19 de setembro de 2025

A sucursal do PCC

O presidente do União Brasil, advogado Antônio Rueda, pode não precisar se preocupar mais com a possibilidade de vir a ser a processado, criminalmente ou não, segundo a PEC que está perto (?) de ser sacramentada no Congresso Nacional, especificamente na Câmara dos Deputados. Nem também Luciano Bivar, o ex-presidente amalucado e que tentou botar fogo na casa dele. Presidentes de partidos políticos, com ou sem mandato, serão totalmente blindados por iniciativa do Parlamento corrupto e inconsequente. Ele, o Congresso, com as últimas iniciativas tomadas, vai ser uma sucursal do PCC e outros grupos de crime organizado.

Essa é apenas a ponta de um iceberg gigantesco. Nós sabemos que hoje as câmaras municipais, assembleias estaduais, Câmara e Senado federais são tomados por uma boa parcela de bandidos. Eles, com a legislação atual, já têm imunidade de sobra. Tanto que Hidelbrando Pascoal, conhecido como o homem da serra elétrica, ex-coronel da PM do Acre, líder de grupo de extermínio, homicida, narcotraficante, sonegador fiscal e formador de quadrilha, foi protegido pelo Congresso enquanto teve mandato. Só depois de perder sua imunidade, mesmo com todo o currículo, foi condenado a mais de 110 anos de prisão. Antes, era sua "excelência", um sádico esquartejador.

O Brasil já teve uma legislação de proteção quase absoluta dos parlamentares. Entre 1988 e 2001 o Congresso impediu mais de 250 investigações contra políticos até a norma nascida com a Constituição Cidadã ser derrubada. Era imoral. Mas agora o pior Congresso de todos os tempos quer revivê-la e ainda com voto secreto para o "não" à punição dos criminosos, mesmo ele vindo do Supremo Tribunal Federal (STF), que pode vir a ser manietado.

Que Brasil nós queremos? Esse?

Um piloto da empresa de táxi aéreo que tem esse Rueda como um dos seus donos assegura que os aviões transportavam gente ao menos suspeita e, com toda certeza, deve haver pessoas ligadas ao PCC sendo levadas para lá e para cá. E o que mais? O crime organizado já está infiltrado em várias camadas do Poder Legislativo, e isso vem de muitos anos passados. Com uma PEC, Projeto de Reforma Constitucional que entrega poderes quase infinitos aos parlamentares, inclusive o que não serem investigados ou processados por nada, a vida política se tornará tudo o que eles sonharam, sonham ou sonharão. O paraíso!

Notem bem: essa gente que pede voto secreto no Poder Legislativo é a mesma que faz discurso por voto impresso e auditável nas eleições brasileiras para nada ficar encoberto. Eles sabem o que querem! Tanto que os partidos do dito Centrão já deram ontem à noite um ultimado que termina hoje para os ministros de suas siglas de aluguel desembarcarem do governo federal atual, o Governo Lula. E principalmente porque a Justiça investiga o presidente nacional do União por cometimento de crimes os mais graves possíveis. Entendem porque o projeto quer dar imunidade total também a presidentes de partidos?

Lute pelo NÃO à anistia a criminosos golpistas. Diga NÃO à PEC da blindagem dos bandidos. Vá às ruas domingo. Defenda a democracia do Brasil contra seus inimigos internos e externos. Eles querem acabar com nosso país e fazer dele uma sucursal do submundo criminoso que hoje está entranhado em muitos de nossos setores, inclusive os produtivos como o de mineração, por exemplo. A hora é agora!   

17 de setembro de 2025

Se há vagas, há esperança

 


Era um final de tarde do último sábado e vi quando uma senhorinha na casa dos 60/65 anos parou diante do conteiner de lixo do prédio onde moro. Carregava uma sacola plástica, um carrinho de compras e uma espécie de mochila. Remexeu nosso lixo e não encontrou nada que a interessasse. Então eu a fotografei indo em direção ao prédio do lado (veja a foto), onde fez o mesmo e aí, sim, colocou alguma coisa entre seus pertences. Usava lenço na cabeça e andava com certa facilidade, mas vive do lixo das moradias daqueles que têm casa. 

