As prisões feitas hoje pela Polícia Federal contra membros do grupamento do Exército conhecido como "Kids Pretos" (foto) é mais um desdobramento das investigações que visam identificar pessoas e instituições que tentaram golpe de Estado em fins de 2022, depois da proclamação do resultado da eleição presidencial. Hoje são apenas cinco os detidos, mas milhares deles devem estar direta ou indiretamente envolvidos. Não foi só uma tentativa, mas várias. A última, a invasão dos prédios dos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário em janeiro no ano passado em Brasília, depois de milhares de pessoas acamparem diante de quartéis militares tentando derrubar um governo constitucionalmente eleito.
Tudo leva a essa gente. O presidente que antecedeu o atual, Jair Bolsonaro, deu diversas demonstrações de sua vocação de ditador. Fez discurso na Câmara dos Deputados tecendo loas a um torturador conhecido, Brilhante Ustra, falou diversas vezes em matar adversários, fez "arminha" o tempo todo, em todos os lugares, modificou a legislação de controle de armas para permitir que seus apoiadores montassem arsenais em casa, buscou cooptar organizações policiais, chegou aos comandos militares com seu discurso de golpe de estado, fez reunião com comandantes pedindo apoio a golpe, tinha fixação em estado de sítio e outras situações extremas como GLO, não respeitava rigorosamente ninguém que não pensasse exatamente como ele, etc. Era e é um pulha da pior espécime.
O projeto dos "Kids Pretos" envolvia o sequestro e assassinato do presidente eleito, Lula, do vice-presidente Alkmin e até mesmo do ministro do Supremo Tribunal de Federal, Alexandre de Moraes, esse uma espécie de fixação de toda a canalhada da extrema direita atuante no Brasil de hoje. Mais: eles procuravam e procuram ocupar todos os espaços possíveis na sociedade com um projeto que envolve até entidades culturais. O que querem é controlar tudo para impor normas depois, estabelecendo censura e fazendo seus projetos de atuação que envolvem todos os segmentos da sociedade civil. Não está dando certo para eles, mas continuam em atividade, insistindo e solapando as instituições que conseguem atingir.
O que está havendo com o Brasil? Ainda tenho comigo meu primeiro título de eleitor, de 1968 em São Paulo. Naquela época votávamos apenas naqueles cargos permitidos pela ditadura militar, e com opções de Arena e MDB. Os únicos partidos legais. Mas mesmo então o que acontecia nas eleições era respeitado. A ditadura esperneou o mais que pode até cair podre em 1985. Vieram então tempos de bonança e parecia que nossa democracia não seria mais atingida por sonhos delirantes de golpistas saudosos dos tempos da ditadura e que não aceitam viver num país onde deve haver respeito pelos resultados das eleições. Querem o golpe, a violência, o assassinato. Que então apodreçam na cadeia.