Entre 31 de março e 1º de abril de 1964, quando um golpe de Estado afastava e exilava o presidente João Goulart, uma esquadra dos Estados Unidos estava a postos no litoral do Brasil para invadir nosso território caso o golpe de Estado não desse certo. Eles eram parte da "Operação Brother Sam", nome dado àquela quase intervenção estrangeira sobre território brasileiro gestada nos EUA sob inspiração do então embaixador norte-americano Lincoln Gordon e militares daqui envolvidos na trama. Eram os nossos caipiras pedindo socorro ao intervencionista do Norte.
Esse foi um episódio único na história brasileira. No mais, acabamos arrastados para a II Guerra Mundial quase à força mas, no mais das vezes, a diplomacia brasileira foi marcada pela neutralidade e a política do não intervencionismo em assuntos internos de outros países. Essa tradição garantiu ao Itamaraty a condição de negociador em questões onde sua atuação era pedida.
Agora, capacho do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, Jair Bolsonaro vai para onde seu mestre mandar. Como os EUA reconheceram o senhor Juan Guaidó presidente da Venezuela - e ele não disputou eleição alguma -, imediatamente o Itamaraty fez o mesmo. Nada de surpreendente se analisarmos o que são as cabeças de Bolsonaro e de seu inexpressivo chanceler Ernesto Araújo, figura idiotizada, mística e sem o respeito de nossos diplomatas mais capazes.
O Brasil sai de seus trilhos tradicionais para enveredar em linha de ferro perigosa, de percurso desconhecido e que pode ser marcado por armadilhas. É bom ter em mente que Trump é coisa passageira nos Estados Unidos. Pode nem ao menos terminar seu mandato se continuar a enfrentar a tudo e a todos movido pela ridícula decisão de construir muros onde deveria haver pontes.
Agora mesmo, em Davos, o presidente brasileiro cancelou de última hora uma entrevista coletiva que era necessária para que a imprensa internacional pudesse conhecer melhor a ele e seus planos de governo. Mas a ausência pode ser compreendida sem muita dificuldade: nem mesmo Bolsonaro e seus mais próximos sabem para onde ele quer ir e em que ponto deseja chegar. Se é que vai chegar.
Estamos no meio de uma "Operação Brother Caipira", reconhecendo a reboque dos Estados Unidos o governo títere de um cidadão que não sabemos quem é, a que vem e nem ao menos quais são seus projetos para um possível governo na Venezuela. Só sabemos que tirar Maduro é o objetivo.
São pantanosos os terrenos para onde se vai nas noites da história sem conhecer os caminhos. O governo Jair Bolsonaro tem se mostrado confuso e despreparado em quase tudo. No campo da diplomacia pode entrar para nossos livros de República como o pior de todos os tempos. No mundo de hoje é preciso que os homens se sentem em torno de uma grande mesa onde o mundo é o centro de todos, de todas as atenções. O foco nele permite à humanidade fazer política.
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