Só hoje publico a foto porque leio na coluna de Abdo Filho, jornal A Gazeta, que os supermercados têm 6 mil vagas não preenchidas em seus quadros, mas não conseguem contratar. Por que será? Um amigo meu, Lino Geraldo Resende, jornalista também, trabalhou anos para a ACAPS (Associação Capixaba de Supermercados) e pode apresentar algum tipo de luz no fim do túnel: a jornada de trabalho vai de oito a dez horas diárias e, mesmo com horas extras, não atrai. Poucas vezes as pessoas têm folga nos finais de semana e muitos recebem apenas o salário mínimo. Também não se tolera mais a escala 6X1, com seu viés escravagista. Ou seja, trabalhar na informalidade dá mais dinheiro e não obriga a muita coisa. Claro, a pessoa fica sem INSS, Fundo de Garantia, etc. 

Houve uma época em que a rede Perin conseguia trabalhadores até mesmo de outras empresas do ramo porque suas lojas não abrem aos domingos. Mas agora nem isso e mais incentivos oferecidos atrai muita gente. E tem mais: os empresários do ramo supermercadista acham que o Bolsa Família atrapalha. Não são só eles: o empresariado brasileiro de maneira geral critica qualquer tipo de ajuda aos pobres. Não é verdade que o Bolsa Família tire gente da formalidade do trabalho, mas num quadro de falta de gente para trabalhar é preciso aumentar a remuneração e oferecer até treinamento. Eles não gostam...

Só que estamos falando de trabalhadores que estão no mercado e os moradores em situação de rua não estão. Um trabalho para eles devolve-lhes parte substancial da dignidade perdida com a vida nas calçadas ou então recolhendo lixo em conteineres de prédios. É possível reverter isso. O poder público como as prefeituras, por exemplo, pode tirar as pessoas das ruas com ofertas de trabalho. Em parceria com a ACAPS ou outras associações de empresários em busca de empregados, elas podem ministrar treinamento, tratamento antidroga quado for o caso e uma atividade remunerada que dignifique. Um plano de carreira pode e deve ser mais um elemento chamariz para os diversos segmentos sociais. Por que não fazer isso?

Hoje as prefeituras, como a de Vitória mais uma vez servindo de exemplo, oferecem apenas o retirar das ruas, lugar para um banho, uma refeição, cama e algum afeto. Não basta. Ninguém é feliz vivendo de crack, mas as pessoas abandonadas à própria sorte precisam ao menos de um horizonte de médio prazo. E isso elas não têm hoje. No bairro onde moro, em Vitória, há um grande número de moradores em situação de rua que pelo menos a mim geram uma trieteza imensa. Essas pessoas merecem ter dignidade mesmo num país onde um dos Poderes, o Legislativo, age diariamente de forma amoral, desonesta e visando apenas seu próprio nariz, talvez até mesmo em conluio com o crime organizado. 

É possível tirar aquela senhorinha da rua. Ela merece. Se há vagas, há esperança.

15 de setembro de 2025

A colheita


O número é oficial e fechado: no ano passado houve 83 episódios de tiroteios em escolas dos Estados Unidos, com feridos ou mortos. A apuração é da CNN, que faz esse levantamento desde 2008. Já a instituição Gun Violence Archive registrou um total de 488 tiroteios em 2024, sendo que, para eles, tiroteio em massa quer dizer "um evento onde quatro ou mais pessoas são feridas ou mortas". Os números são impressionantes e mostram uma espécie de raio X da decadente sociedade americana dos dias atuais. O ativista de extema direita Charlie Kirk (foto de homenagens póstumas e ele) foi vítima dessa doença.

Os Estados Unidos formaram uma sociedade de culto à violência, o que vem de desde antes da chamada "conquista do Oeste". Dee Brown, escritor e historiador norte-americano escreveu pelo menos dois livros especificamente sobre o extermínio de povos originários de seu país e editados no Brasil: "Enterrem meu coração na curva do rio" e "Massacre" são estudos de pesquisa acadêmica, sendo que o segundo descreve o episódio de Little Bighorn, no qual o general George Armstrong Custer foi levado a uma cilada num vale e massacrado juntamente com seus soldados por indígenas de nações norte-americanas.

Esse foi o único caso de uma vitória militar indígena contra tropas regulares do Exército dos Estados Unidos, na ocasião a Sétima Cavalaria com 261 membros. Eles foram emboscados num vale e atacados de cima para baixo por guerreiros Lakotas e Cheyennes comandados por Cavalo Louco, Nuvem Vermelha e Touro Sentado. No restante dos tempos, as populações originárias foram massacradas impiedosamente para a tomada de terras por parte dos "homens brancos" que as queriam colonizar, roubar para eles.

