Em qualquer caderno de jornal que fale de emprego, em qualquer SINE ou coisa parecida, ao lado de uma vaga estão as exigências feitas aos interessados. Hoje em dia um porteiro precisa ter o 1º grau completo e conhecimentos de informática. Em muitos casos, onde o nível das pessoas é mais elevado, exige-se também treinamento de relações humanas e, quem sabe, conhecimento, ainda que básico, de inglês.
Isso ocorre em todas as atividades. Falei de uma das consideradas menos especializadas ou exigentes para chegar onde quero: o Brasil discute dia após dia, como num circo de ingresso gratuito, ao espetáculo da legalização da profissão de empregada(o) doméstica(o). Qual vai ser a carga horária semanal? Como dividir o total pelos dias? Os pagamentos a que os demais trabalhadores estão sujeitos também valem para ela(e)s? O intervalo para o almoço será de quanto tempo? Demissão sem justa causa dá quanto de multa sobre o FGTS? E vai por aí. Todos os deputados, senadores, ministros e outros estão às ordens para falar sobre o assunto. Até mesmo bobagens.
Mas uma coisa parece passar desapercebida: que exigências de formação profissional serão feitas a essas pessoas, agora que elas passarão a exercer uma atividade regulamentada? Onde existem centros de formação profissional (por exemplo, do Sistema S) capazes de preparar "A" para ser cozinheira, "B" para cuidar do trato da casa, "C" para ser babá, "D" para ficar ao lado de idosos ou exercer outras tarefas mais? Onde serão formados os motoristas domésticos? E os jardineiros que, na maioria dos casos, sabem de jardim apenas e tão somente que a parte subterrânea da planta geralmente é a raiz. O resto fica para fora.
Não faço essas perguntas como forma de desrespeito ou pouco caso. O foco é o inverso. O preparo, a qualificação, é o que dita o valor de um profissional. Confere dignidade a ele. Hoje mesmo uma diarista ligou, sem saber em que botão estava enfiando o dedo, um equipamento eletrônico para lavagem de roupas com capacidade para 12 quilos com apenas três toalhas de rosto dentro. Estavam "encardidas", disse ela. Gastou água, sabão em pó, energia elétrica e fez a máquina sacudir como uma coqueteleira porque, com tão pouco tecido sendo lavado, tudo se concentrou contra apenas um dos lados do interior enquanto ela girava centrifugando em alta velocidade. Não quebrou; mas poderia.
A discussão sobre a regulamentação de uma das mais antigas profissões brasileiras não tem sentido desacompanhada da definição do quantum de conhecimentos cada profissional terá de ter para disputar um mercado de trabalho que hoje é muito mais dúvidas do que certezas. Sim, porque milhares de pessoas estão trocando as empregadas por diaristas por não terem como assumir maiores gastos. Os que tiverem meios de mantê-las vão querer - e terão o direito de fazer isso - exigir formação específica rigorosa. Afinal, não se exige só honestidade desse profissional. Isso exige-se de qualquer um. Desse também se exige muitas especificidades. Como, por exemplo, saber lidar com eletrodomésticos.
Um comentário:
Leis trabalhistas e regulamentações desestimulam o empreendedorismo e criam desemprego, apenas. O Estado não tem direito de intervir em trocas voluntárias.
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