Estamos diante de um quadro triste no Brasil. A política exercida do país, tanto em nível municipal quanto estadual e sobretudo federal está se tornando de uma banalidade ética que agride a lógica e afronta os princípios do Estado Democrático e de Direito. Terrível: ao que tudo indica é isso mesmo o que se pretende no pior e mais rasteiro Congresso já eleito pelos brasileiros em todos os tempos. E são os políticos apoiadores da extrema direita quem sustenta o baixo nível mostrado todos os dias na Câmara e no Senado da República.
A filósofa alemã de origem judaica Hannah Arendt notabilizou-se pelo conceito de "banalidade do mal". Criou-o depois de acompanhar o julgamento do criminoso de guerra Adolf Eichmann em Ramla, Israel, e que o levaria à morte pela forca em 1962. Segundo ela, o Estado deve garantir liberdades individuais e jamais permitir que direitos humanos sejam afrontados. Então, o que aconteceu na II Grande Guerra com os massacres nazistas foi o resultado não da natureza do caráter das pessoas, mas sim de sua incapacidade de conhecer e julgar as situações, fatos, estruturas e o contexto do que viviam. Isso pode levar, como levou, pessoas consideradas normais a cometer atos monstruosos.
Ela transportou seu pensamento para o terreno da política onde destacou, dentre outras coisas, o perigo da mentira, especialmente quando se torna autoengano e faz o mentiroso se tornar vítima de suas próprias falácias. Arendt insistiu em que a política se baseia na pluralidade humana, na existência de múltiplos pontos de vista e na imperiosa necessidade de diálogo para a construção de um objetivo comum, ético. A moral política reside aí, onde não coabitam os fundamentos do extremismo de direita, pois este só sobrevive à custa de inimigos comuns. Podem ser os judeus, como no nazifascismo, podem ser os comunistas ou qualquer outro grupo de pessoas distantes de seus pensamentos baseados no ódio.
Hoje, por exemplo, o inimigo escolhido é o presidente da República, pois nele se colou o rótulo de "ladrão" embora nenhuma prova concreta sobre isso exista para ser mostrada. Esse fato aliado à realidade de o Brasil ter uma grande massa de cidadãos politicamente conservadores ou reacionários permitiu que nosso Congresso fosse formado por uma imensa maioria de indivíduos sem preparo algum para o exercício desses cargos, sem ética política, sem objetivos mais claros e movidas pela aversão aos que pensam diferente.
Para não nos alongarmos muito em exemplos que darão no mesmo destino, basta dizer que o presidente do Senado, Davi Alcolumbre, pensa pedir o impeachment do ministro do Supremo Tribunal Federal Flávio Dino (sic!) porque ele quer investigar a destinação dos bilhões de reais confiscados pelo Congresso para as emendas parlamentares e que hoje são usadas de forma indiscriminada, irresponsável e criminosa por deputados e senadores que utilizam os recursos do cidadão para favores pessoais e sua perpetuação no poder. Ou seja: o inimigo é a luta pela moralização do uso do dinheiro público. Arendt elaboraria um novo e mais duro estudo. Durma-se com um barulho desses...