Em um determinado ano, num forte construído para ataque aos indígenas, militares dos Estados Unidos discutiam sobre matar ou não matar seus "inimigos". Alguém disse que havia "índios bons" na região, no que o general Philip Sheridan completou: "os únicos índios bons que eu conheci estavam mortos". O diálogo foi ouvido fora da casa, passou de boca em boca e gerou o axioma "índio bom é indio morto" hoje transplantado para "bandido bom é bandido morto" e que faz muito "sucesso" lá nos EUA e aqui no Brasil.

Sobretudo em estados como o Texas o cidadão comum dos Estados Unidos usa armas em quaisquer situações. Anda com elas de preferência sob as axilas. Faz isso para "se defender" e, na maioria das vezes, sem saber de quem. Armados eles mataram os indígenas, os negros escravizados ou não, os "fora da lei", estrangeiros e outras pessoas com as quais estivesse havendo divergência. Armas podem ser compradas em quaisquer lojas do ramo, bem como munição. Aprender a atirar é fácil. É banal ter muito armamento em casa. Vai daí, atirar pode ser uma decisão rápida. Assim se mata em escolas e nos diversos outros lugares.

Donald Trump é um defensor do uso quase indiscriminado de armas e isso possibilitou o episódio do Capitólio quando, incentivados por ele, milhares de trumpistas invadiram o Congresso dos Estados Unidos para questionar a vitória de Joe Biden na eleição presidencial que impediu um segundo mandato consecutivo do hoje novamente presidente. Charlie Kirk era defensor do uso de armas, republicano apoiador de Trump, debatedor educado (o que é raro!) e defensor das ideias da extrema direita política como rascista confesso que se  mostrava. O fato de não ser um tresloucado no falar e no discutir ideias não o livrou da morte viole nta sob a mira de um atirador desequilibrado. Dos milhares que a sociedade americana gera todos os anos. Agora pode ser condenado à morte, o que está previsto nas leis do estado de Utah. Ele é a colheita da safra de violência que os Estados Unidos plantam desde sua independência.

Vão matar a consequência e deixar a causa à solta.  

12 de setembro de 2025

Para nunca mais acontecer

Ontem, num fato inédito na história da República Brasileira, oito ex-governantes do país foram condenados a penas duras restritivas de liberdade. Um deles, o ex-presidente Jair Bolsonaro, a 27 anos e três meses de prisão, afora multa, iniciando esse cumprimento em regime fechado. Ainda cabem recursos permitidos pelas leis brasileiras, mas nada que possa cencelar as penalidades. E os recursos serão respeitados apenas e tão somente porque vivemos em uma democracia, onde o corpo de leis é inteiramente observado.

E ontem foi um dia singular. Há 24 anos um atentado matou quase 3 mil pessoas no Word Trade Center, em  Nova Iorque. E há 52 anos o presidente constitucionalmente eleito do Chile foi assassinado num golpe de Estado em seu país. Recusou-se a ceder pela força o poder entregue a ele pelo povo chileno e acabou assassinado no Palácio de La Moneda, em Santiago, depois de a sede do governo ser até mesmo bombardeada pela Força Aérea sublevada e comandada pelo futuro ditador Augusto Pinochet.

11 de setembro tem significado muito especial! Para nós pode marcar o fim dos sonhos de golpes de Estado. Sonhos que nasceram com o advento da República, surgida da deposição pela força do imperador D. Pedro II e, de lá para cá, seguidos por imensa série de conjuras, aquarteladas e outros tipos de conspiração. Tive um tio-avô, o irmão mais novo de minha avó Almerinda, que era general. Foi para a II Guerra Mundial recém formado como médico para ganhar experiência e se apaixonou pela caserna. Na volta, continuou. Era o cardiologista do general Darcy Pacheco de Queiroz no Exército. Um dia em Vitória mostrou sua credencial no hospital onde havia ido ver um irmão e perguntaram a ele: "Qual é sua arma, general?". A resposta foi imediata: "O bisturi" Esse era oficial militar de verdade!

