Vamos imaginar que um professor esteja lecionando política a seus alunos. E ciência política não tem relação direta com doutrinação político-partidária. Mas ela não existe se o professor não abordar as origens do capitalismo e do comunismo que modificaram as relações sociais e determinaram a falência da monarquia tradicional, sobretudo a absolutista. É preciso, então, que os alunos entendam a política atual à luz do pensamento dos homens que desenvolveram esses dois princípios antagônicos (?).
Um outro professor leciona economia moderna. Ele tem que recuar a Adam Smith e Karl Marx, explicar "A riqueza das nações" e "O capital" para os seus alunos entenderem as diferenças entre capitalismo e comunismo no tocante ao controle econômico sobre os meios de produção. Sem ao menos isso ninguém vai aprender ou entender coisa alguma.
Mais: essa necessidade de que o ensino abarque todo o espectro do conhecimento humano, vem desde antes de Aristóteles, envolvendo filosofia, sociologia e outras ciências ditas como tal.
Um dia, vendo um indivíduo arrotando ódio contra comunistas, que para ele eram todos os adversários de Jair Bolsonaro, perguntei o que diferenciava comunismo de capitalismo nos planos político e econômico. "Não importa - disse -. Os comunistas são todos bandidos!". Então resolvi tornar a coisa mais simples e perguntei qual era a diferença no tocante ao controle sobre os meios de produção. Resposta: "Não importa. Já disse que são todos bandidos."
Esse é o conhecimento médio hoje nas discussões acerca das mudanças que o Brasil sofreu no plano político com as últimas eleições. Acredito piamente que o Partido dos Trabalhadores cavou sua própria sepultura por seus erros, pecados contra a ética e a honestidade ao longo dos quase 14 anos em que esteve no poder. Mas também sei que os brasileiros foram levados a votar em Jair Bolsonaro protestando contra o PT. Já ouvi de inúmeras pessoas que o presidente eleito não era o candidato delas, mas que elas não votariam de forma alguma em Fernando Haddad por suas origens políticas.
Essa crença na "Escola sem Partido", que surgiu desde 2004 como um contraponto aos pensamentos de "esquerda" prega que os professores não devem falar de socialismo ou comunismo para não "direcionarem" as crenças políticas dos alunos. Mas no Terceiro Grau e em ciências sociais isso é impossível, a menos que seja intenção do atual governo e seus assessores diretos das mais diversas áreas que o ensino superior não cumpra suas finalidades mais elementares. Sim, porque aí teremos uma "Escola sem Sentido". E uma agressão aos princípios quase sagrados da Liberdade de Cátedra.
Nesse caso, será mesmo melhor meninos irem às aulas de azul e meninas,de rosa.
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