24 de junho de 2025

A banalidade ética da política

Estamos diante de um quadro triste no Brasil. A política exercida do país, tanto em nível municipal quanto estadual e sobretudo federal está se tornando de uma banalidade ética que agride a lógica e afronta os princípios do Estado Democrático e de Direito. Terrível: ao que tudo indica é isso mesmo o que se pretende no pior e mais rasteiro Congresso já eleito pelos brasileiros em todos os tempos. E são os políticos apoiadores da extrema direita quem sustenta o baixo nível mostrado todos os dias na Câmara e no Senado da República.

A filósofa alemã de origem judaica Hannah Arendt notabilizou-se pelo conceito de "banalidade do mal". Criou-o depois de acompanhar o julgamento do criminoso de guerra Adolf Eichmann em Ramla, Israel, e que o levaria à morte pela forca em 1962. Segundo ela, o Estado deve garantir liberdades individuais e jamais permitir que direitos humanos sejam afrontados. Então, o que aconteceu na II Grande Guerra com os massacres nazistas foi o resultado não da natureza do caráter das pessoas, mas sim de sua incapacidade de conhecer e julgar as situações, fatos, estruturas e o contexto do que viviam. Isso pode levar, como levou, pessoas consideradas normais a cometer atos monstruosos.

Ela transportou seu pensamento para o terreno da política onde destacou, dentre outras coisas, o perigo da mentira, especialmente quando se torna autoengano e faz o mentiroso se tornar vítima de suas próprias falácias. Arendt insistiu em que a política se baseia na pluralidade humana, na existência de múltiplos pontos de vista e na imperiosa necessidade de diálogo para a construção de um objetivo comum, ético. A moral política reside aí, onde não coabitam os fundamentos do extremismo de direita, pois este só sobrevive à custa de inimigos comuns. Podem ser os judeus, como no nazifascismo, podem ser os comunistas ou qualquer outro grupo de pessoas distantes de seus pensamentos baseados no ódio.

Hoje, por exemplo, o inimigo escolhido é o presidente da República, pois nele se colou o rótulo de "ladrão" embora nenhuma prova concreta sobre isso exista para ser mostrada. Esse fato aliado à realidade de o Brasil ter uma grande massa de cidadãos politicamente conservadores ou reacionários permitiu que nosso Congresso fosse formado por uma imensa maioria de indivíduos sem preparo algum para o exercício desses cargos, sem ética política, sem objetivos mais claros e movidas pela aversão aos que pensam diferente.

Para não nos alongarmos muito em exemplos que darão no mesmo destino, basta dizer que o presidente do Senado, Davi Alcolumbre, pensa pedir o impeachment do ministro do  Supremo Tribunal Federal Flávio Dino (sic!) porque ele quer investigar a destinação dos bilhões de reais confiscados pelo Congresso para as emendas parlamentares e que hoje são usadas de forma indiscriminada, irresponsável e criminosa por deputados e senadores que utilizam os recursos do cidadão para favores pessoais e sua perpetuação no poder. Ou seja: o inimigo é a luta pela moralização do uso do dinheiro público. Arendt elaboraria um novo e mais duro estudo. Durma-se com um barulho desses...                    

                  

21 de junho de 2025

De novo no Supremo


Mais uma vez será necessário recorrer ao Supremo Tribunal Federal (STF) para que ser feita Justiça no Brasil. O Executivo pode buscar a Suprema Corte para defender nossos interesses, de novo penalizados por decisões absurdas do Legislativo. Desta vez, para atender a uma ínfima parcela de empresários, foi derrubado veto da presidência da República que impedia aumentos no valor das contas de luz. Com isso, empresários podem obrigar o Estado a contratar, dentre outras, leilão de térmicas a gás, mesmo sem necessidade, ao custo de R$ 20,6 bilhões, afora também pequenas centrais hidrelétricas (12,4 bilhões) e outros. O governo calcula em R$ 525 bilhões o impacto na conta de luz até 2040. E se houver vetos na lei das eólicas o ônus para o consumidor pode ser de R$ 1 trilhão.

Só há mesmo a opção de recurso ao Judiciário.