No passado os mesmos Estados Unidos que estiveram presentes quando do estupro da democracia chilena no episódio da deposição do presidente Salvador Allende, tinham vindo ao Brasil em 1964 para ajudar a depor e exilar o presidente João Goulart, inclusive com o envio à costa brasileira de navios de guerra formadores da "Operação Brother Sam". Uma receita que os ianques não abandonam. Agora mesmo navios dos EUA cercam os mares do Caribe para amedrontar autoridades venezuelanas. E agora mesmo o secretário de Estado norte-americano Marco Rubio promete de novo se intrometer na vida brasileira e, segundo disse a porta voz de Donald Trump, sem medo de "usar meios militares".

Nós também não temos medo!!!!!

Mas, por incrível que pareça os EUA ainda são capazes de arregimentar um exército brancaleone de idiotas adeptos brasileiros como os que abriram sobre o asfalto da Avenida Paulista uma imensa bandeira daquele país. Ou então como o filho do ex-presidente condenado, Eduardo Bolsonaro, vulgo Bananinha, que pediu de maneira clara um ataque dos Estados Unidos ao Brasil para salvar seu papai. Ele e o amigo Paulo Figueiredo já merecem ordem de prisão, com envio dessa determinação à Interpol, faz algum tempo. Quando isso vai  sair? Quando a conspiração à distância será detida?

Os condenados de ontem, nosso mais recente 11 de setembro, têm muito tempo para refletir. E seus apoiadores, para pensar que terrorista é mesmo quem mata e tortura, como prega o cartaz na imagem que abre esse texto. Vamos todos nós, brasileiros, homenagear a democracia. Sou de uma época em que as redações dos jornais tinham uma área onde todos os dias papeletas com ordens do Ministério da Justiça eram afixadas contra a cortiça por pregadores de metal e vindas da Polícia Federal. Era o espaço da censura.

Ele dizia o que podia e o que não podia sair nos jornais. Hoje sai tudo! Sai até mesmo informação dizendo que a defesa do ex-presidente condenado Jair Bolsonaro vai recorrer até a "instâncias internacionais" contra a condenação do genocida inelegível e cometedor de crimes. Recorram. Lutem. Só na democracia vocês podem fazer isso. E, quando perderem, ficarão também sem suas patentes militares e mandatos eletivos, como aconteceu ontem.

Mas até que todos os recursos sejam vistos, negados e os Estados Unidos voltem a arrotar valentia, os cães cotinuarão a ladrar enquanto a caravana passa. O Brasil, se tudo der certo, usou um icônico 11 de setembro para dizer adeus ao golpismo institucional. Com o tempo o brasileiro comum vai aprender que respeitar a regra do jogo é a melhor maneira de exercer a cidadania e a verdadeira liberdade, que se faz com limites claro e legais.                  

 

10 de setembro de 2025

A quinta coluna fede!

Você conhece o termo "quinta coluna"? Ele nasceu durante a guerra civil espanhola entre 1936 e 1939 quando um general franquista, Emilio Mola, apoiador do futuro ditador Francisco Franco, referiu-se a um grupo de simpatizantes nazifascistas em Madrid como uma "quinta coluna" disposta para apoiar um ataque de quatro colunas do exército liderado por ele contra as forças republicanas. Posteriormente o termo passou a ser usado para identificar traidores e simpatizantes do nazifascismo em qualquer outro lugar do mundo. O Brasil as enfrentou durante a II Guerra Mundial, da mesma forma que nós as vemos hoje, mesmo no nosso país sem guerra declarada com ninguém. E podem acreditar: quinta coluna fede!

O cartaz reproduzido para abrir esse texto é da guerra civil da Espanha. Nele está escrito "!!Alerta!! A quinta coluna espreita". Pode ser também persegue, ronda, segue em todos os lugares. Hoje mesmo o extremismo de direita, revivido e renascido dos esgotos onde fica submerso em fezes sempre que é derrotado, está de volta sob vários mantos diferentes. Ele não se assume como acontecia com os "galinhas verdes", integralistas da época da II Guerra no Brasil. Não tem coragem e, pior de tudo, vez ou outra profere discurso democrático. Sabe que não é e que isso jamais seria aceito, mas no seu projeto golpista ele tem que viver fantasiado, já que dizer camuflado é dotá-lo de inteligência. E isso ou ele não tem ou a prostituiu totalmente.

