mulher grávida jogada ainda viva de helicóptero sobre a selva. Teve homem amarrado à traseira de Jeep militar e com a boca presa no cano de escape enquanto o acelerador era pressionado para gerar mais gases e calor. Teve pau de arara, cadeira do dragão, afogamento simulado ou não, espancamentos que levaram à morte como aconteceu com Rubens Paiva e Vladimir Herzog, o Vlado. Em comum entre os dois o fato de que foram buscados em casa para "prestar depoimento". Vlado, o jornalista, foi mostrado num enforcamento simulado em instalação militar. Já Rubens Paiva, desapareceram para sempre com seu corpo.

As pessoas que vivem nos esgotos da história pensam o que da figura do Deus no qual dizem acreditar?

Irônico, mas "Ainda estou aqui" é uma produção da Globo! Há sempre tempo para as pessoas e instituições reverem seus princípios, suas crenças. E hoje, depois da vibração incontida de Fernanda Torres, da alegria de Fernanda Montenegro (vejam a montagem fotográfica) haverá muito tempo para que nós, brasileiros, pensemos em que país queremos viver. No dos esgotos da história, não, pois nunca na vida acamparei perto de quartéis militares, rezando para pneu ou chamando extraterrestres. No do exemplo contido no filme que nos levou ao Globo de Ouro, sim, porque esse país de homens livres construído pelas esquerdas democráticas é o retrato das aspirações de todos os que renegam o passado de torturas erigido sobre os cadáveres, de Rubens, Vlado e milhares de outros.