Paulinho Nakagomi e sua mulher Teresa (minha prima), eram comissário e comissária de bordo da Varig. Deixaram a empresa, ela por problemas de saúde, ele porque fez um acordo: foram ambos para casa em Copacabana, no Rio de Janeiro, para não enlouquecer no manicômio em que se transformou a companhia aérea onde trabalharam por muitos anos.
É de Paulinho essa história: há pouco tempo, um vôo da Varig que se destinava a Los Angeles precisou pousar em outro aeroporto por problemas de mau tempo no aeroporto de destino. Só que, com o combustível gasto para o desvio de rota, era necessário abastecer novamente o avião. Caso contrário ele não poderia chegar com segurança ao destino.
O comandante pegou o cartão de crédito que todos os comandantes de aviação comercial usam para emergências dessa natureza e pediu o reabastecimento. Negativo, disseram os norte-americanos. A Varig estava devendo a todo mundo. O comandante pediu aos membros do Star Aliance, empresas associadas, que lhe dessem socorro. Negativo, disseram os representantes delas. A Varig estava devendo a todo mundo.
E ficou lá o avião da Varig na pista do aeroporto, sem querosene para chegar a Los Angeles, com mais de 200 pessoas a bordo. Em desespero, o comandante pediu emprestado o celular de um comissário, que o emprestou mesmo sabendo que corria o risco de ter um telefonema internacional não pago em sua conta. E o comandante falou com membros da diretoria da empresa. Não queriam ajudar na hora. Desesperado, ele ameaçou denunciar o fato a todos os passageiros, chamar a imprensa, fazer um escândalo sem precedentes. Xingou o diretor que o atendeu e logo em seguida o avião foi reabastecido para enfim chegar a Los Angeles. O que acabou com o pandemônio a bordo pois os passageiros, irritados e preocupados, queriam saber o que estava se passando.
No retorno ao Brasil, o comandante desembarcou esperando encontrar em seu escaninho um bilhete azul. A demissão. Nada. Passou-se o primeiro dia e nada. Na escala seguinte ele estava confirmado para um novo vôo e o fez normalmente.
A Varig preferiu botar panos quentes no caso e fazer de conta que ele nem havia acontecido. O diretor engoliu todos os xingamentos. Era melhor naquela ocasião.
Hoje, não. Hoje talvez seja melhor fechar a mais antiga referência da aviação comercial brasileira. Por incúria administrativa. Criminosa, por sinal.
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