No Brasil o reacionarismo político faz com que o nazifascismo moderno sobreviva. Lembro-me de que, quando jovem, iniciando a vida política, convivia com parentes, tios, tias, amigos de meus pais, eles próprios, numa Vitória que era um microcosmo do restante de nosso país: sempre à direita. Moderadamente ou não, mas acreditando que o comunismo estava à espreita para nos invadir. Um dia, vendo que eu havia estado numa reunião de grêmio estudantil do Colégio Americano, meu avô, o português José Maria dos Santos, uma cálida figura humana, alertou-me para esse perigo: "Veja, meu netinho, se os comunistas chegarem ao poder eles entram nessa casa e tomam pelo menos dois quartos para seus amigos viverem". Ele havia aprendido assim e morreu 15 dias antes do 25 de abril de Portugal...

Os brasileiros que usam a bandeira dos Estados Unidos no desfile de 7 de setembro são quintas colunas. Eduardo Bolsonaro também é. Nikolas Ferreira, idem. E o rebotalho extremista de direita que forma hoje nossa presença capixaba no cenário político federal, igualmente. Pessoas como Magno Malta, Marcos do Val, Evair de Melo, Gilvan da Federal e outros menos votados formam a linha de frente dos que lutam pelo renascimento de um nazifascismo que foi, é e será sempre genocida. Ontem mesmo foi filmado o presidente dos Estados Unidos expulsando de um restaurante um grupo de manifestantes que gritavam "free palestine!" durante a entrada dele e seu séquito, do qual fazia parte o vice-presidente.

Essa é a liberdade de expressão na qual eles acreditam!

Então, quando você ouvir uma porta voz da Casa Branca dizer que o país dela, cinicamente fantasiado de defensor da democracia e das liberdades civis, pode chegar a usar a força para defender seus princípios, não creia. Os princípios deles são pecuniários e extremistas. Mas se um dia for preciso defender sua pátria com armas, não ingresse nas quintas colunas que os falsos patriotas canalhamente defendem e defenderão. Ela fede!       

8 de setembro de 2025

7 de setembro distópico

 

O 7 de setembro mais distópico da história brasileira nasceu gerando memes, como esse da montagem fotográfica ao lado. E não poderia ser diferente. Afinal de contas, no dia da comemoração de outro aniversário de nossa independência como país, uma enorme bandeira dos Estados Unidos foi desfraudada em plena Avenida Paulista, diante de palanques onde estavam autoridades e mostrada aos gritos de "Trump..." por uma imensa legião de idiotas ditos bolsonaristas ou "patriotas".

Depois do susto, muitas pessoas ficaram se perguntando o que há na cabeça de gente que usa bandeira estrangeira na festa de sua pátria, e isso quando essa outra nação faz uma infame campanha contra a nossa para tentar interferir num resultado de julgamento penal. No mínimo é um desrespeito.

E a cobertura desse 7 de setembro teve de tudo. Um indivíduo filmado vestindo camisa com a bandeira do Brasil tentou mas não conseguiu explicar o que estava fazendo na mais importante avenida de São Paulo. Outros conseguiram mais ou menos, e usando uma fórmula ou outra para provar que vivemos numa ditadura do Judiciário, isso quando uma boa parcela desses viveu realmente e ao menos em parte a última ditadura que infelicitou o Brasil. Uma senhora saudosa dos últimos ditadores de farda explicou entusiasmada como era boa aquela época! Muito diferente de hoje, sem dúvida!

Mas a melhor de todas foi outra senhorinha, cabelos bem grisalhos, ar professoral e que explicou a uma debochado "repórter" que Lula, Alexandre de Moraes e todos os demais membros do tual governo são clones ou coisa parecida porque os reais que existiram foram cooptados ou sequestrados por extraterrestres que estão em seus lugares hoje, aguardando o momento certo para se revelarem e darem sequência ao projeto de captura do Brasil. Não sei ao certo onde fica o bolsnarismo e seu líder maior nesse projeto. Talvez nem ela...

De qualquer forma o 7 de setembro mais distópico de todos os tempos, capaz de colocar no bolso a excelente história de "O último azul" também foi marcado por apostas num futuro sem boas perspectivas. Como foi o caso do carioca governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, que vestiu a farda de extremista de direita, pediu Bolsonaro para presidente em 2026, chamou o ministro Alexandre de Moraes de tirano e disse que ninguém mais o suporta. Ou aguenta. Se ele pretende governar o Brasil, o caminho traçado é um túnel sem luz ao final. Pelo menos num país democrático. E a menos que a exemplo de seu líder e capo di tutti capi, a ideia seja depois pedir desculpas, dizer que falou sem pensar e que está tentando se conter de agora em diante.

