15 de maio de 2024

Eduardo e o ato falho


O governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, equilibrava-se entre a necessidade que tinha de conseguir ajuda para a tragédia de seu Estado junto ao presidente Lula e a obrigação de permanecer colado à base eleitoral bolsonarista - que é forte no Sul do Brasil - pelo menos até o final desses tempos de altos e baixos. Estava conseguindo, inclusive sem citar muito "o agro", como gosta e é visto nessa imagem do jornal Correio do Povo, de Porto Alegre. Mas ontem escorregou e disse que o excesso de ajuda aos gaúchos vai acabar prejudicando o comércio. Eduardo vai ter que encontrar um meio de chorar o leite derramado fora de hora junto aos mais inteligentes dos seus conterrâneos.

Um estudo publicado recentemente pela Fundação Friedrich Ebert aqui no Brasil e com os nomes dos pesquisadores Marco Antonio Mitidiero Junior e Yamila Goldfarb mostra que, como disse a revista Fórum, no artigo "Mudança Climática, energia e meio ambiente", "o agro não é tech, o agro não é pop e muito menos tudo". Ao contrário, o agro sangra o país para enriquecer desmedidamente uma casta de multimilionários rurais que vivem à custa de dinheiro público para tocar negócios privados sem um mínimo de risco. Num Estado capitalista, ele quer abocanhar até mesmo terras devolutas, como faz em São Paulo.

Mais do que isso: esse ramo de nossa economia interfere na política de gestão ambiental brasileira de acordo com seus princípios de "Estado mínimo" e com isso agride o meio ambiente de todas as formas, sobretudo destruindo solos, rios e florestas num modelo de exploração do campo que concentra a propriedade rural apenas tão somente em imensos latifúndios. Tem uma enorme bancada chamada "ruralista" regiamente paga para defender seus interesses no Congresso e investe muito em propaganda junto aos meios de Comunicação como forma da dar um "cala a boca" na opinião pública. Ultimamente conseguiu  até mesmo ampliar de forma desmedida a área que pode ser desmatada em nossas florestas, a quantidade de veneno usado nas lavouras e a agressão aos direitos dos povos naturais que morriam de fome à época de seu ex-presidente genocida.    

Quem está defendendo o Rio Grande do Sul e minorando o sofrimento dos gaúchos hoje é o governo federal e o maravilhoso povo brasileiro que, excetuada a extrema direita, dá a mão ao próximo sempre que ele precisa, sem objetivar nada em troca. Não é Eduardo Leite, esse frajola amigo dos representantes do agro que se omite nas horas de aperto do povo e não comparece para ajudar, ao contrário do que faz a cozinha do MST e não o seu agro. Agora ele está preocupado, coitadinho, com o comércio que pode ser afetado pelas doações. Claro que sim, pois é o pobre quem vai ser penalizado pela falta de doações se elas escassearem.

O brasileiro comum é quem salva o Brasil.


12 de maio de 2024

Eles renovam. A esquerda, não!


Os jornais que circulam hoje em Portugal, sobretudo "Público" (foto da capa) trazem longas reportagens que falam sobre o crescimento da extrema direita no País. E o fenômeno deles não é diferente do nosso, embora em terras lusitanas já haja um partido político descaradamente nazifascista, o Chega, enquanto aqui no Brasil ainda exista um resquício de pudor impedindo que o Partido Integralista ou alguma coisa parecida com ele emerja das cinzas fecais onde se encontra. E por que isso acontece? Ocorre porque lá na Europa os extremistas de direita estão cooptando a juventude, renovando seus quadros enquanto a nossa esquerda - e talvez a deles também - discursa com os cabelos brancos de seus quadros há muito envelhecidos.

A reportagem de "Público" fala da infiltração fascista na agenda anti-imigração - inclusive com agressões físicas a imigrantes -, do apoio aos outros países onde a extrema direita pontifica como é o caso da Hungria, e mostra que lá, dentre outras coisas, "influencers" atraem universitários ou mesmo adolescentes por intermédio de propagadores do ódio mascarados de jornalistas. Tudo isso vai aos poucos alimentando o Chega e outros grupamentos do nazifascismo da carne nova tão necessária a seu crescimento, à sua disseminação. Foi assim na Alemanha hitlerista.