O Congresso capaz desse tipo de coisa aprovou cúmulo de aposentadorias com vencimentos mensais, o que ninguém mais tem direito. Também fez passar aumento no número total de deputados de 513 para 531 e mais todas as despesas que isso envolve. Não aceita rever emendas parlamentares e nem sequer que as patifarias decorrentes de pagamentos sem rastreio sejam investigadas pelo STF. Gasta milhões dos nossos caros impostos e só representa os interesses do grande capital como as BETs, agronegócio e super ricos, dentre outros que não querem abrir mão de nada, nem pagar Imposto de Renda. Se possível eles pretendem aumentar anda mais suas vantagens como, por exemplo, a de continuar usufruindo de isenções fiscais bilionárias em diversos setores da economia.  

Para tanto, além dos vetos que encarecerão em até 3,5 por cento a nossa conta de luz futura, esses parlamentares não aceitam o BPC e nem o aumento total de isenção de Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil mensais e nem parcial para os que recebem R$ 7 mil porque isso significaria taxar os que nadam no dinheiro como Tio Patinhas, um de seus ídolos. Mas o pior pode estar por vir: a proposta de desvincular benefícios previdenciários como aposentadoria do salário mínimo. Havendo critérios diferentes de reajustes em breve poderá acontecer de aposentados receberem menos do que o mínimo previsto em lei.

É claro que esses malefícios legais jamais atingirão os membros do Poder Legislativo nem a nata do serviço público, mas aumentarão as dificuldades e quem sabe a fome da base da pirâmide social. A propósito disso o empresário Ricardo Faria, conhecido como "Rei do Ovo" criticou o programa Bolsa Família dizendo que ele tira as pessoas do trabalho, embora nada isso seja desmentido pelos fatos. E mais: o sujeito é contra o trabalhador ter direito a uma hora para o almoço durante a jornada diária de trabalho porque já viu, nos Estados Unidos, um operário comendo um sanduíche com a mão esquerda enquanto operava a máquina com a direita. Os Estados Unidos são a meca de araque para a maior parte de nossos sonhadores.

O brasileiro precisa acordar. E ver, dentre outras coisas, como se comportam aqueles "legisladores" da extrema direita política como o deputado mineiro Nikolas de tal, surpreendido em Tóquio com um grupo de amigos logo depois de votar contra os interesses públicos. Gastando dinheiro ganho de que maneira? Ou então o governador e o prefeito de São Paulo, que foram à Marcha para Jesus "vestindo" bandeiras de Israel. E eles sabem muito bem que esse país é hoje governado por um grupo de genocidas não cristãos e cujos membros dos grupos judaicos mais radicais que têm o hábito de cuspir no chão diante de igrejas cristãs, sobretudo as evangélicas, em Jerusalém. 

19 de junho de 2025

O verdadeiro criminoso


O primeiro ministro de Israel, Benjamin Netanyahu disse que o Irã vai pagar caro por seus atos na figura do líder Ali Khamenei, pois cometeu "crime de guerra" ao atingir com um míssil o Hospital Soroka, localizado em Bersheba, que fica no Sul de Israel (foto dos danos). Segundo informes do governo israelense e com base em membros da administração da unidade, o prédio sofreu "danos significativos" e pelo menos 47 pessoas que estavam la foram feridas, algumas seriamente. Esse hospital atende, dentre outros públicos, os soldados judeus que são feridos no genocídio praticado contra a cidade de Gaza.

O primeiro ministro israelense é a pessoa menos qualificada do mundo para falar de crimes de guerra. Desde que Israel começou seus ataques metódicos sobre Gaza, nada menos que 20 dos 22 hospitais ou centros médicos localizados no enclave foram destruídos ou seriamente danificados. Nesse bolo estão o único hospital especializado em tratamento de câncer, unidades médicas de especialização pediátrica e o Al-Shifa, o mais completo centro hospitalar da região. E não foram vitimados por "danos significativos" como aconteceu com o Soroka, em Bersheba. Nada sobrou deles e nos ataques israelenses contra essas instalações foram mortos dezenas de médicos, paramédicos e demais trabalhadores de saúde, além de milhares de pacientes e gente que morava  no entorno ou passava pelo local.

