Quem imagina comparar o surto de protestos que espoucam pelo Brasil afora com a Primavera Árabe ou alguma coisa parecida, pode esquecer. Seria bobagem. Nos casos que ocorrem hoje no Oriente Médio e parte da Ásia há componentes religiosos, separatistas e de mudança de forma de governo nos países conturbados que suplantam todos os demais. Não é o nosso caso.
No Brasil o que está acontecendo é que o brasileiro, e sobretudo a classe média, está cansando. Já está esgotada de ver tanta corrupção difícil de ser combatida, tanto ministério sendo criado para encher barriga de vagabundo, tanta pressão em troca de apoio por cargos públicos, com dinheiro idem, tanta obra superfaturada, tanta ineficiência nas áreas de saúde, educação e geração de emprego e renda principalmente e, para não parar por aqui, tanta deficiência em infraestrutura.
O Brasil tem problemas endêmicos e a esmagadora maioria deles diz respeito a falta de vergonha na cara, falta de respeito para com o dinheiro público. Não há nada mais comum nesse País do que ver políticos de todas as esferas trocando aprovação de leis ou reformas administrativas por nomeações. Todo mês, praticamente sem exceção, uma filigrana jurídica é criada para dar mais direitos aos altos escalões dos poderes Executivo, Judiciário e Legislativo. A contrapartida, essa quase nunca aparece.
Já ouvi mais de uma vez que o brasileiro é calmo, dócil, incapaz de atos de violência a não ser quando o assunto são as drogas, a marginalidade, a miséria crônica. Ledo engano. Essa massa gigantesca de brasileiros que toma as ruas hoje não quer mais nada além de um país digno, formado por homens comprometidos com o interesse comum a todos e que efetivamente combata mordomias, privilégios outros e toda e qualquer forma de corrupção envolvendo dinheiro público.
Não tem cabimento fazer isso com depredações. A destruição de patrimônio de terceiros, sobretudo patrimônio público, não cabe, não tem espaço nas formas civilizadas de se exigir mudanças. Mas ocupar espaço público, gritar, mostrar faixas, cantar canções de ordem, slogans e outras formas de manifestação, sim. Inclusive bloquear ruas e avenidas. Porque se os brasileiros não fizerem isso nas vias públicas, quem vai fazer por eles? Alguém dentro dos palácios? Alguém nas chamadas "casas de leis"? Podem esquecer. Eles não farão nada. Ou farão por si próprios.
Talvez o Brasil esteja acordando mais uma vez. Depois do "Fora, Collor", agora temos mais motivos para ir às ruas. Fui muitas vezes na época da ditadura, gritando contra aquela canalhada que até hoje tem representantes, sobretudo no Poder Legislativo e em áreas militares. Dá vontade de voltar. Mas agora é a hora dessa garotada que surge e quer mudar o País. O País é deles porque eles são o futuro.
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