O jornal "Diário de Notícias", que nasceu na Cidade do Porto, fala da ligação entre o Chega e o governo de Benjamin Netanyahu por intermédio de um "assessor" do presidente da legenda, André Ventura e de nome Tânger Corrêa. Esse indivíduo, dentre outras, acredita que os judeus que trabalhavam nas Torres Gêmeas em 11 de setembro de 2001 tenham sido avisados para não irem a seus escritórios no dia do ataque terrorista. Isso é a Teoria da Conspiração levada às últimas consequências...

No caderno "P2" de "Público", que circula aos domingos, uma longa entrevista com o filósofo norte-americano Lee McIntyre, investigador no Centro da Ciência na Universidade de Boston e autor, dentre outros, do livro "Como falar com um negacionista", mostra o entrevistado advertindo: "Na era da pós-verdade a desinformação serve para destruir o conceito de verdade. Os que não votam, não veem notícias e  não acreditam em  nada são um perigo." Também o semanário "Domingo" publica uma reportagem de capa sob o título "O arquiteto demolidor". É biografia de Benjamin Netanyahu, formado em arquitetura no prestigiado MIT e hoje especialista em arquitetar a destruição palestina.

Toda essa pauta comum e que não pode ter sido combinada por meios de comunicação tão diversos e distantes até ideologicamente mostra que há uma preocupação grande em Portugal com o que nos deveria preocupar também. Mas as correntes brasileiras de esquerda, além de duelarem diariamente por questões menores, nada ou quase nada investem na renovação de seus quadros. Onde está, por exemplo, o PT Jovem? A garotada que poderia ocupar espaços generosos nas reuniões dos partidos políticos fica em casa lendo o Tio Patinhas enquanto os herdeiros de Adolf Hitler e Benito Mussolini vão aos poucos mostrando as garras que podem nos levar ao caos.

Assim a democracia vai perder...        

8 de maio de 2024

O esperneio do Brasil doente


Em "A psicologia das massas e análise do eu" Freud disse que "a massa é extraordinariamente influenciável, o improvável não existe para ela". E mais adiante: "Os sentimentos da massa são sempre muito simples e muito exaltados. Ela não conhece dúvida nem incerteza. Vai prontamente a extremos; a suspeita exteriorizada se transforma de imediato em certeza indiscutível, um germe de antipatia se torna um ódio selvagem. Quem quiser influir, não necessita medir logicamente os argumentos; deve pintar com imagens fortes, exagerar e sempre repetir as mesmas falas". Isso foi escrito em 1921 e se aplica hoje ao Brasil, 103 anos depois...

Nós estamos vendo o que se passa no Rio Grande do Sul. A imagem acima é uma foto do saguão de embarques e desembarques do aeroporto internacional de Porto Alegre tomado pelas águas. Milhares de brasileiros, talvez mais de um milhão se movimentam para ajudar a população desse Estado. Forças Armadas e organismos militares auxiliares, além de civis unem-se ao esforço para salvar a região que, ao final do drama vivido poderá computar mais de duas centenas de mortos. O governo federal faz tudo o que pode para ajudar e nem é preciso gostar dele para dar-lhe o braço nesse esforço. É aquele velho lugar comum que não cabe como trocadilho: nessa inundação sem precedentes estamos todos no mesmo barco.

Mas todos, não. O Brasil doente não embarca na nau de salvamento lançada às águas das inundações. Ele continua a conspirar todos os dias e a todas as horas. Manda legisladores aos Estados Unidos para fazerem denúncias contra a "ditadura" instalada no País, como se ela existisse realmente e denunciada por seguidores de alguém que já se declarou apoiador de tortura e defensor do fechamento do Congresso Nacional e do Supremo Tribunal Federal. Alguém que adotou o lema do fascismo "Deus, pátria, família" e a ele acrescentou um "liberdade" de fake news.