Netanyahu é um condenado do Tribunal Internacional de Justiça pelo cometimento de crimes de guerra, há uma ordem de prisão internacional contra no ele no mundo quase todo e se sair de seu país ingressando num outro que reconheça o TI pode acabará sendo preso e enviado para Haia onde um julgamento o espera. O primeiro ministro sionista vive ancorado no poder dos Estados Unidos e nos desvarios do presidente Donald Trump, que não apenas o ampara como mantém a máquina de guerra israelense pronta para ser usada.

Além do mais Israel tem armas atômicas, sim. Não declara isso, pouca gente sabe onde esses artefatos são mantidos, seu número total bem como o poderio de destruição não são conhecidos, mas eles estão lá ao alcance dos governantes israelenses que só precisam de um "OK" dos Estados Unidos para utilizar esse poder destrutivo contra os "inimigos". O Estado Judeu é hoje uma base norte-americana  no Oriente Médio, ponta de lança necessária à manutenção de mais de 40 mil militares dos EUA distribuídos pela região. Como país, vive da produção de tecnologia, a maior parte dela voltada para a guerra ou espionagem e até nesse ponto é títere do poderio norte-americano, sendo amplamente manipulado por ele.

Há mais razões para o ódio dos ocidentais aos iranianos do que julga nossa vã filosofia e eles não caberiam numa crônica de blog, nem se esgotam na aversão ocidental ao islamismo. Mas o verdadeiro criminoso da região, esse mora na Jerusalém ocupada.

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16 de junho de 2025

O passarinho de Lamis

 

Havia um homem no supermercado onde fui ontem, e ele vestia uma camisa com a bandeira de Israel. Falava com a mulher ao lado que seu sonho era dar "uma porrada na cara" do primeiro antissemita com o qual pudesse cruzar. Perguntei a mim mesmo como ele identificaria esse inimigo potencial. Não obtive uma resposta íntima. E para quê? Aquele homem e sua acompanhante sequer devem saber o que significa o termo semita. Muito menos o inverso disso, que se confunde com o governo de Bibi Netanyahu.

Veio-me à mente o lindo texto de Hassan Al-Qatrawi, "Tenda dos infernos", no livro "Diários de Gaza - A memória é uma casa indestrutível". Esse trecho merece ser citado aqui: "A guerra é a ideia mais estúpida para se resolver o ódio entre os povos. Milhares morrem para que outros vivam imersos em ódio e tristeza. As guerras não criam vida, apenas a tornam miserável. O caminho da paz é mais barato e mais simples, mas a voz da paz é sempre rouca, ninguém a ouve direito". Talvez, digo eu, ninguém a ouça nem um pouco.  

Hassan é bacharel em Serviço Social, mestre e doutor em Aconselhamento Psicológico pela Universidade de Trípoli, no Líbano, além de escritor com mérito reconhecido. Morador de Gaza, foi expulso de sua casa pelos bombardeios de Israel e precisou ver a filha Lamis, menina ainda, levar consigo a gaiola com o passarinho que ela tinha como seu companheiro. Todo o pesadelo posterior à expulsão de seu lar que foi destruído por bombardeios sionistas ele viveu ao lado da mulher, filhos e o passarinho de Lamis, a mais nova de todos.

Viu de tudo durante seu êxodo por Gaza. Passou por centenas de crianças sem caminhos a  percorrer e talvez, quem sabe pelo do menino fotografado no mesmo lugar onde ele vivia (foto), sem destino, vendo apenas destruição à sua volta e com o ursinho de pelúcia jogado ao chão. Uma criança só larga seu ursinho quando não tem mais horizonte para olhar e buscar alguma coisa além dele. Pela foto pode-se ver que não há mais nada à frente. A filha de Hassan só não abandonou a gaiola com o pássaro porque estava com seus pais ao lado.

Como eu poderia tentar dizer àquele casal do supermercado que sua ignorância impede que os dois vejam as coisas como elas são e não da forma que as mentiras ditas a toda hora tentam inocular nelas uma versão falsa dos fatos e que atende a interesses pouco confessáveis? Eu não teria como. Nem ao menos chamá-los de sionistas tive vontade. Muito provavelmente eles também não sabem o que quer dizer esse conceito. Semita é termo que se refere a um grupo étnico muito antigo, que engloba hebreus e outros, até mesmo árabes muçulmanos, mas o casal não merece a explicação. Nem a entenderia...

