O show de viagens particulares com jatos da FAB promovido por autoridades federais brasileiras não é novidade. Desde 1985 o País livrou-se de uma ditadura militar que durou 21 anos e ceifou inúmeras vidas. Mas nem mesmo a Constituição de 1988 conseguiu fazer com que a classe política tivesse a mínima noção da diferença entre "público" e "privado". Ao contrário, a apropriação do que é público para ser transformado em privado só faz aumentar com o passar dos anos.
O ministro fulano de tal, o presidente da Câmara sicrano, o do Senado beltrano e todas as suas famílias usam os jatos executivos da Força Aérea porque consideram ser esse um direito inalienável deles. Vão com eles a jogos, casamentos e outros eventos. O espetáculo, inclusive o cinismo da devolução do dinheiro das "passagens", faz lembrar uma foto que circulou na internet ainda durante o primeiro governo Lula mostrando um de seus filhos no antigo Sucatão, refastelado numa poltrona e dizendo: "Isso é que é vida!"
Essa cultura, se podemos chamar assim, justifica tudo o mais. Inclusive os desmandos cometidos pelos poderes Executivo e Judiciário. Graças a ela, cada gabinete municipal, estadual ou federal tem um bando de assessores. Alguns nem sabem o que assessoram. Graças a ela, veículos oficiais são usados para tudo, inclusive para levar mulheres e demais parentes de autoridades ao supermercado. Cabos eleitorais de campanhas políticas esforçam-se ao máximo para eleger seus candidatos, pois sabem que o pagamento virá depois, com nomeações para os chamados "cargos comissionados". No Brasil, existem aos milhares para pagar esses auxiliares de campanha com dinheiro público. O meu, o seu, o nosso.
Mas não fica nisso. Grande parte do serviço público é loteado. Ministérios, secretarias e outros órgãos, todos eles devem ter vagas à disposição dos senhores vereadores, deputados (estaduais e federais) e senadores. E, já que eles podem, devem poder também membros dos outros poderes. Esses preferencialmente abrigam seus apaniguados sob suas asas. Mais fácil de controlar.
Quando a gente vê hoje milhares de pessoas fazendo passeatas, mostrando cartazes pelas ruas, lutando para mudar o Brasil e expulsando bandeiras de partidos políticos das manifestações, é contra isso também que se luta. Antes, os privilégios eram mantidos à baioneta calada ou sob tortura. Hoje, pela força de leis que, não raro, são votadas de madrugada e logo saem nos diários oficiais.
Se você acha que combate apenas a corrupção, quer mais saúde, melhor educação, geração de empregos, segurança e outros itens caros a todos nós, está errado. Mudar o Brasil significa também dar ao povo brasileiro condições de retomar o que é seu, de fazer com que o público seja público e o privado, privado. E isso só será conseguido com um movimento que cresça a cada dia à caça dos milhares de privilégios imorais e aéticos que foram aos poucos sendo acrescentados à vida e aos contracheques de milhares de pessoas, enquanto descansava, desatenta, nossa Pátria Mãe Gentil.
Vamos à lutar. Ela só está começando!
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