Não se iludam: Jair Bolsonaro, ao longo da vida, usou e descartou pessoas à sua volta por conveniência, pois a ele só interessam parentes e seus objetivos pessoais. Agora vai ser descartado em breve por Donald Trump, que reza da mesma cartilha política e a quem só interessam metas estabelecidas e o grupo fechado de seguidores incondicionais (pelo menos até agora...) que o servem na Casa Branca e no Legislativo. É um chantagista profissional irreparável ao qual até a União Europeia teve que se render num acordo vexatório. A foto da Reuters, onde aparece Úrsula Van Der Laer com ele na "cerimônia" do acordo de tarifas com os Estados Unidos mostra isso de forma bastante clara.
No plano internacional o Brasil está longe de ter o peso político dos principais países europeus, tanto no terreno da projeção financeira quanto no militar. Mas ainda assim não podemos nos curvar às pressões e autoritarismos do atual presidente dos Estados Unidos. De nossa pátria ele quer os 17 minerais estratégicos e o PIX, principalmente, mas também pretende mandar no Judiciário e trazer de volta à cena política ativa o ex-presidente em vias de ser condenado, pois dessa forma mandará e desmandará nos destinos deste "quintal". Que é nosso! Os principais nomes da direita política nacional cederão a isso, mas a esquerda, não, e agora é hora de ela ser seguida pelos reais patriotas: negociar, sim; render-se, nunca.
Trump entende de televisão, de como fazer publicidade de si próprio e do jogo do poder. Da forma como Hitler foi um dia. Mas como na maioria dos casos de gente assim, também sabe até onde pode e deve ir. Não quer arriscar o mandato que tem e foi concedido a ele pelas urnas, nem ao menos para completar o sonho de exercer poder absoluto sobre os Estados Unidos. Agora mesmo está buscando meios legais de continuar a pressionar o Brasil e usando para isso figuras como os políticos que deixaram terras brasileiras para conspirar no exterior. Vai tentar apoio jurídico, o que já deve estar fazendo, mesmo da Escócia.
O professor do curso de Ética e Filosofia da USP, Renato Janine Ribeiro, que também é respeitado como filósofo, cientista político e colunista postou na internet um pequeno texto sobre o assunto e que merece ser lido. Vamos a ele, na íntegra: "A fuga de vários políticos para o exterior me faz cogitar que talvez a CIA esteja preparando a formação de um suposto governo alternativo no Brasil, com fornecimento de armas e mesmo tropas. Como prepararam aqui mesmo, em 1964, com a Operação Brother Sam. Ficaram a postos para intervir e apoiar os governos golpistas de SP, Minas e Guanabara. Esse tipo de regime se chama 'quisling', do nome do nazista de 1940. Foi julgado e enforcado após a guerra. Vários outros também o foram. Com sorte, fuzilados. É preciso ficar alerta e forte."
Tive uma grande amiga, jornalista como eu, Jeanne Bilich, que tremia de medo de um novo golpe de Estado no Brasil. Eu dizia a ela a volto a insistir: golpistas existem em profusão e gente como Eduardo Bolsonaro, Paulo Figueiredo, Carla Zambeli, Do Val e outros nascem e se reproduzem como micróbios ou ervas daninhas que são. Mas não estamos mais em 1964 e as tentativas fracassadas de golpe de Estado de Bolsonaro - esse último Jeanne não viveu para ver - são prova de que hoje tudo é mais difícil. Até nos EUA um movimento como esse sofreria resistências sérias e a guerra fria atual é muito diferente da daqueles anos.
De qualquer forma, como disse o professor Janine Ribeiro, é preciso ficar alerta e forte, mas sem medo de temer a morte. Vários setores, alguns deles oportunisticamente estão tentando negociar com os ianques. Motivos econômicos para uma taxação como essa não existe, nunca existiu, mas para os desonestos, sobretudo aqueles protegidos por um exército que teoricamente não pode ser vencido, isso nada importa. As razões efetivas são subterrâneas.
E para completar, Vidkun 'Quisling' foi um ex-ministro da defesa da Noruega que se tornou colaborador nazista durante todo o tempo do domínio alemão sobre seu país, denunciando muitos compatriotas e fazendo o mal que era possível fazer. Uma espécie de Philippe Pétain, traidor da França e que fez de Oslo sua Vichy. Ao final da guerra Pétain não foi fuzilado porque havia sido herói em 1914/18 e estava na casa dos 90 anos de idade. O norueguês não tinha esses "atenuantes" e a última coisa que viu na vida foram os canos dos fuzis do pelotão de fuzilamento. Triste fim porque "quisling" se tornou sinônimo de traidor.
Parece que poderá vir a ser assim com o termo 'bolsonaro'. Quem sabe?