Há quatro dias, em decorrência do fascismo endêmico que acomete o governo de Israel, uma guerra sem sentido atravessa o Oriente Médio, envolve principalmente israelenses e iranianos e coloca em risco a sorte do mundo. Mais uma vez por trás de toda essa loucura sem sentido está a extrema direita mundial, renascida das cinzas da II Grande Guerra encerrada faz 80 anos. E desta feita estando à frente dela o presidente da maior potência mundial, um sopiopata cruel que pode até mesmo colocar fogo nos Estados Unidos para ver triunfarem suas ideias totalitárias e que não cabem em uma democracia moderna.

Gaza está destruída. Não se sabe hoje o que restará dela e que destino vai ter seu povo, mais de dois milhões de seres humanos contados apenas os moradores do enclave e que não têm para onde ir, de que forma comer, onde se abrigar nem sequer em uma "tenda dos infernos" para passar a noite. Bem ou mal, sofrendo de fome, medo e tristeza os seres humanos lutam para sobreviver enquanto existe uma réstia de esperança. O passarinho de Lamis, não. Desorientado, triste em sua gaiola, amanheceu morto mesmo cercado de todo o carinho. Hassan narra a reação da filha: "O passarinho morreu, e eu chorei!"   

Os  animais não conseguem nos entender, perdem a noção de pertencimento mesmo estando em gaiolas onde jamais deveriam estar e com o carinho das crianças. Aliás, nem nós mesmos sabemos às vezes como compreender e explicar certas decisões humanas como as de Netanyahu, sionista assassino, fazedor de túmulos para sobreviver politicamente.        

14 de junho de 2025

Agora querem socorro...


"O genocídio palestino não é apenas uma tragédia distante, um evento a ser observado com passividade ou frieza. Ele é o espelho de nossa humanidade, ou da falta dela. A indiferença frente à violência brutal que se desenrola diante de nossos olhos é um reflexo da desintegração ética da sociedade contemporânea. Se permitirmos que a Palestina seja apagada do mapa e da memória, o que será de nós?" (Rafael Domingos Oliveira, na Apresentação de "Diários de Gaza. A memória é uma casa indestrutível", Editora Tabla)

Agora querem socorro...e das autoridades federais brasileiras, as mesmas que eles não consultaram quando aceitaram o "convite" da embaixada de Israel para ir àquele país onde receberiam uma inoculação de grandes doses de propaganda sionista, essa mesma que diariamente é injetada na população israelense pela extrema direita política que controla o pais via parlamento e faz com que até mesmo os jovens sejam majoritariamente aqueles que pregam a destruição palestina e a extinção desse povo de sobre a face da terra.

Hitler tentou fazer isso com os judeus entre 1939 e 1945, depois de implantar sua política de ódio desde que se tornou chanceler da Alemanha e a fez um estado nazifascista. O genocídio de milhões de "seres inferiores" durante a II Grande Guerra mostrou a que ponto pode chegar a política de racismo étnico em qualquer parte do mundo. A mesma receita dos aliados do passado a extrema direita israelense usa hoje contra os palestinos. Simplesmente quer apagar esse povo do mapa do mundo. Prega seu extermínio. Que diferença há entre os sionistas de hoje e os nazistas de 80 anos passados? Nenhuma! Em essência. nada.

O livro a que me refiro e do qual pesco parte da Apresentação de Rafael Oliveira é escrito todo em primeira pessoa por escritores palestinos residentes em Gaza. São depoimentos nus e crus. Eles não falam sobre o assunto, mas sim do assunto. Diretamente do lugar onde os crimes foram e estão sendo cometidos e não de escritórios com ar refrigerado em Londres, Nova Iorque, Paris, Lisboa ou outra cidade. Veja no mapa acima que pode ser ampliado com um clique (foto) como se desenrola hoje a guerra entre Israel e Irã, mais um episódio da luta desse estado criado pela ONU em 1948 e que mesmo no dia de sua criação já anunciava que não respeitaria fronteira alguma determinada então e passou no mesmo dia a viver o sonho da "Grande Israel". Faz isso até hoje escudado no sionismo mundial que sustenta o poder de Estado dos Estados Unidos desde sempre. Simples assim...

