Parece surrealismo que A GAZETA circulou pela última vez domingo último no Espírito Santo. Desde o anúncio do fim do jornal impresso as pessoas imaginavam que tudo seria desmentido no final. Tipo: "1º de abril, gente!". Mas não. Aos 91 anos de idade, aparentemente consolidado ele encerrou as atividades para evitar a falência mais do que certa. Não foi uma opção pelo progresso tecnológico, como se tenta fazer crer em todos os informes da Rede. Foi a saída honrosa encontrada como o "corolário" de anos de vividos incompetência empresarial.
Hoje, vários assinantes tentam cancelar as assinaturas sem migrar para o digital e não conseguem contato com a empresa por telefone. Outros passam raiva tentando ler as notícias pela internet num site feio demais e com um preço de assinatura para lá de caro. Irreal!
Conheci A GAZETA em 1971 quando entrei para trabalhar. A exemplo da Rede Globo e muitos outros grandes órgãos de comunicação, era uma empresa cooptada pela ditadura militar para lhe dar sustentação. Um esforço de legitimação do golpe que havia derrubado o presidente constitucional João Goulart e, passado o ímpeto inicial das "Marchas da Família com Deus pela Democracia" e outras farsas, agora precisava fazer o esforço de ser aceita pela parcela culta da população.
Vivi A GAZETA da Rua General Osório e da Chafic Murad. Como AG seguiu religiosamente a cartilha da "Revolução", foi durante algumas décadas agraciada com verbas oficiais generosas via publicidade estatal. Como a Rede Globo. Foi feito naquela época o mesmo que Jair Bolsonaro, um filho bastardo dessa mesma ditadura, tenta fazer agora em sentido inverso. A sede da Chafic Murad foi erguida graças a isso. Da mesma forma que o império da Globo.
E era gostoso trabalhar lá, ainda que com toda a censura interna, oficial ou não. Fiz grandes amigos, aprendi o que sei de jornalismo graças ao convívio com os melhores deles. Tenho tantas belas histórias para contar dessa época que dariam um livro. Mas prefiro me relembrar sozinho, rir sozinho, curtir as recordações desse passado recente, da lida diária por levar informação aos leitores.
A GAZETA começou a naufragar quando perdeu a boa vida dos recursos oficiais e também de grande parte da publicidade privada. Cometeu erro sobre erro, principalmente trazendo para o Espírito Santo profissionais de São Paulo que nada tinham a ver com a cultura capixaba. Eles, exceto Kaka, hoje dirigindo Metro, foram aos poucos formando o caldo de cultura da derrota final. De tanto promover reformas sem sentido, a mais antiga empresa de jornalismo impresso ainda funcionando no Estado conseguiu fazer com que seu leitor não mais se reconhecesse lendo o jornal. Ou então não mais reconhecesse no jornal aquele que ele havia se acostumado a ler todos os dias. Isso é fatal.
Parabéns empresários de A GAZETA. Vocês mataram seu filhote e a terra tremeu mesmo, domingo último em Vitória. Que pena!
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