O ministro da Defesa do Brasil, Fernando Azevedo e Lima, disse recentemente em entrevista ao jornal "Valor Econômico" sobre um dos principais pontos do projeto econômico de governo da equipe de Jair Bolsonaro, exatamente o seguinte: "Se o nome é reforma da Previdência, não estamos nela". E isso já está provocando um debate entre adversários hoje fidalgais por seus pontos de vista, mas que poderão se tornar inimigos irreconciliáveis, principalmente porque o presidente acredita nesse princípio e sua equipe econômica, não.
No fundo de tudo isso está o conceito de "Carreiras de Estado" (aquelas ligadas ao Poder e que não podem ser exercidas pelas categorias civis privadas), e nas quais todos querem se inserir nos dias de hoje. Até legislação prevista para que engenheiros e médicos atuantes no Estado sejam assim considerados poderá existir. Se essa amplitude conceitual for levada adiante não haverá reforma alguma. Isso porque os membros das "Carreiras de Estado" já são a casta que recebe vencimentos astronômicos no Brasil. Sua ampliação torna inviável qualquer projeto de reforma que busque equilibrar o sistema e recuperar sua condição superavitária.
No Judiciário é imenso o número de membros que recebem acima do teto constitucional graças a uma série de privilégios e penduricalhos que nenhuma outra categoria tem. No Legislativo ocorre coisa parecida. No Executivo, o mesmo. No caso das empresas estatais, pagamentos complementares subterrâneos fazem com que certos vencimentos cheguem aos seis dígitos. E isso acontece também em outros setores, inclusive por recebimento de múltiplas aposentadorias.
Desde 1993, quando era o inexpressivo deputado federal que sempre foi, Jair Bolsonaro defendia privilégios para as Forças Armadas. Agora, seu ministério militarizado quer tornar isso uma realidade, com a retirada dos membros das três forças da reforma previdenciária. Ou seja, os dois brasis que chamamos de "Belídia" (parte rica na Bélgica e parte pobre na Índia) tendem a se ampliar. Como não vai haver cobertor para tantos corpos, não serão os pés dos ricos que vão ficar de fora.
O mais irônico é que o atual governo foi eleito por uma grande massa de eleitores que basicamente não queria mais o PT no poder. Eles então elegeram o PSL, uma legenda que ninguém conhece e nem sabe para que serve. E serão os contribuintes do INSS dessa turba, bem como suas classe média e baixa os primeiros a sofrer os danos de uma reforma que tende a não passar de farsa.
Que os apaniguados do País não querem perder as tetas, todos sabemos. Mas falta pouco para sabermos também que o discurso de "combate aos privilégios", começando pela reforma da Previdência, não vai passar do que é agora: um discurso falso, pobre e vazio. Mais; tudo isso está sendo encoberto pelas promessas de combate à corrupção e que vão mascarar perdas de direitos, achatamento de vencimentos e ampliação da desigualdade social.
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