Primeiro o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas foi a Israel com grande séquito para visitar Benjamin Netanyahu, o nazista sionista que comanda o país. Ele seguiu os passos do genocida inelegível Jair Bolsonaro, que havia sido "batizado" no Rio Jordão. Agora um grupo de extremistas da direita política brasileira foi surpreendido pela guerra contra o Irã, parte do mesmo jogo político que sustenta o estado judeu junto à maior parte dos países. O Irã não pode ter a bomba atômica, mas os israelenses podem. Por quê? A explicação é que um não e signatário do tratado de não proliferação de armas nucleares e outro, sim. OK... E também nenhum deles foi à Palestina ou falou sobre o assunto. Para quê?

Quis o destino que o ataque israelense a Teerã pegasse os aliados brasileiros do sionismo em terras hoje do governo Netanyahu. Não dava para avisar, pois a decisão do ataque era secreta. Mas não tem problema: quando aquele bando retornar ao seu país, seja pelas asas de El Al, seja pelas da FAB, poderá discursar em palanque dizendo que todos foram salvos pelas forças armadas "de auto defesa" daqueles que lutam pela democracia no Oriente Médio. Não é a verdade, está a anos luz de distância disso, mas que se danem os fatos. Quem disse que falar a verdade importa alguma coisa no mundo de hoje, sobretudo no Brasil que lamenta o fim da ditadura militar que tantos matou?

E agora eles querem socorro...durma-se com um barulho desses...

13 de junho de 2025

Uma visão cretina


Durante os anos em que trabalhei em A Gazeta convivi com vários chargistas geniais. Como meu amigo Janc, hoje nonagenário e aposentado, menos da Copa A Gazetinha de Futebol Infanto-Juvenil. Também Amarildo, autor de desenhos magníficos. Conversava longamente com Milson Henriques bebendo de sua sapiência e fleuma. E vai por aí. Hoje, pescando uma ilustração para esse texto que pretende reproduzir o que é o Parlamento do Brasil, veio do querido Genildo Ronchi o desenho que eu buscava (foto). Eis aí acima, com todas as linhas o  retrato perfeito do Poder Legislativo que temos e nos faz corar. Quem sabe, chorar.

A imagem retirada dos noticiários de dia-a-dia da vida política brasileira é muito dura. Na maioria dos casos os comentários diários feitos a partir dos atos dos três Poderes levam alguns jornalistas dos mais diversos meios de Comunicação a errarem feio em seus julgamentos. Uns por receio de ofender "ordens superiores". Outros por estarem voltados a considerações político ideológicas equivocadas. Alguns por má fé mesmo. Sou levado a crer serem esses últimos minoria, mas não insignificante porque interferem no julgamento final de uma população politicamente ignorante e ideologicamente conservadora ou reacionária.

O termo mágico dos dias atuais é "redução de gastos". O presidente da Câmara, que ocupa o cargo graças a acordos de bastidores pouco ou nada claros defende isso ao mesmo tempo em que passa por cima das tais emendas parlamentares de mais de CR$ 50 bilhões anuais que deputados e senadores utilizam até de forma descaradamente desonesta e, ao mesmo tempo, defende que estes eleitos para nos representarem em Brasília possam receber salários e aposentadorias cumulativamente enquanto aos simples mortais isso é negado. Acrescento aqui que eles têm feito de tudo, menos legislar em benefício da população. 

 No Poder Judiciário há um silêncio de morte em torno dos penduricalhos diversos que se somam aos vencimentos mensais e que fazem com que alguns recebimentos cheguem aos seis dígitos, o que também é negado aos simples mortais. Àqueles do INSS. Isso também ocorre no Executivo e com diversas máscaras, mas em muito menor numero, o que talvez não seja nem ao menos uma questão de pudor. Ou pundonor,  nosso orgulho saudável.