Mas o esperneio do Brasil doente não vai progredir. Frei Beto disse recentemente no artigo "Políticas sociais mudam a cabeça do povo?" que  não. Não mudam e isso confirma o pensamento freudiano. Se fosse assim a União Soviética, percursora de tantos avanços sociais não teria desmoronado sem um único tiro depois de décadas, apesar de carregar sobre os ombros o estigma dos crimes do stalinismo. Depois de discorrer longamente sobre o tema o autor encerra com uma conclusão que também é a minha: só a educação faz uma nação sobreviver ao retorno do fascismo e de outros gêneros absolutistas.

Nos dias de hoje, além de a gente acreditar que os gaúchos vão sobreviver aos eventos trágicos e graves desses dias, ainda nos conforta constatar que o Brasil saudável é muito maior e tem muito mais força. O Brasil doente vai seguir perdendo, como sempre. E também temos uma crença adicional: é preciso eleger a educação como prioridade maior na reorganização do Estado. Ela é a salvação e por isso a extrema direita a odeia.    


1 de maio de 2024

O neonazismo está aí!


Enquanto o Congresso Nacional engaveta o projeto de lei que pretende impor normas de comportamento às chamadas redes sociais, as agressões que elas geram todos os dias só fazem crescer. Mais do que isso, não são baseadas em fatos reais, mas sim criam uma realidade paralela para gerar tumulto e mais animosidades num país extremamente polarizado desde logo em seguida às eleições de 2018. Hoje a falta de moderação de conteúdo dessas redes, sobretudo a "X", antigo Twitter, faz surgirem grupos de extrema direita em atuação no Brasil, segundo foi mapeado pelo Global Project Against Hate and Extremist  (GPAHE), o Projeto Global Contra o Ódio e o Extremismo.

O estudo deste instituto localiza a maioria desses grupos nos estados de Santa Catarina, Paraná, Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro, mas não apenas neles. Já foram mapeadas mais de 20 organizações ativas, muitas delas em redes como Facebook, You Tube, Telegran e, como disse antes, "X", além de outros menos usados. Hoje a população LGBTQIA+ é o alvo principal, mas não o único. O Instituto Conservador Liberal, do deputado Eduardo Bolsonaro, pontifica na produção de tudo o que pode ser raivoso, sobretudo em combate ao que para ele é politicamente de esquerda. 

Ao mesmo tempo em que a Câmara dos Deputados diminui o ritmo de apreciação do Projeto de Lei 2.630/2020 com a criação de um grupo de trabalho que tem como objetivo principal paralisar o assunto, vão surgindo frentes de combate à democracia no Brasil como é o caso da FNB, Força Nacionalista, que chama mulheres que não combatem o aborto de "defensoras do diabo". O Falanges de Aço defende a separação do Sul do restante do Brasil (foto) e o Resistência Sulista envereda pelo mesmo caminho. São separatistas, o que é crime. Já temos por aqui até mesmo a Força Nova, versão tupiniquim do neofascismo italiano da Forza Nouva, e até mesmo uma Frente Integralista Brasileira que dispensa apresentações foi recriada recentemente em substituição à de Plínio Salgado.

E enquanto a gente brinca dizendo que isso não passa de modismo, basta recuar um pouco no tempo e vamos ver como o governo que antecedeu a esse acreditava no nazifascismo. Os nazistas alemães bebiam leite publicamente porque na visão deles essa era uma bebida branca, de purificação da raça. Eles passaram, mas o exemplo ficou. Durante o governo passado, um trio de bandidos formado por Bolsonaro e dois ministros foi fotografado ao menos uma vez bebendo leite enquanto o bandido chefe comandava uma live. Tudo isso sob o lema de "Deus, Pátria, Família", criado por Benito Mussolini na Itália.

Nada disso tem graça. O Brasil precisa pressionar o congresso pela aprovação do Projeto de Lei 2.630/2020. E rápido.