Ele era grande como o nome: Sócrates Brasileiro Sampaio de Souza Vieira de Oliveira. Seu futebol era do mesmo tamanho, assim como a sede por cervejas e derivados. Não foi um jogador de futebol que se tornou médico. Foi um médico que durante algum tempo jogou futebol. Um velho cronista paulistano, Lourenço Diaféria, disse certa vez que o Corinthians não é um clube que tem uma torcida. É uma torcida que tem um clube. Hoje, tem um clube e mais um ídolo. Daqueles que não morrem jamais.
E ele queria morrer num domingo com o Corinthians campeão. O destino fez-lhe a vontade. No dia em que seu time foi pentacampeão brasileiro, Sócrates era a notícia mais importante. Foi-se de madrugada, notívago que era. Seu enterro aconteceu às 17 horas, momento em que começou o jogo do Corinthians com o Palmeiras. Pouco menos de duas horas depois seu time vencia o 40º Campeonato Brasileiro de Futebol. E se tornava a segunda notícia mais importante do domingo no esporte nacional. Tive um único contato pessoal com Sócrates. Em 1983, quando seu clube comemorava um campeonato paulista num hotel da região central de São Paulo. Um dileto amigo que estava comigo, o jornalista Aroldo Schiorino, da Folha de S. Paulo, apresentou-me ao Doutor. "Dá cá um abraço, capixaba bom da porra!", disse ele abraçando-me e derramando cerveja por minha camisa. Não conversamos mais de dois minutos.
Todos os que conheceram Sócrates são unânimes em suas avaliações. Tratava-se de um homem sincero, ético, amigo dos amigos, admirador de boas bebidas e mulheres bonitas. Se um dia fez mal a alguém, fez a si próprio. Sua morte, portanto, entristeceu a todos, embora já sendo esperada.
Foi um ser pensante e politicamente importante. Numa época em que era difícil e perigoso afrontar o regime militar, ele o fez. De peito aberto. Intelectual de formação humanística, será lembrado pelo conjunto da obra. E não só pelo futebol refinado, capaz de tratar a bola como "meu amor".
O Doutor vai deixar saudade. Esse paraense bom da porra, que honrou a camisa do Sport Clube Corinthians Paulista e está enterrado na Ribeirão Preto que escolheu para sua casa.
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