Então, nessa discussão estão proibidos temas como cortar as emendas parlamentares, taxar o agronegócio, capar a isenção fiscal de empresas bilionárias e taxar super ricos, citando poucos exemplos. Mas, ao mesmo tempo é "necessário" quebrar os pisos de Saúde e Educação, cortar benefícios sociais como BPC, bolsa família e outros, congelar o salário mínimo e reduzir grande parte dos investimentos públicos, para dizer o mínimo. Na divisão do bolo da imensa riqueza nacional o que se propõe é cortar até as migalhas poucas de quem já não tem direito sequer a uma pequena fatia que mate a fome.

Diz-se da discussão atual relativa à necessidade de se cortar despesas no Brasil que a visão é distorcida e penaliza quem já não pode perder mais nada. Errado, essa visão é a mais cretina e torpe possível, mas vai ao ar a cores, é impressa e dita todos os dias pelo Brasil afora. Ora, é que ela interessa ao "mercado", essa entidade suprema e defensora dos poderes quase absolutos do dinheiro nesse  Brasil, ditadora - em todos os sentidos - de praticamente todas as decisões de bastidores capazes de interferir na vida dos andares de baixo.                          

         
 

11 de junho de 2025

Bolsonaro no palanque


Ele até que tentou agradar. Negar. Pedir desculpas. Mas não foi possível. Bolsonaro, que na foto aparece aguardando ser chamado para depor diante do Supremo Tribunal Federal no dia de ontem, usou o espaço e o fato de seu depoimento estar sendo transmitido ao vivo pela TV Justiça para armar um palanque e fazer vídeos que são e serão usados para propaganda em lives de botequim. Sabe que será condenado pelo tribunal que tanto contestou, atacou e desrespeitou sobretudo ao longo do mandato, mas agora resta pouco a fazer além de se desculpar, como fez, numa situação para ele desesperadora. Estamos ao final de uma comédia. Ou seria uma tragédia pastelão?

Bolsonaro tentou, sim, dar um golpe de Estado no Brasil. Só não fez isso porque os comandantes militares, afora o da Marinha, não aceitaram acompanhá-lo na aventura. No Supremo mesmo ele disse que estudou a possibilidade de Estado de Sítio, Estado de Defesa ou GLO para não aceitar o resultado das eleições que levaram Lula a seu terceiro mandato à frente do Governo brasileiro. Só faltou um detalhe: não deu certo. E sobretudo e principalmente porque as urnas mostraram exatamente o resultado correto das eleições disputadas com lisura no Brasil. As mais fiscalizadas da história.

E foi por causa disso que não houve a fraude alegada pelo ex-presidente, que tentou impedir com a ajuda da Policia Rodoviária Federal, eleitores nordestinos de chegarem às suas seções eleitorais onde a maioria deles votaria no candidato de oposição ao golpista. Não fosse por isso e teria sido eleito um charlatão para mais um mandato de quatro anos como presidente do Brasil. E ainda sob as graças daqueles que pregaram golpe de Estado "com Bolsonaro no poder".       

As Forças Armadas brasileiras são gato escaldado e têm medo de água fria, mesmo num país onde uma grande parcela da sociedade não sente vergonha de dizer que quer "golpe de Estado". Isso ficou claro nas inúmeras vezes em que o ex-presidente arregimentou seus imensos bandos para acompanhá-lo nos desfiles por avenidas como a Paulista, onde houve a maior demonstração de golpismo dos quatro anos de desgoverno deste capitão quase literalmente expulso do Exército. Dizer que não há golpe sem Exército nas ruas, sem blindados e outros armamentos é tentar chamar a todos de bobos. Ou de malucos como ele chamou a seus próprios seguidores durante a inquisição de ontem à tarde em Brasília.

Realmente, como o ex-presidente deixou claro, gente lúcida não dá dinheiro para golpistas e ele conseguiu inicialmente cerca de R$ 17 milhões de "colaboradores". Assusta o fato de o sujeito de nome Paulo Figueiredo, neto de um ex-presidente da ditadura, o do ocaso desta, ter chamado o seu "ex" de frouxo por ele não ter confrontado o Supremo Tribunal Federal em vez de recuar, pedir desculpas e enfim admitir que sempre acusou sem provas. Ora, fez isso porque está nos Estados Unidos protegido pelo trumpismo e onde não vai ser preso. Vamos convir: está na hora de o Brasil abandonar os tempos do "prendo e arrebento". Eles saíram de moda e não vão voltar mais.