Foi um 7 de setembro distópico, com certeza. E vai ter consequências além do julgameno que deve terminar sexta-feira no Supremo Tribunal Federal. Com taxas de Trump ou não.   

5 de setembro de 2025

Um Frankenstein da política

 

Há no Brasil de hoje, esse da política cheia de ódio e pobre de boas propostas, algumas pessoas que não sabem ao certo o que estão fazendo em seus cargos públicos. Um deles é o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, militar reformado, levado à cena pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, carente de planos e projetos e que recentemente disse não acreditar na Justiça. Ele é um Frankenstein do exercício do poder no Brasil e, inclusive, já disse em mais de uma oportunidade que sem esse ex-governante não seria nada. Está certo. Mas será que ele é alguma coisa em nosso cenário político atual?

Recentemente o governador enviou à Assembleia Legislativa de seu (sic!) Estado um projeto já aprovado e que vende 720 mil hectares de terras públicas devolutas a fazendeiros com até 90 por cento de desconto sobre o preço de mercado. Coisa como a gente entregar um bem de R$ 100.000,00 por R$ 10.000,00. Negócio da China, mais do que de pai para filho. No total, a renúncia de patrimônio público somado durante o governo desse cidadão pode chegar aos R$ 7,6 bilhões. Ele vende tudo o que é do Estado. Na prática isso quer dizer grilagem de terras com entrega dessas a latifundiários improdutivos de São Paulo, alguns dos quais respondem a processos, mas que ainda assim são a base de apoio político de Freitas. Como se não bastasse isso ainda ressuscitou a Polícia mais letal do mundo. 

E não é só isso. A imprensa descobriu que alguns dos auxiliares diretos do governador, como secretários de Estado por exemplo, mais do que dobraram seu patrimônio pessoal em um ano. Isso sem ganhar na MegaSena... O que fez esse Frankenstein político brasileiro? Proibiu a divulgação de dados sobre o patrimônio pessoal de todos os seus mais próximos auxiliares. E os dele também, óbvio. Isso vai de encontro a uma prática comum no Brasil e também gerantida pela Lei de Acesso à Informação e que determina aos detentores de cargos públicos divulgar seus patrimônios anualmente como forma de provarem que exercem os mandatos com lisura. Tarcício quer fazer assim? Claro que não quer.

É esse o tipo de figura dominante na política brasileira dos dias atuais. Como ele consegue fazer com que seus projetos mais estapafúrdios sejam aprovados pela Assembleia Legislativa? Simples: a imensa maioria está cooptada e filiada a partidos ligados à extrema direita brasileira. São atrelados ao governador e a seu projeto de poder graças ao fato de que, assim agindo, ficam no mesmo espectro ideológico do chefe do Executivo, embora sem saber o que isso significa, e ainda podem usufruir de cargos públicos no Estado. Se o governador se eleger presidente, esse exercício de poder de barganha passa ao nível federal. Assim é no Brasil descarado de hoje, projeto pronto e acabado de Jair Bolsonaro.

Sim, o sonho de Tarcísio é ser presidente da República ano que vem. Sabe que seu criador, Vitor Frankenstein, o moldou a partir de restos mortais reunidos de diversas figuras desprezíveis de onde ele habita desde sempre e agora quer ter uma cara só sua, mesmo com cicatrizes e parafusos. Graças a isso declara a quem quiser ouvir que não acredita na Justiça e pretende a anistia para todos os envolvidos na tentativa de golpe de Estado mais recente do Brasil. Sabe que essa anistia é inconstitucional sob muitos aspectos e será derrubada ao final, mas seu projeto envolve  aumentar a instabilidade política nesse País.

Sabe igualmente que a Justiça está fazendo seu papel, como sempre acertando e errando, mas dizer que não cre nela o torna próximo da extrema direita brasileira, ávida para destruir o Supremo Tribunal Federal e, a partir daí, moldar um país onde o poder ou não precise se submeter às leis ou as tenha representadas por vassalos de seu projetos pessoais e de Estado. Simples assim. E também esse é o objetivo de gente como Sóstenes Cavalcanti, Ciro Nogueira e mais uma carrada de medíocres como alguns capixabas tipo Magno Malta, Marcos do Val, Gilvan da Federal, Evair de Melo, Messias Donato, Amaro Neto, etc.

Tem tudo para dar errado, mas eles vão tentar.