24 de março de 2023

Decência, coisa sagrada!


Em resposta ao presidente da República, que considerou "armação de Moro" o episódio do ataque aos planos do PCC de sequestrar o senador Sérgio Moro (foto), seus familiares e outros, o parlamentar alvo disse, atacando a figura de Lula, que ele não tem decência. Só mesmo o próprio mandatário sabe se isso é verdade ou não, pois tem seus critérios a respeito. Mas cabe aqui uma pergunta: um juiz de Direito que controla diversos processos onde não há provas cabais contra o acusado, mesmo assim o condena, o retira da disputa presidencial na qual era favorito e depois renuncia às suas atividades de magistrado para ser ministro da Justiça do candidato que indiretamente elegeu pode falar de decência?

O maior erro do presidente de República no episódio foi dar protagonismo a esse senador que vivia quase isolado no Congresso. Ele teve muito mais do que 15 minutos de fama! Lula deveria ter ficado à margem da questão, deixando ao ministro da Justiça e à Polícia Federal as considerações sobre os fatos. Quando falou mostrou que suas mágoas - e ele tem o direito de tê-las se for mesmo inocente - são tão profundas que o impedem muitas vezes de raciocinar com mais serenidade. O que é ruim.

Também provável futura vítima do PCC, o promotor Lincoln Gakiya falou sobre o assunto: "Moro é alvo desses criminosos por conta da portaria que baixou proibindo as visitas íntimas no sistema penitenciário federal. Isso realmente desagradou esses criminosos, não só do PCC, mas de todas as facções. Embora o plano em si tenha sido descoberto em janeiro desse ano, os documentos e informações das investigações dão conta de que está em andamento desde agosto de 2022, portanto no governo anterior. Não há motivo para dizer que foi engendrado pelo governo atual ou algo parecido. Infelizmente, estão fazendo uso político de uma operação de sucesso".

As declarações explicam tudo, inclusive indiretamente, as falas de agora do senador Moro, que se pronuncia sobre a decência dos outros, mas omite o fato de que é o governo atual quem orienta as investigações da PF e deu plena autonomia a ela. Vamos nos recordar de que esse hoje parlamentar demitiu-se do cargo de ministro da Justiça do presidente anterior porque esse estaria tentando tirar dele o comando e a autonomia dessa mesma polícia. Era um teatro isso tudo? Parece que sim.

Mas foram teatros claros e dirigidos os processos que ele comandou na Operação Lava Jato, afastando o atual presidente da disputa de 2018, e que hoje vão sendo anulados um a um. Sempre aprendi - meus pais me ensinaram - que decência é coisa sagrada. Só pode falar dela e nela quem a pratica por princípios e por trazê-la do berço. Moro, por seus atos, está bem distante disso.                

Um comentário:

Anônimo disse...

Parabéns! Texto bem escrito, tema atual e polêmico. Sim. Moro ficou em evidência com o descontrole do presidente. O caso foi para investigação e aguardamos a solução.
Obrigada.